REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411041030
Bruno Melo Alkimim1
Fernanda das Chagas Jesus2
Ivo de Albuquerque Cavalcanti3
Profª. Ma. Régia de Lourdes Ferreira Pacheco Martins4
RESUMO
A malária, caracterizada por ser uma doença provocada pelo protozoário do gênero Plasmodium, pode acometer o homem através de quatro espécies: P. falciparum, P.vivax, P. ovale e P. malariae. Nesse contexto, quando presente em gestantes, nota-se a iminência de complicações ou óbitos maternos. É importante ressaltar também que existem fatores que podem aumentar as chances de contágio, destacando-se a área a qual tais mulheres estão inseridas. Desse modo, evidencia-se que, por ser uma área endêmica, Porto Velho se mostra como um foco de infecção, fazendo parte do escopo deste estudo. O objetivo principal deste trabalho foi analisar epidemiologicamente a malária em mulheres gestantes no município de Porto Velho, no período de 2018 a 2022. Nesse sentido, os dados foram analisados em concordância com as variáveis: faixa etária, zona de residência e trimestre que adquiriu a doença. Nessa perspectiva, o método utilizado foi do tipo estudo epidemiológico descritivo populacional, através da coleta de dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica Malária (SIVEP_Malária). No que se refere à fundamentação teórica, foram pesquisadas bibliografias em bancos de dados online. Após análise, espera-se que o presente estudo seja publicado e possa contribuir com a literatura científica, de modo a demonstrar os índices de malária em gestantes no município de Porto Velho/RO no período escolhido ampliando o conhecimento desse grupo ao buscarem atendimento.
Palavras chaves: Malária; Gestante; Epidemiologia
ABSTRACT
Malaria, characterized by being a disease caused by the protozoan of the genus Plasmodium, can affect humans through four species: P. falciparum, P.vivax, P. ovale and P. malariae. In this context, when present in pregnant women, complications of maternal deaths are imminent. It is also important to highlight that there are factors that can increase the chances of contagion, highlighting the area in which these women are located. Thus, it is clear that, as it is an endemic area, Porto Velho appears to be a focus of infection, forming part of the scope of this study. The main objective of this work was to epidemiologically analyze malaria in pregnant women in the municipality of Porto Velho, from 2018 to 2022. In this sense, the data were analyzed in accordance with the variables: age group, area of residence and quarter in which the disease was acquired. illness. From this perspective, the method used was a population-based descriptive epidemiological study, through data collection from the Malaria Epidemiological Surveillance Information System (SIVEP_Malaria). Regarding the theoretical foundation, bibliographies were searched in online databases. After analysis, it is expected that the present study will be published and can contribute to the scientific literature, in order to demonstrate the rates of malaria in pregnant women in the city of Porto Velho/RO in the chosen period, expanding the knowledge of this group when seeking care.
Keywords: Malaria; Pregnant Woman; Epidemiology
1 INTRODUÇÃO
Segundo os preceitos concernentes à malária, Mendonça (2016) menciona que essa patologia é uma infecção provocada por um parasita e transmitida pela picada do mosquito Anopheles, pertencente ao gênero Plasmodium. No ser humano a malária pode ser provocada por 4 espécies de Plasmodium: P. falciparum, P.vivax, P. ovale e P. Malariae e por ser uma doença infecciosa e sistêmica, apresenta manifestações de caráter agudo e de evolução crônica, além de provocar elevada prevalência e morbidade.
A transmissão ocorre por meio da picada do mosquito fêmea infectada, transmitindo, dessa forma, a espécie do Plasmodium das suas glândulas salivares para os vasos sanguíneos do humano, ocasionando parasitemia. Simultaneamente, causa alguns sintomas, dentre os quais: febre, calafrios e sudorese. Dependendo do tipo de plasmódio infectante, a malária difere em alguns aspectos importantes como em gravidade, complicações, prognóstico e tratamento. (MELO, 2018).
Quanto a epidemiologia das mulheres grávidas, estima-se que a cada ano aproximadamente cinquenta milhões de mulheres residentes em países endêmicos para a malária engravidam e enfrentam riscos aumentados de adquirirem a doença, bem como suas complicações (CHAGAS et al,2009; COUTINHO et al.,2014).
Nota-se que as modificações fisiológicas apresentadas por mulheres no período gestacional já contribuem para a predisposição ao risco, visto que diminui a imunidade e infecção por malária tornando seu estado em mais crítico, acometendo também o feto (CHAGAS et al.,2009).
