MANEJO DA COMUNICAÇÃO BUCOSINUSAL NA PRÁTICA CLÍNICA ODONTOLÓGICA – REVISÃO DE LITERATURA

MANAGEMENT OF ORAL COMMUNICATION IN CLINICAL DENTAL PRACTICE – LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10426411


Jéssica da Silva Rodrigues 1
Ana Beatriz Gondim Pereira 2
Felipe Rodrigues Vieira 3
Isadora Arcoverde de Medeiros 4
Jamille da Silva Rodrigues 5
Lucas Alves Balbino 6
Luiza Carla dos Santos Avelino 7
Matheus Alves Balbino 8
Raquel Moura de Sousa Silva 9
Daniela Nunes Reis 10


Resumo

Comunicação buco-sinusal (CBS) ou oroantral é descrita como uma comunicação entre a cavidade oral e o seio maxilar. Tal condição pode estar ligada ao procedimento de extração dentária de molares superiores. Este estudo tem como objetivo elaborar uma revisão de literatura acerca das condutas e do manejo frente a uma comunicação bucosinusal (CBS) na prática clínica odontológica. Trata-se de uma revisão de literatura integrativa. Foram realizadas buscas manuais nas plataformas virtuais de pesquisa BVS e PubMed utilizando os descritores: “Fístural oroantral”, “Seio maxilar” e “Diagnóstico clínico”.

Os critérios de inclusão foram artigos em texto completo e publicados nos últimos 10 anos (20132023), no idioma inglês e português. Os critérios de exclusão foram artigos indisponíveis para leitura e donwload e estudos classificados como teses, monografias e dissertações, além de estudos não pertinentes ao tema. Os estudos incluídos foram 8 artigos. A conduta frente a CBS pode ser realizada imediatamente quando a abertura é criada, ou mais tarde. Após a confirmação se há presença ou não de CBS, o profissional deve realizar um plano de tratamento de acordo com alguns critérios, como a extensão da perfuração. O tratamento varia se a perfuração for pequena (2mm ou menos), moderada (2 a 6mm) ou grande (7mm ou mais). Tomando-se por base os achados na literatura elencados por este estudo, diferentes técnicas para o tratamento da CBS podem ser aplicadas de forma resolutiva. A intervenção de forma imediata torna o prognóstico do paciente satisfatório e minimiza o surgimento de um processo crônico e infeccioso.

Palavras-chave: Fístula oroantral. Seio maxilar. Diagnóstico clínico.

1  INTRODUÇÃO

Também conhecido como antro de Highmore, os seios maxilares podem ser classificados como os maiores e os primeiros dos seios paranasais a se desenvolver. Tal processo, inicialmente denominado pneumatização primária, ocorre no terceiro mês de desenvolvimento fetal, como resultado da invaginação da mucosa. No quinto mês, ocorre a pneumatização secundária, ao mesmo tempo que as invaginações se expandem dentro dos ossos maxilares. Geralmente, a expansão dos seios maxilares termina após a erupção dos dentes permanentes. Entretanto, pode ocorrer uma pneumatização adicional, após a remoção de um ou mais dentes (DO CARMO et al., 2021).

Em termo anatômico, o seio maxilar é descrito como uma pirâmide de quatro lados, com a base projetada verticalmente na superfície medial e formando a parede nasal lateral. Localizados na maxila, os seios maxilares são espaços preenchidos por ar e ocupam os ossos maxilares bilateralmente (LIMA & ROSA, 2022).

Devido ao seu grande volume e o fato de estar próximo ao ápice de alguns dentes, pode ocorrer um acesso entre as cavidades e ocorrer o revestimento por tecido epitelial ocasionando então o que é conhecido como fístula buco-sinusal. Comunicação buco-sinusal (CBS) ou oroantral é descrita como uma comunicação entre a cavidade oral e o seio maxilar. Tal condição pode estar ligada ao procedimento de extração dentária de molares superiores (FREITAS et al., 2021)

Outros fatores como trauma de face ou trauma dentoalveolar, intervenção cirúrgica de algumas patologias, implantes dentários, cirurgia ortognática, infecção, sinusite, osteomielite e radioterapia podem culminar uma CBS. Em busca de um melhor prognóstico para o paciente, o diagnóstico e manejo da CBS devem ocorrer o mais breve possível, tendo que considerar alguns fatores como: (1) extensão, (2) localização, (3) etiologia, (4) se há presença de infecção ou não e (5) período temporal entre o diagnóstico e tratamento, além de terapias complementares ao tratamento inicial (VITTER & SCHWINGEL, 2023).

