LIPOMA EM CALOPSITA: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202508141554


Maisa Cristina Petruzza Carvalho1
Renata Alves Soares2
Laura Garcia Cunha3
Maria Clara Caiado Amaral Rodrigues4
Luís Alfredo Pinheiro da Costa5
Bárbara Franco Bueno Fernandes6
Carlos Eduardo Fontoura da Silva7
Cindy Stefhani dos Santos Silva8
Amanda Ludovico Dantas Estivallet9
Bruna de Oliveira Pinheiro Moraes10


RESUMO

O lipoma é definido como uma neoplasia benigna composta por adipócitos maduros, sendo relativamente comum em aves, especialmente em psitacídeos. Normalmente está associado a distúrbios metabólicos, predisposição genética e dietas hipercalóricas com excesso de lipídios. O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de lipoma em uma calopsita fêmea, com aproximadamente um ano de idade, atendida no Hospital Veterinário Privado, em Goiânia – GO. Para a elaboração deste relato, foram utilizados os prontuários médicos, exames radiográficos, registros fotográficos do período pré e pós-operatório, além do exame histopatológico do nódulo localizado na asa esquerda. O animal apresentava massa de coloração amarelada, que evoluiu rapidamente, comprometendo a função do membro, com necrose tecidual parcial e inviabilidade do mesmo. Foram realizados exames de imagem e histopatologia para confirmação do diagnóstico. O tratamento consistiu na amputação do membro acometido por desarticulação escápulo-umeral, seguida de cuidados pós-operatórios e readequação nutricional. A recuperação clínica foi satisfatória, com cicatrização adequada e melhora significativa do bem-estar da ave. Este relato reforça a importância da detecção precoce de massas em aves e da abordagem multidisciplinar, incluindo correção alimentar e condutas cirúrgicas adequadas para garantir a qualidade de vida do animal.

Palavras-chave: Lipoma. Neoplasia. Cirurgia. Calopsita. Psitacídeo.

INTRODUÇÃO

O lipoma é um tumor benigno de origem mesenquimal composto predominantemente por adipócitos maduros. Em psitacídeos, a afecção está frequentemente associada à obesidade, distúrbios endócrinos, predisposição genética e dietas ricas em sementes oleaginosas, como as de girassol, que levam ao acúmulo excessivo de gordura corporal (GASPARETTO et al., 2024).

Clinicamente, os lipomas apresentam-se como massas subcutâneas bem delimitadas, geralmente de crescimento lento, móveis à palpação e indolores. Entretanto, dependendo da localização, podem interferir na locomoção, na função de voo ou mesmo provocar traumatismos repetitivos, levando a inflamação secundária e necrose (SOBCZYNSKA-RAK et al., 2023).

As regiões mais acometidas incluem áreas distais da asa, região peitoral, abdômen e coxas. Embora geralmente assintomáticos, quando volumosos podem comprometer a função do membro e exigir remoção cirúrgica (LIMA et al., 2021). A confirmação diagnóstica é obtida por exame histopatológico, que evidencia proliferação de adipócitos bem diferenciados, com ausência de atipia celular (HANSON et al., 2019).

Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de lipoma em uma calopsita fêmea, ressaltando a importância do diagnóstico precoce, da intervenção cirúrgica correta e do manejo nutricional como parte fundamental do tratamento.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente relato utilizou dados obtidos de uma calopsita (Nymphicus hollandicus), fêmea, de aproximadamente um ano de idade, atendida em um Hospital Veterinário privado, em Goiânia – GO. Foram coletados: prontuários médicos, exames radiográficos, imagens fotográficas do pré e pós-operatório, além de fragmento do nódulo enviado para análise histopatológica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A paciente, pesando 85 g, apresentava nódulo de crescimento progressivo na asa esquerda, de coloração amarelada, que causava dificuldade de movimentação e episódios frequentes de autotraumatismo. A dieta relatada era composta predominantemente por sementes de girassol, alimento altamente lipídico e fator de risco reconhecido para o desenvolvimento de lipomas em aves (HANSON et al., 2020).

Ao exame físico, constatou-se aumento de volume na região distal da asa esquerda, com áreas de necrose superficial devido a traumas repetidos. O exame radiográfico da cavidade celomática (projeções laterolateral e ventrodorsal) não mostrou alterações significativas além de conteúdo alimentar. O estudo radiográfico do membro acometido (projeções craniocaudal e mediolateral) evidenciou apenas aumento de volume de partes moles, sem envolvimento ósseo.

Diante da inviabilidade do membro, optou-se pela amputação por desarticulação escápulo-umeral. O procedimento foi realizado sob anestesia geral inalatória com isofluorano, associado à indução venosa com propofol, intubação orotraqueal e ventilação assistida. A ave foi posicionada em decúbito lateral direito, com o membro esquerdo estendido e devidamente isolado.

Foi realizada incisão elíptica envolvendo toda a base do ombro esquerdo, com hemostasia rigorosa utilizando eletrocautério de baixa potência, evitando perdas sanguíneas significativas, já que aves de pequeno porte possuem volume circulante reduzido. A articulação escápulo-umeral foi dissecada cuidadosamente, preservando a escápula e a clavícula. Após a secção do ligamento articular e vasos de suprimento, procedeu-se à remoção completa do membro.

Em seguida, a musculatura foi suturada em dois planos com fio absorvível poliglactina 910 4-0, e a pele fechada com sutura simples interrompida com náilon 4-0. O tempo cirúrgico total foi de 40 minutos, com estabilidade dos parâmetros vitais durante todo o procedimento.

O laudo do exame histopatológico revelou proliferação de adipócitos maduros bem diferenciados, sem sinais de atipia celular, confirmando o diagnóstico de lipoma.

