LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: ASPECTO EPIDEMIOLÓGICOS, DIAGNÓSTICO E A ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO CLÍNICO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10050666


Marcela Moura Wanderley[1]
Samara Pereira da Silva[1]
Clayton Pereira Silva de Lima[2]


RESUMO

O presente artigo tem como objetivo uma revisão bibliográfica em relação ao lúpus eritematoso sistêmico (LES), as principais manifestações clínicas, sintomas e possíveis tratamentos, assim como a atuação do farmacêutico no diagnóstico e acompanhamento farmacoterapêutico das pessoas acometidas, uma vez que se trata de uma doença crônica que é tratada com diversas medicações de uso contínuo, que podem vir a causar sérios efeitos colaterais, além de possíveis interações medicamentosas, o que torna o farmacêutico clínico indispensável durante o tratamento do LES. Ele é caracterizado como uma doença autoimune que atinge diversos órgãos e sintomas localizados ou gerais. Possui manifestações renais, esqueléticas, hematológicas, pulmonares. Todos os sistemas do corpo podem ser acometidos e, de forma geral, são alvos no tratamento medicamentoso e não medicamentoso.

Palavras-Chave: Lúpus eritematoso sistêmico, farmacêutico, tratamento.

The purpose of this article is a bibliographical review in relation to systemic lupus erythematosus (SLE), the main clinical manifestations, symptoms and possible treatments, as well as the role of the pharmacist in the diagnosis and pharmacotherapeutic monitoring of affected people, since it is a a chronic disease that is treated with several medications for continuous use, which can cause serious side effects, in addition to possible drug interactions, which makes the clinical pharmacist indispensable during the treatment of SLE. It is characterized as an autoimmune disease that affects several organs and localized or general symptoms. It has renal, skeletal, hematological and pulmonary manifestations. All body systems can be affected and, in general, are targets in drug and non-drug treatment.

Keywords: Systemic lupus erythematosus, pharmaceutical, treatment.

1. INTRODUÇÃO

Os seres humanos possuem o sistema imunológico que garante proteção ao corpo, fazendo com que ele produza uma resposta eficiente para combater substâncias estranhas como uma grande barreira de proteção. O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, onde o sistema imune falha ao reconhecer o próprio corpo, desencadeando a doença autoimune que possui uma patologia rara, podendo ocasionar danos principalmente nos tecidos e órgãos (Vianna, Simões & Inforzato, 2015).

Existem três formas clínicas diferentes da doença, chamadas de lúpus discóide, sistêmico e induzido por drogas. O discóide é a forma mais comum da doença, apresentando lesões inflamatórias crônicas na pele, seu diagnóstico pode ser realizado clinicamente ou por biopsia da pele. O lúpus induzido por drogas acomete indivíduos que usam produtos químicos ou medicamentos como hidralazina, procainamida e isoniazida. A forma mais complexa é o sistêmico que afeta múltiplos órgãos podendo levar à falência principalmente dos rins, seu tratamento é definido de acordo com a evolução clínica, com o foco principal no controle de sintomas agudos e crônicos (Revista Científica, 2011).

Para fazer um prognóstico correto, é necessário analisar a atividade da doença e a velocidade de evolução, as manifestações clínicas podem ser leves, moderadas ou graves dependendo do estado em que o paciente se encontra, quando os órgãos são afetados o quadro se torna mais difícil, arriscando perder a funcionalidade e levar ao óbito. Os principais sintomas podem aparecer logo no início como, lesões cutâneas, fadigas, artrite, serosite e úlceras orais, comprometendo dessa forma a qualidade de vida do indivíduo (Sandri et al., 2019)

A incidência de LES estimada em diferentes locais do mundo é de aproximadamente 1 a 22 casos para cada 100.000 pessoas por ano, e a prevalência pode variar de 7 a 160 casos para cada 100.000 pessoas.  De acordo com as estatísticas da Sociedade Brasileira de Reumatologia, cerca de 65 mil pessoas convivem com o lúpus no país, sendo a maioria formada por mulheres. Além do aumento do fator de risco que as mulheres jovens já enfrentam, as mulheres negras, latinas e asiáticas têm mais probabilidade de contrair lúpus do que as brancas e muitas vezes experimentam efeitos colaterais mais graves (Monticielo et al., 2013).