Desta forma, este estudo tem como objetivo elaborar uma revisão de literatura acerca das condutas e do manejo frente a uma comunicação bucosinusal (CBS) na prática clínica odontológica.

2  METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de literatura integrativa. O processo de busca bibliográfica ocorreu em novembro de 2023, mediante acesso virtual às bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e PubMed, utilizando o recurso de busca avançada e os seguintes descritores verificados no DeCS/MeSH: “Oroantral Fistula”, “Maxillary Sinus” e “Clinical Diagnosis”, combinados através do operador booleano “and”, além de seus correspondentes em português.

Foram incluídos os artigos: (1) disponíveis em texto completo, (2) publicados na língua inglesa ou portuguesa, (3) publicados entre os anos de 2013 e 2023 (últimos 10 anos) e (4) artigos com relevância científica relacionados ao tema do estudo. Os critérios de exclusão foram: (1) artigos indisponíveis para leitura e donwload, (2) estudos classificados como teses, monografias e dissertações. 

Os critérios de elegibilidade foram aplicados, resultando (n= 220) estudos encontrados na plataforma virtual Pubmed e (n= 10) estudos encontrados na BVS. Os estudos passaram por leitura de título e resumo, exclusão de artigos duplicados, restando 44 artigos para leitura do texto completo. Após a leitura dos artigos na íntegra, foram selecionados 8 artigos para elaboração deste estudo.

3  RESULTADOS E DISCUSSÕES

A tabela 1 mostra as publicações selecionadas segundo autores, ano de publicação, objetivo do estudo e principais achados.

Tabela 1 – Caracterização dos estudos.

AUTOR/ANOOBJETIVOPRINCIPAIS ACHADOS
PARISE & TASSARA, 2016Realizar uma revisão de literatura, abordando as principais formas de tratamento ci- rúrgico e medicamentoso das comunicações buco-sinusais, assim como definir o(s) procedimento(s) mais adequado(s) a ser(em) realizado(s).A literatura cita inúmeros fatores etiológicos e métodos de fechamento das comunicações buco-sinusais, que de- pendem do bom diagnóstico e de indi- cação adequada, variando tais comuni- cações em relação a tamanho, duração, associação com patologias sinusais e localização.
SCARTEZINI & OLIVEIRA, 2016Descrever a técnica cirúrgica para o fechamento de uma CBS de longa data utilizando a Bola de Bichat, associado à reconstrução do assoalho do seio maxilar com tela de titânio e enxerto ósseo particulado.Em adição, a técnica utilizada é uma alternativa indicada para o tratamento de CBS extensas, devido às qualidades da Bola de Bichat e a segurança que a tela de titânio oferece quanto à integridade tecidual no pós-operatório.
SEIXAS et al., 2019Apresentar um caso clínico de fechamento de fístula buco-sinusal eA técnica cirúrgica de enxerto ósseo e membrana de colágeno associada ao
 enxerto ósseo concomitante.avanço de retalho bucal no mesmo tempo cirúrgicos e mostrou eficaz no tratamento da comunicação bucosinusal.
DO CARMO et al., 2021Realizar uma análise descritiva da anatomia de seios maxilares, em pacientes edêntulos através de To- mografia Computadorizadas e relacionar esses dados à dados sociodemográficos.A importância do clínico em conhecer a anatomia do seio maxilar e suas possíveis alterações ao longo do tempo.
FREITAS et al., 2021Relatar e discutir o emprego de membrana de Fibrina Rica em Plaqueta e Leucócitos para manejo de uma comunicação buco-sinusal associado à reconstrução de tábua óssea vestibular com Stick Bone.O fechamento espontâneo é mais provável de ocorrer quando o tamanho da comunicação não excede 2 mm de diâmetro e já o tratamento cirúrgico é mais comumente relatado para comunicação maiores que 5 mm.
BRAMBILLA & FABRIS, 2022Abordar a prevenção, manejo clínico e cirúrgico da comunicação buco sinusal.A observação dos limites anatômicos do seio maxilar previamente a proce- dimentos cirúrgicos é de suma impor- tância para o planejamento e execução correta do tratamento adequado para cada paciente
LIMA & ROSA, 2022Realizar um estudo bibliográfico com o intuito de entender quais as causas da ocorrência da comunicação bucosinusal, além de identificar as com- plicações e tratamentos específicos a cada caso relacionado.É de comum acordo entre os mesmos que se a comunicação for inferior a 2mm, em alguns casos podendo chegar até a 5mm de diâmetro, o fechamento ocorre de forma espontânea sem a necessidade de intervenção cirúrgica ou outro tipo de tratamento.
VITTER & SCHWINGEL, 2023Realizar uma revisão de literatura, tratando as principais complicações após uma extração de terceiros  molares.Existem diferentes tipos de técnicas para solucionar a CBS, sendo a exten- são da perfuração disposta na CBS um fator imprescindível na sua escolha de manejo.

