LIBERAÇÃO DE JONES EM PACIENTES COM CERVICALGIA

artigo| Técnica manual, cervicalgia, liberação de Jones
Liberação de Jones em pacientes com cervicalgia
por| Jéssica Corrêa, Margarete de Oliveira de Farias
Introdução
O homem, por ter-se tornado o único animal que anda de pé, sofreu uma série de
adaptações da coluna vertebral na evolução da espécie. Essas alterações ficaram mais
acentuadas no último século, após a Revolução Industrial, onde este passou a trabalhar e a
usar o corpo (coluna) como alavanca e adotar a posição sentada para quase todas as
atividades, passando assim a ter mais dores nas costas (KNOPLICH, 1983).
Sendo a fisioterapia uma área que estuda o homem nos campos: anatomia, biomecânica,
movimento, fisiologia, psicomotricidade, afetividade, esta lida também com técnicas manuais
tendo importante papel na reabilitação dos indivíduos, visto que as mãos do terapeuta são
instrumentos valiosos na ajuda do alívio do sofrimento e das tensões (OLIVEIRA, 1997).
A terapia manual é milenar sendo subdividida em várias técnicas: pompagem, osteopatia,
liberação miofascial, massagem, acupuntura, posicional de alívio e muitas outras, utilizadas
com sucesso na área da fisioterapia para tratamento de diversas patologias e seus
respectivos sintomas entre estas a cervicalgia.
A dor na região cervical ou cervicalgia pode originar-se das mais diferentes estruturas
anatômicas. É produzida por muitos fatores isolados ou conjugados. É sentida no ponto de
origem ou em locais distantes dele, assim os músculos cervicais podem ser sede única de
um quadro álgico intenso que alcança o pescoço, cabeça e membros superiores, que pode
surgir por várias causas, como: traumática, alterações mecânicas/posturais, doenças
degenerativas, infecções, doenças glandulares, doenças neurológicas e dor referida (cuja
causa não se localiza na coluna cervical).
A cervicalgia é uma entidade que se caracteriza pela dor ao nível da coluna cervical alta,
sendo aí incluída a nucalgia (cefaléia da nuca) (KNOPLICH, 1983).
Frente aos problemas e sintomas dos indivíduos com esta disfunção, procurou-se uma
técnica que pudesse aliviar a dor dos mesmos sem no entanto causar desconforto no
momento de sua utilização, sendo a liberação de Jones a técnicas de escolha para este
estudo.
Está técnica será aplicada em pacientes com cervicalgia de origem mecânica/postural, que
normalmente ocorrem por carga excessiva ou prolongada sobre a coluna cervical, causando
fadiga muscular, espasmo prolongado e atrofia dos músculos por circulação sanguínea
insuficiente e dor.
O presente estudo é derivado da pesquisa de Laurence Jones, cujo trabalho pioneiro evoluiu
para dar origem a um método de tratamento de extrema suavidade aplicável ás disfunções
das articulações e dos tecidos moles, a qual ele deu o nome de estiramento e contraestiramento
(ECE). Nesta técnica são encontrados pontos sensíveis em tecidos encurtados,
onde palpa-se com o dedo o ponto sensível, monitorando as mudanças em relação á
sensibilidade. Com a outra mão, põe-se o paciente em uma posição de conforto e
relaxamento. Enquanto sonda de modo não contínuo, podendo proceder com êxito
questionando o paciente relativamente ao conforto, redução da dor etc., enquanto move-o
até a posição de bem-estar (CHAITOW, 2001).
Esta pesquisa tem por objetivo então, avaliar os resultados na diminuição ou eliminação da
dor, através de técnicas posicionais.
Materiais e Métodos
O presente estudo foi realizado na Clínica Clinicenter na cidade de Joinville, inicialmente
foram avaliadas e entrevistadas quinze pessoas da empresa J. Junckes, estas trabalhavam
na área administrativa, permanecendo na mesma posição por longos períodos.
Esta pesquisa trata-se de estudo de caso, foi utilizado como critério de inclusão, dores
constantes na região da coluna cervical a mais de um ano moderada, segundo Escala
Visual Analógica de dor (PARDINI, 2006), ficando esta dor entre 3 a 7; e idade entre 25 a 45
anos e que aceitassem participar assinando o termo de consentimento livre e esclarecido.
Para critério de exclusão usou-se os seguintes parâmetros: pacientes que apresentassem
problemas de saúde associado ou estivessem fazendo uso medicamentoso durante a
pesquisa.
Do total de 15 pacientes, apenas 3 pessoas adequaram-se ao critério de inclusão da
pesquisa onde relataram dor constante na coluna cervical, sendo incluídos no estudo.
Após entrevista e avaliação foram incluídos à pesquisa 3 pacientes, uma mulher e dois
homens.