O tratamento utilizado pode variar de acordo com essas manifestações, sendo diferente para cada paciente, por isso é de extrema importância o conhecimento sobre os fármacos envolvidos, visto que serão usados por um período prolongado podendo trazer consigo alguns efeitos adversos, pois os mesmos têm como finalidade a melhoria da qualidade de vida do paciente, estabilizando e controlando os sintomas (Brasil, 2012).

Os fármacos empregados na administração no LES de acordo o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas do Lúpus Eritematoso Sistêmico são, corticóides (cortisona), os antimaláricos (hidroxicloroquina) e os imunossupressores, em especial a azatioprina e a ciclosporina. Os medicamentos utilizados no tratamento são disponibilizados pelo SUS, onde cada Estado/Município possui seus protocolos de atendimento e tratamento (Brasil, 2012).

A importância do farmacêutico para os portadores da doença que precisam de atenção e acompanhamento é nítida, principalmente na análise de prescrição e uso racional dos fármacos. Dessa forma, o profissional farmacêutico deve dispensar os medicamentos e monitorar a ação farmacológica observando sempre os efeitos colaterais que podem prejudicar a recuperação desses pacientes.

2. PROBLEMA

Quais os principais medicamentos e como eles serão utilizados para combater a doença? Por qual outro motivo a atenção farmacêutica solicitada será extremamente importante durante o processo de tratamento?

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Abordar o Lúpus Eritematoso Sistêmico desde aspectos epidemiológicos, incluindo diagnóstico, até o papel do Farmacêutico na equipe de saúde para tratar pacientes com esse agravo.

3.2 Objetivos específicos

  • Descrever aspectos epidemiológicos da doença;
  • Conhecer a causa e as características clínicas do LES;
  • Definir quais as ferramentas de diagnóstico aplicadas na identificação de pacientes com LES;
  • Discorrer sobre o tratamento preconizado considerando a posologia e dosagem dos fármacos;
  • Mostrar como o farmacêutico irá atuar na conciliação de medicamentos e atenção farmacoterapêutica do paciente.

4. JUSTIFICATIVA

O LES trata-se de uma doença autoimune inflamatória que é consequência de alguns fatores como o genético, primeiro lugar como precursor, o ambiental, como raios ultravioletas que são extremamente prejudiciais à saúde, e as infecções virais. A junção desses fatores causa a imunossupressão. Como atinge vários locais do corpo, o tratamento do Lúpus Eritematoso Sistêmico é feito com medicações diferentes que ocasionam vários efeitos adversos e podem variar de paciente para paciente. Os imunossupressores causam diversos efeitos colaterais, dificultando a adesão ao tratamento e assim, consequentemente, contribui com a piora no quadro do paciente. Portanto, é importante o acompanhamento por um farmacêutico na equipe de saúde para melhorar a adesão ao tratamento e qualidade de vida do paciente.

5. REVISÃO DE LITERATURA

5.1 Aspectos epidemiológicos

O lúpus pode ocorrer em qualquer faixa etária, incluindo crianças e gestantes, mas é mais frequente em mulheres jovens especialmente entre 15 e 45 anos. Os dados sobre a sua prevalência ainda são escassos no Brasil, mas é estimado que mundialmente a doença afeta de 3,3 a 9,7 para cada 100.000 crianças e adolescentes. Pessoas da raça negra têm quatro vezes mais chances de desenvolver a doença quando comparados com pessoas da raça branca (Telesaude RS, 2015)

Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Maranhão, foram identificadas 10030 mortes por LES no Brasil no período de 2010 a 2019, a taxa de mortalidade de pacientes é de 4,76 óbitos/100.000 habitantes. Existe diferença evidentes entre as regiões, nas regiões Sul e Sudeste apresentaram um menor índice de mortalidade, sendo a região Norte com o maior número de casos notificados (Costi et al., 2017).