Fonte: Autoria própria (2023).          

A conduta frente a CBS pode ser realizada imediatamente quando a abertura é criada, ou mais tarde, como no caso de uma fístula de longa data, ou falha de tentativa de fechamento primário. Uma manobra eficaz para fins de verificação de presença ou não de CBS é a manobra de Valsalva que consiste em fechar as narinas e realizar pressão nasal, no caso da existência da CBS ocorrerá a saída de ar ou pus através da comunicação (BRAMBILLA & FABRIS, 2022).

Quando a identificação da CBS não ocorre imediatamente ou quando não ocorre fechamento espontâneo, o diagnóstico pode ser feito através de exames radiográficos como (1) radiografia periapical, onde se observa a descontinuidade da linha radiopaca que delimita o seio maxilar e (2) tomografia computadorizada (TC), sendo esta mais indicada por fornecer maiores detalhes sem ocorrer sobreposição de imagem (SEIXAS et al., 2019).

Após a confirmação se há presença ou não de CBS, o profissional deve realizar um plano de tratamento de acordo com alguns critérios. Existem diferentes tipos de técnicas para solucionar a CBS, sendo a extensão da perfuração disposta na CBS um fator imprescindível na sua escolha de manejo (VITTER & SCHWINGEL, 2023).

Em caso de CBS de 2 mm ou menos, é recomendável determinar a formação de um coágulo sanguíneo no sítio de extração e preservá-lo nesse local, não sendo necessário a elevação adicional de retalhos de tecidos moles. O paciente é instruído a cuidados nasais durante 10 a 14 dias. O paciente recebe a administração de um antibiótico, geralmente uma penicilina, um anti-histamínico e um descongestionante sistêmico durante 7 a 10 dias para evitar infecção, contrair as membranas mucosas e diminuir as secreções nasais e do seio maxilar. O paciente é observado no pós-operatório em intervalos de 48 a 72 horas (SCARTEZINI & OLIVEIRA, 2016).

A conduta para perfurações de 2 a 6 mm é semelhante para casos de CBS de 2 mm ou menos, porém medidas adicionadas devem ser tomadas. É recomendável determinar a formação de um coágulo sanguíneo no sítio de extração e preservá-lo nesse local. Não é necessária a elevação adicional de retalhos de tecidos moles. Entretanto, uma sutura em oito deve ser feita no alvéolo para ajudar na manutenção do coágulo na área (PARISE & TASSARA, 2016).

Já em casos de perfurações maiores, como as de 7mm ou mais, pode ser necessário cobrir o sítio de extração com algum tipo de retalho de avanço para obter o fechamento primário em uma tentativa para fechar a abertura do seio maxilar. Diante disso, antes de qualquer intervenção para o fechamento de uma fístula oroantral, é imprescindível eliminar qualquer infecção crônica ou aguda dentro do seio maxilar (VITTER & SCHWINGEL, 2023).

Diferentes tipos de retalhos podem ser utilizados no tratamento da CBS de acordo com sua indicação, vantagens e desvantagens. Uma das técnicas é o avanço de retalho bucal ou vestibular que consiste na excisão do epitélio que reveste a fístula, liberação do periósteo na altura vestibular da dissecção e fechamento do retalho livre de tensão através do defeito, com as margens do retalho apoiadas sobre o osso (BRAMBILLA & FABRIS, 2022).

