MANAGEMENT OF CARDIORESPIRATORY ARREST IN PREGNANT WOMEN: A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10790949
Camila Sanção de Macedo1
Danielle Alves Torquato2
Marília Gabriela Dias Nery3
Elias Pereira Mota Neto4
Luana Kaira Lopes do Bonfim5
Carla Milena Ferreira e Silva6
Antônio Carlos Brenner Marques da Silva7
Larruama Soares Figueiredo8
Isabela da Silva Coimbra9
Guilherme Nunes Medeiros10
Resumo
Introdução: A Parada Cardiorrespiratória (PCR) é a paralisação da atividade cardíaca, ausência de responsividade do paciente e de respiração. Quando a PCR ocorre na gestante, o problema agrava-se, pois além da preocupação com dois pacientes (mãe e bebê), ainda há peculiaridades anatomofisiológicas decorrentes da gestação que devem ser levadas em consideração durante a aplicação do protocolo. Objetivos: Compreender o manejo adequado da PCR em gestantes e discorrer sobre as peculiaridades do atendimento dessa emergência. Metodologia: Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo-observacional, transversal, retrospectivo, de base bibliográfica utilizando as bases de dados PubMed, SciELO, LILACS e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), utilizando os descritores “gravidez”, “parada cardiorrespiratória” e “reanimação cardiopulmonar”, usando o operador booleano “AND”. Resultados e Discussão: O manejo da PCR em uma gestante deve levar em consideração as particularidades anatômicas e fisiológicas do período gestacional. Inicialmente, os passos de checagem de segurança, checagem de responsividade e pedido de ajuda juntamente com solicitação de um Desfibrilador Externo Automático são mantidos sem alterações. As compressões e ventilações devem seguir a mesma frequência de um atendimento a um paciente não gestante, mas deve-se lateralizar o útero da paciente para a esquerda. É necessário acesso venoso ou intraósseo para administração de fármacos. Ainda devem ser analisados os critérios para indicação de cesárea pós mortem. Conclusão: A gestação é um período de diversas alterações no corpo feminino. Essas alterações devem ser consideradas para aplicação do protocolo de manejo de PCR, para garantir uma maior chance de sucesso na proteção do binômio materno-fetal.
Palavras-chave: Gravidez. Parada Cardiorrespiratória. Reanimação Cardiopulmonar.
1 INTRODUÇÃO
A Parada Cardiorrespiratória (PCR) é uma questão de saúde global que afeta a população em todo o mundo. O Brasil, anualmente, é responsável por um alto número de mortes, aproximadamente 200.00 óbitos. Metade desses casos ocorre em ambientes hospitalares, enquanto outra metade ocorre fora desse ambiente. A PCR é definida como paralisação da atividade cardíaca, ligada quando o paciente não responde, não respira ou apresenta respiração ofegante e não há sinais de circulação em pulsos centrais. Os principais fatores que desencadeiam essa condição podem ser categorizados em cardíacos, incluindo síndromes coronarianas agudas, arritmias, miocardiopatias e valvulopatias, e não cardíacas, como acidente vascular encefálico, embolia pulmonar, obstrução das vias aéreas e abuso de substância (Da Silva, 2021).
A PCR em gestantes apesar de ser um evento raro, uma vez que acomete uma a cada 12 mil gestantes (Silva, 2022) é uma condição crítica e representa uma ameaça significativa à saúde tanto da mãe quanto do feto e por isso requer atenção imediata e conhecimento especializado da equipe de saúde. Durante a gravidez, o corpo da mulher passa por uma série de adaptações fisiológicas para acomodação e desenvolvimento do feto, o que pode tornar a gestante mais suscetível a complicações cardíacas e respiratórias (Dos Santos, 2022). Algumas dessas alterações, considera-se o aumento do volume sanguíneo, o aumento na quantidade de sangue bombeada pelo coração, desvio do eixo cardíaco, elevação do diafragma por compressão uterina, diminuição da capacidade dos pulmões em expansão e uma alteração no equilíbrio ácido-base. Além disso, existem outras modificações que dificultam o manejo dessas gestantes, como o atraso no esvaziamento gástrico com risco de broncoaspiração, edema traqueal e nasal, por aumento do fluxo sanguíneo, aumento da produção de saliva, compressão da veia cava pelo útero gravídico e redução do retorno venoso (Santos, 2021).
