LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO DOS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO, SINTOMAS E COMORBIDADES ASSOCIADAS À SÍNDROME DE BURNOUT

BIBLIOGRAPHIC SURVEY OF THE MAIN RISK FACTORS, SYMPTOMS AND COMORBIDITIES ASSOCIATED WITH BURNOUT SYNDROME

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10252890


Ayrton Landi Matos1,
Marcus Vinicius Leitão Guimarães2,
Thales Henrique Portela Marinho3,
Orientadora: Professora Lívia Laura dos Santos Rocha4.


RESUMO 

Introdução. A Síndrome de Burnout é uma doença ocupacional caracterizada pela perda progressiva de idealismo, energia e propósito dos profissionais normalmente associada a ambientes desgastantes, física e emocionalmente. Está associada à exaustão emocional, despersonalização, perda do idealismo e baixa auto realização, podendo essa síndrome ser identificada por alterações relacionadas à exaustão emocional, descrença e baixa eficácia profissional. Objetivos. A presente pesquisa tem como objetivo geral realizar um levantamento dos principais artigos sobre a Síndrome de Burnout nos últimos 5 anos e como objetivos específicos identificar os prejuízos associados a essa síndrome. Justificativa. A pesquisa se faz relevante devido ao crescimento da produção bibliográfica relacionada à Síndrome de Burnout nos últimos 5 anos e à, insistente, falta de conhecimento acerca do tema. Metodologia: Foi utilizada a base de dados SCIELO para pesquisar os artigos relacionados à Síndrome de Burnout, seus sintomas, fatores de risco e comorbidades, excluindo aqueles que não utilizaram o questionário de Maslach e/ou não incluíram os sinais clínicos e prejuízos relacionados a essa síndrome e os artigos escolhidos foram separados de acordo com a população abordada. Resultados e discussão. Pode-se observar que a equipe de enfermagem é uma das mais acometidas pela síndrome, seguida por outros profissionais de saúde e estudantes dessa área. Fatores situacionais e individuais podem estar relacionados ao Burnout, como: sexo feminino, solteiro, baixa atividade física, uso de medicamentos e estimulantes.  Conclusão. A prevenção do Burnout traz benefícios não só para o paciente, mas também para a organização ou ambiente em que esse indivíduo está inserido. Embora seja uma síndrome amplamente documentada, a multidimensionalidade da Síndrome de Burnout e o grande número de estudos recentes realizados em populações específicas destacam a necessidade de um estudo atualizado que organize seus fatores de risco, sintomas e comorbidades associadas de forma simples e de fácil compreensão, como o presente estudo.

Palavras-chave: Maslach. Burnout. Estresse.

ABSTRACT 

Burnout Syndrome is an occupational disease characterized by the progressive loss of idealism, energy and purpose of professionals normally associated with exhausting environments, physically and emotionally. It is associated with emotional exhaustion, depersonalization, loss of idealism and low self-realization, and this syndrome can be identified by alterations related to emotional exhaustion, disbelief and low professional effectiveness. The nursing team is one of the most affected by the syndrome, followed by other health professionals and students in this area. Situational and individual factors may be related to Burnout; some of these factors such as female gender, single, low physical activity, use of medication and stimulants are risks for the genesis of the syndrome when associated with external stress in the long term. According to the different symptoms that may be presented by individuals, the early identification of cardinal symptoms helps in combating the losses that this syndrome can cause, such as low work effectiveness and even damage to interpersonal relationships. Therefore, it is concluded that the prevention of Burnout has benefits not only for the patient, but also for the organization or environment in which this individual is inserted. Although it is a widely documented syndrome, the multidimensionality of Burnout Syndrome and the large number of recent studies carried out in specific populations highlight the need for an updated study that organizes its risk factors, symptoms and associated comorbidities in a simple and easy to understand way.  

Keywords: Maslach. Burnout. Stress.

1 INTRODUÇÃO

A síndrome de Burnout é um distúrbio psicoemocional definido pelo psicólogo Herbert Freudenberger, em 1974, como a “perda progressiva de idealismo, energia e propósito experienciada por pessoas nas profissões de ajuda como resultado das condições de seu trabalho“. Está também associada a graus variados de exaustão emocional, despersonalização, perda de idealismo e baixo senso de auto-realização (VALE et al, 2021). 