M.F.S, sexo feminino, 43 anos, apresentando maior quadro álgico generalizado em região
de cervical.
M.J, sexo masculino, 25 anos, apresentando maior quadro álgico em região de trapézio
fibras superiores e esternocleidoocciptomastoideo.
J.F, sexo masculino, 41 anos, apresentando maior quadro álgico em região de trapézio
fibras superiores.
No primeiro atendimento fez-se a coleta dos dados pessoais, e em seguida foram
submetidos a uma avaliação realizada pelas responsáveis da pesquisa a fim de detectar
sinais clínicos da cervicalgia.
A avaliação constou de anamnese; quantidade de dor presente através da escala Visual
Analógica de dor (EVA), onde os pacientes assinalaram a quantidade de dor presente de 0 a
10, onde 0 corresponde, sem dor, e 10 o máximo de dor; palpação dos pontos dolorosos
nos músculos do pescoço, trapézio fibras superiores, médias e inferiores, escalenos,
esternocleidomastóideo.
Conforme os resultados da avaliação fisioterapeutica sendo constatado cervicalgia deu-se
inicio ao tratamento através da técnica de Jones para alívio da dor, esta foi realizada
somente na região da coluna cervical, com o paciente deitado em uma maca, com intuito
apenas de amenizar a dor do paciente, sem, no entanto ter como objetivo o tratamento de
causa.
No tratamento, foram localizados os pontos sensíveis em conjunto com a posição de bemestar.
Uma vez localizado, apalpa-se o ponto sensível tenso com uma pressão não maior do que
aquela suficiente a provocar dor no tecido normal. A sensibilidade à dor deve ser evidente
tanto para o clínico quanto para o paciente. Movendo cuidadosamente a articulação ou outro
tecido, enquanto se palpa constantemente o ponto sensível (ou se faz sua sondagem de
modo não contínuo), alcança-se eventualmente a monitoração da progressão à posição
neutra ideal (identificada pela ocorrência de dor reduzida ou eliminada no ponto apalpado).
Foram usados os movimentos do pescoço, flexão, extensão rotação e inclinações laterais,
encontrando a posição de alívio e posteriormente apalpado o ponto sensível por 90
segundos como descreve a técnica.
Foram realizadas 10 sessões, durante 3 semanas, sendo 3 sessões na primeira semana, 3
na segunda semana e 4 na terceira semana, com duração de 40 minutos cada sessão.
Após o término da pesquisa realizou-se novamente a avaliação através da escala de EVA e
palpação dos pontos sensíveis com finalidade de obter informações sobre os resultados.
Resultados
Após levantamento de dados, os mesmos foram tabulados e utilizou-se estatística descritiva
(diferença percentual) para verificar a melhora da pré e pós avaliação, também utilizou-se
média e porcentagem.
A amostra foi composta por três pessoas, sendo uma do sexo feminino (33,4%) e duas do
sexo masculino (66,6%), com idade média de 36,3 anos.
O presente estudo foi satisfatório através da Técnica de Jones apresentando um resultado
positivo com relação à melhora do quadro álgico, já que ambos os pacientes apresentaram
uma média de melhora de 59% conforme demonstrado pela EVA.
Dentre os quinze pacientes entrevistados, 3 apresentavam dor na região lombar, 3 relataram
não sentir dores importantes, 4 não queriam participar da pesquisa, 2 faziam uso de
antibióticos no período da pesquisa.
Após 10 sessões de tratamento com a técnica de Jones, observou-se uma melhora do
quadro álgico.
O gráfico I demonstra os dados iniciais e finais avaliados pela EVA.
M.F.S, sexo feminino, 43 anos, apresentando maior quadro álgico generalizado em região
de cervical, obteve melhora de 42%.
M.J, sexo masculino, 25 anos, apresentando maior quadro álgico em região de trapézio
fibras superiores e esternocleidomastoideo, resultou em uma melhora de 71%.
J.F, sexo masculino, 41 anos, apresentando maior quadro álgico em região de trapézio
fibras superiores, obteve melhora de 60%.

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Discussão
A dor na região cervical é um problema comum, respondendo por 1,4% das consultas a
médicos de família e comunidade nos Estados Unidos. Dados brasileiros sugerem que até
55% da população terá, em algum momento, cervicalgia e destes 12% das mulheres e 9%
dos homens terão dor cervical crônica (WAGNER).