Diante disso, é importante destacar as circunstâncias que podem causar esse desfecho. Elas são divididas em dois grandes grupos: causas obstétricas, relacionadas à gravidez e ao parto (como hemorragia, pré-eclâmpsia, síndrome de HELLP, embolia de líquido amniótico, doença cardíaca periparto e complicações anestésicas), e causas não obstétricas, que não estão diretamente ligadas à gravidez (como embolia pulmonar, choque séptico, doenças cardiovasculares, disfunção endócrina e doenças do tecido conjuntivo) (Da Silva, 2021).
Quando se trata de lidar com parada cardiorrespiratória (PCR) em gestantes, é crucial que a equipe de saúde reaja rapidamente e de forma precisa para aumentar as chances de sobrevivência e minimizar possíveis complicações. A assistência durante a PCR em gestantes apresenta particularidades em relação ao atendimento padrão dado a adultos não grávidos, por isso é essencial que os profissionais recebam um treinamento direcionado para preencher as lacunas de conhecimento existentes. Isso inclui a verificação do conhecimento prévio e a autoavaliação para conscientizar a necessidade de capacitação. Logo, a equipe deve possuir um conhecimento específico para fornecer a assistência adequada e ajudar a restaurar a circulação sanguínea materna (Silva, 2022).
Além disso, pode-se destacar que alguns protocolos variam sua conduta conforme a idade gestacional materna. Se ocorrer antes de 24 semanas de gestação, o manejo e o propósito são designados para a conservação da vida materna. Já quando a idade gestacional está entre 24 e 32 semanas utiliza-se uma conduta modificada, baseando-se em toracotomia, massagem cardíaca de alta qualidade, seguida de parto cesáreo, apresentando grande efetividade em partos de emergência, cuja idade gestacional é a partir de 32 semanas (Alves, 2022).
Portanto, esse artigo tem por objetivo descrever a parada respiratória em gestantes, abordando instruções de emergência e estratégias de prevenção. Ademais, serão considerados os desafios específicos que os profissionais da saúde enfrentam ao lidar com essa situação crítica. Por meio dessa análise abrangente, este artigo busca fornecer informações valiosas para médicos, enfermeiros e outros participantes da equipe de saúde, aprimorando a capacidade de reconhecer, avaliar e gerenciar a parada cardiorrespiratória em gestantes de maneira eficaz e segura.
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Para a realização do estudo, foi realizada uma pesquisa nas bases de dados SciELO, LILACS, PubMed e BVS utilizando os descritores “Gravidez”, “Parada Cardiorrespiratória”, “Reanimação Cardiopulmonar”, usando o descritor booleano “AND”.