Segundo SOUZA et al, 2019: “esta doença ocupacional está diretamente relacionada a um ambiente de trabalho físico e emocionalmente desgastante. Apesar de serem semelhantes e facilmente confundíveis, se diferenciam do estresse, apesar de ser um de seus sintomas e predispor a presença do burnout, bem como correlacionar-se com seu desenvolvimento.”

Desta forma, “alterações relacionadas ao esgotamento emocional, cinismo, descrença e baixa eficácia profissional devem ser consideradas para que se chegue ao diagnóstico. Sua principal manifestação é a exaustão, descrita como estresse físico e emocional” (VALE et al, 2021).

De acordo com BOND et al, 2018: “a Síndrome de Burnout foi estudada pela pesquisadora Christina Maslach, que a definiu da maneira mais conhecida e empregada atualmente: uma síndrome de exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização profissional que pode ocorrer entre indivíduos que trabalham com pessoas.” 

No que diz respeito aos instrumentos utilizados para verificar a ocorrência dessa síndrome, atualmente, o mais empregado pela comunidade científica internacional é o elaborado por Christina Maslach e Susan Jackson. “A escala é composta por variáveis pessoais, sociais e institucionais. Os fatores que definem o padrão da SB são: a) Exaustão Emocional (EE): carência ou falta de energia/entusiasmo e sentimento de esgotamento de recursos. Aqui, é possível identificar sentimentos de tensão, frustração e falta de energia; b) Despersonalização (DP): quando o profissional começa a tratar os colegas, clientes e a organização como objetos. Pode haver instabilidade emocional; c) Realização Profissional (RP): relacionada à tendência do trabalhador em se auto avaliar negativamente. Há insatisfação e infelicidade com o desenvolvimento profissional” (ALVES et al 2020). 

No que diz respeito ao quadro clínico, segundo o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), citado por Souza et al (2019): “Alguns dos seus principais sintomas são: fadiga, distúrbio do sono, dores musculares, cefaleia, irritabilidade, agressividade, incapacidade de relaxar, falta de atenção, alterações de memória, lentidão, isolamento, onipotência, perda de interesse pelo trabalho ou lazer, ironia, absenteísmo, entre outros. O prognóstico está ligado a características pessoais e de trabalho como idade, sexo, nível educacional, tipo de ocupação, tempo, instituição, turno, relacionamento e assédio”.

Além disso, segundo Alves et al (2020): “Atividades profissionais ligadas diretamente ao paciente têm sido consideradas desencadeadoras da SB. Assim, profissionais, como técnicos em enfermagem, que realizam suas atividades à beira do leito, apresentam maior vulnerabilidade. As manifestações clínicas da SB podem envolver sintomas físicos, psíquicos, comportamentais e defensivos, como fadiga, distúrbios do sono e/ou do apetite, dores musculares, ansiedade, frustração, irritabilidade, dificuldade de concentração, tendência ao isolamento, dentre outras. A tradução da palavra Burnout resume como o profissional esgotado se sente: “sendo consumido pelo fogo”” 

É importante ressaltar que, embora apresente sintomatologia semelhante, segundo Vasconcelos et al (2016) “Apura-se que a Síndrome de Burnout é uma entidade distinta da depressão, onde é comumente confundida e mal diagnosticada, levando a um tratamento inadequado e consequente agravamento patológico. Nota-se que possuem dimensões e fisiopatologias distintas, sendo uma relacionada a um trauma intrínseco e o burnout diretamente relacionada ao local de trabalho.” 

Além disso, diversos fatores podem estar ligados a essa síndrome. Segundo PEREIRA et al, 2020: “As variáveis consideradas relacionadas ao Burnout podem ser classificadas em dois grupos: fatores situacionais, que correspondem às características das organizações e fatores individuais, que correspondem às características pessoais e de personalidade. Algumas variáveis são conhecidas pela literatura como preditoras de Burnout, como: o gênero, a idade, os anos de experiências na função, satisfação no trabalho e a interação trabalho/casa. Um estudo longitudinal recente, em que se seguiu um coorte de estudantes de enfermagem desde o início da profissão até os três anos de imersão laboral, evidenciou que o traço de personalidade neuroticismo, ou seja, aqueles indivíduos que possuem uma maior tendência a um estado emocional negativo, somado ao uso de estratégias de enfrentamento emocional frente ao estresse, eram preditoras de Burnout.” 