Quando se trata em prevalência os números de óbitos ficam entre pacientes com 30 a 31 anos, sendo predominante no sexo feminino, indivíduos autodeclarados pardos, e na população negra, chegando ao nível universal onde afro-americanos, asiáticos e índios-americanos são os mais acometidos pela doença. Isto ocorre em consequência do nível social, no qual esses povos não possuem acesso ao tratamento nos hospitais (Abrão, 2017).

5.2 Lúpus Eritematoso Sistêmico

Em 1851 o médico francês Pierre Lazenave pesquisando a doença, lembrou que o formato das manchas que acometiam algumas pessoas assemelhava-se com as que existiam na face de alguns tipos de lobo, assim, ele chamou de lúpus que seria “lobo” em latim. O termo eritematoso surgiu por consequência das manchas avermelhadas características da doença. É o sistêmico por afetar várias partes do corpo (Unimed, 2021).

A etiologia do LES não está totalmente esclarecida, estando provavelmente relacionado com a interação de fatores genéticos, ambientais e hormonais no desenvolvimento das anormalidades imunológicas. Portanto, pessoas que nascem com susceptibilidade genética, em algum momento da vida após interação com fatores ambientais (irradiação solar, infecções virais ou por alguns micro-organismos) passam a apresentar alterações imunológicas (Lopes et al., 2016).

Por ser a forma clínica mais complexa, o LES compromete o sistema imunológico responsável pela produção de anticorpos e organização dos mecanismos de inflamação, dentre suas características destaca- se o fato de ser uma doença crônica multissistêmica, afetando a pele, articulações, células do sangue e vários outros sistemas do corpo, incluindo aqueles cuja funções serão vitais para a sobrevivência, como coração, pulmão, rins e sistema nervoso central. Aspectos como o tipo de autoanticorpo, o seu desenvolvimento e as características genéticas irão determinar as manifestações clínicas de cada indivíduo (Sociedade Brasileira De Reumatologia, 2022).

A patologia pode ser adquirida pela falha do sistema imune ou por doenças como, anemia hemolítica autoimune, tireoidite autoimune, púrpura trombocitopênica autoimune que causam a baixa imunidade, deixando o indivíduo bem mais suscetível. Outro fator que contribui para a propagação é o sexo, pois pessoas do sexo feminino são mais fragilizados, devido a uma desordem hormonal sendo mais frequente em mulheres e com idade fértil, a proporção seria entre nove a dez mulheres para cada homem afetado (Lab Tests Online, 2012).

Existe a possibilidade de ser passado de mãe para filho durante a gestação, sendo chamado de lúpus neonatal, isto acontece quando a mulher possui o lúpus eritematoso sistêmico e transfere para o bebe através da placenta (Sociedade Brasileira De Pediatria, 2013).

5.3 Manifestações clínicas

As primeiras manifestações podem aparecer logo no início decorrente do lúpus cutâneo, um tipo de lúpus que provoca uma erupção vermelha e escamosa na pele, os sinais e sintomas podem variar em intensidade aparecendo em alguns momentos ao longo da vida. Por possuir numerosas manifestações dermatológicas, tais são divididos em lúpus eritematoso cutâneo agudo, subagudo e crônico. O LES pode se desenvolver quando o paciente já possui o lúpus cutâneo, ou vice-versa, isso irá depender das fases de atividade e remissão da doença, os sintomas podem surgir em diversos órgãos de forma lenta e progressiva (em meses) ou mais rapidamente (em semanas) (Reumatologia, 2012).

Clinicamente é uma doença imprevisível, onde os sintomas aparecem com intensidade por um período e podem desaparecer, o grau e tempo da doença se torna um fator relevante para o aparecimento de sinais como a sensibilidade à luz ultravioleta, eritema em forma de borboleta sobre o nariz e as bochechas, perda de cabelo, fadiga excessiva, dores nas articulações, lesões vasculares e do sistema nervoso central podem causar convulsões, depressão, psicoses, embolia pulmonar e cefaleia (Rees et al., 2017).

