LIBERAÇÃO MIOFASCIAL COMO RECURSO NO TRATAMENTO DAS ALGIAS NA COLUNA VERTEBRAL – UMA REVISÃO DE LITERATURA

MYOFASCIAL RELEASE AS A RESOURCE IN THE TREATMENT OF SPINAL PAIN – A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410201335


Pedro Henrique Silva Trabuco1; Olivia da Cruz Dias1; Graciely Lima Ferraz Da Silva2


Resumo

A liberação miofascial é uma técnica manual amplamente utilizada no tratamento de dores músculo esqueléticas, incluindo ciatalgia, dorsalgia e lombalgia. Este estudo tem como objetivo revisar a literatura existente sobre a eficácia da liberação miofascial no manejo das algias da coluna vertebral, destacando suas aplicações, benefícios e limitações. Foram analisados artigos científicos que discutem o uso da técnica isoladamente ou em conjunto com outras abordagens terapêuticas, como exercícios de estabilização, agulhamento a seco e manipulação articular. Os resultados indicam que a liberação miofascial pode reduzir consideravelmente a dor e melhorar a mobilidade dos pacientes, embora a eficácia varie conforme o protocolo utilizado e o perfil do paciente. A combinação da técnica com outras terapias mostrou-se particularmente eficaz em casos de dor crônica. No entanto, poucos dados foram encontrados sobre a sua aplicação no tratamento da dorsalgia, sugerindo a necessidade de mais pesquisas focadas nesta condição. Além disso, a falta de padronização nos métodos de aplicação e a limitação no número de estudos revisados são pontos críticos que devem ser considerados. Conclui-se que a liberação miofascial é uma abordagem promissora, mas requer maior rigor metodológico em pesquisas futuras para consolidar seu uso no manejo das algias da coluna vertebral.

Palavras-chave: Liberação miofascial; Dores na coluna vertebral; Ciatalgia; Dorsalgia; Lombalgia.

Abstract

Myofascial release is a manual technique widely used in the treatment of musculoskeletal pain, including sciatica, back pain and low back pain. This study aims to review the existing literature on the effectiveness of myofascial release in the management of spinal pain, highlighting its applications, benefits and limitations. Scientific articles were analyzed that discuss the use of the technique alone or in conjunction with other therapeutic approaches, such as stabilization exercises, dry needling and joint manipulation. The results indicate that myofascial release can significantly reduce pain and improve patients’ mobility, although effectiveness varies depending on the protocol used and the patient’s profile. The combination of the technique with other therapies proved to be particularly effective in cases of chronic pain. However, little data was found on its application in the treatment of back pain, suggesting the need for more research focused on this condition. Furthermore, the lack of standardization in application methods and the limitation in the number of studies reviewed are critical points that must be considered. It is concluded that myofascial release is a promising approach, but requires greater methodological rigor in future research to consolidate its use in the management of spinal pain.

Keywords: Myofascial release; Spinal pain; Sciatica; Dorsalgia; Low back pain.

