Rafael Gustavo Simon – Fisioterapeuta formado pela ACE (Associação Catarinense de Ensino) em 2003; Pós-graduação em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica pela ACE em 2004; Formação em Quiropraxia, Reprogramação Músculo Articular e Mobilização Neural; Fisioterapeuta dos Clubes de Futebol: Clube Náutico Marcílio Dias (Itajaí – SC) – 2003, Joinville Esporte Clube (Joinville – SC) – 2006; Atualmente Fisioterapeuta concursado pela Aeronáutica.
1 INTRODUÇÃO
O tênis é um esporte que teve suas regras estabelecidas a partir do século XII (Galliete, 1996), porém foi no século XIV com o aparecimento da raquete, uma invenção italiana, que tornou-se mais interessante e assim difundindo-se rapidamente pela Inglaterra (Siqueira apud Brustolim,1995).
As regras do jogo variavam muito, por isso em 1875 foi nomeada uma comissão para unificá-las. O primeiro grande torneio aconteceu em Wimbledon em 1877. As primeiras quadras de tênis brasileiras apareceram em São Paulo e Rio de Janeiro em 1892, mais específico no São Paulo Athletic Club, porém somente em 1904 seriam realizados os primeiros torneios (Vespucci apud Brustolim, 1995).
Este esporte tem uma ocorrência relativamente baixa de lesões severas durante torneios e campeonatos, porém muitas lesões resultam de sobrecarga crônica, devido ao esforço diário nos treinamentos (Silva et al, 2003), portanto a cinesiologia deve ser capaz de aplicar leis e princípios de mecânica a fim de avaliar as atividades humanas (Rosa, 2001).
A biomecânica é o estudo do movimento humano, e ao determinar padrões de movimento eficazes necessários para execução dos golpes, os especialistas em biomecânica do tênis podem analisar a eficiência dos movimentos do jogador e tentar determinar se este pode ter melhor rendimento e simultaneamente reduzir ao mínimo os riscos de lesões (Crespo, 1999).
Além da biomecânica, é necessário se ter conhecimento sobre outros fatores que podem vir a interferir no desempenho do atleta ou na ocorrência de lesões como(Souza, 2003):
»Raquetes – Peso, encordoamento;
»Bola – Estado da felpa;
»Quadra – Duras, grama e saibro;
»Fator psicológico – personalidade, estado emocional.
Com o conhecimento sobre estas condições de trabalho é mais fácil de se promover um trabalho de prevenção das lesões, pois algumas delas podem ser atribuídas a métodos inadequados de treinamento, alterações estruturais que sobrecarregam mais determinadas partes do corpo (Vretaros,2002).
Porém mesmo com todos os estudos sobre a biomecânica e os fatores que podem alterar o desempenho do atleta as lesões acabem ocorrendo, e muitas vezes são causadas por over use das articulações e musculatura.
A coluna sofre muito em tenistas profissionais devido ao excesso de movimentos de rotação axial, flexão lateral, hiperextensão e flexão. O saque é um momento em que a coluna sofre muito devido aos movimentos de hiperextensão, rotação axial e flexão. A coluna lombar geralmente é a que mais sofre, até 40% dos tenistas profissionais do sexo masculino perdem pelo menos um torneio por ano em decorrência da dor nesta região (Safran, 2003).
Os praticantes de tênis também sofrem muito de epicondilite lateral, ou tênis elbow, embora seja muito rara em competidores de elite. Ela ocorre devido a esforços repetitivos e principalmente a técnica inadequada (Silva, s/d).
Lesões musculares como distensão dos adutores reto abdominal, gastrocnêmio, contraturas também são encontradas em competições. Pé, tornozelo ombro, punho e joelho são locais que podem apresentar leões tanto crônicas como traumas agudos(Safran,2003; Whiting, 2001; Souza, 2003; Silva, 2003).
O objetivo desta pesquisa foi realizar um levantamento da localização das lesões que mais acometem os tenistas entre 10 e 18 anos, em etapas de campeonatos nacionais, realizadas nas quadras de saibro do Joinville Tênis Clube, bem como realizar levantamento bibliográfico sobre alguns aspectos, como incidências e localizações das lesões, relacionadas a esta modalidade desportiva.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa caracteriza-se por uma pesquisa de campo exploratória, a população é composta por tenistas de ambos os sexos, com idades entre 10 e 18 anos, que solicitaram atendimento do departamento médico/fisioterapêutico durante as competições.