É importante salientar, também, que os grandes números de gestantes que estão expostas ao risco de malária nos países endêmicos, podem ter complicações que variam de acordo com a intensidades de transmissão e imunidade adquirida (MARCHESINI, COSTA & MARINHO, 2014).
No Brasil, mais de 99% dos casos de malária são registrados na região amazônica, que engloba os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Nessa região, as condições propícias para a sobrevivência do vetor e as condições socioeconômicas e ambientais favorecem a transmissão da doença (LAPOUBLE, 2015; MUNIZ-JUNQUEIRA, 2015, p. 300; SANTELLI et al., 2016, p. 01).
Nas áreas endêmicas da região norte do Brasil, destaca-se o município de Porto Velho, o qual responde por grande número de casos de malária no estado de Rondônia. Tal realidade pode ser explicada pelas características socioespaciais dessa área, marcada pelo desmatamento, estruturação de represas e estradas (KATSURAGAWA et al., 2008).
No que se refere a relevância científica deste estudo, nota-se que ao analisar áreas endêmicas da região norte, o município de Porto Velho se apresenta como um dos principais focos de transmissão da malária em gestantes. Nesse contexto, são necessários estudos sobre o impacto da doença na gestação, os quais estimem a frequência das principais alterações e identifiquem os possíveis fatores de risco associados à infecção.
Tem-se como objetivo geral, analisar a situação e aspectos epidemiológicos da malária em gestantes residentes no município de Porto Velho/RO, no período de 2018 a 2022. Diante dos preceitos, foram analisados os casos autóctones segundo a distribuição espacial no município de Porto Velho, além de caracterizar os casos de malária segundo as variáveis: faixa etária, zona de residência, trimestre da gestação que adquiriu a doença e espécie parasitária.
Dessa forma, justificou-se a necessidade do presente trabalho discutir sobre a elucidação, no aspecto científico, os aspectos epidemiológicos da doença quando presente em mulheres grávidas nessa região, de modo a colaborar com a sociedade científica.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa em questão é um estudo epidemiológico descritivo populacional, com ênfase na relação entre característica amostral, doença, local e tempo. Nesse caso, buscou-se estudar a variabilidade da distribuição de mulheres grávidas portadoras de malária na cidade de Porto Velho/RO entre os anos de 2018 a 2021. Portanto, como estudo descritivo foram analisados os dados selecionados, a fim de se obter uma melhor visão sobre esse espectro. Nesse cenário, a descrição do estudo tem compromisso com a linearidade e com a realidade, não havendo manipulação ou interferência nos resultados.
O estudo é direcionado ao município de Porto Velho/RO, a capital do seu estado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021), a cidade possui 34.090,952 km², está localizada na parte Oeste da Região Norte da República Federativa do Brasil, fazendo fronteira ao Oeste com a República de Bolívia, ao Norte com os estados do Amazonas e Acre e ao Leste e Sul com o estado do Mato Grosso. O município está situado na região da Amazônia Ocidental, no Planalto Sul Amazônico, uma das parcelas do Planalto Central. Porto Velho possui uma população estimada de 548.952 habitantes. Quanto às questões territoriais e ambientais, o município tem 42,8% de domicílios com esgotamento sanitário apropriado, 40% de casas urbanas em vias públicas com arborização e 21,7% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (IBGE, 2019). Rondônia é considerado atualmente como o terceiro estado com maior risco de transmissão de malária na região Amazônica, sendo que em primeiro e segundo lugar estão o Pará e o Amazonas, respectivamente. Em 2009, foram notificados 41.298 casos de malária no estado. O que representa cerca de 13,65% do total de casos de malária na região, conforme o Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica de Malária (SIVEP_malaria).
Nessa conjuntura, a cidade de Porto Velho/RO, teve um crescimento exponencial e sem planejamento, fazendo com que a qualidade de vida não acompanhasse o seu desenvolvimento, sendo perceptível, em diversas áreas, a falta de condições sanitárias até os dias atuais, o que proporciona o desenvolvimento de doenças, como a Malária. Tal insalubridade torna as populações de risco mais suscetíveis a contrair a doença, em destaque as crianças menores de cinco anos de idade, as gestantes e indivíduos primoinfectados. (BRAGA, 2021).