INTRODUÇÃO

As algias da coluna vertebral são condições de saúde prevalentes e debilitantes, que afetam uma parcela significativa da população mundial. Entre as principais manifestações de dor associadas à coluna estão a cervicalgia, dorsalgia e lombalgia, cada uma envolvendo diferentes segmentos vertebrais. A cervicalgia, caracterizada por dor localizada na região cervical, está frequentemente associada a fatores como posturas inadequadas, estresse e sobrecarga muscular (Airaf, 2019). A dorsalgia, por sua vez, afeta a região torácica, enquanto a lombalgia, com maior prevalência, acomete a região lombar, sendo uma das maiores causas de ausência e incapacidade temporária ou permanente no ambiente de trabalho (Mauri et al., 2018). A lombalgia, particularmente, representa uma das principais causas de dor crônica em todo o mundo, afetando aproximadamente 80% da população ao longo da vida. Este quadro doloroso pode ser exacerbado por fatores como sedentarismo, sobrepeso e envelhecimento (Souza et al., 2020). A dor crônica nesses segmentos da coluna vertebral muitas vezes demanda uma abordagem terapêutica multidisciplinar, envolvendo intervenções farmacológicas, terapias físicas e, em casos mais graves, procedimentos cirúrgicos (Souza et al., 2020). Dessa forma, a compreensão adequada das causas, diagnóstico e manejo das algias da coluna é essencial para a promoção da saúde e qualidade de vida dos indivíduos acometidos. Apesar dos avanços na área terapêutica, a compreensão dos fatores biomecânicos e psicossociais relacionados às algias da coluna ainda apresenta lacunas. Estudos recentes sugerem que, além das causas estruturais, como degenerações articulares e desequilíbrios musculares, aspectos emocionais, como ansiedade e depressão, desempenham um papel significativo na percepção e manutenção da dor crônica. A relação entre mente e corpo tem ganhado destaque, com abordagens terapêuticas voltadas para o manejo integrado, que consideram o indivíduo como um todo. Uma dessas abordagens é a liberação miofascial, que tem se mostrado uma técnica eficaz tanto para o alívio da dor física quanto para a redução de tensões emocionais. Essa técnica, ao atuar na liberação das restrições do tecido conjuntivo, promove relaxamento muscular, melhora da circulação e alívio da dor, sendo especialmente benéfica para pacientes com dores crônicas. Ao integrar essa intervenção com o cuidado aos fatores psicossociais, é possível otimizar os resultados terapêuticos, reduzindo a frequência e a intensidade das crises de dor. Isso ressalta a necessidade de tratamentos personalizados, que levem em consideração tanto os fatores físicos quanto psicológicos, ampliando a eficácia das intervenções e a recuperação funcional dos pacientes. Assim, essa pesquisa buscou observar novas abordagens terapêuticas, como a liberação miofascial, e estratégias preventivas que integrem esses fatores, podem resultar em avanços significativos na redução da prevalência e impacto das algias da coluna.

METODOLOGIA

Para conduzir a revisão da literatura sobre a liberação miofascial como tratamento para algias da coluna vertebral, incluindo lombalgia, cervicalgia e dorsalgia, foi empregada uma abordagem sistemática na seleção e análise dos estudos relevantes. A pesquisa foi realizada em bases de dados amplamente reconhecidas e pertinentes à área da saúde, incluindo PubMed, Embase, Cochrane Library, LILACS, Google Scholar. Estas fontes foram escolhidas devido à sua cobertura abrangente e à qualidade das evidências científicas que oferecem. A busca foi realizada utilizando descritores específicos como “liberação miofascial”, “lombalgia”, “cervicalgia”, “dorsalgia” e “dor na coluna vertebral”, combinados estrategicamente para otimizar a recuperação de resultados relevantes. Foram considerados apenas estudos publicados entre 2019 e 2024 e disponíveis em português. O processo inicial resultou na identificação de 95 artigos. A análise dos artigos incluiu diferentes tipos de estudos, tais como retrospectivos, ensaios clínicos randomizados, revisões sistemáticas e pesquisas qualitativas. Os critérios de inclusão foram artigos que abordassem a aplicação da liberação miofascial em pacientes com dor na coluna vertebral, com foco nos efeitos da técnica sobre a redução da dor, a melhoria da mobilidade e o impacto na qualidade de vida. Foram excluídos os estudos duplicados, que não possuíam tradução e que não abordavam a liberação miofascial como intervenção principal ou que não apresentavam dados relevantes sobre as algias da coluna, totalizando assim 86 artigos excluídos. Após a triagem dos títulos e resumos, foram selecionados para leitura completa apenas os artigos que apresentaram uma relação direta com os objetivos do estudo. A seleção final compreendeu um total de 9 artigos que foram incluídos na análise para avaliar a eficácia da liberação miofascial no tratamento das condições de lombalgia, cervicalgia e dorsalgia.

RESULTADOS

A análise dos dados foi realizada de maneira qualitativa e descritiva, com as interpretações e avaliações das informações sendo responsabilidade dos autores. O objetivo principal foi identificar os resultados e conclusões mais relevantes dos estudos revisados. Com base nessa análise, foram destacados os principais pontos e tendências referentes à liberação miofascial como recurso no tratamento das algias da coluna vertebral. Além disso, a análise procurou avaliar o potencial da liberação miofascial para intervenções eficazes, destacando suas possíveis contribuições ou limitações no manejo da dor. A elaboração do quadro 1 teve como base a seleção de nove artigos científicos, dos quais foram extraídas as seguintes informações: autores, objetivo, métodos e resultados.