No que diz respeito a trabalhadores da área da saúde, segundo Cruz et al (2019): “As maiores taxas de Burnout correspondem aos profissionais que atuam no serviço de emergência hospitalar em comparação com o resto das especialidades. Na equipe de enfermagem, altos níveis de Burnout produzem maior incidência de distúrbios musculoesqueléticos, lesões ocupacionais, absenteísmo, insatisfação no trabalho, além do abuso de álcool e outras drogas. Além disso, afetam negativamente, entre outros, a qualidade da assistência recebida pelos pacientes e a saúde mental dos profissionais de enfermagem, que podem causar depressão, ansiedade, baixa autoestima ou sentimentos de culpa.” 

Embora seja amplamente documentada, a multidimensionalidade da Síndrome de Burnout associada ao grande número de pesquisas recentes sobre esse tema que foram realizadas em populações específicas, evidenciam a necessidade da elaboração de um estudo atualizado que organize de maneira simples e de fácil entendimento seus fatores de risco, sintomas e comorbidades associadas. Dessa forma, torna-se possível a utilização desse estudo para favorecer o acesso às inúmeras informações clínicas acerca do tema de maneira intuitiva e de fácil uso na prática médica.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

 O estudo foi realizado por meio de pesquisa eletrônica realizada em março de 2023 na base de dados SCIELO em todos os índices. Os termos de pesquisa foram ((((Síndrome de Burnout) OR (Burnout)) AND ((Maslach)))) AND ((Sintomas) OR (Sintoma) OR (Comorbidade) OR (comorbidades) OR (fatores de risco) OR (fator de risco)). Foram retirados dos resultados os artigos publicados antes do ano de 2018 devido à necessidade de buscar informações mais recentes acerca do tema, além das pesquisas que não utilizaram o questionário de Maslach e/ou não apresentavam a sintomatologia relacionada ao Burnout.

As populações estudadas nos artigos incluídos na presente revisão foram: professores do ensino médio e fundamental, acadêmicos de medicina, acadêmicos de odontologia, profissionais de enfermagem, profissionais de saúde dos serviços de emergência, médicos residentes, jovens trabalhadores entre 18 e 29 anos de idade e estudantes de escola fundamental entre 11 e 17 anos de idade. Para a análise e apresentação dos resultados, os artigos incluídos na pesquisa foram subdivididos com base na população estudada.

A avaliação do Burnout é realizada por meio do Maslach Burnout Inventory (MBI). Esse questionário é composto por 22 itens que avaliam três dimensões do Burnout: exaustão emocional (baixa: menor que 18 pontos; média: 19 a 26 pontos; alta: maior que 27 pontos), despersonalização (baixa: menor que 5 pontos; média: de 6 a 9 pontos; alta: maior que 10 pontos) e realização pessoal (baixa: menor que 33 pontos; média: 34 a 39 pontos; alta: maior que 40 pontos). Além do MBI, também foi utilizado pelos artigos estudados o Maslach Burnout Inventory – Student Survey (MBI-SS), versão do MBI específica para estudantes, substituindo a dimensão de realização profissional por realização pessoal.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Professores do ensino médio e fundamental

Segundo estudo de coorte transversal realizado em escolas do ensino fundamental e médio do município de São José do Belmonte feito por Matias, Nyvea et al, foi notada uma alta prevalência da dor músculo esquelética nos professores analisados. Cerca de 75% dos docentes analisados apresentavam dor no momento da avaliação, sendo as regiões corporais mais acometidas a coluna lombar, cervical, torácica e regiões de punhos e mãos. Foi notado também que devido à mudança para a metodologia remota durante a pandemia do COVID-19, transformando as jornadas de trabalho dos professores ergonomicamente diferentes, provocou maiores dores que se relacionam proporcionalmente aos níveis de estresse. A score médio de estresse ocupacional dos professores e dos professores acometidos por dor musculoesquelética foi de aproximadamente 46,8 e 49,4 respectivamente, o que indica uma alteração da fase inicial da Síndrome de Burnout de acordo com o MBI.

