LATIN LANGUAGE AND PORTUGUESE LANGUAGE: ASPECTS OF SYNTHESIS AND ANALYSIS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7761465
Jeniffer Tavares Viana
Laís Barros de Oliveira
Michelle Fernandes Viana
Thais da Silva Emerick Carneiro
RESUMO:
Partindo do entendimento de que a língua portuguesa foi originada de uma modalidade da língua latina, a vulgar, o presente trabalho tem por objetivo verificar e analisar as diferenças que permitem classificar o Latim como língua sintética e o Português como língua analítica, utilizando estudos de teóricos da área, principalmente de Adam Smith (1761) e de August von Schlegel (1818) por meio de Albano Dalla Pria (2006) como base para o aprofundamento da dissertação. Resultante de levantamento bibliográfico, para essa pesquisa buscou-se solidificar uma comparação entre os dois idiomas, permitindo o discorrer sobre as transformações diacrônicas sofridas tanto pela língua latina – observando desde o Latim clássico ao Latim vulgar – quanto pela língua portuguesa e os aspectos que a tornam analítica.
Palavras-chave: Diacronia; Língua Latina; Língua Portuguesa; Aspectos Analíticos; Aspectos Sintéticos.
ABSTRACT:
Starting from the understanding that the Portuguese language originated from a modality of the Latin language, the vulgar, the present work has the objective of verifying and analyzing the differences that allow to classify Latin as a synthetic language and Portuguese as analytical language, using theoretical studies Of the area, mainly of Adam Smith (1761) and August von Schlegel (1818) through Albano Dalla Pria (2006) as a basis for the deepening of the dissertation. As a result of a bibliographical survey, this research sought to solidify a comparison between the two languages, allowing us to discuss the diachronic transformations undergone by both the Latin language – from Latin Latin to Vulgar Latin – and from the Latin language. Make it analytical.
Key-words: Diacronia; Latin language; Portuguese language; Analytical Aspects; Synthetic Aspects.
INTRODUÇÃO
Quando se atribui um adjetivo a uma determinada palavra que se relacionará a seres animados ou inanimados, o primeiro impulso que se possui é o de pesquisar o seu significado. Dessa maneira, o que significa, então, denominar uma língua como sintética ou analítica? Uma primeira resposta pode ser dada diante dos estudos do filólogo August von Schlegel (1818), que ao se basear na inauguração da pesquisa sobre o assunto por Adam Smith em 1761, retoma as ponderações relativas à classificação tipológica das palavras ao fazer distinção entre uma língua analítica de uma língua sintética – resultado da tradução dos termos compounded e uncompounded do pioneiro Adam Smith.
Nesse sentido, Albano Dalla Pria (2006), doutor em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), salienta que uma língua sintética é aquela na qual a sua flexão se dá de forma mais complexa, uma vez que “expressa de forma amalgamada caso, gênero, número, tempo, aspecto, etc” (p. 114), enquanto uma língua analítica se caracteriza também pela adoção de construções sintagmáticas perifrásticas[1] — que por sua vez são recheadas de verbos auxiliares e preposições, por exemplo (Idem).
Em contrapartida, Pria deixa subentendido que uma língua não é sintética ou analítica desde a sua formação, ao alegar que “para August Schlegel e seus antecessores, a justificativa para a evolução de uma língua sintética para analítica assentaria basicamente no contato com outras línguas” (p. 115).
É a partir dessa afirmação, cujo sentido se faz ao ter em vista que a modalidade vulgar do Latim foi quem deu origem à língua portuguesa que se aperfeiçoou até ser a conhecida atualmente (NUNES, 1969), ganhando diversas formas prolongadas de se dizer a mesma coisa e necessidade de ordenação sintagmática para compreensão — ao contrário da língua latina, cujo entendimento das funções sintáticas se dá pelas declinações e pelos casos (ALMEIDA, 1992) — e que a modalidade clássica do Latim era mais restrita àqueles pertencentes às classes mais ricas, de tal forma que não permitiu um contato maior com outras línguas, tal qual pode-se apreender por Nunes (1969), e por isso, se pode acreditar que favoreceu a sua possibilidade de consideração como língua sintética.
Pode-se compreender, ainda, a questão do analitismo ou sintetização de uma língua diretamente por meio do estruturalismo linguístico, baseado no estudo de um dos fundadores da fonologia estruturalista, Edward Sapir.