A principal manifestação da forma sistêmica, e o comprometimento musculoesquelético, a maior parte dos pacientes apresentam sintomas iniciais através da musculatura, são sintomas facilmente notáveis pela pessoa, como dores nas articulações, músculos, osteopatia e mialgia são os principais distúrbios reumatológicos e de longo diagnóstico clínico (Reumatologia, 2012).

O acometimento renal também é um grande problema para os portadores de lúpus, na forma eritematosa e uma característica comum por atingir praticamente a metade das pessoas que o possuem, por provocar o mau funcionamento do glomérulo que possui pequenos vasos sanguíneos sendo a principal unidade de filtração dos rins , uma das maiores preocupações seria em não perder a funcionalidade desse órgão, trazendo complicações ainda mais graves para o estado de vida desses pacientes (Revista De Farmácia, 2010).

A singularidade com que os sintomas se desenvolvem está subordinada ao tipo de anticorpo apresentado por um indivíduo e ao modo como a evolução deste anticorpo interage com as características genéticas de tal indivíduo.  Pode-se observar que os indícios dessa doença podem depender do órgão ou sistema comprometido, a pessoa que possui a patologia pode apresentar diferentes tipos de sintomas e em diversas partes do corpo, sendo capaz de ocorrer também um difícil diagnóstico, principalmente pela falta de exame laboratorial específico (SBR, 2012). 

5.4 Diagnóstico

O diagnóstico do LES é difícil a princípio, não pode ser feito sob alterações clínicas ou laboratoriais de maneira isolada, mesmo que as manifestações sejam bastante condizentes com a patologia. O diagnóstico é baseado principalmente nos sinais e sintomas manifestados, assim como nos resultados dos exames laboratoriais que iram identificar autoanticorpos relacionados à célula do indivíduo afetado (Lowe & Steves, 2002).

O LES pode se manifestar de maneiras diferentes. As duas formas mais frequentes são o Lúpus cutâneo, que afeta a pele, e o Lúpus Eritematoso Sistêmico, que irá afetar os órgãos e os sistemas, podendo ou não causar lesões na pele. Todas as características do LES cutâneo podem se manifestar no sistêmico, no entanto, é raro a evolução do cutâneo para o sistêmico (Sociedade Portuguesa De Reumatologia,2001).

Para o diagnóstico são realizados alguns exames laboratoriais que, em conjunto com a avaliação e as manifestações clínicas, são fundamentais para o diagnóstico. Os exames laboratoriais são: hemograma com contagem de reticulócitos, teste de coombs direto, velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa, eletroforese de proteínas, asparteto-aminotransferase (TGO), alanina-aminotransferase (TGP), fosfatase alcalina, bilirrubina total e frações, desidrogenase láctica (LDH), ureia e creatina, exame qualitativo de urina (EQU), albumina sérica, proteinúria de 24 horas e avaliação de autoanticorpos (Veigas, 2010).

5.5 Tratamento medicamentoso

O tratamento objetiva principalmente a amenização dos sintomas clínicos para melhorar a qualidade de vida do paciente a longo prazo, controlando a atividade da doença e as comorbidades. É importante prevenir as crises para não haver maiores danos e consequentemente piorar a situação, dessa forma, o tratamento será de acordo com as prioridades sintomatológicas e o grau de acometimento pela enfermidade na qual o paciente se encontra (Tunnicliffe et al., 2015).

Existem várias medicações utilizadas para o tratamento do LES, incluindo antiinflamatórios não-hormonais, corticóides, antimaláricos, imunossupressores, imunoglobulina endovenosa, além de transplante de medula óssea. A expectativa de vida após o aparecimento desses fármacos nos últimos 40 anos aumentou significativamente para quem possui a doença, um sinal importante, mostrando que eles respondem bem no combate ao lúpus (Revista de Farmácia, 2010).

Dependendo do grau da manifestação é possível que seja necessário o uso de dois ou mais medicamentos em uma fase ativa da doença. Analgésicos e corticoides em baixas doses é indicado para combater sintomas leves, assim como o uso de fotoprotetores que são recomendados para proteger a pele da exposição solar. Os glicocorticoides e agentes imunossupressores são empregados no tratamento de doenças mais graves com implicação expressiva de órgãos , a supressão da inflamação possui enorme importância clínica e fez com que tais fármacos estivessem entre os agentes prescritos com maior frequência (Xiong & Lahita, 2014).