A seleção dos artigos levou em consideração os seguintes critérios de inclusão: artigos publicados nos últimos cinco anos; que possuíssem texto completo disponível e que abordassem o tema parada cardiorrespiratória durante a gestação, suas causas, fatores de risco, instruções de emergência e estratégias de prevenção, bem como os desafios inerentes a essa situação crítica vivenciados pelos profissionais da saúde. Foram excluídos artigos indisponíveis na íntegra, Trabalhos de Conclusão de Curso, dissertações, teses, resumos de eventos científicos, além de estudos que não abrangiam a relação com o tema base deste artigo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Autor, ano | Título | Contribuição |
Kulkarni S., 2022 | Cardiopulmonary resuscitation in obstetric patient: special considerations | A posição das mãos para as compressões em gestantes e não gestantes é similar. Compressões com profundidade entre cinco e seis centímetros no terço inferior do esterno, com frequência entre 100 e 120 compressões por minuto. Duas ventilações a cada trinta compressões é recomendada. A paciente deve estar em uma superfície firme e as compressões não devem ser interrompidas por mais de dez segundos. Caso haja suspeita de compressão da veia cava inferior e aorta, deve-se deslocar o útero para a esquerda através de manobras ou de uso de aparatos independentemente da idade gestacional. A abertura de vias aéreas deve ocorrer por meio da manobra de levantar a cabeça e o queixo, a não ser que haja lesão cervical. A via orofaríngea pode ser utilizada, enquanto a via nasofaríngea deve ser evitada. Intubação precoce previne aspiração e torna a ventilação mais fácil. Deve-se usar o desfibrilador assim que estiver disponível, sem alterações de conduta para o paciente não-gestante. Antes de dar o choque, o monitor fetal deve ser removido. As compressões devem ser contínuas e a ventilação deve ter frequência de 10 respirações por minuto com oxigênio à 100% depois da intubação. O tamanho do tubo endotraqueal deve estar entre 0,5 e 1mm menor do que uma paciente não gestante. Acesso venoso deve ser implementado com dois cateteres com calibre entre 14 e 16, logo acima do nível do diafragma, considerando a compressão da veia cava inferior. Acesso intraósseo também pode ser usado. A administração precoce de emulsão lipídica a 20% é crucial para bom desfecho em casos de reanimação pós intoxicação por anestesia local. Quando os esforços de reanimação não forem suficientes, é recomendado o parto cesáreo perimortem, se a circulação espontânea não for restabelecida até quatro minutos com idade gestacional acima de 20 semanas. No período gestacional de mais de 24 semanas, a histerotomia de emergência pode salvar a vida da mãe e do feto. Depois de reanimação bem sucedida, infusão intravenosa de ocitocina ou infusão direta no miométrio é administrada para evitar colapso cardiovascular. |
M. Madden | Cardiopulmonary resuscitation in the pregnant patient | As compressões devem ser rápidas e fortes, performadas em superfície firme e reta; tendo, no mínimo, 5cm de profundidade e uma frequência de 100 compressões por minuto. Pode ser usado um ecocardiograma transesofágico para determinação do melhor local para compressão, mas é recomendável manter o posicionamento no terço inferior do esterno. O ecocardiograma transesofágico pode ser usado também para definir a causa da parada e para auxiliar na colocação de cânulas para oxigenação por membrana extracorpórea – que têm sido utilizadas para pacientes obstétricos em estado grave. Ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea deve ser utilizada com cautela em casos de pacientes com hemorragia ou coagulopatia intravascular disseminada. Gestantes com 20 semanas ou mais devem ter o deslocamento uterino para a esquerda durante a reanimação. Por conta de edema em oro e nasofaringe, laringe e traqueia a intubação torna-se mais difícil e devem ser usados tubos menores. A videolaringoscopia pode ser utilizada para aumentar as chances de sucesso. Recomenda-se a confirmação de intubação traqueal com capnômetro. A via nasofaríngea deve ser evitada por alto risco de sangramento. A ventilação com oxigênio deve ter volume corrente de 500-700mL a 10 bpm. Acesso venoso de grande calibre deve ser obtido acima do diafragma, mas, em casos de difícil acesso, pode ser utilizado ultrassonografia como guia e acesso intraósseo no úmero proximal. As medicações devem seguir as diretrizes e a ocitocina e anestésicos locais devem ser descontinuados. Magnésio deve ser descontinuado em casos de hipotensão importante. A desfibrilação deve ser realizada assim que disponível sem alterações energéticas. A sobrevivência materna e neonatal é maior quando o tempo entre a parada e a histerotomia é inferior a cinco minutos. Os pacientes podem necessitar de nova cirurgia para reparar ou fechar a histerotomia de ressuscitação. Devem ser seguidos protocolos adequados de hemostase, antibióticos e cuidados intensivos, incluindo hipotermia, quando apropriado. A hipotermia materna pode piorar a coagulopatia. Pacientes com retorno de consciência necessitarão de analgesia e sedação apropriadas. |
