HARMFUL EFFECTS OF USING ACTIVATED CHARCOAL ON DENTAL HEALTH
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411131512
Kalliu Miranda Macedo e Araújo
Letícia Gabriela Sousa Campos
Manoel Alves Godinho Neto
Orientadora: Profa. Iorrana Morais
Resumo
A sociedade tem estabelecido padrões de beleza que beiram ao perfeccionismo e a busca pelo sorriso ideal tem ganhado cada vez mais atenção. Com a divulgação nas redes sociais, os produtos clareadores à base de carvão ativado têm se tornado populares, pois prometem dentes mais brancos em um curto intervalo de tempo, e mediante um baixo custo. No entanto, não são divulgados os malefícios do carvão ativado, como a deterioração que o mesmo causa no esmalte dos dentes. Este estudo objetivou analisar a eficácia e os riscos associados ao uso de dentifrícios e enxaguantes bucais com carvão ativado. Para isso, foi realizada uma revisão de literatura baseada em artigos científicos sobre o tema em questão.
Palavras-chave: Carvão ativado. Dentifrícios. Clareamento dental. Saúde bucal.
Abstract
Society has established beauty standards that border on perfectionism, and the search for the ideal smile has gained increasing attention. With the promotion on social media, activated charcoal-based whitening products have become popular, as they promise whiter teeth in a short period of time, and at a low cost. However, the harmful effects of activated charcoal, such as the deterioration it causes to tooth enamel, are not disclosed. This study aimed to analyze the effectiveness and risks associated with the use of toothpastes and mouthwashes with activated charcoal. To this end, a literature review based on scientific articles on the subject in question was conducted.
Keywords: activated charcoal; toothpastes; dental whitening; oral health.
1. INTRODUÇÃO
A odontologia moderna tem dado cada vez mais ênfase às práticas focadas na melhoria estética dos sorrisos. O clareamento dental, em particular, se destaca como um dos tratamentos mais procurados nas clínicas, devido aos diversos fatores que podem alterar a coloração dos dentes, como o consumo de bebidas escuras, o tabagismo e até mesmo irregularidades na formação dental (Watts; Addy, 2001).
Nesse cenário, novas técnicas estão sendo introduzidas para aprimorar, facilitar e tornar mais acessível o clareamento dental. Um exemplo é o aumento do uso de carvão ativado como clareador, que se tornou popular, especialmente após a ampla divulgação realizada por influenciadores sobre cremes dentais e enxaguantes bucais que prometem resultados rápidos e eficazes, com mínima sensibilidade durante o uso, além de possuírem um custo menor se comparados aos procedimentos realizados em consultório odontológico (Jurema, 2016).
No entanto, muitos profissionais não aprovam sua utilização, pois, apesar de sua eficácia na remoção de manchas e no clareamento dos dentes, os efeitos adversos para a saúde dental podem ser mais intensos do que seus benefícios. O carvão ativado pode desgastar o esmalte dental, que atua como uma camada protetora dos dentes e, uma vez danificado, não se regenera. Isso pode levar a um aumento da sensibilidade dental e elevar o risco de lesões cariosas. Além disso, pode causar danos às restaurações em resinas compostas, uma vez que muitos produtos não informam se contêm flúor e não há estudos suficientes que expliquem sobre a interação entre o flúor e o carvão ativado (Penha et al., 2015).
A falta de evidências científicas que comprovem a segurança e eficácia do carvão ativado para clareamento dental ressalta a necessidade de mais investigações sobre a temática (Silva et al., 2021). Portanto, este artigo objetivou analisar a eficácia e os riscos associados ao uso de dentifrícios e enxaguantes bucais com carvão ativado em sua composição.
2. METODOLOGIA
Para que o objetivo fosse alcançado, foi realizada uma revisão de literatura com base em artigos científicos e trabalhos acadêmicos publicados a partir de 2016. As buscas foram realizadas na base de dados Google Scholar, a partir da inserção das seguintes palavras-chave: “clareamento com carvão ativado” e “clareamento dental”. Como critérios de inclusão foram considerados: i) artigos científicos e trabalhos acadêmicos (trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses); ii) acesso aberto ao texto completo; iii) ano de publicação de 2016 até a atualidade; e iv) estudos revisados por pares publicados em inglês ou português.