Nos últimos anos, o avanço tecnológico e as mudanças nas formas de exercer as atividades
do dia-a-dia vêm colocando as cervicalgias como um dos grandes males que acometem o
homem (PACHECO, 2007). O número de pessoas acometidas por problemas da coluna
vertebral tem crescido constantemente (MATOS et al, 1995), bem como a postura
assentada relaxada promove um aumento da sobrecarga sobre os discos intervertebrais e
estruturas ligamentares gerando conseqüentemente dor (NASCIMENTO et al,1999). A dor,
é um mecanismo de demarcação de limites para o organismo, e de aviso sobre a ocorrência
de estímulos lesivos provenientes do meio externo ou do próprio organismo (LENT, 2005),
sendo um mecanismo de proteção do corpo; fazendo com que a pessoa reaja para remover
o estímulo doloroso (GUYTON, 1998).
Com a constatação deste problema, pesquisas foram realizadas na busca de técnicas que
pudessem ser efetivas para solucionar ou amenizar o quadro. Varias técnicas podem ser
usadas para o tratamento, no entanto neste estudo utilizamos a técnica de Jones, esta
requer feedback verbal do paciente em relação ao grau de sensibilidade de um ponto
“sensível”, que é usado como posto de monitoração, e que o operador apalpa enquanto
tenta encontrar a posição de bem-estar do paciente (CHAITOW, 2001).
Chaitow (2001) demonstrou que, a técnica de Jones, partiu do seguinte princípio.
Inicialmente, Jones constatou o fenômeno de alivio espontâneo quando pôs
“acidentalmente” um paciente que sentia dor e apresentava certo grau de deformação
compensatória em uma posição confortável (de bem estar) sobre uma mesa de tratamento.
Przyvara verificou melhora na cervicobralquialgia decorrente de problemas cervicais, com a
técnica de mobilização neural.
A mobilização articular em pacientes com cervicobraquialgia tem eficácia em poucas
sessões, ou seja resultados agudos (PEREIRA, 2005).
O uso de gelo e calor para o tratamento da dor aguda pode promover algum alívio
em casos de dor aguda na região cervical (WAGNER).
Situações emocionais e interesse em afastamento para tratamento de saúde e / ou
aposentadoria por invalidez podem interferir na evolução do quadro, doenças como
ansiedade e depressão podem dificultar o manejo e a evolução das situações que levam a
cervicalgia crônica (WAGNER).
Segundo Rachid (2008), o tratamento fisioterápico com Técnicas Osteopáticas Destinadas
às Partes Moles e de Manobra Manipulativa da Coluna Cervical, mostrou melhora da
postura, melhora dos movimentos da coluna cervical e melhor qualidade do sono.
Conclusão
No presente estudo de caso clínico os objetivos foram alcançados com sucesso. Através da
Técnica Posicional de Alívio de Dor derivada de Jones proposta nesta pesquisa conseguiuse
uma melhora do quadro álgico.
Acreditamos que outras técnicas podem ser associadas não apenas com intuito de
tratamento da dor, mas também da patologia de fundo causadora da disfunção.
REFERÊNCIAS
CHAITOW, L. Técnicas Neuromusculares Posicionais de Alívio da Dor. São Paulo:
Manole, 2001.
CHAITOW, L. Técnicas Neuromusculares Modernas. São Paulo: Manole, 2001.
GUYTON, A.; HALL, J. Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1998, 6ª ed.
KNOPLICH, J. Enfermidades da Coluna Vertebral. São Paulo: Panamed, 1983.
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios – Conceitos Fundamentais de Neurociências. Rio de Janeiro:
Atheneu, 2005, 229 – 238.
NASCIMENTO, A. Z., et al. O Efeito do Protocolo de Mcenzie e da Mobilização Vertebral no Ganho da
Mobilidade da Coluna Lombar. Revista Fisioterapia em Movimento. V. 13. nº 1. p 27 – 48. abr/ set
1999.
PACHECO, A. G. D. Técnicas Manuais Fisioterapêuticas para Abordagem de Cervicalgia por
Fibromialgia. Monografia (Graduação em Fisioterapia). Rio de Janeiro: Universidade Veiga de
Almeida, 2007.
PARDINI, A G J. Anatomia Funcional. In: FREITAS, P P. Reabilitação da Mão, São Paulo: Atheneu,
2006, 01-18.
PEREIRA, A. G. Os Efeitos Clínicos de Técnicas de Terapia Manual na
Cervicobraquialgia (CBO) – Um Estudo de Caso. Tubarão: Universidade do Sul de Santa
Catarina, 2005.
PRZYVARA, L. W. Tratamento da Cervicobraquialgia Através da Técnica de
Mobilização Neural. Tese (Fisioterapia). Planalto: Faculdade Assis Gurgacz,
WANER, H. L.; BAREIRO, A. O. G. Cervicalgia – Diagnóstico pelo médico de família e
comunidade. Disponível em: < http://www.telessaudebrasil.org.br/lildbi/docsonline/4/7/074- Cervicalgia__Diagnostico_e_tratamento_pelo_MFC_Tratamento.pdf> Acesso em: 16 de out.
2009.