REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch1020250321515
Gustavo Machado de Rezende1
RESUMO
Introdução: A apendicite aguda (AA) é uma das principais causas de cirurgias de emergência, com uma maior incidência em homens e em jovens adultos. Objetivo: Discutir o manejo cirúrgico da AA, avaliando sua eficácia e segurança. Metodologia: Revisão narrativa da literatura realizada nas bases de dados PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os termos “Surgery”, “acute appendicitis” e “treatment”. Foram selecionados estudos transversais, prospectivos, de coorte, ensaios clínicos e relatos de caso, publicados entre 2015 e 2025. Artigos de revisão, dissertações e estudos duplicados foram excluídos. Resultados e Discussão: O tratamento cirúrgico da AA consiste principalmente em apendicectomia precoce, com a abordagem laparoscópica sendo a preferida por ser minimamente invasiva, proporcionando menores taxas de infecção e recuperação mais rápida. A apendicectomia aberta é mais indicada em casos complicados, como apendicite perfurada, especialmente em pacientes mais velhos. O uso de antibióticos como tratamento conservador tem se mostrado eficaz em casos não complicados, diminuindo a necessidade de intervenções cirúrgicas. A cirurgia realizada dentro das primeiras 24 horas após o diagnóstico está associada a menores complicações e melhores resultados. O tempo de intervenção e o estado clínico do paciente são determinantes para a escolha do tipo de cirurgia e para o prognóstico. Conclusão: A apendicectomia continua sendo o tratamento principal para a AA, com a escolha do tipo de cirurgia dependendo da gravidade do quadro e das condições do paciente. A apendicectomia laparoscópica é preferida devido aos benefícios relacionados à recuperação, mas a cirurgia aberta ainda é necessária em casos mais complicados. O uso crescente de antibióticos para tratar apendicites não complicadas tem reduzido o número de cirurgias, mas a realização precoce da cirurgia continua essencial para evitar complicações.
Palavras-chave: Cirurgia; Apendicite Aguda; Tratamento.
ABSTRACT
Introduction: Acute appendicitis (AA) is one of the leading causes of emergency surgeries, with a higher incidence in men and young adults. Objective: To discuss the surgical management of AA, evaluating its effectiveness and safety. Methodology: Narrative literature review conducted in the PubMed and Virtual Health Library (BVS) databases, using the terms “Surgery”, “acute appendicitis”, and “treatment”. Cross-sectional, prospective, cohort studies, clinical trials, and case reports published between 2015 and 2025 were selected. Review articles, dissertations, and duplicated studies were excluded. Results and Discussion: The surgical treatment of AA primarily involves early appendectomy, with the laparoscopic approach being preferred due to its minimally invasive nature, providing lower infection rates and faster recovery. Open appendectomy is more commonly indicated for complicated cases, such as perforated appendicitis, especially in older patients. The use of antibiotics as a conservative treatment has proven effective in uncomplicated cases, reducing the need for surgical interventions. Surgery performed within the first 24 hours after diagnosis is associated with fewer complications and better outcomes. The timing of the intervention and the patient’s clinical condition are key factors in determining the type of surgery and prognosis. Conclusion: Appendectomy remains the primary treatment for AA, with the choice of surgery depending on the severity of the condition and the patient’s overall health. Laparoscopic appendectomy is preferred due to recovery-related benefits, but open surgery is still necessary in more complicated cases. The growing use of antibiotics for treating uncomplicated appendicitis has reduced the number of surgeries, but early surgery remains essential to avoid complications.
Keywords: Surgery; Acute appendicitis, Treatment.
INTRODUÇÃO
A apendicite aguda (AA) é a principal causa de cirurgias de emergência, com um risco vital de ocorrência estimado entre 7% e 8%. Este quadro é mais comum em pacientes do sexo masculino, com uma taxa de incidência variando entre 68,8 e 88,0 por 100.000 pessoas, enquanto no sexo feminino essa taxa é de 55,3 por 100.000. A incidência de AA também é maior em crianças e jovens adultos, sendo menor em pacientes de idade avançada, com uma prevalência de 5% a 10% entre os idosos. Atualmente, a apendicectomia laparoscópica é considerada o tratamento de referência para a AA (Dowgiałło-Wnukiewicz et al., 2019).
A apendectomia é tradicionalmente o tratamento padrão para a AA, mas, recentemente, seu uso em casos não complicados tem sido questionado. Vários estudos sugerem o uso de antibióticos como tratamento inicial para a AA, em vez de cirurgia. No entanto, prever a evolução da doença continua desafiador, mesmo com exames de imagem, e em 14 a 40% dos casos tratados com antibióticos, há recidiva, necessitando de cirurgia posterior. As diretrizes sobre os tratamentos conservador e cirúrgico apresentam variações significativas (Stöß et al., 2021).
A AA, sendo uma das causas mais comuns de operações de urgência, exige aprimoramento constante no manejo cirúrgico para minimizar complicações e melhorar os resultados. Sendo assim, o objetivo deste estudo é discutir o manejo cirúrgico da AA, avaliando sua eficácia e segurança, para fornecer uma base sólida que auxilie na padronização e otimização dos cuidados no tratamento dessa condição.