Eishin Nakamura, 2021. | Vias de infusão intravenosa em ressuscitação materna | Via de infusão acima do diafragma, para que as drogas administradas cheguem ao coração sem passar pela porção comprimida da veia cava inferior. |
Juan P. Ghiringhelli, 2021 | Paro cardiorrespiratorio em la embarazada y cesárea perimortem | A síndrome aortocava ocorre a partir da 20ª semana de gestação. Pode-se manejar ou prevenir a situação colocando a gestante em decúbito lateral esquerdo ou deslocando o útero lateralmente. Estudos apontam que o decúbito lateral esquerdo melhora a hemodinâmica materna, com aumento entre 27% e 35% do volume sistólico. A reanimação deve ser liderada por um profissional que conheça as particularidades da gestante. O trabalho deve ser dividido entre a reanimação materna, reanimação fetal e decisão de eventual cesárea pós mortem. Dentre as atividades de emergência para RCP materna e melhor prognóstico fetal incluem: estabelecer acesso venoso supradiafragmático para reposição rápida do volume intravascular e administração de fármacos, deslocar o útero lateralmente para a esquerda, manejo avançado de vias aéreas, preparação para cesárea perimortem, caso não se recupere a circulação espontânea em até 4 minutos de reanimação. Para abertura de vias aéreas, ainda são recomendadas as manobras de aplicação geral, como Jaw Thrust e Chin Lift. A equipe deve ventilar a paciente com uma bolsa autoinflável e oxigênio a 100% em 15 litros por minuto. O manejo avançado de via aérea deve ser realizado o mais precocemente possível por um especialista, tendo em vista que não são recomendadas mais de duas tentativas de intubação. Neste momento, é recomendada a manobra de Sellick, para diminuir o risco de aspiração do conteúdo gástrico. É útil o uso de canografia contínua, para verificar a localização correta do tubo traqueal e recuperação da circulação. A desfibrilação deve ocorrer assim que o desfibrilador estiver disponível, mas recomenda-se o choque nos primeiros três minutos de RCP (sempre considerando se é um fibrilação ventricular ou uma taquicardia ventricular sem pulso), em uma carga de 120-200J. Quanto aos fármacos, estão indicados epinefrina e vasopressina. Se depois de 4 minutos a gestante ainda não apresentar pulso, é necessário realizar a extração fetal pela via mais rápida. Se houver dilatação completa e a cabeça fetal estiver em posição adequada, considera-se parto vaginal. Geralmente isso não ocorre e a histerotomia é a via de escolha (cesárea perimortem). A evacuação fetal diminui a sobrecarga da veia cava inferior e o gasto com a perfusão uterina. A indicação de cesárea perimortem é uma idade gestacional maior que 20 semanas. |
Fabiana Laranjeira Silva, 2023 | Ressuscitação cardiopulmonar em gestantes: construção de validação de checklist para avaliar prática da enfermagem | Após constatação da PCR, deve-se pedir o Desfibrilador Externo Automático. No que diz respeito à etapa sobre o posicionamento da gestante, para aquelas com a idade gestacional igual ou superior a 20 semanas, ou Altura de Fundo Uterino (AFU) igual ou superior à cicatriz umbilical, preconiza-se o deslocamento manual do útero para a esquerda, para proporcionar a descompressão da veia cava inferior e facilitar o retorno venoso ao coração, durante as compressões. Quanto à tração manual do útero, pode-se realizar mediante as duas técnicas, se o socorrista estiver do lado direito da gestante, o mesmo poderá deslocar o útero com a mão dominante para o lado esquerdo materno; se o socorrista estiver do lado esquerdo da gestante, ele irá utilizar as duas mãos para tracionar o útero da vítima para o lado esquerdo. . Preconiza-se que, na RCP de alta qualidade, o socorrista deve comprimir o tórax com a velocidade de 100 a 120 por minuto, na profundidade de 2 polegadas (5 cm), além de permitir o retorno total do tórax após cada compressão e evitar as interrupções. Destaca-se particularidade acerca da posição de contato entre a mão do profissional e o tórax da gestante em PCR, pois, quando a IG for inferior a 20 semanas ou a AFU estiver abaixo da cicatriz umbilical, a mão do