Acadêmicos de Medicina 

Em estudo realizado com 425 estudantes de medicina de um centro universitário da região nordeste do Brasil que apresentavam Síndrome do Impostor (SI) foi possível observar uma associação significativa entre esse distúrbio psicoemocional e os níveis elevados dos componentes de Exaustão Emocional (EE) e Descrença, e níveis reduzidos de Realização Profissional (RP) pelos critérios do Maslach Burnout Inventory – Student Survey (MBI-SS). Essa associação se torna mais evidente quando relacionada aos graus grave e muito grave da SI, entretanto, é observada apenas em uma avaliação bidimensional da SB (EE e DP), não podendo ser constatada quando há a presença dos 3 critérios simultaneamente. A correlação positiva entre SI e os componentes EE e Descrença, assim como a correlação negativa com o componente da RP, pode se tornar uma importante ferramenta para prevenir e detectar o Burnout entre estudantes e profissionais médicos. (CAMPOS et al, 2022)

Em estudo transversal conduzido com 279 estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal da Integração Latino-Americana se observou alteração nas 3 dimensões (EE, DP e RP), simultaneamente, em 4,7% dos entrevistados. Quando considerado como critério diagnóstico alteração em pelo menos uma das dimensões esse número aumentou para 47,7%, observando-se que 52,3% apresentaram risco reduzido de SB, ou seja, não apresentaram alterações em nenhuma dimensão. Observou-se que 26,2% tiveram alta EE; 27,6%, alta DE; e 20,4%, baixa ou reduzida RP.  (LIMA et al, 2022)

Para  LIMA et al, 2022: “entre as variáveis correlacionadas ao risco aumentado de desenvolver alterações em cada dimensão da SB pode-se notar: estudantes que não fariam a opção pelo curso de medicina novamente, que pensaram em abandonar o curso, que se sentem sobrecarregados com as atividades extra curriculares, que se sentem insatisfeitos com a metodologia ativa, que consideram os professores ineficazes em aplicar provas para a metodologia ativa e que se sentiam cansados apesar do tempo de sono, têm risco aumentado de apresentar EE elevada em aproximadamente  3,28, 1,88, 2,63, 5,37, 2,07 e 2,59 vezes, respectivamente; os estudantes que consumiram álcool e drogas ilícitas nos últimos 6 meses apresentaram 1,93 e 2,51 mais chance, respectivamente. Em relação à alta DE, constatou-se que os estudantes do quinto ano do curso possuíam chance, aproximadamente, 8,09 vezes maior e, naqueles que não estavam satisfeitos com a escolha da carreira médica, essa chance foi 3,15 vezes maior. Os homens apresentaram 2,07 vezes mais chance de ter alta DE em relação às mulheres; os estudantes que não tinham nenhuma religião, 2,12 vezes mais chance; e os que consumiram álcool nos últimos seis meses, 2,21 vezes mais chance. Em relação à baixa RP, verificou-se que a chance é aproximadamente 3,88 vezes maior nos estudantes que não estavam satisfeitos com a escolha da carreira médica e 2,99 vezes maior entre aqueles que não fariam novamente a opção pela carreira médica.”

Em pesquisa com amostra de 511 estudantes do primeiro ao oitavo semestre de 3 universidades de medicina localizadas na região nordeste do Brasil, 54% referem dormir entre 3 e 6 horas por dia, 46% dormem mais de 6 horas e 40 estudantes (7,8%) referem fazer uso regular de medicações para iniciar o sono. O uso de substâncias psicoativas é feito por 30% dos acadêmicos, além disso, 69% refere uso de energéticos para estudar. 18% afirma fazer uso indevido de drogas e 13% são tabagistas, dos quais, 46% começaram a fumar durante o curso de medicina. Da amostra, 37% apresentam 2 critérios dimensionais de Maslach alterados e 31% , 3 critérios. 44,8% apresentam Maslach unidimensional. Ao todo, 174 estudantes (29%) afirmaram necessidade de psicoterapia em algum momento da graduação. 90% dos estudantes consideram o suporte psicoterápico oferecido pela universidade insuficiente (96,2% dos estudantes com 3 critérios de Maslach). (VALE et al, 2021). 