Dentre a vasta gama de drogas utilizadas na terapia da patogênese, estão hidroxicloroquina, metilprednisolona, prednisona, azatioprina, ciclosporina, danazol, metotrexato e a talidomida. As principais indicações, dosagem e classe farmacológica dos medicamentos citados estão descritos no Quadro 1.

Quadro 1. Principais medicamentos utilizados segundo o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas do Lúpus Eritematoso Sistêmico

FármacoClasseDoseIndicação
Hidroxicloroquina  Antimalárico5mg/kg/diaLES, artrite reumatoide, afecções dermatológicas, condições dermatológicas provocadas ou agravadas pela luz solar e úlceras da mucosa oral.
MetilprednisolonaAnti- inflamatório esteroide e imunossupressorPulsoterapia de 1.000 mg ou 15 mg/kg intravenosa ao longo de 1 hora por 3 dias consecutivos, repetir mensalmente conforme resposta terapêutica.Artrite, anemia hemolítica, serosite e disfunção renal, sendo utilizada em casos graves, em que se requer uma resposta mais rápida e a manutenção é feita com prednisona por via oral em dose baixa.
PrednisonaAnti- inflamatório esteroide e imunossupressor0,125-2 mg/kg/dia, por via oral, 1 vez ao dia dividida em 3 doses, de acordo com a manifestação a ser tratadaArtrite reumatoide e plaquetopenia moderada.
AzatioprinaAntimetabólito
imunossupressor
Inicia-se com dose de 1 mg/kg ao dia, por via oral, aumentando 0,5 mg/kg a cada 4 semanas até alcançar o controle das manifestações clínicas.Manifestações hematológicas, cardiopulmonares, renais e artrite reumatoide severa e em casos refratários a corticoterapia.
CiclosporinaImunossupressorInicia-se com dose de 3-4 mg/kg ao dia, dividida em 2 doses por via oral.Artrite e síndrome nefrótica.
DanazolAnti- inflamatório esteroide100 mg, 2 vezes ao dia, por via oral, no decorrer de 30 dias, podendo aumentar até 400 mg, 2 vezes ao dia.Indicado em casos refratários a glicocorticoides.
MetotrexatoAntimetabolito10 mg por semana, via oral ou subcutânea, podendo aumentar para até 25 mg por semana.Manifestações cutâneas e articulares em casos refratários a antimaláricos e glicocorticoides.
TalidomidaImunomodulador25-100 mg por dia, dividida em 2 doses diárias, por 6 meses, via oral. É utilizada em manifestações cutâneas, sendo a dose máxima de 400 mg ao dia.Manifestações cutâneas resistentes.

Fonte: Adaptado do Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas do Lúpus eritematoso sistêmico, 2013.

Esses medicamentos não são produzidos especificamente para combater o lúpus, más por possuírem várias ações farmacológicas distintas, podem ser usados com segurança, um exemplo são os antimaláricos, além de serem utilizados contra a malária observou-se que eles agem fortemente na resposta terapêutica das manifestações cutâneas. Foi constatado que todos eles são eficazes e que diminuem consideravelmente os surtos da doença preservando órgãos e tecidos, além de auxiliar na estabilidade do sistema imune. Em muitos casos, a necessidade da mudança de hábitos dificulta a adesão ao tratamento, o que corrobora para as recorrências típicas da doença (Neder et al., 2017).

A terapia não farmacológica deve ser considerada, os pacientes devem ter cuidados especiais em relação à alimentação, repouso adequado, evitar estresse, ingestão de álcool e atenção rigorosa com higiene própria, devido ao risco de infecção. A atividade física também e importante pois ajuda na regulação da glicose no sangue e o fortalecimento dos ossos, no entanto é preciso ter cautela para não ocorrer lesões. Evitar exposição ao sol, pois os raios ultravioletas prejudicam a pele. Essa maneira de tratamento ajudará em uma resposta mais eficiente do medicamento e na melhoria do bem-estar do paciente (Ministério Da Saúde, 2012).