Quadro 1 – Características de estudos incluídos

Santos e Gonçalves (2021) abordaram os efeitos da técnica de liberação miofascial em pacientes com cervicalgia por meio de uma revisão sistemática de estudos publicados entre 2011 e 2021. Foram selecionados 5 artigos que abordavam o uso dessa técnica como parte do tratamento fisioterapêutico para dor cervical. A maioria dos pacientes tratados com liberação miofascial apresentava melhora relevante na flexibilidade e redução da dor, com destaque para mulheres que, em média, relataram maior incidência de dores cervicais. Os estudos indicaram que a técnica promoveu relaxamento muscular e alívio da tensão, além de aumentar a mobilidade da região cervical, sendo considerada uma abordagem eficaz para restaurar a função e reduzir a dor. A liberação miofascial foi aplicada predominantemente por fisioterapeutas especializados em terapia manual, e os resultados mostraram que os pacientes relataram uma melhora de 20% nos limiares de dor e 23,33% na mobilidade cervical após 4 semanas de tratamento. A técnica demonstrou ainda ser eficaz em pacientes com dor crônica, proporcionando benefícios como aumento da amplitude de movimento e melhoria na qualidade de vida. Este estudo reforça a necessidade de maior investigação sobre a liberação miofascial como parte das abordagens terapêuticas na fisioterapia, enfatizando a importância da personalização do tratamento de acordo com as características individuais de cada paciente. Embora o estudo tenha limitações, como a quantidade restrita de artigos e o foco em revisões sistemáticas, ele fornece uma base relevante para o aprimoramento das práticas fisioterapêuticas no manejo da cervicalgia.

Roesel et al. 2021 analisaram os efeitos da técnica de liberação miofascial em pacientes com cervicalgia a partir de uma revisão de literatura realizada entre junho e agosto de 2021. Foram selecionados 700 artigos inicialmente, dos quais 672 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão, restando 28 para análise. Após a leitura integral, 23 artigos foram desconsiderados por não abordarem diretamente o tema proposto. Ao final, cinco estudos foram incluídos na revisão, focando exclusivamente na eficácia da liberação miofascial no alívio da dor cervical. A maioria dos artigos selecionados relatou que a técnica de liberação miofascial reduziu consideravelmente o quadro álgico em pacientes com cervicalgia, além de melhorar a mobilidade cervical e a qualidade de vida dos indivíduos. Os participantes dos estudos variavam quanto ao sexo e idade, sendo a maioria adultos de ambos os sexos, com diagnóstico de cervicalgia de diferentes etiologias. A liberação miofascial foi aplicada tanto manualmente quanto com o auxílio de instrumentos, como rolos e espátulas, sempre visando a diminuição dos pontos de tensão dolorosos. Os resultados mostraram que a técnica apresentou maior eficácia quando aplicada de forma contínua por um período mínimo de quatro a seis semanas, resultando em alívio da dor e aumento da funcionalidade. No entanto, os estudos indicaram que a falta de padronização na aplicação da técnica e o pequeno número de amostras limitam a generalização dos achados. A revisão sugere a necessidade de mais pesquisas controladas e com amostras maiores para confirmar a eficácia da liberação miofascial como método isolado no tratamento da cervicalgia. O estudo ressalta a importância de expandir a investigação sobre a técnica de liberação miofascial, especialmente em contextos clínicos, para aprimorar o manejo da dor cervical e melhorar os protocolos terapêuticos utilizados por fisioterapeutas.

Lima 2020 investigou os efeitos da liberação miofascial e do agulhamento a seco em pacientes com cervicalgia atendidos no Centro Universitário UNIFIP. A amostra incluiu 30 participantes, dos quais 80% eram mulheres, com idades entre 25 e 45 anos, que relataram dor crônica na região cervical. A maioria dos pacientes apresentavam dor moderada ou intensa (73%) antes das intervenções, sendo que nenhum relatou dor leve. As queixas mais comuns incluíam dores neurogênicas ou tensionais, com características de pontada ou formigamento, principalmente no músculo trapézio. Os resultados demonstraram que após as intervenções, a dor leve passou a predominar (67%), com uma redução significativa nos casos de dor intensa, presentes apenas em dois indivíduos do grupo que recebeu exclusivamente o agulhamento a seco. O grupo que recebeu a associação de agulhamento com liberação miofascial apresentou maior melhora, com redução mais acentuada nos níveis de dor. O estudo também registrou aumento da amplitude de movimento em todos os grupos, sendo mais expressivo no grupo que utilizou as técnicas associadas. Embora as técnicas de agulhamento a seco e liberação miofascial isoladas tenham mostrado eficácia, a combinação delas proporcionou resultados superiores tanto na redução da dor quanto na recuperação da mobilidade cervical. O estudo destaca a importância de técnicas complementares no manejo da cervicalgia e suas implicações para a prática clínica. Limitações incluem o pequeno tamanho da amostra e a análise de curto prazo, sugerindo a necessidade de mais pesquisas para validar esses achados em outras populações e contextos clínicos.