Após a aplicação dos critérios de inclusão e remoção das duplicatas, a bibliografia encontrada foi direcionada para a leitura dos títulos e resumos, sendo descartados os estudos que não encaixavam-se na temática aqui proposta. Inicialmente, foram identificados 180 artigos. Desses, 48 foram excluídos por duplicidade e 118 foram considerados inelegíveis após a análise dos títulos e resumos, por não se enquadrarem nos critérios de inclusão estabelecidos e não terem correspondência temática com o objetivo deste artigo. Ao final, 14 estudos avançaram para a fase de leitura completa e análise (Figura 1).
Figura 1 – Artigos selecionados para a revisão bibliográfica
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
3. REVISÃO DE LITERATURA
A crescente demanda por um sorriso esteticamente agradável tem tornado o clareamento dental um dos procedimentos odontológicos mais procurados na atualidade, sendo reconhecido por sua simplicidade e abordagem conservadora (Santana; Silva, 2019). Nesse contexto, produtos como cremes dentais e pós à base de carvão ativado têm se popularizado, com a promessa de um clareamento eficaz. Contudo, estudos recentes indicam que esses produtos, sobretudo aqueles em forma de pó, possuem um alto poder abrasivo, removendo apenas manchas superficiais, sem clarear de fato as camadas mais profundas do esmalte (Barry et al., 2017).
O uso prolongado de produtos com carvão ativado pode resultar em um desgaste progressivo do esmalte dentário, ocasionando sensibilidade e, em casos mais severos, expondo a dentina subjacente. Além disso, esses produtos podem trazer malefícios aos tecidos moles da boca, como gengivas e mucosa oral. A exposição contínua a agentes abrasivos pode provocar irritação, inflamação e até ulcerações em áreas mais sensíveis (Rodrigues et al., 2019). A poeira fina do carvão pode se acumular nos sulcos gengivais, aumentando o risco de doenças periodontais. Assim, embora esses produtos sejam amplamente comercializados, os potenciais danos, tanto ao esmalte quanto aos tecidos bucais, exigem cautela, especialmente em casos de uso prolongado ou sem a devida orientação profissional (Andrade, Braga, 2021).
3.1 O impacto da mídia social sob diferentes aspectos
A mídia social, com sua ampla difusão de informações e tendências, tem um papel significativo na popularização dos produtos à base de carvão ativado. Os influenciadores frequentemente divulgam o carvão ativado como uma solução rápida e natural para clarear os dentes aos seus milhares de seguidores, atraindo aqueles que buscam métodos alternativos aos clareamentos tradicionais (Hassim; Muslim, 2021; Silva et al., 2021). São diversas as postagens e vídeos em redes sociais de amplo alcance que destacam os resultados rápidos e satisfatórios desses produtos, levando os consumidores a acreditarem que o carvão ativado é uma solução eficaz (Andrade, Braga, 2021).
No entanto, esse tipo de divulgação cria uma percepção errônea de que o produto é seguro e benéfico, uma vez que não revela possíveis riscos e efeitos colaterais na saúde bucal (Andrade, Braga, 2021). Além disso, a falta de regulamentação para produtos de clareamento dental acaba resultando em desinformação. É nesse cenário que as redes sociais encontram a possibilidade de veicular informações enganosas sobre a segurança e eficácia do carvão ativado, sem as devidas orientações profissionais (Chhaliyil; Schoel; Chhaliyil, 2021).
Dentistas e especialistas em saúde bucal têm expressado preocupações sobre o uso excessivo do carvão ativado, alertando para potenciais danos ao esmalte dental e à saúde oral. Contudo, o posicionamento desses profissionais geralmente é ofuscado pela popularidade dos influenciadores e seus níveis de alcance nas redes sociais, uma vez que são famosos e celebridades que detêm milhares e até milhões de seguidores (expectadores) e são contratados para fazer a divulgação e a publicidade desses produtos (Viana et al., 2021).