[…] revisou a tipologia morfológica do século XIX ilustrando a possibilidade de diferentes formas de classificação. Dividiu as propriedades morfológicas em dois parâmetros independentes: o número de morfemas por palavra e as alterações fonológicas dos morfemas combinados, chegando a três tipos de línguas em termos do número de morfemas: analíticas (um morfema por palavra), sintéticas (um pequeno número de morfemas por palavras) e polissintéticas[2] (um grande número de morfemas, particularmente muitas raízes, por palavra). […] (PRIA, 2006, p. 118)
Com a redação desta pesquisa se espera discutir um pouco a respeito dos aspectos que possibilitam classificar a língua latina como sintética e a língua portuguesa como analítica, ressaltando teorias da Linguística, referências básicas das duas áreas e explicações detalhadas, na medida do possível, que auxiliem no esclarecimento do embate entre essas duas concepções para as línguas envolvidas. Não se tem o objetivo de limitar ou até mesmo invalidar outras percepções acerca do tema, muito menos de fazer com que as suas conclusões sejam reconhecidas como palavras sagradas ou finais; se tem o interesse de criticar, apontar e proporcionar a
reflexão do leitor para com as razões que levam as línguas portuguesa e latina a serem consideradas, respectivamente, como analítica e sintética. Este estudo foi desenvolvido almejando posteriores aprofundamentos teóricos e o auxílio no esclarecimento de pautas que talvez não tenham ficado tão compreensíveis antes de sua publicação.
LATIM: ASPECTOS QUE TORNAM A LÍNGUA SINTÉTICA
Tendo em vista o conceito de língua sintética por Pria (2006), no que diz respeito à língua latina, nesse contexto, deve-se entender que as funções sintáticas possuídas pelas palavras são representadas por casos[3] (nominativo – sujeito, vocativo – vocativo, genitivo – adjunto adnominal restritivo, dativo – objeto indireto, ablativo – adjunto adverbial e acusativo – objeto direto). As respectivas desinências para cada caso/função não exigem uma ordem sequencial para compreensão do funcionamento de cada palavra e representação no contexto, já que pela terminação já se sabe a sua função sintática (ALMEIDA, 1992).
No aspecto morfológico, nota-se uma riqueza de nomes no latim clássico, pois havia as declinações, três gêneros gramaticais (masculino, feminino e neutro) e a formação de comparativos e superlativos sintáticos para os adjetivos (PRIA, 2006).
Na passagem do latim para as línguas neolatinas, a tendência foi no sentido da redução do número de flexões – os analitismos. Em virtude dessa tendência, houve redução das flexões. Os gêneros passaram a dois (perdeu-se o neutro); os números mantiveram-se como dois, os casos passaram a um (desaparecendo a declinação nas línguas neolatinas) (Idem).
Outro fator a ser considerado como um aspecto que permite a classificação sintática da língua latina consiste na duração de uma vogal como um traço distintivo, uma vez que a disposição de uma vogal breve ou longa em uma palavra influência em sua colocação sintática (AMARANTE, 2015).
RECORTE HISTÓRICO: DO LATIM CLÁSSICO AO LATIM VULGAR
Joaquim José Nunes (1969, p. 4) pontua sobre a distinção entre o Latim literário (ou escrito) e o Latim vulgar (popular ou falado). Este era utilizado pela plebe, ou seja, as pessoas consideradas incultas e analfabetas. O Latim clássico, por sua vez, está marcado pelo legado deixado na literatura latina.
Ainda segundo o autor, nos primórdios dos tempos não existiam divergências na fala por não haver indivíduos providos de cultura intelectual; dessa forma, todos empregavam a mesma linguagem – esta era a fase arcaica do latim. (Idem, p. 5).
Contudo, o autor da obra “História da língua portuguesa” Paul Teyssier (1997) disserta sobre como Roma foi estendendo seu domínio, conquistando novos territórios, encontrando outras fontes de cultura e estabelecendo contato com civilizações mais avançadas.
Os romanos desembarcaram na Península no ano de 218 a.C. A sua chegada constitui um dos episódios da Segunda Guerra Púnica. Dão cabo dos cartagineses no ano de 209 e empreendem, então, a conquista do país. Todos os povos da Península, com exceção dos bascos, adotam o latim como língua […] (TEYSSIER, 1997).