Os estudantes mais afetados foram os com idade superior a 25 anos, assim como os estudantes que relataram dormir menos de 6 horas por dia e os que necessitaram de suporte psicoterápico em algum momento da graduação. Também foi possível observar aumento da Síndrome de Burnout em estudantes que necessitam de medicação para iniciar o sono, entretanto, não foi observada correlação significativa entre o uso de drogas, alcoolismo, tabagismo, uso de substâncias psicoativas e a SM. Não foi possível estabelecer correlação entre estágio da graduação (ciclo médico ou clínico) e as alterações nos critérios de Maslach. (VALE et al, 2021).

Em um estudo longitudinal realizado, com estudantes de medicina do primeiro ao sétimo período de escolas médicas localizadas no norte de Minas Gerais (Brasil) e repetido nos 2 anos posteriores, foi analisada a saúde mental dos entrevistados. Durante os 3 anos de estudo foi possível observar, dentra da amostra de 248 acadêmicos, um aumento significativo nos escores do QSG, que indicam a presença de Transtornos Mentais Comuns, e das dimensões de Descrença e EE do Maslach Burnout Inventory – Student Survey (MBI-SS), além de redução significativa da RP.  (BARBOSA-MEDEIROS et al, 2021)

  De acordo com RODRIGUES et al, 2020, “em um estudo observacional transversal em que foram aplicados o MBI-SS em estudantes de graduação de Medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS),faculdade pública do DF que utiliza metodologia ativa conhecida como problem-based learning (PBL) e calculada a representatividade diante do total de estudantes. A média de idade foi de 23,37 anos. A maioria dos estudantes era solteira (91,45%), residia com os pais (69,48%) e não trabalhava fora da faculdade (82,15%). Esses discentes praticavam exercícios físicos (67,70%), tinham atividades de lazer nas horas vagas (79,04%) e desfrutaram de períodos efetivos de descanso nos últimos meses (73,79%). A partir da análise realizada, foram classificados 24 (14,20%) estudantes do gênero feminino e 26 (16,25%) do masculino sem dimensões alteradas, e 97 (60,63%) do gênero masculino e 82 (48,52%) do gênero feminino com uma das três dimensões de SB alterada. Identificaram-se 32 (20%) estudantes do gênero masculino e 55 (32,54%) do gênero feminino com duas dimensões alteradas, considerados com risco aumentado para desenvolvimento de SB. Por fim, foram diagnosticados oito (4,73%) estudantes do gênero feminino e cinco (3,13%) do masculino com SB”

Foi analisada também a associação de fatores sociodemográficos e fatores preditores. Dentre os fatores sociodemográficos foi possível observar, no gênero feminino, um aumento no risco de Burnout proporcional ao aumento da idade e do tempo de curso, além de uma redução no risco relacionada a ter filhos, morar sozinho e possuir trabalho remunerado. No gênero masculino observou-se aumento do risco proporcional à idade, tempo de curso, tempo de curso, trabalho remunerado e morar sozinho. “Ter filhos” foi associado a uma redução do risco de Burnout. No que diz respeito a fatores preditores também foi observada discrepância entre os gêneros. (RODRIGUES et al, 2020)

De acordo com RODRIGUES et al, 2020: “os estudantes do gênero masculino com pelo menos duas dimensões alteradas não se sentiam valorizados e reconhecidos pela instituição, mas se sentiam recompensados pelos objetivos alcançados, pelas horas de estudo e pelas atividades extracurriculares. Afirmaram que eram capazes de controlar todos os seus afazeres acadêmicos e institucionais e não acreditavam que eram exigidos mais do que são capazes em um dia de estudo. Já as estudantes do gênero feminino com pelo menos duas dimensões alteradas, apesar de sentirem que a instituição é sensível ao aluno, sendo valorizadas e reconhecidas por esta, não se sentiam recompensadas pelos objetivos alcançados, pelas horas de estudo e pelas atividades extracurriculares. Afirmaram que não eram capazes de controlar todos os seus afazeres acadêmicos e institucionais e acreditavam que eram exigidas mais do que é possível em um dia de estudo.”