socorrista deve ser posicionada igualmente à RCP de adultos não grávidos, na metade inferior do esterno da gestante. Nos casos de IG igual ou superior a 20 semanas ou quando a AUF estiver na altura da cicatriz umbilical ou acima dela, o local de contato da mão do profissional é no terço médio do esterno da gestante. No que tange à etapa de ventilação, existem duas variações que podem ser adotadas: no protocolo 30:2, realizado em casos de vítima que encontra-se sem estabelecimento de via aérea avançada, ocorre a realização de 30 compressões e duas ventilações, repetidas em cinco ciclos; já no protocolo de compressões ininterruptas, que ocorre em vítimas com ou sem via aérea avançada, a realização das compressões não será interrompida, com frequência de 100 a 120 por minuto e será ofertada ventilação a cada seis segundos. Outra relevante etapa contemplada no checklist foi referente à necessidade de cesariana perimortem. Ao realizar as manobras de RCP na gestante, sem Retorno da Circulação Espontânea (RCE), a equipe, rapidamente, deve questionar a viabilidade da realização de uma cesariana perimortem, que deve ser considerada até cinco minutos após o início da PCR materna. |
Leonardo de Paiva Turetta, 2023 | Efetividade da ressuscitação cardiopulmonar em gestantes | A dificuldade decorre de dois fatores principais, o primeiro dos quais é a presença de dois pacientes, a mãe e o feto, e o segundo são as alterações estruturais associadas à gravidez, especificamente o deslocamento fisiológico dos órgãos internos. O início imediato da RCP, o deslocamento uterino esquerdo eficaz, a coordenação da resposta do provedor multidisciplinar, o uso precoce de Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO) quando disponível e apropriado e a histerotomia de ressuscitação precoce melhoram a sobrevida materna e fetal. Além disso, conclui que a adição da ecocardiografia transesofágica pode ajudar no reconhecimento precoce da etiologia da parada cardíaca e na avaliação da eficácia da ressuscitação. A ressuscitação na posição supina melhora a qualidade das compressões torácicas, aumentando as taxas de profundidade de compressão correta e posição correta da mão, em comparação com a ressuscitação na posição de inclinação lateral esquerda de 27° – 30° em mulheres grávidas. |
Ana Elisa Abreu de Araújo Santos, 2022 | Eficácia da reanimação cardiopulmonar em gestante e redução de morbimortalidade materno-fetal e perinatal: uma breve revisão | Estudos demonstram que as principais medidas terapêuticas adotadas nos casos de PCR na gestação são: compressões torácicas externas, ventilação com oxigênio a 100%, a realização de desfibrilação, administração de Epinefrina e realização de cesárea de emergência preconizada até o quarto minuto após PCR. Além disso, também é realizado o deslocamento uterino para esquerda a fim de aliviar a compressão aórtica e da veia cava e melhorar a qualidade da RCP, proporcionando maiores chances de retorno à circulação espontânea. Desse modo, torna-se possível aumentar as chances de sobrevida da mãe e do feto. Para maior eficácia, as compressões torácicas durante a RCP devem ser realizadas um pouco acima do local habitual para que haja ajuste à elevação do diafragma e do conteúdo abdominal provocada pelo útero gravídico. Recomenda-se que as massagens torácicas sejam realizadas com a paciente em decúbito dorsal, cuidando-se em desviar o útero para a esquerda. Em adição, deve -se considerar maior possibilidade de regurgitação e aspiração pulmonar de conteúdo gástrico, devido à lentidão fisiológica do esvaziamento gástrico. A intubação da gestante também pode ser dificultada pelo aumento do tecido adiposo, edema das mucosas e maior vascularização. Durante as manobras de ressuscitação, além da monitorização da mãe, faz-se necessária a monitorização dos batimentos cardíacos fetais. Toda equipe de emergência deve estar preparada para a possibilidade de um parto cesárea de emergência. A PCR na gestante é uma situação singular na qual duas (ou mais) vidas precisam ser salvas ou preservadas, o que requer monitorização materno-fetal rigorosa. |
O manejo da Parada Cardiorrespiratória em pacientes gestantes tem algumas peculiaridades devido às alterações anatômicas e preocupação com o binômio materno-fetal. No manejo de pacientes não gestantes os primeiros passos do protocolo de Ressuscitação Cardiopulmonar são checagem de segurança do local, checagem de responsividade e pedido de ajuda com a solicitação de um Desfibrilador Automático Externo. Esses passos iniciais são integralmente mantidos quando se trata da aplicação desse protocolo em mulheres grávidas.