Martins et al. 2019 observaram os efeitos da liberação miofascial em pacientes com dor miofascial, comparando técnicas manuais e instrumentais entre 2017 e 2023. Foram incluídos 112 estudos, com 85 atendendo aos critérios de qualidade metodológica. A revisão abrangeu um total de 1.245 participantes, sendo 58% do sexo feminino e 42% masculino, com idades variando entre 17 e 65 anos. Os resultados mostraram que as técnicas manuais de liberação miofascial foram mais eficazes na redução da dor e aumento da amplitude de movimento (ADM) em comparação com as técnicas de autoliberação, que apresentaram menor eficiência. As técnicas manuais, incluindo o uso de pressão profunda e deslizamento, resultaram em uma redução significativa na percepção de dor e aumento da ADM funcional. As intervenções instrumentais, como o uso de Foam Roll e Fascial Abrasion Technique (FAT), também demonstraram bons resultados, com a técnica FAT mostrando um aumento superior na ADM quando comparada ao Foam Roll. As técnicas instrumentais foram associadas a uma melhoria rápida e eficaz na ADM, mas com menor impacto na redução da dor quando comparadas às técnicas manuais. A análise revelou que a liberação miofascial é uma técnica promissora para o manejo da dor miofascial, com evolução variando de acordo com o método utilizado. A técnica manual foi a mais eficaz para alívio da dor e melhora funcional, enquanto as técnicas instrumentais mostraram benefícios rápidos na amplitude de movimento. Apesar dos resultados positivos, o estudo destacou a necessidade de mais pesquisas com rigor metodológico para aprofundar o entendimento dos efeitos fisiológicos e clínicos da liberação miofascial e para estabelecer protocolos padronizados que otimizem a eficiência do tratamento.

Bertolini et al. 2023 Analisaram os efeitos da liberação miofascial e da manipulação articular (thrust) na coluna torácica em pacientes entre janeiro e junho de 2024. Foram incluídos 32 participantes, divididos em quatro grupos: grupo controle (GC), grupo de liberação miofascial (GL), grupo de manipulação articular (GT) e grupo combinado (GLT). Os resultados mostraram que o grupo GL apresentou melhorias significativas na amplitude de movimento da coluna torácica, com um tamanho de efeito grande (1,34), comparado aos outros grupos. O grupo GLT também teve um tamanho de efeito considerável (0,92), indicando benefícios na mobilidade. As análises de força muscular, realizadas com um dinamômetro, não revelaram diferenças significativas entre os grupos (p=0,669), com tamanhos de efeito triviais para a maioria dos grupos. Apenas o grupo GLT apresentou um tamanho de efeito pequeno (0,25). No teste de controle postural (Y-test), o grupo GL obteve um tamanho de efeito grande (1,45) na medida média dos movimentos, enquanto os outros grupos apresentaram tamanhos de efeito triviais ou pequenos. As medidas específicas mostraram que o grupo GL teve um desempenho superior em amplitude de movimento geral, embora não houvesse diferenças significativas entre os grupos para medidas específicas como medial e inferolateral. O estudo destaca que a liberação miofascial foi mais eficaz em melhorar a mobilidade e a função da coluna torácica comparado com a manipulação articular e a combinação das técnicas. Contudo, nenhuma das intervenções resultou em melhorias significativas na força muscular paravertebral. Esses resultados indicam a necessidade de continuar explorando e aprimorando as técnicas para otimizar a eficácia na prevenção de quedas e na reabilitação funcional.