Acadêmicos de Odontologia

O artigo de Magri et al, realizado com 57 estudantes do oitavo período da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto no ano de 2019 revelou a incidência de disfunção temporomandibular (DTM) dolorosa associada à Síndrome de Burnout e suas dimensões isoladas. Dos 57 estudantes estudados, 39 eram do gênero feminino e 18 do gênero masculino, com uma média de idade de aproximadamente 23 anos. 8,7% dos estudantes apresentavam alterações em 2 dimensões do MBI-SS, e estes tiveram um score de 67.4 no ProTMDmulti (questionário que investiga a presença de DTM, graduando-a em scores de 0 a 100 em 4 momentos do dia). Já nas dimensões isoladas, 19 estudantes apresentaram exaustão emocional, 19 apresentaram despersonalização e 19 realização pessoal alterada, sendo seus scores ProTMDmulti 43.3, 28.3 e 34.2 respectivamente.

Profissionais de Enfermagem

Segundo Vasconcelos et al, em estudo realizado em enfermeiros intensivistas de um hospital da cidade de São Paulo, no Brasil, 14,3% dentre os 91 entrevistados foram diagnosticados com Síndrome de Burnout. Além do Maslach Burnout Inventory (MBI) foi utilizado também o Inventário de Depressão de Beck (IDB) no qual 5,5% dos participantes apresentaram sintomas de disforia e 5,5% apresentavam sintomatologia depressiva, totalizando 11% da população estudada com sintomas de depressão. Foi possível observar também uma correlação moderada positiva entre a dimensão de exaustão emocional e o escore total do IDB (r = 0,5852; p < 0,001) sendo essa a mais expressiva dentre as outras como despersonalização (r = 0,4593; p < 0,001) e o de realização profissional que foi fraca negativa (r = -0,3741; p < 0,001). Mostrou-se também que o percentual de participantes com estes sintomas foi mais elevado entre os que apresentaram sintomatologia depressiva (80,0% alta exaustão emocional, 70% alta despersonalização e 70% baixa realização profissional). Além disso, notou-se que o perfil dos enfermeiros era de indivíduos jovens (31 e 35 anos), mulheres, solteiros sem filhos. Foi pontuado também que a Síndrome de Burnout foi mais incidente em profissionais com pelo menos 30 horas de serviço.

De acordo estudo realizado por Alves et al entre os meses de março a abril de 2018, em uma UTI de nível de complexidade III, com 59 leitos, voltada 100% ao atendimento de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), dos 117 técnicos de enfermagem entrevistados quanto a exaustão emocional 61(52,6%) apresentam alto nível, 30 (25,9%) apresentam moderado nível e 25 (21,6%) baixo nível. Já quanto a despersonalização 47 (40,9%) apresentam alto nível, 51 (44,3%) moderado nível e 17(14,8%) baixo nível. E no que tange a realização profissional 10 (8,5%) apresentam alto nível, 16 (13,7%) moderado nível e 91 (77,8%) baixo nível. Com o resultado do estudo foi possível diagnosticar 23 dos 117 participantes como portadores da Síndrome de Burnout. Foi analisado também que distúrbios psicomotores é o fator que mais influencia inversamente sobre a realização profissional, tendo um decréscimo de 2,87 unidades para tal. Somada ao uso de medicamentos, impacto na saúde mental e fazer parte de certas instituições analisadas, apresentam maior influência sobre o desgaste emocional, explicando as variáveis encontradas sobre tal dimensão e da dimensão da despersonalização. No total, notou-se que os profissionais no grupo de risco estão cerca de 55,2% mais expostos aos distúrbios psicomotores

Em estudo realizado por Tavares et al realizado em quatro instituições hospitalares, localizadas no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, referência no atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que tiveram seus fluxos adaptados para atendimento a pacientes acometidos pela Covid-19, em que relacionam a Síndrome de Burnout com os grupos de risco para complicações da COVID-19 onde teve como amostra 845 trabalhadores de enfermagem, onde, 214 destes eram grupo de risco, foi possível notar uma diferença na incidência das dimensões da síndrome entre os dois grupos. Evidenciou-se que em ambas as três principais dimensões o grupo de risco teve maior prevalência sendo o mais notório o desgaste emocional com 2,90±0,93 e nos enfermeiros sem riscos de 2,61±0,84 com desvio padrão <0,001. Já na despersonalização o desvio padrão foi de 0,014, sendo a incidência de 1,83±0,71 para o grupo sem riscos e 1,97±0,83 para o grupo com maiores riscos para complicações do COVID-19. Quanto à realização profissional os valores foram de 3,94±0,75 para os sem risco e 3,97±0,67 desvio padrão de 0,568.