Foram incluídas neste estudo todas as mulheres grávidas que apresentaram positividade para malária e que foram notificadas pelo SIVEP_Malaria, no município de Porto Velho/RO no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. Como critérios de inclusão têm-se: mulheres gestantes com positividade para malária conforme notificação no SIVEP_Malaria.
Para a amostragem, foram utilizadas as notificações registradas referentes a distribuição espacial dos casos de malária em gestantes em Porto Velho/RO. Nessa perspectiva, o processo foi realizado em duas etapas, nas quais foram levantados os dados presentes no SIVEP_Malaria relacionados tanto à população quanto à doença.
O SIVEP possui dados sobre o local provável de infecção, data dos primeiros sintomas e a espécie de parasita, sexo e idade do paciente, dados estes importantes para a realização deste estudo. Durante todo procedimento foi utilizado uma pesquisa descritiva e crítica para a coleta dos dados, a fim de diferenciar o curso da doença nas diferentes fases trimestrais da gestação, com seus efeitos e possíveis correlações.
A análise qualitativa contará com o fundamento do embasamento teórico construído a partir da bibliografia e dos dados coletados. Nesse sentido, a análise estatística dos dados foram baseadas nos dados quantitativos dispostos pelo SIVEP, os quais foram processados, utilizando pacotes estatísticos no software gerenciador 13 de planilhas Microsoft Excel® versão 2010 para uso de tabelas nos resultados. Além dos supracitados, foi utilizado o software QGIS, que é uma aplicação de Sistema de Informações Geográficas (SIG) de código aberto que fornece suporte à visualização e edição, assim como análise de dados geoespaciais. Nessa concepção, nesse software é permitido a manipulação e análise de dados espaciais, os quais são gerenciados com o uso de dados geográficos digitais, dados vetoriais e raster.
A sistematização e comparação dos dados se deram pelo software de criação de tabelas e análise estatística baseados na fórmula automática do Microsoft Excel® versão 2010, esse software permite a aglutinação de planilhas, somatória automática de dados e opção de criação de gráficos a partir desses dados sistematizados, nesse tocante, essas ferramentas foram utilizadas para criar o gráfico presente na figura 1, que discrimina a incidência de casos por faixa etária. Cabe salientar que tais softwares, ao serem aplicados nesse estudo, facilitam o acesso à informações geográficas da região, possibilitando uma melhor visualização da relação causa e efeito, com a localização. Em vista disso, essas ferramentas possibilitaram entender a região de Porto Velho em seus fatores, facilitando a compreensão da dispersão dos casos de malária em gestantes conforme a fonte de infecção.
Os princípios éticos e legais deste projeto foram encaminhados para apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), conforme preconizam as normas constantes na Resolução 466/12/CNS. O estudo foi realizado conforme modelo utilizado em pesquisas desenvolvidas e pelo Comitê de Ética, o mesmo, não acarretará nenhum risco às pessoas pesquisadas, tendo em vista, que os dados serão elencados a partir de um banco de dados SIVEP. Além disso, o participante não obteve e nem terá nenhum benefício, seja financeiro ou material, seja direto ou indireto. A participação na pesquisa não envolve qualquer tipo de indenização. Nesse viés, a pesquisa foi realizada após o envio e aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa (CEP).
3 RESULTADOS
Para analisar a situação epidemiológica da malária em gestantes residentes de Porto Velho, de 2018 a 2022, foram utilizadas as notificações referentes aos casos de malária em gestantes e o número de casos totais notificados no SIVEP_malaria, por ano de notificação, por local provável de infecção. É realizado o cálculo do percentual de casos de malária em gestantes, pelo total de casos na população, conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Total de casos autóctones de malária, casos e percentual em gestantes, em residentes de Porto Velho/RO, de 2018 a 2022
Ano | Casos autóctones de malária | Casos autóctones em gestantes | % de casos em gestantes |
2018 | 4.760 | 05 | 0,11 |
2019 | 6.590 | 12 | 0,18 |
2020 | 7.214 | 09 | 0,12 |
2021 | 8.518 | 15 | 0,18 |
2022 | 8.080 | 08 | 0,10 |
Fonte: SIVEP Malária, DVS, Semusa/PV, acessado em 30/09/2024
Em termos absolutos, o número total de casos de malária no Município de Porto Velho correspondeu a 4760 no ano de 2018, dos quais apenas 0,11% corresponderam a gestantes, no ano de 2019 o número subiu para 6590 diagnósticos sendo 0,18% em gestantes, em 2020 a taxa continuou subindo para 7214 infectados e diminuiu o número de gestantes infectadas para 0,12%, o ano de 2021 permaneceu em crescente com 8518 casos dos quais 0,18% eram gestantes e em 2022 demonstrou a primeira queda de todo o período com 8080 casos dos quais 0,10% eram gestantes, os dados relatados foram representados na tabela 1 (SIVEP, 2024).