O professor da Universidade de Paris-Sorbonne ressalta a importância que os gregos tiveram quanto ao aperfeiçoamento da linguagem. Ele complementa que, em meados do século I a.C, existiu uma forte influência dos poetas gregos, despertando nos romanos o desejo da imitação, principalmente se tratando das elites – aqueles que tinham o real acesso à instrução.
Destaca-se também a diferenciação entre a fala empregada pelas pessoas instruídas em família e na conversação entre amigos – utilizando-se de um vocabulário mais complexo, ainda que não tivesse a mesma polidez que na escrita – e a fala empregada no diálogo das pessoas que não possuíam instrução. A primeira era chamada de sermo consuetudo ou sermo cotidianus; a segunda foi denominada sermo vulgaris (NUNES, 1969, p. 5, grifo do autor).
Extinto, porém, o sermo cotidianus, a quando [sic] da irrupção dos bárbaros, com o desaparecimento da classe que falava e com ela da cultura intelectual, aquela barreira desapareceu e as tendências modificadoras, até aí mais ou menos representadas por aquele no sermo vulgaris, agora completamente livres e desembaraçadas, ostentaram-se em toda a sua pujança e, como os que falavam a nova língua eram quase todos os que faziam parte do vasto império, foi ela que por fim triunfou (1965, p. 6, grifo do autor).
Apesar da falta de fontes para atestar a existência do latim vulgar, Williams (1986, p. 15) indica que restam alguns resquícios deste, por meio de elementos interacionais ou acidentais populares presentes no latim clássico e medieval, na linguagem dos povos com os quais os romanos entraram em contato – povos estes que também absorveram traços do latim vulgar em sua linguagem.
A questão das vogais também se dá de maneira diferente entre as duas modalidades da língua latina. Williams (1986, p. 17) explicita que no latim clássico a variação de uma dada vogal era realizada de maneira quantitativa, enquanto no latim vulgar era realizada de maneira qualitativa, com exceção da letra a.
Ainda há de se comentar a respeito das modificações morfológicas vigentes no latim vulgar: as declinações caíram de cinco para três, os substantivos que antes estavam na quarta declinação migraram para segunda declinação – pois o final das duas eram parecidos – e os substantivos da quinta declinação mudaram para a terceira – salvo uma minoria que mudou para primeira, como por exemplo dies.
Willians também nos diz que houve desaparecimento do gênero neutro: “[…] os neutros singulares tornaram-se masculinos e os neutros plurais tornaram femininos da primeira declinação.” (Idem, p. 21).
Um aspecto de suma importância para o entendimento do latim vulgar como uma língua mais analítica, se contraposto ao latim literário, é a questão da extinção de todos os casos, exceto o nominativo é um caso oblíquo, como pode-se perceber no seguinte trecho:
Todos os casos finalmente desapareceram, salvo o nominativo e um caso oblíquo formado pela fusão do acusativo e ablativo (e em alguns substantivos o dativo). E na primeira declinação o nome foi substituído pelo acusativo. Alguns substantivos da terceira declinação que apresentavam flutuação do acento tônico do nominativo para os casos oblíquos formaram um novo nominativo com o acento na mesma sílaba que a dos casos oblíquos (Ibidem).
Na questão da modificação sintática em latim vulgar, o pesquisador (p. 23) aborda as modificações fonéticas, primordialmente ao se referir “a perda das consoantes finais e o enfraquecimento e perda das vogais átonas, acarretadas por um acento de intensidade incrementado”, proporcionando a presença das perífrases, ou seja, consiste na utilização de mais palavras para expressar o que antes era feito de maneira mais simplificada no latim clássico por causa do uso das desinências.
Com a tendência da queda dos casos e desinências, a análise se sobrepôs à síntese; a ordenação das palavras assume um papel essencial para a compreensão das determinadas funções sintáticas. Encontra-se um número muito maior de numerais, preposições, verbos auxiliares, dentre outras formas perifrásticas, no latim vulgar em comparação com o latim clássico.
PASSAGEM DO LATIM VULGAR PARA O PORTUGUÊS
Segundo Joaquim José Nunes (1969, p. 9-10), autor do Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa, aqueles a quem Roma enviava para colonizar novos territórios eram, em grande maioria, das camadas populares da sociedade, tais quais comerciantes e soldados. Por esta razão foi a língua destes, o latim vulgar, que se fixou lentamente nos territórios conquistados.