Coelho 2020 analisou os efeitos da liberação miofascial (LMF) em pacientes com lombalgia através de uma revisão de literatura. Foram incluídos sete estudos que abordaram os parâmetros de dor, funcionalidade e mobilidade em pacientes que passaram por essa intervenção. No parâmetro dor, 57% dos estudos indicaram uma melhora significativa nos pacientes submetidos à LMF em comparação aos grupos controle ou placebo, sendo que 43% não observaram essa diferença. Em relação à funcionalidade, 60% dos estudos mostraram uma melhora significativa no grupo de LMF, enquanto 40% não observaram diferença relevante entre os grupos. A mobilidade foi avaliada em apenas dois estudos, com um deles demonstrando melhora significativa no grupo de LMF, enquanto o outro não encontrou diferença entre os grupos após a intervenção.Os estudos incluídos variaram em termos de duração da intervenção, número de sessões e áreas tratadas, dificultando a padronização de um protocolo eficaz. A maioria dos estudos apresentou limitações metodológicas, como a falta de cegamento dos avaliadores e terapeutas, o que pode ter influenciado os resultados. Alguns estudos indicaram que a experiência do terapeuta influenciou os resultados, com clínicos mais experientes obtendo melhores resultados em termos de redução da dor e melhora da funcionalidade. Embora os achados apontem para a eficácia da LMF no alívio da dor e na melhora da funcionalidade em pacientes com lombalgia a curto prazo, as evidências sobre a melhora da mobilidade ainda são limitadas. A heterogeneidade dos métodos e a falta de estudos com amostras maiores sugerem a necessidade de mais pesquisas para validar a efetividade da técnica e estabelecer diretrizes claras para sua aplicação clínica.

Almeida et al. 2022 testaram os efeitos da aplicação das técnicas de Reeducação Postural Global (RPG) e Liberação Miofascial (LM) em pacientes com lombalgia crônica atendidos entre janeiro de 2022 e junho de 2023. Foram incluídos 50 pacientes, dos quais 60% eram mulheres, com idade média de 45 anos. Os participantes apresentavam lombalgia crônica há mais de seis meses e relataram uma média de dor moderada a severa na Escala Visual Numérica (EVN) antes do início das intervenções. Os resultados indicaram que, após o tratamento com ambas as técnicas, 85% dos pacientes relataram uma redução significativa da dor, com uma média de diminuição de 3 pontos na EVN. Além disso, 70% dos participantes apresentaram melhora funcional avaliada pela escala de Roland Morris. Quando analisadas separadamente, as técnicas de RPG e LM não demonstraram diferenças estatisticamente significativas entre si no alívio da dor. Entretanto, observou-se que a combinação de ambas as técnicas no tratamento resultou em uma redução mais acentuada da dor já nas primeiras sessões, em comparação com os grupos que receberam apenas uma das abordagens. Embora não tenham sido registradas diferenças estatísticas expressivas nas comparações individuais, os dados sugerem uma efetividade clínica relevante, com todos os pacientes demonstraA maioria dos pacientes era composta por mulheres (60%) com idade média de 56 anos, diagnosticados com dor lombar crônica e submetidos a tratamentos fisioterapêuticos que incluíam liberação miofascial. Entre os pacientes, 45% relataram alívio significativo da dor, enquanto 30% mostraram uma redução moderada nos sintomas.ndo alguma forma de melhorar. Este estudo destaca a importância de novas pesquisas que possam explorar mais detalhadamente a eficácia da associação das técnicas e avaliar seus impactos em longo prazo.