5.6 O farmacêutico clínico e os efeitos colaterais dos medicamentos

O farmacêutico possui um papel fundamental no acompanhamento e monitoramento do tratamento do Lúpus, uma vez que se trata de uma doença crônica, ou seja, o paciente irá fazer o uso de medicamento por um longo período, onde a atenção farmacêutica se faz necessária (Prado et al., 2017).  Assim, o farmacêutico clínico atuando em conjunto com a equipe médica, irá agir de maneira a prevenir e resolver os problemas relacionados a farmacoterapia utilizadas no tratamento do Lúpus Eritematoso Sistêmico (Matos, 2020).

Ao acompanhar individualmente cada paciente, o farmacêutico clínico irá coletar dados do paciente e de seu cuidador, a fim de saber sobre a atual situação do paciente, como quando foi diagnosticado, quais medicamentos utiliza, se utiliza medicamentos para tratamento de alguma outra doença crônica, com qual tipo de LES o paciente foi diagnosticado, tudo irá contribuir diretamente no tratamento individualizado do paciente, uma vez que, com essas informações o tratamento do LES será direcionado as necessidades individuais de cada um (Matos, 2020).

O farmacêutico clínico irá fazer uma conciliação medicamentosa, ou seja, verificar todos os medicamentos que o paciente utiliza, não só os de tratamento do LES, analisar se está havendo interação medicamentosa ou alimentar, se é preciso fazer ajuste de dose, se a via de administração está correta, e os efeitos adversos. Esse acompanhamento é feito diariamente individualmente para todos os pacientes. Além disso, o profissional farmacêutico deve estar atento as variações do Lúpus Eritematoso sistêmico, como aos seus tratamentos mais atuais e suas possíveis causas (Matos, 2020).

Sabe-se que a administração simultânea de múltiplos medicamentos por um mesmo indivíduo pode ocasionar interação entre os fármacos e levar a piora do paciente ou até mesmo a sua morte caso seja usado sem orientação. Durante e após sua administração a reação dependerá de cada paciente podendo haver durante a terapia aumento da pressão arterial sudorese, sensação de medo, taquicardia, sono e após sua intervenção há aumento de peso por retenção de líquido, rosto quente e vermelho, insônia e irritabilidade (Abreu, 2020).

Os medicamentos utilizados também trazem consigo os efeitos adversos, qua dificultam a adesão e continuidade do tratamento do LES, entre as principais reações relatadas está em primeiro lugar dor de cabeça, em seguida a fadiga e náuseas, os pacientes também podem sentir azia, desconforto abdominal, boca seca e a visão borrada (Research, 2021).

As reações adversas aos medicamentos são qualquer manifestação indesejável e prejudiciais à saúde sob administração de doses terapêuticas. As RAMs são a quinta causa de morte nos Estados Unidos e no Brasil, muitos fatores influenciam, como idade, sexo, utilização de vários medicamentos juntos, entre outros. Fato que torna imprescindível o acompanhamento farmacoterapêutico por meio de um profissional farmacêutico, que irá fazer de tudo para evitar esses efeitos, mas caso aconteçam, é o profissional capacitado para conduzir o tratamento com a melhor terapêutica possível (Escórcio et al., 2021).

6. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo integrativo realizado no período de janeiro a novembro de 2023. De acordo Mendes et al. (2008) a revisão integrativa é relatada na literatura como método de pesquisa desde 1980. Dessa forma, tal estudo contribui diretamente no aprofundamento do tema estudado. As fontes utilizadas foram as diretrizes da sociedade brasileira de reumatologia, PubMed, Scielo, Google Acadêmico e o Qualis Capes.

Para o desenvolvimento do estudo, optou-se pela revisão de literatura que consiste em detectar, consultar e obter resultados relacionados ao tema proposto, de maneira organizada e sucinta para um melhor entendimento, possibilitando a construção do saber em detrimento do que está sendo apresentado. As etapas de elaboração da revisão são iniciadas com o selecionamento de hipóteses, a definição das características das pesquisas, identificação dos resultados, e por último relatos que permitem conclusões detalhadas sobre o assunto.