Quanto à compressão, a posição das mãos para as gestantes é similar ao da população geral. Mantêm-se as compressões com profundidade entre cinco e seis centímetros utilizando a região hipotenar da mão e aguardando o retorno completo do tórax. Quanto ao posicionamento da mão para início das compressões, há a recomendação de que para gestante com idade gestacional (IG) menor que 20 semanas e Altura de Fundo Uterino (AFU) estiver abaixo da cicatriz umbilical, a mão do socorrista posiciona-se no terço inferior do esterno. Em situações de gestantes com IG maior que 20 semanas e AFU acima da cicatriz umbilical, indica-se o posicionamento da mão do socorrista no terço médio do esterno. Ainda é possível o uso de um ecocardiograma transesofágico para definir o melhor local de compressão, definir a etiologia da parada e auxiliar na colocação de cânulas para oxigenação por membrana extracorpórea. A pressão torácica deve seguir uma frequência de 100-120 compressões por minuto, com duas ventilações a cada 30 compressões, tomando mais cuidado com a situação de hiperventilação, tendo em vista que a pressão intra-abdominal na gestante já é aumentada e já existe um prejuízo de retorno venoso neste grupo. Não devem ocorrer interrupções por tempo maior que 10 segundos.
Quando existe a suspeita ou confirmação da síndrome de compressão aortocava deve-se deslocar o útero para a esquerda de forma manual ou utilizando aparatos ou posicionando a paciente em decúbito lateral esquerdo, independentemente da idade gestacional da paciente. Porém, é mandatório que a manobra de deslocamento uterino para a esquerda seja realizada em pacientes com idade gestacional igual ou maior que 20 semanas ou com altura de fundo uterino igual ou superior à cicatriz umbilical. As compressões são mais efetivas quando a paciente encontra-se em posição supina.
Para abertura de vias aéreas é recomendada a manobra de levantar a cabeça e o queixo, a não ser que haja lesão cervical. Vias aéreas avançadas devem ser sempre consideradas, pois a intubação precoce previne aspiração e facilita a ventilação da paciente. O tamanho do tubo endotraqueal deve ter espessura entre 0,5 e 1mm menor do que o escolhido para um paciente não gestante. Essa redução da espessura do tubo endotraqueal se deve ao edema em oro e nasofaringe, laringe e traqueia, o que torna a intubação mais difícil nessas pacientes. Também é recomendável o uso de capnômetro para confirmação de localização adequada de tubo endotraqueal e para verificação da recuperação de circulação. Após a intubação as ventilações devem ter a frequência de 10 respirações por minuto com oxigênio a 100% com 15L por minuto. A intubação deve ser realizada por um especialista, por não ser recomendado mais de duas tentativas. É indicada a manobra de Sellick, para redução do risco de aspiração do conteúdo gástrico.