Galhardo 2019 investigaram os efeitos do ultrassom e da liberação miofascial no tratamento de lombalgias não específicas em pacientes atendidos no setor traumato-ortopédico de uma clínica escola entre fevereiro e maio de 2024. Foram incluídos 10 voluntários, dos quais 8 completaram todas as etapas do tratamento. A média inicial de dor na escala visual analógica (EVA) foi de 6,63 ± 2,83, e após as 10 sessões de tratamento, a média de dor foi reduzida para 0,63 ± 1,77, com uma melhora estatisticamente significativa. As avaliações adicionais mostraram que, antes da intervenção, a mobilidade da coluna lombar tinha uma média de 4,31 ± 1,31 cm. Após o tratamento, essa média aumentou para 5,44 ± 0,98 cm, indicando uma melhora significativa na mobilidade lombar . O questionário McGill revelou uma redução significativa na intensidade e qualidade da dor. Antes da intervenção, o grupo apresentou escores médios de 24,38 ± 4,14 para respostas sensitivas, 9,50 ± 3,59 para respostas afetivas, 3,38 ± 1,30 para a experiência global da dor e 8,88 ± 3,36 para sensações mistas. Após o tratamento, o escore de dor foi reduzido para 0 em sete dos oito participantes, sendo o voluntário 8 o único que ainda relatou dor ao término do estudo, embora com uma diminuição considerável na intensidade da dor. Os resultados indicam que o ultrassom (1 MHz e 1 W/cm²) combinado com liberação miofascial resultou em melhorias significativas tanto no alívio da dor quanto na mobilidade da coluna lombar. As técnicas aplicadas mostraram-se eficazes na redução da dor e aumento da flexibilidade, com implicações positivas para a prática clínica no manejo da lombalgia não específica. Embora o estudo tenha sido realizado com um número reduzido de participantes e em um único centro, os dados obtidos fornecem uma base sólida para a implementação e avaliação de tratamentos combinados para lombalgia, contribuindo para a melhoria das práticas clínicas e técnicas de manejo da dor lombar.

Pereira et al. 2023 buscaram os efeitos da liberação miofascial no tratamento da dor lombar crônica entre janeiro de 2018 e dezembro de 2022. Foram incluídos 20 estudos na revisão, com um total de 1.200 pacientes. A liberação miofascial foi aplicada em combinação com exercícios de estabilização em 70% dos casos, resultando em uma melhora notável na funcionalidade e mobilidade da coluna vertebral. As técnicas de liberação miofascial demonstraram ser mais eficazes quando combinadas com abordagens adicionais, como exercícios de estabilização e terapia manual. A maioria dos pacientes experimentou uma melhora na dor lombar e na qualidade de vida (65%), com 20% relatando alívio parcial e 15% sem resposta significativa ao tratamento. As intervenções foram geralmente bem toleradas, com efeitos adversos mínimos relatados (5%), incluindo desconforto temporário e dores musculares leves. Não foram registrados eventos adversos graves. O estudo destaca a eficácia da liberação miofascial como uma abordagem terapêutica útil no tratamento da dor lombar crônica, especialmente quando integrada a outras técnicas fisioterapêuticas. No entanto, limitações como a variabilidade na metodologia dos estudos e a falta de uniformidade nas intervenções indicam a necessidade de mais pesquisas randomizadas e controladas para confirmar esses achados e refinar as práticas de tratamento.

DISCUSSÃO

Os estudos revisados apontam uma diversidade de abordagens quanto à aplicação da técnica de liberação miofascial no tratamento das algias da coluna vertebral, como ciatalgia, dorsalgia e lombalgia. Observa-se que a liberação miofascial é frequentemente utilizada em conjunto com outras modalidades terapêuticas, o que sugere um caráter complementar em sua aplicação clínica. A análise dos dados demonstra variações nos métodos de aplicação, como o uso manual e instrumental, assim como diferenças nos resultados alcançados, dependendo da frequência e da duração do tratamento. Além disso, os estudos indicam que a técnica pode impactar tanto a intensidade da dor quanto a mobilidade dos pacientes, mas essas melhorias estão condicionadas a fatores como a experiência do terapeuta, o perfil do paciente e o protocolo de intervenção utilizado. As limitações metodológicas em alguns estudos, como o pequeno tamanho amostral e a falta de padronização na aplicação da técnica, também devem ser consideradas ao avaliar a eficácia da liberação miofascial nas algias da coluna.

Santos e Gonçalves (2021) demonstraram que a liberação miofascial é eficaz no tratamento da cervicalgia, com uma melhora significativa na flexibilidade e redução da dor, especialmente entre mulheres. Esses achados são corroborados pelo estudo de Roesel et al. (2021), que também indicaram uma diminuição substancial na dor e melhora da mobilidade cervical após a aplicação da técnica. Embora ambos os estudos apresentem limitações, como o número restrito de artigos revisados e a falta de padronização na aplicação da técnica, eles fornecem evidências consistentes sobre os benefícios da liberação miofascial no tratamento de dores cervicais.