METODOLOGIA
Esta é uma revisão narrativa da literatura realizada nas bases de dados da PubMed e da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a busca, foram utilizados os termos “Surgery”, “acute appendicitis” e “treatment“, combinados pelo operador booleano “AND”. Foram selecionados estudos transversais, prospectivos, de coorte, ensaios clínicos e relatos de caso publicados nos últimos 10 anos (2015-2025), nos idiomas português, inglês ou espanhol. Estudos de revisão, teses, dissertações, artigos pagos e duplicados foram excluídos da análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tratamento cirúrgico para a AA consiste principalmente em realizar a apendicectomia o mais rápido possível, a fim de evitar complicações, como a perfuração do apêndice. A abordagem laparoscópica é preferencial devido ao seu caráter minimamente invasivo, utilizando câmaras e troca de trocartes para criar um espaço adequado para a cirurgia. Em casos de apendicite complicada ou perfurada, a remoção do apêndice deve ser acompanhada de medidas adicionais, como a drenagem de fluidos e a inspeção cuidadosa da cavidade abdominal para prevenir o acúmulo de secreções. A profilaxia antibiótica deve ser administrada logo após o diagnóstico para reduzir o risco de infecções (Gorter et al., 2016).
Também pode envolver a apendicectomia aberta ou laparoscópica, sendo que a primeira é mais frequentemente indicada para pacientes mais velhos, especialmente aqueles com mais de 65 anos. Esse grupo tende a apresentar níveis elevados de proteína C reativa (PCR) e inflamação peritoneal extensa, o que pode influenciar a escolha do procedimento (Dowgiałło-Wnukiewicz et al., 2019).
O estudo de Stöß et al. (2021) analisou a redução no número de apendicectomias para AA, observando uma diminuição de 9,8% no total de cirurgias realizadas, apesar do aumento na proporção de casos complicados. Esse declínio pode ser atribuído à crescente adoção de tratamento conservador com antibióticos para apendicite não complicada. No entanto, os casos mais graves ainda requerem cirurgia, como a apendicectomia ou ressecção cecal. O estudo também mostrou uma melhoria nas taxas de mortalidade hospitalar, especialmente para apendicite complicada.
Embora a apendicectomia laparoscópica seja preferida por apresentar menores taxas de infecção, menor dor e recuperação mais rápida, a apendicectomia aberta ainda é frequentemente utilizada em casos de apendicite complicada, devido à sua melhor visualização das aderências abdominais e da peritonite. A escolha entre essas duas abordagens depende não apenas da gravidade da condição, mas também do estado clínico geral do paciente e da experiência do cirurgião (Okita et al., 2021).
Nos casos de apendicite não complicada, a recomendação é que a intervenção seja realizada dentro das primeiras 24 horas após a admissão para minimizar riscos de complicações. Já nas apendicites complicadas, a realização da cirurgia após 12 horas está associada a um aumento significativo nas complicações clínicas. Além disso, a cirurgia realizada durante horários de emergência está correlacionada com maior risco de complicações e de aumento da mortalidade hospitalar (Uttinger et al., 2024).
CONCLUSÃO
A cirurgia permanece como o tratamento principal para a AA, com a escolha do tipo de abordagem dependendo das condições do paciente e da gravidade da situação. Embora a apendicectomia laparoscópica seja preferida devido aos benefícios de uma recuperação mais rápida e menos dor, a cirurgia aberta ainda é indicada em casos mais complexos. Além disso, a adoção crescente de antibióticos para o manejo conservador de apendicite não complicada tem diminuído o número de procedimentos cirúrgicos, embora ainda seja necessário operar casos graves. A realização de cirurgia dentro das primeiras 24 horas após o diagnóstico está diretamente relacionada a menores riscos de complicações. O tempo de intervenção e o estado clínico do paciente são fatores determinantes na escolha da técnica e no prognóstico pós-operatório.
REFERÊNCIAS
DOWGIAŁŁO-WNUKIEWICZ, Natalia et al. Surgical treatment of acute appendicitis in older patients. Polish Journal of Surgery, v. 91, n. 2, p. 12-15, 2019.
GORTER, Ramon R. et al. Diagnosis and management of acute appendicitis. EAES consensus development conference 2015. Surgical endoscopy, v. 30, p. 4668-4690, 2016.
OKITA, Atsushi et al. Successful surgical management of acute appendicitis in a centenarian. Acta Medica Okayama, v. 75, n. 3, p. 385-389, 2021.
STÖß, Christian et al. Acute Appendicitis: Trends in Surgical Treatment: A Population-Based Study of Over 800 000 Patients. Deutsches Aerzteblatt International, v. 118, n. 14, p. 244, 2021.
UTTINGER, Konstantin et al. The impact of surgical timing on outcome in acute appendicitis in adults: a retrospective observational population-based cohort study. International Journal of Surgery, v. 110, n. 8, p. 4850-4858, 2024.
1Médico Residente em Cirurgia Geral – Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília, DF;E-mail: gustavomrezende@outlook.com