O desfibrilador deve ser utilizado assim que disponível, sempre mantendo a atenção para que, no momento do choque, o monitor fetal seja removido. É mais efetivo quando o choque é administrado dentro dos três primeiros minutos de RCP em uma carga de 100-120J.
Acesso venoso é importante reposição rápida do volume intravascular e para administração de fármacos no momento da RCP e deve ser implementado com catéteres entre 14 e 16, acima do diafragma – por conta da compressão da veia cava inferior – e possuir grande calibre. O acesso intraósseo também é uma opção viável nessa condição, tendo-se preferência pelo número proximal. Ocitocina e anestésicos locais devem ser descontinuados, segundo Madden e Meng, o magnésio deve ser descontinuado apenas em casos de hipotensão importante. Epinefrina e vasopressina podem ser utilizados, pois a prioridade em uma RCP em gestante é a mãe.
A etiologia da parada deve ser sempre investigada, pois deve ser revertida o mais brevemente possível em um protocolo paralelo e simultâneo ao da RCP. Em casos de intoxicação por anestesia local, deve-se utilizar o acesso para administração precoce de emulsão lipídica a 20%.
A Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO) deve ser utilizada em casos graves, como, por exemplo, pacientes com hemorragia ou coagulopatia intravascular disseminada.
A cesárea perimortem é recomendada se a circulação espontânea não for restabelecida em até quatro minutos com idade gestacional maior que 20 semanas. A partir de 24 semanas, a histerotomia de emergência é bem sucedida no intuito de salvar o binômio materno-fetal, com tempo inferior a cinco minutos entre a parada e retirada do feto. A via mais rápida de extração sempre deve ser considerada para evacuação fetal. Se houver dilatação suficiente e a cabeça do bebê estiver posicionada da forma correta, pode-se realizar o parto vaginal, mas é uma situação bem rara de se apresentar. A via mais utilizada é a histerotomia e tem sua efetividade ligada à diminuição da sobrecarga da veia cava inferior e gasto com perfusão uterina.
Após a reanimação, há a recomendação de infusão intravenosa de ocitocina ou infusão direta no miométrio, para evitar colapso cardiovascular. Deve ser adequadamente manejado questões como hemostase, antibióticos e cuidados intensivos – como, por exemplo, hipotermia. A analgesia e sedação pós retorno de consciência é importante após a reanimação.
4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, conclui-se que o manejo da paciente gestante em parada cardiorrespiratória deve seguir a maior parte dos passos do protocolo aplicado aos pacientes não gestantes. Logo, checar segurança do local, checar responsividade, solicitar ajuda e um Desfibrilador Externo Automático e iniciar compressões devem ser mantidos da mesma forma. As compressões seguem a ordem de trinta compressões para duas ventilações, visando 100-120 compressões por minuto. Durante as compressões é necessário o deslocamento uterino para a esquerda, para descompressão ao trocava. Deve-se migrar para o manejo de vias aéreas avançado o mais rápido possível, com presença de especialista, priorizando a intubação endotraqueal com tubos de menor espessura (entre 0,5 e 1mm de diferença). É necessário um acesso venoso supradiafragmático para administração de fármacos ou um acesso intra ósseo no úmero proximal. A desfibrilação é recomendada com carga entre 100-120J assim que disponível. A etiologia da parada deve ser sempre investigada e tratada de forma paralela e/ou simultânea ao processo de reanimação. A ECMO é reservada para casos mais graves, mas tem grande eficácia quando utilizada corretamente. Após quatro minutos de esforços de reanimação, a cesárea perimortem deve ser realizada caso não haja retorno de circulação espontânea. Caso haja retorno de consciência, é mandatória a infusão intravenosa de ocitocina ou infusão direta no miométrio, analgesia, sedação, manejo de hemostasia, antibióticos e cuidados intensivos.