O avanço de retalho palatino é realizado com a excisão do tecido mole que circunda a abertura oroantral, expondo o osso alveolar subjacente ao redor do defeito ósseo. O retalho é então girado para garantir que não existe tensão sobre ele quando for posicionado para cobrir o defeito ósseo. Este tipo de retalho deve apresentar a espessura completa do mucoperiósteo, ter uma base posterior ampla e incluir a artéria palatina (PARISE & TASSARA, 2016).

Existem duas principais vantagens neste retalho: (1) suprimento sanguíneo suficiente originado dos vasos palatinos e (2) espessura e a natureza queratinizada do tecido palatino apresentam maior semelhança com o tecido de rebordo, garantindo uma boa mecânica. A desvantagem desse retalho é a área ampla de exposição óssea, que resulta da elevação do retalho (PARISE & TASSARA, 2016).

Já o avanço de retalho facial e palatino sobre uma membrana de material aloplástico ocorre com a colocação subperióstea de material aloplástico, como ouro ou folha de titânio, ou membrana de colágeno reabsorvível (SEIXAS et al., 2019). Outra técnica pode ser feita através de avanço de retalho com corpo adiposo bucal, onde eleva-se um retalho bucal mais amplo, sendo o defeito coberto por uma porção pendiculada da almofada de gordura bucal com o fechamento parcial do retalho mucoperiósteo. O retalho de corpo adiposo bucal oferece a vantagem de carregar seu próprio suprimento sanguíneo (SCARTEZINI & OLIVEIRA, 2016).

4  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tomando-se por base os achados na literatura elencados por este estudo, diferentes técnicas para o tratamento da CBS podem ser aplicadas de forma resolutiva, mas cada uma possui indicações particulares e especificas, levando em consideração os diferentes tamanhos de perfuração que possa ocorrer. 

A intervenção de forma imediata torna o prognóstico do paciente satisfatório e minimiza o surgimento de um processo crônico e infeccioso. Portanto, dada a etiologia da CBS, é imprescindível que ocorra um adequado exame clínico e radiográfico previamente aos procedimentos cirúrgicos, afim de observar os limites anatômicos do seio maxilar.

REFERÊNCIAS

BRAMBILLA, T. F. G; FABRIS, A. L. S. COMUNICAÇÃO BUCO SINUSAL: DO MANEJO CLÍNICO A ABORDAGEM CIRÚRGICA. Revista Ibero-Americana de

Humanidades, Ciências e Educação, v. 8, n. 9, p. 1355-1365, 2022.

DO CARMO, J. V. G et al. ANÁLISE TOMOGRÁFICA DA ANATOMIA DO SEIO MAXILAR EM PACIENTES EDÊNTULOS. REVISTA SAÚDE & CIÊNCIA, v. 10, n. 2, p. 5-22, 2021.

FREITAS, I. Z et al. Manejo cirúrgico combinado de comunicação buco-sinusal e reconstrução de tábua óssea vestibular usando fibrina rica em plaquetas e leucócitos. Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac, p. 39-43, 2021.

LIMA, C. F. S. K et al. COMUNICAÇÃO BUCO-SINUSAL–UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Revista Científica Unilago, v. 1, n. 1, 2022.

PARISE, G. K; TASSARA, L. F. R. Tratamento cirúrgico e medicamentoso das comunicações buco-sinusais: uma revisão de literatura. Perspectiva, Erechim.[periódico online], v. 40, p. 149, 2016.

SCARTEZINI, G. R; OLIVEIRA, C. F. P. Fechamento de comunicação buco-sinusal extensa com bola de bichat: relato de caso. Revista Odontológica do Brasil Central, v. 25, n. 74, 2016.

SEIXAS, D. R. et al. Fechamento de comunicação buco-sinusal com enxerto ósseo e membrana de colágeno: relato de caso. Revista de Iniciação Científica em Odontologia, v. 17, n. 2, p. 93-101, 2019.

VITTER, E. G. B; SCHWINGEL, R. A. Complicações após extrações de terceiros molares.

Revista Mato-grossense de Odontologia e Saúde, v. 1, n. 1, p. 39-51, 2023.