Assim, o contato frequente com outros povos que – apesar de terem abraçado o idioma aderido – conservaram a pronúncia a que estavam habituados, fez com que, por volta dos séculos VII ou VIII, o latim vulgar se encontrasse fracionado em tantas outras línguas – as chamadas línguas românicas. No entanto, conforme o filólogo Ismael Coutinho, autor da Gramática Histórica, entre aquele e estas “[…] houve os vários romances – assim se chamavam as modificações regionais do latim – dos quais saíram então as línguas românicas.” (1974, p. 43).
É importante ressaltar que, assim como afirma o lexicógrafo Edwin Williams, não foi somente do contato com povos diversos que resultaram as línguas românicas, mas, também, pelo incremento do acento de intensidade sobreposto ao latim vulgar de determinadas regiões e devido a sete fatos, tais quais:
[…] relativo isolamento geográfico dos grupos entre si; o desenvolvimento de unidades políticas separadas; a variação cultural e as circunstâncias educacionais; o período de romanização; as diferenças dialetais nas línguas dos colonos itálicos; os substratos linguísticos originais; e os superstratos linguísticos subsequentes (1986, p. 25)[4].
De acordo com o filólogo Ismael Coutinho (1974, p. 41) existem dez línguas românicas: o sardo, o romeno, o dalmático, o rético, o italiano, o provençal, o francês, o catalão, o espanhol e, finalmente, o português, que, segundo Nunes, se originou do dialeto galécio-português, utilizado na parte ocidental da Península Ibérica (1969, p.13).
Apesar da descendência latina, Nunes (1969, p. 17) afirma que o contato com outros povos também proporcionou a composição do Português até que ele chegasse ao idioma como é conhecido hoje, como os germânicos e árabes na Idade Média, os espanhóis, os franceses – que, de acordo com Williams, foi “a língua românica que exerceu maior influência sobre o português” (1986, p. 30) – e, mais tarde, os indígenas da África, América e Ásia.
Nunes afirma que é impossível datar o aparecimento do Português, entretanto, sabe-se que no século IX o idioma já existia, aparecendo no século XII os primeiros documentos escritos quase ou por completo em português, marcando, assim, o começo da modalidade arcaica da língua (1969, p. 14).
Pensando nisto, Nunes (1969, p. 16) afirma que é possível elencar as fases de formação da língua portuguesa da seguinte forma: a fase pré-histórica, compreendendo todo o período de formação da língua pelo latim; a proto-histórica, que abrange o século IX até o século XII; e a arcaica, que se inicia no século XII e termina em meados do século XVI – quando, segundo Williams, “[…] quase todas as características distintivas do português arcaico haviam desaparecido; a língua se tornará, no essencial, a mesma de hoje em dia.” (1986, p. 27) – inaugurando, assim, a fase moderna.
PORTUGUÊS: ASPECTOS QUE TORNAM A LÍNGUA ANALÍTICA
Em sua Moderna Gramática Portuguesa, Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Filologia, salienta que a passagem até a denominação da língua portuguesa como tal se deu “durante os escritores da Casa de Avis, com D. João I. Foi D. Dinis que oficializou o português como língua veicular dos documentos administrativos, substituindo o latim” (2009, p. 24).
Do ponto de vista linguístico, o português contemporâneo, fixado no decorrer do séc. XVII, chega ao século seguinte sob o influxo de novas ideias estéticas, mas sem sofrer mudanças no sistema gramatical que lhe garantam, neste sentido, nova feição e nova fase histórica. (BECHARA, 2009, p. 27)
Para justificar a consideração da língua portuguesa como língua analítica, tendo em vista que o analitismo se dá pela forma mais prolongada de expressão, Bechara apresenta um aspecto fundamental para estudo: a sintaxe de colocação ou de ordem, que “trata da maneira de dispor os termos dentro da oração e as orações dentro do período” (2009, p. 581).