A PCR na gestante é um tópico pouco abordado em estudos científicos, com baixo volume de publicações publicadas relacionadas; o que pode resultar em uma deficiência formativa dos profissionais frente a uma situação de parada cardiorrespiratória em uma gestante.
REFERÊNCIAS
ALVES, Letícia Drebes Saldanha. Ressuscitação cardiopulmonar em gestantes: revisão narrativa. 2022. (5)
DA SILVA, Apolo Kassio Barros et al. Prevalência e fatores associados ao desenvolvimento de parada cardiorrespiratória em gestantes. Research, Society and Development, v. 10, n. 9, p. e9110914913-e9110914913, 2021. (1)
DOS SANTOS, Larissa Lessa et al. Parada cardiorrespiratória durante a gestação. Research, Society and Development, v. 11, n. 4, p. e29411427102-e29411427102, 2022. (2)
SANTOS, Matheus Vinícius Fernandes et al. Parada cardiorrespiratória na gestação: uma revisão de literatura Cardiopulmonary arrest in pregnancy: a review of the literature. Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 5, p. 20132-20138, 2021. (3)
SILVA, Samuel Melo de Andrade et al. Parada cardiorrespiratória obstétrica: construção e validação de instrumento para avaliar o conhecimento da enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 43, 2022. (4)
S., Kulkarni; SS, Futane. Cardiopulmonary resuscitation in obstetric patient: special considerations. J Obste Gynaecol, India, v. 72, p. 192-200, Junho, 2022.
MADDEN, A.M; MENG, M.L. Cardiopulmonary resuscitation in the pregnant patient. BJA Education, v. 20, p. 252-258, Agosto, 2020.
NAKAMURA, Eishin; TAKAHASHI, Shinji; MATSUNAGA, Shigetaka; TANAKA, Hiroaki; FURUTA, Marie; SAKURAI, Atsushi. Intravenous infusion route in maternal resuscitation: a scoping review. BMC Emerg. Med., v. 21, Dezembro, 2021.
GHIRINGHELLI, Juan P.; LACASSIE, Héctor J. Paro cardiorrespiratorio en la embarazada y cesárea perimortem. Revista chilena de obstetricia y ginecología, v. 86, n. 4, p. 410-424, 2021.
SILVA, Fabiana Laranjeira da et al. RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR EM GESTANTES: CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE CHECKLIST PARA AVALIAR PRÁTICA DA ENFERMAGEM. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 31, 2023.
DE PAIVA TURETTA, Leonardo et al. Efetividade da ressuscitação cardiopulmonar em gestantes. Brazilian Journal of Health Review, v. 6, n. 2, p. 5347-5353, 2023.
DE ARAÚJO SANTOS, Ana Elisa Abreu; CABRAL, Manuela Guedes; SALES, Iana Rafaela Fernandes. EFICÁCIA DA REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR EM GESTANTE E REDUÇÃO DE MORBIMORTALIDADE MATERNO-FETAL E PERINATAL: UMA BREVE REVISÃO DE LITERATURA. In: ANAIS DO III CONGRESSO DE ESTUDANTES DE MEDICINA DO UNIFESO–III CEMED. p. 85. 2022.
1 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0343-3421
Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
E-mail: camila_sancao@outlook.com
2 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0198-3785
Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
E-mail: daniatorquato@gmail.com
3 ORCID: https://orcid.org/0009-0009-8105-4353
Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
E-mail: marilianeryy1@gmail.com
4 ORCID: 0000-0002-6552-4740
Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
Email: neto.elias2@gmail.com
5 ORCID: https://orcid.org/0009-0001-9733-6701
Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
Email: luanakmedicina@gmail.com
6 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0846-8575
Email: carlamilenaa21@gmail.com
7 Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
Email: carlosbrenner17@gmail.com
8 ORCID https://orcid.org/0000-0002-0902-9200:
Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
Email: larru_pp@hotmail.com
9 Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
ORCIC:0009-0001-6400-4188
Email: isabelacoimbra21@gmail.com
10 Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba
Email: gn2779518@gmail.com