Os dados contidos neste trabalho foram coletados pelos fisioterapeutas responsáveis pelos atendimentos prestados aos atletas, tanto em quadra como no departamento durante os intervalos dos jogos, através do preenchimento de uma ficha de cadastro dos atletas atendidos.
Nesta foram informados e anotados os seguintes itens : identificação, idade, categoria, sexo, dominância e lesão.
Estes dados posteriormente foram analisados e ordenados de acordo com o sexo e localização das contusões ocorridas.
3 RESULTADOS
Os resultados obtidos com a realização da pesquisa foram os seguintes:
Na etapa da Copa Unimed de Tênis Infanto-juvenil, realizada em abril de 2004, o departamento médico foi procurado por 42 atletas, sendo 9 do sexo feminino e 33 do sexo masculino, e os locais onde mais ocorreram contusões estão descritos no GRÁFICO I.
A etapa joinvilense do Credicard Mastercard Junior’s Cup foi realizada em maio de 2004, e os atletas do sexo masculino procuraram o departamento médico para 38 atendimentos, e as atletas do sexo feminino para 14 atendimentos. O GRÁFICO II descreve a localização das lesões mais ocorridas durante esta etapa.
GRÁFICO II – LOCAIS MAIS ACOMETIDOS NA ETAPA JONVILENSE DO
CREDICARD MASTERCARD JUNIOR’S CUP:
A outra etapa que foi acompanhada, foi o Circuito Banco do Brasil de Tênis Infanto-juvenil realizada em outubro de 2004, onde foram realizados um total de 36 atendimentos, sendo 8 femininos e 28 masculinos. Os locais mais acometidos estão descritos no GRÁFICO III.
GRÁFICO III – LOCAIS ONDE OCORRERAM CONTUSÕES NA ETAPA
JOINVILENSE DO CIRCUITO BANCO DO BRASIL DE TÊNIS
INFANTO-JUVENIL
Como pôde ser observado nos gráficos apresentados, o motivo pelo qual os atletas que mais procuram o departamento médico eram as dores na coluna lombar, que apareciam durante ou após os jogos. Os atletas que mais procuraram o atendimento médico foram do sexo masculino nas três competições.
O total de atendimentos realizados nas competições foi de 130, sendo 99 em atletas do sexo masculino e 31 para as do sexo feminino.
O GRÁFICO IV apresenta todos os atendimentos realizados nas competições e a localização das contusões.
GRÁFICO IV – ATENDIMENTOS NAS TRÊS COMPETIÇÕES
Dos 130 atendimentos realizados a coluna lombar foi responsável por aproximadamente 27,6% do total, sendo um número bastante elevado se comparado com as lesões ocorridas em cotovelo e coxa que juntos somaram aproximadamente 21,4% dos atendimentos.
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Analisando-se os dados apresentados pode se observar que a procura pelo departamento foi muito maior pelos atletas do sexo masculino e fica evidenciado que os tenistas sofrem muito com a coluna lombar, estes dados estão de acordo com Safran 2002 que afirma que cerca de até 40% dos tenistas profissionais do sexo masculino perdem de pelo menos um torneio por ano devido a dores na parte inferior das costas, e isto esta provavelmente relacionado a execução repetida de saltos durante o movimento de serviço (saque). Para Bang 2003, tensões psicológicas, como estresse pré-competição, podem levar a dores musculares, dentre elas a lombalgia.
Neste trabalho o cotovelo se apresentou com um número relativamente alto em relação a alguns autores, pois de acordo Safran 2002, a extremidade inferior e a coluna vertebral representam 50 a 75% de todas as lesões do tênis. Para Silva (s/d), a epicondilite pode ser provocada por forhand ou backhand e é considerada uma patologia extremamente comum em praticantes de tênis, mas é rara em competidores de elite. Segundo Zoretto (s/d), ela pode estar relacionada ao uso de raquetes inadequadas, o encordoamento, a empunhadura e com o tensionamento inadequado.