A análise estatística da porcentagem de testes realizados, tendo em vista o parâmetro geral de casos suspeitos revela que de 2018 até 2022, foram realizados exames em apenas 3,3%, 4,7%, 2,9%, 3,2% e 3,6% das pacientes com suspeita do quadro. Esses dados demonstram não atender ao preconizado pelo Ministério da Saúde, uma vez que deveriam ser realizados 100% dos testes nessa população específica, tendo em vista a fragilidade e o risco à gestação (BRASIL, 2022; SIVEP_Malaria ).
A análise dos dados coletados do período de 2018 a 2022 de gestantes residentes no município de Porto Velho com diagnóstico de malária foi de 49, a distribuição relativa entre os anos foi de cerca de 10 por cento no ano de 2018 (5 casos), 24,4 por cento no ano de 2019 (12 casos), 18,3 por cento no ano de 2020 (9 casos), 30,6 por cento no ano de 2021 e 16,3 por cento em 2022 (8 casos). Esses dados mostram que o ano de 2021 apresentou o maior índice de contaminação em gestantes em todo o período analisado (SIVEP,2024).
Foi realizada uma análise quanto à prevalência dos casos de malária na gestação de acordo com a idade materna, disponibilizada na Figura 1. Foi constatado que 28,5 por cento (14 casos) em gestantes estavam na faixa etária de 10 a 19 anos; 38,7 por cento (19 casos) eram gestantes de 20 a 29 anos; 28,5 por cento (14) casos estavam na faixa etária de 30 a 39 anos e, por fim, 4 por cento estavam na faixa etária de 40 a 49 anos (2 casos). Logo, tais dados refletem uma maior taxa de gestação na faixa etária de 20 a 29 anos (SIVEP, 2024)
Figura 1 – Casos de malária em gestantes residentes em Porto Velho-RO, segundo faixa etária de 2018 a 2022.
Fonte: SIVEP Malária, DVS, Semusa/PV, acessado em 30/09/2024
Considerando a análise dos dados acerca das localidades de residência das pacientes gestantes infectadas pela malária demonstrou-se que ao total 14 moravam em zona urbana no período da análise e 35 moravam em zona rural, comprovando o impacto do mosquito anopheles nas zonas rurais e florestais, onde se encontram seus viveiros naturais, esses dados foram representados na Tabela 2 (CDC, 2023; SIVEP, 2024).
Tabela 2 – Casos de malária em gestantes residentes em Porto Velho-RO, segundo zona de residência
Zona Urbana | Zona Rural | Total | ZU (%) | ZR (%) | |
2018 | 02 | 03 | 05 | 40,0 | 60,0 |
2019 | 02 | 10 | 12 | 16,7 | 83,3 |
2020 | 02 | 07 | 09 | 22,2 | 77,8 |
2021 | 06 | 09 | 15 | 40,0 | 60,0 |
2022 | 02 | 06 | 08 | 25,0 | 75,0 |
Total | 14 | 35 | 49 | 28,6 | 71,4 |
Fonte: SIVEP Malária, DVS, Semusa/PV, acessado em 30/09/2024
Quanto ao período de infecção dessas gestantes, a análise dos dados demonstrou que 14 mulheres contraíram a doença no primeiro e no terceiro trimestre,
16 no segundo trimestre e 5 delas não tiveram dados específicos quanto a esse desfecho, a representação desses dados foi feita na Tabela 3. Esse dado demonstra que a maioria dos diagnósticos se deu no segundo trimestre da gestação e isso ressalta a importância dos exames de triagem do pré-natal, uma vez que a agilidade no tratamento desse tipo de patologia impacta significativamente no seguimento da gestação e na possibilidade de complicações gestacionais como a restrição do crescimento intrauterino, anemia, hipoglicemia, parto prematuro, aborto, entre outras. (Reddy, V. et al., 2007; SIVEP, 2024).