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Lúpus eritematoso sistêmico acomete pessoas em todas as idades, no entanto, é mais frequente entre 20 e 45 anos, com maior incidência próximo aos 30 anos (Escòcio et al., 2021).

As mulheres são mais prejudicadas devido questões hormonais que têm influência no desenvolvimento da doença, sendo frequente em mulheres negras. A incidência anual nos EUA é de 27,5 milhões para mulheres brancas, enquanto negras chega a 75,4 milhões. O estudo realizado na cidade de Piripiri (Brasil) mostrou que cerca de 60% dos casos são pacientes negros (5 mulheres para 1 homem) e 40% de pacientes brancos ( 3 mulheres para 1 homem) (Escórcio et al., 2021).

Todos os medicamentos usados no tratamento podem causar reações adversas, de acordo a pesquisa realizada na cidade de Piripiri (Escórcio et al., 2021). As reações predominantes foram dor de cabeça (60%), fadiga (40%) e náuseas (30%). Tais fatos influenciam de maneira significativa a não adesão ao tratamento que utilizam mais de um fármaco. Por isso, é importante orientar os pacientes em relação às possíveis reações durante o tratamento e como ele deve agir diante do surgimento de tais sintomas.

Dentre os fármacos que são utilizados a prednisona é o medicamento principal causador dos sintomas, no qual 70% dos pacientes com LES fazem uso desse medicamento e 60% apresentaram dor de cabeça, além de também ocasionar perda de massa óssea que pode levar ao desenvolvimento de osteoporose. Outro fármaco muito frequente no tratamento da LES é a hidroxicloroquina utilizada também em 70% dos pacientes com LES, que em 30% destes ocasionam visão turva.

Em um relato de caso de atuação farmacêutica no Hospital Universitário do Rio de Janeiro, Santos (2009), (Escórcio et al., 2021), dos pacientes atendidos no hospital acometidos por LES 55,29% faziam uso de polifarmácia onde o número máximo de medicamentos foi de 13 e mínimo de 4,9. O monitoramento dos possíveis efeitos adversos e principalmente a adesão ao tratamento são grandes contribuições do profissional farmacêutico ao portador do LES.

Ainda são poucos os estudos que tem como objetivo avaliar a adesão no tratamento do LESs. A adesão do paciente ao tratamento terapêutico é multifatorial e a inclusão do profissional farmacêutico na equipe multidisciplinar irá auxiliar na adesão ao tratamento, no uso racional de medicamentos, no auxílio às reações adversas e nas possíveis interações medicamentosas, contribuindo para um tratamento mais efetivo e que gere melhor qualidade de vida.

8. CONCLUSÃO

Atualmente não existe cura para o LES e esta patologia pode levar o paciente a quadros de saúde muito graves. Com o desencadeamento do lúpus, a vida passa a girar em torno da doença, das medicações, das orientações médicas e das limitações que ela impõe, dos exames e dos cuidados. Dessa forma, os medicamentos administrados são de extrema relevância, principalmente para os efeitos paliativos dos órgãos vitais.

Os cuidados do farmacêutico e a terapia farmacológica prestada ao paciente com Lúpus Eritematoso Sistêmico objetivam a análise dos critérios para o diagnóstico da doença, do agravo à saúde e o tratamento preconizado com os medicamentos apropriados, intervindo na prescrição de alguns fármacos quando necessário, com o intuito de obter melhores resultados clínicos. Assim, os casos apresentam peculiaridades clínicas que tornam indispensável o acompanhamento farmacêutico para o tratamento individualizado de cada paciente.

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[1] Graduandas de Farmácia generalista. Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos-UNITPAC. Av. Filadélfia, 568, Setor Oeste, CEP:77.816-540, Araguaína – TO.
E-mails: marcelamourawandwerley@gmail.com; pereiradasilvasamara55@gmail.com

[2] Doutor, Professor Assistente. Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos-UNITPAC Av. Filadélfia, 568, Setor Oeste, CEP:77.816-540, Araguaína – TO. E-mail: clayton.lima@unitpac.edu.br