Vretaros 2002, fala que o tênis de competição tem uma característica de busca incessante pela performance, e isto tem levado os jogadores a estarem juntos aos mais variados casos de lesão músculo-esquelética. Isto pode ser atribuído a métodos inadequados de treinamento, pelo desgaste crônico e por lacerações, que são decorrentes de movimentos repetitivos que afetam os tecidos susceptíveis.
Devido ao desprezo a avanços tecnológicos e um crescente número de especialistas médicos, afirma Silva 2003, muitos tenistas Juniors falham ao tornarem-se profissionais devido às lesões que os incapacitam de praticar adequadamente o esporte. De acordo com Crespo 1999, no diagnóstico e correção de jogadores, uma compreensão da biomecânica é necessária para que não se detenha excessivamente na estética do golpe, mas sim na eficiência do mesmo.
Os campeonatos acompanhados foram realizados em quadras de saibro, indo de contra partida com os resultados apresentados por Silva 2003, que afirma que, teoricamente, quem joga no saibro tem uma chance maior de desenvolver lesão nos membros superiores e nas quadras rápidas aumentariam as chances de leões na coluna e tendinites.
Pode se afirmar que tão importante quanto a prática de exercícios é a prevenção de danos que possam surgir, o alongamento é uma forma que visa a manutenção dos níveis de flexibilidade obtidos e a realização de movimentos de amplitude normal, com o mínimo de restrição possível(Lesões esportivas, 2001).
5 CONCLUSÃO
Como pode ser observado nos resultados, a coluna lombar foi responsável por 27,6% dos atendimentos realizados, um número bastante alto se comparado com a porcentagem ocupada pelas segundas regiões mais contundidas, cotovelo e coxa, que foi de 10,7% para cada uma.
Ao final deste trabalho pode se observar que os resultados obtidos estão de acordo com as bibliografias pesquisadas, afirmando que muitos tenistas sofrem de dores na região lombar devido a sobrecarga nela gerada.
Pode-se observar também um índice alto de atendimentos devido a contusões no cotovelo, o que provavelmente se explica pelo fato dos tenistas serem da categoria Junior, e estando ainda a procura da melhor eficácia dos golpes.
A prevenção e o aprimoramento dos golpes, com o passar do tempo, provavelmente leva a uma queda no índice destas lesões.
Pode-se sugerir a continuação do trabalho com o acompanhamento de outros campeonatos, de categorias diferentes, para se comparar os resultados e melhorar o acervo de pesquisas relacionadas a este esporte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
__________. Lesões Esportivas, 2001. Disponível em: www.msd-brazil.com. Acesso em: 25 de agosto de 2004.
Bang, G. S. S. Scout Tênis, 2003. Disponível em: www27.brinkster.com/mtenis/sobre.asp. Acesso em 25 de agosto de 2004.
Brustolin, M. Tênis no Brasil – História, Ensino e Idéias. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.
Crespo, M.; Miley, D. Manual para treinadores de Primeiro nível. Departamento de Capacitação de Professores da CBT – Curso Nível 1. 1999.
Galliete, R. Tênis Metodologia de Ensino. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.
Rosa, F. B. J. Biomecânica Global, 2001. Disponível em: www.wgate.com.br. Acesso em 24 de agosto de 2004.
Safran, Marc R., McKeag, Douglas B. e Van Camp, Steven P. Manual de Medicina Esportiva. São Paulo: Manole, 2002.
Silva et al. Medical assistance at Brazilian juniors Tennis circuit – a one-year prospective study. Journal of Science and Medicine in Sport. São Paulo, 2003.
Souza, G. M. R.; Dantas, T. S. P. e Júnior, V. M. S. Incidência de lesões traumáticas em Praticantes de Tênis. São Paulo, 2003. Monografia(4º ano de Fisioterapia), Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Tiradentes.
Vretaros, A. Revista Digital. Buenos Aires, ano 8, n. 50, julho 2002. Disponível em: www.efdesportes.com. Acesso em 24 de agosto de 2004.
Whiting, W. C. e Zernicke, R. F. Biomecânica da Lesão Músculo Esquelética. Rio de Janeiro: Guanabra Koogan, 2001.
Zoretto, R. Tenistas têm mais lesões musculares. Disponível em: www.unifesp.br/comunicão. Acesso em 25 de agosto de 2004.