Tabela 3 – Casos de malária em gestantes residentes de Porto Velho/RO, segundo o trimestre de gestação.
Trimestre de Gestação | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | Total |
1º Trimestre | 02 | 05 | 04 | 03 | – | 14 |
2º Trimestre | 01 | 04 | 03 | 04 | 04 | 16 |
3º Trimestre | 02 | 01 | 02 | 06 | 03 | 14 |
Idade gestacional ignorada | – | 02 | – | 02 | 01 | 05 |
Total | 05 | 12 | 09 | 15 | 08 | 49 |
Fonte: SIVEP Malária, DVS, Semusa/PV, acessado em 30/09/2024
Sobre a prevalência da espécie de plasmodium, observou-se que no período destacado não houve casos de P. malarie e P. ovale, o que pode ser confirmado pelo Programa Global da Malária, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quando demonstra o padrão de prevalência dos diferentes tipos de Plasmodium no globo. Desse modo, a distribuição local dos casos de malária se concentrou nos subtipos vivax e falciparum, desses, o vivax se destaca, pode-se abordar os números absolutos nos 5 anos: 51 casos de falciparum e 265 casos de vivax (WHO, 2023; SIVEP,2024).
Nos dados coletados e apresentados na Tabela 4, notou-se que Porto Velho, nesse período, apresentou prevalência da espécie vivax com 44 casos, enquanto foram notificados 03 casos da espécie mista e 02 casos da falciparum. Nesse viés, o predomínio da espécie P. vivax pode estar relacionado à dificuldade de controle da malária vivax nessa localidade, com destaque ao grande número de assintomáticos infectados e a resistência ao tratamento, os quais podem influenciar no controle da doença.(DOS SANTOS, 2023).
Tabela 4 – Casos de malária em gestantes, segundo espécie parasitária, em residentes de Porto Velho/RO, de 2018 a 2022
Espécie | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | Total |
Plasmodium vivax | 05 | 10 | 07 | 14 | 08 | 44 |
Plasmodium falciparum | 0 | 01 | 0 | 01 | 0 | 02 |
Mista (Pv + Pf) | 0 | 01 | 02 | 0 | 0 | 03 |
Total | 05 | 12 | 09 | 15 | 08 | 49 |
Fonte: SIVEP_malaria, DVS, Semusa/PV, acessado em 30/09/2024
Para realizar a distribuição espacial dos casos autóctones de malária em gestantes, no município de Porto Velho, de 2018 a 2022, também foram utilizadas as notificações do SIVEP_malária, por ano, em gestantes, e foram distribuídos e analisados, por local de infecção no QGIS – Sistema de Informação Geográfica/SIG. Nesse cenário, os casos foram distribuídos na zona urbana e rural e para isso utilizamos dois mapas de Porto Velho, por ano. Por conseguinte, o objetivo do trabalho foi atingido e demonstrou-se que a quantidade de casos de malária nesse grupo prevalece na zona rural quando comparada com a zona urbana, o que é evidenciado nas Figura 2 e 3.
Figura 2 – Casos de malária em gestantes residentes em Porto Velho-RO, segundo bairros da zona urbana, de 2018 a 2022.
Fonte: SIVEP Malária, DVS, Semusa/PV, acessado em 30/09/2024
Figura 3 – Casos de malária em gestantes residentes em Porto Velho-RO, distribuídos na zona rural, de 2018 a 2022.
Fonte: SIVEP Malária, DVS, Semusa/PV, acessado em 30/09/2024
4 DISCUSSÃO
Os dados coletados neste estudo revelam uma prevalência significativa de malária em gestantes em Porto Velho, especialmente naquelas no início da gestação. Esses achados estão congruentes com os resultados de (CHAGAS et al. 2009), que ressalta a vulnerabilidade das mulheres grávidas à malária devido a alterações imunológicas que ocorrem durante a gestação. A baixa taxa de testes realizados, em detrimento ao alto número de puérperas sintomáticas, demonstra a necessidade urgente de políticas públicas que incentivem a triagem e o diagnóstico precoce da doença, como sugerido por (OLIVEIRA et al. 2020), que destacam a importância da detecção precoce na redução das complicações materno-infantis.