No pós-operatório imediato, a calopsita recebeu analgesia com butorfanol (2 mg/kg IM) e meloxicam (0,5 mg/kg VO), além de antibioticoterapia profilática com enrofloxacino (10 mg/kg VO) por 7 dias. Foi mantida em ambiente aquecido e monitorada quanto a ingestão de água e alimento. A ave apresentou boa cicatrização e recuperação funcional, com adaptação rápida ao voo unilateral.

A remoção cirúrgica é o tratamento de escolha para lipomas que causam limitação funcional, ulceração ou necrose. O sucesso do procedimento depende do preparo anestésico adequado, da técnica cirúrgica precisa e da correção dos fatores predisponentes, como dieta inadequada (SOBCZYNSKA-RAK et al., 2023). A modificação alimentar, com introdução de rações extrusadas balanceadas e restrição de sementes oleaginosas, é essencial para evitar recidivas e surgimento de novas lesões.

CONCLUSÃO

O caso relatado demonstra a importância da avaliação precoce de massas em aves, considerando que lipomas, embora benignos, podem comprometer a função do membro e demandar amputação quando não diagnosticados a tempo. A confirmação histopatológica é indispensável para diferenciar lipomas de outras neoplasias ou processos inflamatórios.

A conduta cirúrgica, aliada ao manejo nutricional correto, mostrou-se eficaz para restabelecer a saúde e qualidade de vida da calopsita. Este relato reforça a necessidade de conscientização dos tutores quanto à importância de dietas equilibradas e acompanhamento veterinário regular, prevenindo doenças relacionadas ao metabolismo lipídico em psitacídeos.

REFERÊNCIAS

GASPRETTO, Regina Cerutti; RAHMEIER, Gabriela; MATOS, Monica Regina. Xantoma em galinha de postura comercial. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. V. 10, n. 9, p. 2445–2451, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.51891/rease.v10i9.15594. Acesso em: 20 Fev, 2025.

HANSON, Melissa E, et al. Características de imagem de disseminado Inflamação xantogranulomatosa em eclectus par-podridão (Eclectus roratus). Vet Radiol Ultrasound. 2020;1–8. Disponível em: https://doi.org/10.1111/vru.12861. Acesso em: 13 Mar, 2025.

LIMA, Mariana Prada, et al. Xantogranuloma cutâneo em uma calopsita (Nymphicus hollandicus): relato de caso. Anais Científicos do 12º Simpósio de Pós-Graduação em Ciência Animal e XX Semana da Divulgação Científica. Universidade Estadual Paulista (UNESP), 2021. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/26236456-f176-415a-a1c1-c370c637f972/content. Acesso em: 21 Fev, 2025

SOBCZYNSKA-RAK, Aleksandra, et al. Xanthoma in different species-an unusual tumor with many faces. V.79, n.8, 2023. Disponível em: http://dx.doi.org/10.21521/mw.6803. Acesso em: 23 Fev, 2025


1Graduada em Medicina Veterinária – Instituição de formação: Pontificia Universidade Catolica de Goias (PUC – GO) – Endereço Institucional:  Av, Universitária 1.440, Setor Universitário. CEP: 74605-010 – Goiânia, Goiás. E-mail: maisapetruzza01@hotmail.com
2Graduada em Medicina Veterinária – Instituição de formação: Pontificia Universidade Catolica de Goias (PUC – GO) – Endereço Institucional: Av, Universitária 1.440, Setor Universitário. CEP: 74605-010 – Goiânia, Goiás. E-mail: renatalves0307@gmail.com
3Graduada em Medicina Veterinária – Instituição de formação: Universidade Federal de Goiás (UFG) – Endereço Institucional: Rodovia Goiânia, km 8 s/n – Campus – Samambaia, Goiânia – GO, 74690-900. E-mail: lauragarciacunga43@gmail.com
4Graduanda em Medicina Veterinária  – Instituição de formação: Centro Universitário de Goiás (UNIGOIÁS) – Endereço Institucional: Av. João Candido de Oliveira, 115 – Cidade Jardim, Goiânia – GO, 74423-115. E-mail: marciaclaracaiado@gmail.com
5Graduado em Medicina Veterinária – Instituição de formação: Centro Universitário de Goiás (UNIGOIÁS) – Endereço Institucional: Av. João Candido de Oliveira, 115 – Cidade Jardim, Goiânia – GO, 74423-115. E-mail: luisalfredopinheirons@gmail.com
6Graduada em Medicina Veterinária – Instituição de formação:  Universidade Federal de Goiás (UFG) – Endereço Institucional: Rodovia Goiânia, km 8 s/n – Campus – Samambaia, Goiânia GO, 74690-900. E-mail: barbarabueno100@hotmail.com
7Graduando em Medicina Veterinária – Instituição de formação: Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC – GO) – Endereço Institucional: Av, Universitária 1.440, Setor Universitário. CEP: 74605-010 Goiânia, Goiás. E-mail: carloseduardo.silvafontoura@hotmail.com
8Graduando em Medicina Veterinária – Instituição de formação: Centro Universitário de Goiás (UNIGOIÁS) – Endereço Institucional: Av. João Candido de Oliveira, 115 – Cidade Jardim, Goiânia – GO, 74423-115. E-mail: cindysthefani_94@hotmail.com
9Graduando em Medicina Veterinária – Instituição de formação: Pontificia Universidade Catolica de Goias (PUC – GO) – Endereço Institucional: Av, Universitária 1.440, Setor Universitário. CEP: 74605-010 – Goiânia, Goiás. E-mail: amanda.dantaz@gmail.com
10Graduando em Medicina Veterinária – Instituição de formação: Universo Salgado de Oliveira. E-mail: bruninhamoraes2002@gmail.com