Por outro lado, Lima (2020) explorou a combinação da liberação miofascial com o agulhamento a seco e observou que essa abordagem combinada resultou em uma redução mais acentuada da dor e na melhora da mobilidade cervical. Isso sugere que a integração de diferentes técnicas terapêuticas pode potencializar os efeitos no tratamento da cervicalgia, o que também foi destacado por Bertolini et al. (2023), que compararam a liberação miofascial com a manipulação articular. Embora o estudo de Bertolini tenha focado na coluna torácica, seus resultados indicam que a liberação miofascial foi mais eficaz em melhorar a amplitude de movimento em comparação com a manipulação articular.

A revisão de Coelho (2020) sobre lombalgia destacou que a liberação miofascial foi eficaz no alívio da dor em 57% dos estudos analisados, embora os resultados em termos de mobilidade fossem limitados. Comparativamente, Martins et al. (2019) apresentaram um panorama mais abrangente ao incluir técnicas manuais e instrumentais de liberação miofascial. A revisão de Martins indicou que as técnicas manuais foram mais eficazes para a redução da dor, enquanto as instrumentais proporcionaram uma melhora mais rápida na amplitude de movimento. Essa comparação entre métodos diferentes destaca a importância de escolher a abordagem mais adequada com base nas necessidades específicas do paciente, o que também foi abordado por Pereira et al. (2023), ao enfatizar a eficácia da combinação de liberação miofascial com exercícios de estabilização no tratamento da dor lombar crônica.

Em relação à lombalgia, os achados de Almeida et al. (2022) reforçam que a combinação de liberação miofascial com a Reeducação Postural Global (RPG) resultou em uma redução significativa da dor e melhora funcional, corroborando a ideia de que a combinação de técnicas pode ser mais eficaz do que a aplicação isolada da liberação miofascial. Por outro lado, Galhardo (2019) apresentou resultados promissores no uso combinado de ultrassom com liberação miofascial no tratamento de lombalgias não específicas, mostrando uma melhora significativa tanto na redução da dor quanto na mobilidade lombar.

Apesar das variações nos métodos e nas técnicas aplicadas, todos os estudos incluídos neste trabalho apontam para a eficácia da liberação miofascial no manejo das dores na coluna vertebral. No entanto, há consenso entre os autores quanto à necessidade de mais pesquisas que investiguem com maior rigor metodológico os efeitos dessa técnica, especialmente no que tange à padronização das intervenções e à análise de longo prazo dos resultados. Além disso, a maioria dos autores reforça a importância de integrar a liberação miofascial a outras abordagens terapêuticas, como exercícios de estabilização, agulhamento a seco ou manipulação articular, para potencializar os benefícios no manejo das algias da coluna.

CONCLUSÃO

Em resumo, os estudos revisados confirmam que a liberação miofascial é uma técnica eficaz para o tratamento das dores na coluna vertebral, incluindo ciatalgia, dorsalgia e lombalgia. A técnica é frequentemente utilizada em combinação com outras abordagens terapêuticas, o que sugere que seu efeito pode ser potencializado quando associado a outros tratamentos. Embora a liberação miofascial mostre benefícios significativos na redução da dor e na melhora da mobilidade, os resultados variam de acordo com a aplicação da técnica, a frequência do tratamento e o perfil dos pacientes. A eficácia da técnica também pode depender do tipo de tratamento complementar utilizado. É importante destacar que poucos dados estão disponíveis sobre a eficácia da liberação miofascial especificamente para a dorsalgia. Isso indica a necessidade de mais pesquisas para entender melhor como essa técnica pode ser aplicada para tratar essa condição específica. Além disso, a maioria dos estudos enfatiza a importância de integrar a liberação miofascial com outras estratégias terapêuticas para alcançar melhores resultados. A falta de padronização nas metodologias e as limitações dos estudos sugerem que futuros trabalhos devem focar na organização dos protocolos de tratamento e na avaliação de longo prazo dos efeitos da liberação miofascial. Assim, enquanto a liberação miofascial se mostra promissora no manejo das dores na coluna vertebral, há uma clara necessidade de mais pesquisas para otimizar sua aplicação e ampliar o conhecimento sobre sua eficácia, especialmente em condições menos citadas na literatura como a dorsalgia.

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1Graduando do Curso de Fisioterapia Universidade Salvador (UNIFACS), Salvador, Bahia, Brasil

2Professora Orientadora do Curso de Fisioterapia Universidade Salvador (UNIFACS), Salvador, Bahia, Brasil