Ademais, o maior número de casos da espécie Plasmodium vivax pode ser um reflexo das características epidemiológicas da própria região, visto que na amazônia legal esta espécie é mais prevalente, conforme apontado por (SANTOS et al. 2021). Essa situação é alarmante, pois P. vivax é conhecido por suas complicações, incluindo anemia e parto prematuro, o que pode impactar a saúde do recém-nascido e da mãe (PEREIRA et al., 2020).
Tendo em vista à área de residência, pode se identificar uma congruência dos dados coletados com os resultados atestados por (OLIVEIRA et al., 2024), reforçando a vulnerabilidade dessas populações mais afastadas à transmissão de doenças como a malária, devido principalmente ao baixo acesso à saúde. Consoante a isto, as condições de vida precária nas zonas rurais da amazônia atestado por (SANTOS et al., 2024) , associado aos dados que mostram uma incidência maior nos meses de outubro a dezembro, sugerem uma correlação com as condições climáticas que favorecem a proliferação do vetor Anopheles. Esse padrão sazonal foi observado por (SOUZA et al. 2022), isto pode refletir na falta de infraestrutura nas residências da zona rural, como a falta de saneamento básico, a não utilização de telas protetoras e de roupas adequadas, reforçando a prevalência rural.
Com relação a idade gestacional, é conivente a prevalência da infecção no segundo semestre de gravidez. As gestantes não enxergam como adequado o acesso às Estratégias de Saúde da Família (ESF), principal responsável por acompanhar os pré-natais de baixo risco (PINHEIRO, 2022), isto desencoraja a procura por assistência assistência médica ainda no primeiro trimestre, causando um retardo no diagnóstico. O exame para detecção do plasmodium é recomendado pelo Ministério da Saúde na região, tendo em vista que Porto velho é uma área endêmica de malária (BRASIL, 2012), logo como as mulheres deixam para procurar tardia e a recomendação do exame coincide com os dados atestados. A faixa etária das mulheres condiz com a prevalência do total de gestações em mulheres, já que houve um número maior de casos em mulheres entre 20-29 anos e essa faixa etária corresponde de 50 a 61 por cento de todas as gestantes do Brasil, portanto representando proporcionalmente espera-se que também ocorra um maior número de infecções dentro das idades citadas. (BRASIL, 2023)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo ressalta a importância da malária para as gestantes de Porto Velho, o que mostra um aumento na incidência da doença, principalmente na primeira fase da gravidez. A partir disso, foi demonstrado o quanto mulheres grávidas são vulneráveis à infecção por Plasmodium devido às alterações imunológicas que ocorrem durante a gravidez. Nesse cenário, a potência e a sazonalidade do P. vivax destacam a necessidade de estratégias específicas que tenham em conta os fatores climáticos que influenciam a distribuição e transmissão regional.
Nesse sentido, evidenciou-se que as taxas de detecção foram menores em mulheres grávidas, indicando uma falha no diagnóstico precoce, o qual é essencial na prevenção de complicações para a mãe e o bebê. Considerando esse fato, ressaltase a importância de se implementar políticas públicas capazes de transformar tal cenário, de modo a focar na detecção precoce e no tratamento imediato de grupos de alto risco como as gestantes.
Além disso, destaca-se a importância do avanço em investimentos nos programas de saúde e educação voltados para a prevenção da malária, com enfoque nas mulheres grávidas. Com base nesse cenário, espera-se observar a redução da morbimortalidade causada pela doença. As conclusões deste estudo destacam a necessidade de enfrentar os desafios do acesso das mulheres grávidas aos serviços de saúde e ao conhecimento sobre a malária.
Por fim, espera-se que este trabalho seja divulgado de modo que a população e profissionais da saúde tenham acesso às informações obtidas, contribuindo, dessa forma, com a expansão do conhecimento geral sobre o assunto. Para mais, almeja-se que investigações futuras avaliem a eficácia das políticas existentes na cidade e identifiquem novas abordagens para o controle da malária, tendo em vista as características da região e o momento de início da doença. Desse modo, apenas através de ações sustentadas e monitoramento das áreas de risco será possível eliminar a malária e reduzir o impacto da doença nas populações vulneráveis.
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1Acadêmico de Medicina. brunoalk18@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2024.
2Acadêmico de Medicina. E-mail:fernandachagasjesus2607@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2024.
3Acadêmico de Medicina. E-mail: ivocavalcanti7@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2024.
4Professora Orientadora. Professora do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício Carvalho. E-mail: prof.martins.regia@fimca.com.br