Nesse sentido, pelo tradicionalista gramatical é possível apreender que a língua portuguesa, para que haja compreensão entre os seus falantes, requer, por exemplo, o emprego da flexão de gênero conforme a natureza da palavra analisada (feminina ou masculina) e a utilização correta de flexões de número. Mesmo em casos de transgressões da escrita propositais, que firam a ordem que saia do esquema consecutivo sujeito-verbo-complemento, respeitando as particularidades de cada classe de palavras, nomeia-se de ordem inversa ou ocasional – existindo também a anástrofe, o hipérbato e a sínquise, que são nomenclaturas atribuídas para as ordens que não seguem o esquema SVC (BECHARA, 2009, p. 581-583).
Apreende-se, assim, que a exigência da sequência de uma ordem e a elaboração de muitas ramificações na língua portuguesa para o seu entendimento pleno são aspectos que permitem exemplificar o seu caráter analítico: se pode mencionar, também a presença obrigatória do artigo, definido ou indefinido (BECHARA, 2009) e sobre a tonicidade das palavras: a existência de palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por conseguinte, mumificar o enquadramento das características de uma língua não parece tão sábio. Nesse instante, é interessante relembrar uma pauta de Nunes (1969), ao afirmar que “como qualquer ser vivo que, antes de atingir a forma que o distingue dos outros, passa por fases diversas, que lhe vão alterando as feições, as línguas […] sofrem sucessivas e constantes modificações”. Assim, a possibilidade de variação de uma língua faz com que ela não possa ser considerada totalmente consistente e fixa (PRIA, 2006) e também “o reconhecimento de que uma língua apresenta características de um determinado tipo não quer dizer que, como um todo, ela se configure como um único tipo” (PRIA, 2006 apud LYONS, 1979). Pode-se acrescentar esse apontamento ao fato da língua acompanhar as transformações sociais, uma vez que se a linguagem só existe para que se possa ter compreensão entre os falantes, o falante é quem modifica a linguagem. (CALVET, 2002)
Retratando especificamente as línguas escolhidas como objeto de análise, se mostra interessante também levantar um outro direcionamento para percepção, que envolve a influência das classes sociais no aspecto linguístico (BAGNO, 2015). Logo, o português falado pelas classes menos favorecidas predominantemente possui caráter sintético pela necessidade de clareza e ausência de conhecimentos culturais mais aprimorados, enquanto o português falado pelas classes mais favorecidas já explicita sintagmas muito mais elaborados e produzidos.
Não é diferente no Latim: os falantes do latim vulgar, provenientes da plebe e sem preocupação de formação elevada (NUNES, 1969) também não floreavam os seus pronunciamentos, enquanto os falantes do latim clássico, em geral poetas e letrados, faziam dos seus momentos de fala registros de poesia, usando “de vocabulário mais extenso e escolhido e de frase mais limada e correcta, ainda que não tanto cuidada e polida como quando escrevem, especialmente com intenção literária” (NUNES, 1969).
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Napoleão Mendes. Gramática Latina: curso único e completo. 24ª ed. São Paulo: Saraiva, 1992.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. 54ª ed. Parábola Editorial, 2015.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 2009.
CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo:Parábola, 2002.
COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1974.
LYONS, J. Introdução à linguística teórica. São Paulo: Cia. Ed. Nacional; USP, 1979.
PRIA, Albano Dalla. Tipologia linguística: línguas analíticas e línguas sintéticas.
SOLETRAS, ano VI, nº 11. São Gonçalo: jan./jun. 2006. Disponível em: <http://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/viewFile/4652/3431>. Acesso em 20 ago. 2017.
NUNES, Joaquim José. Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa. 7ª ed. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1969.
TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. Martins Fontes, 1997.
WILLIAMS, Edwin Bucher. Do Latim ao Português. 4ª ed. Tradução de Antônio Houaiss. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1986.
1Uma construção perifrástica, de acordo com Camila Bianco em sua produção “As construções perifrásticas no português brasileiro: investigação no banco de textos ‘para história do português brasileiro’” para o anal do 6º Encontro Celsul – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul – pode ser simplificada por “aquela em que o verbo está no período composto e o verbo auxiliar é formador de tempo, não apenas suporte de tempo.” (p. 1)
2Visando evitar uma extrapolação do tema do artigo, tal tipo de língua desenvolvido por Edward Sapir não será aprofundado. Contudo, isso não anula a sua importância ou presença em outras línguas.
3Terminações morfológicas.
4Ver Basseto (2013) para entender sobre substrato, superstrato, adstrato e bilinguismo, e também como esses fenômenos ocorreram nas línguas românicas.