4. DISCUSSÃO
Em razão da pressão estética imposta pela sociedade contemporânea, o interesse pelo clareamento dental aumentou consideravelmente nos últimos anos. Isso tem levado as pessoas a consumirem produtos disponíveis no mercado mesmo sem ter prescrição ou orientação de um profissional. Um dos dentifrícios mais utilizados é a pasta de dente com carvão ativado, que utiliza uma tecnologia de clareamento abrasivo, fazendo com que as partículas presentes em sua fórmula atuem na superfície do esmalte, eliminando manchas (Brooks; Bashirelari; Reynolds, 2017).
No entanto, o uso constante de pastas compostas por carvão ativado pode resultar em danos permanentes na estrutura dentária e em restaurações, causando uma abrasão, que é uma lesão decorrente da perda dessas estruturas dentárias, após o uso de forças mecânicas externas. Além disso, pode causar hipersensibilidade nos dentes, retração gengival, maior vulnerabilidade à ocorrência de cáries e, em longo prazo, a descoloração das restaurações estéticas (Pego, 2016).
Um estudo realizado por Palandi et al. (2020) verificou que o pó do carvão ativado não provocou uma alteração notável na cor quando utilizado em conjunto com cremes dentais comuns e produtos clareadores. Além disso, foi constatado que o pó do carvão, quando utilizado isoladamente, provocou um aumento na rugosidade da superfície do esmalte. Por outro lado, o peróxido de carbamida em baixa concentração causou uma alteração de cor mais acentuada do que o pó de carvão, evidenciando que o poder clareador desse último talvez não seja tão intenso quanto o divulgado (Palandi et al., 2020). A pesquisa de Franco et al. (2020) chegou em conclusões semelhantes, observando que o pó de carvão possui um potencial clareador leve, consideravelmente inferior ao do peróxido de carbamida.
Os autores Brooks, Bashirelari e Reynolds (2017) observaram que, embora o flúor e os óleos essenciais estejam presentes em alguns cremes dentais à base de carvão, tais compostos podem permanecer inativos devido à interação com o carvão, o que dificulta o combate à cárie e ao mau hálito. Do mesmo modo, Torso et al. (2021) apontaram pontos negativos relacionados ao uso de carvão durante a escovação, como o comprometimento da durabilidade das restaurações em resina composta e também o seu escurecimento. Além disso, Costa et al. (2018) destacaram que a aplicação recorrente do carvão ativado pode gerar uma sensibilidade nos dentes. Todos os autores também reconhecem a ausência de investigações que possam avaliar o impacto dos produtos à base de carvão nas propriedades superficiais do esmalte dental.
No decorrer da elaboração desta revisão de literatura foi observado que as pesquisas sobre o carvão ativado são relativamente recentes. Como consequência, faltam investigações que verifiquem os efeitos do carvão ativado sobre os tecidos dentais à longo prazo. Além disso, poucos testes são baseados em fragmentos dentais humanos, de modo que grande parte dos pesquisadores utilizam dentes de origem animal. Portanto, recomenda-se a realização de mais estudos visando aprofundar a compreensão sobre os benefícios e malefícios dos cremes dentais que contêm carvão ativado em sua composição.
É essencial que o cirurgião dentista compreenda a composição, os efeitos e os fundamentos dos dentifrícios que contém carvão ativado. Além disso, tais profissionais devem estar constantemente atentos aos argumentos sem base científica que sustentam as alegações dos fabricantes e a divulgação nas redes sociais, para que possam orientar os pacientes na seleção do tratamento clareador mais apropriado.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste artigo de revisão, foi possível verificar que o carvão ativado é eficiente apenas para eliminar manchas externas, não apresentando resultados satisfatórios no clareamento da estrutura dos dentes. Além disso, o seu uso contínuo pode levar ao aumento da rugosidade na superfície do esmalte, ao desgaste e à sensibilidade nos dentes, podendo colaborar também para o surgimento de cáries e problemas periodontais. Portanto, a aplicação do carvão ativado como clareador dental ainda não deve ser amplamente recomendada, demandando investigações adicionais.
REFERÊNCIAS
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