Em estudo realizado por Serra et al com 157 profissionais atuantes em unidades de terapia intensiva (o local do estudo foi ocultado para preservar a privacidade dos participantes) notou-se que 45,2% dos questionários respondidos por profissionais que trabalhavam na linha de frente contra o COVID-19 eram compatíveis com alto risco de desenvolver a Síndrome de Burnout. Levando em conta os índices isolados, 28,7% eram compatíveis com Exaustão Emocional (EE), 3,8% compatíveis com Despersonalização (DP) e 24,8% compatíveis com baixa Realização Profissional (RP). Além disso, foi levantado no artigo a maior incidência da Síndrome de Burnout no gênero feminino, sem filhos com maiores níveis acadêmicos, também foi perceptível correlação da doença com o vínculo institucional estatutário, experiência profissional maior ou igual a três anos e tempo de trabalho em uti maior ou igual a 3 anos.

Profissionais dos Serviços de Emergência Hospitalar

Em estudo realizado com 235 profissionais dos serviços de emergência de quatro hospitais da Comunidade Autônoma da Andaluzia (Espanha), de acordo com CRUZ, et al, 2019: “O sexo feminino constituiu a população predominante com 76,2% de representação. A idade média foi de 48,3 anos. A maioria era solteira (61,7%) e 48,9% referiram usar tabaco diariamente. Além disso, 54,5% afirmaram praticar exercício físico diário. Os 55,7% dos profissionais apresentaram nível médio de exaustão emocional e elevaram tanto a despersonalização (48,9%) quanto à realização pessoal (54,9%), o que indica que o nível de Burnout foi médio. Além disso, um terço dos profissionais (32,3%) provavelmente sofria de transtorno psiquiátrico.”

Em um estudo transversal analítico realizado com 282 profissionais da saúde nos serviços de urgência e emergência móvel, pré-hospitalar e hospitalar do município de Ribeirão Preto – SP, Brasil, de acordo com PEREIRA et al, 2021: “observou-se idade média dos profissionais de 40 anos, caracterizados em sua maioria por: mulheres (79,1%), casados ou com companheiros (52,1%), com filhos (66,3%). Quanto à escolaridade, 61,3% possui ensino médio e 38,7% ensino superior. Considerando a profissão, 16% eram enfermeiros, 73,4% técnicos de enfermagem e 10,6% médicos. O tempo de trabalho variou de 1 a 35 anos, sendo a mediana igual a 1 e a média foi de 10 anos. Quanto às características relacionadas à saúde dos profissionais, 55% não praticam atividade física regular, a média de horas de sono por noite foi de 6,2h, 41,1% referiu algum problema de saúde, 13,8% fazem uso de psicofármacos, 49,3% uso de psicoestimulantes, 58,2% uso de antiinflamatórios e 37,6% referiram afastamento do trabalho no último ano.O Burnout foi identificado em 13,2% da amostra. Porém, considerando o total de 282 profissionais que participaram do estudo, foi evidenciado que 30,5% apresentaram alto nível de exaustão emocional, 25,2% alto nível de despersonalização e 61,3% baixa realização pessoal.”

Médicos Residentes

Segundo o estudo realizado por Bond et al, com 151 médicos residentes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016 a Síndrome de Burnout teve uma prevalência de 81,5% dos participantes. Dentre os diagnosticados, 53% apresentaram exaustão emocional, 45% apresentaram não realização profissional e 47,7% apresentaram despersonalização. Além disso, foi elucidado no estudo que somente 20,5% sofrem com a soma dos três sintomas, 27,8% com a soma de dois deles e 33,1% somente um dos três sintomas. O gênero masculino associou-se positivamente à Síndrome de Burnout, tendo maior afinidade também com a despersonalização. Quanto ao ano de residência, notou-se que médicos do segundo ano possuem maior associação, além de mais falta de realização profissional comparados aos médicos do quarto ano.

Jovens Trabalhadores de 18 a 29 anos de idade

De acordo com o estudo realizado na localidade do instituto de Ensino Social Profissionalizante (ESPRO) de Recife – PE por Souza et al, a incidência dos principais sintomas da Síndrome de Burnout medidos pelo nível geral da dimensão medidos em 213 respondentes foram de níveis medianos para baixos, sendo eles a realização profissional com média de 3,9, exaustão emocional com média de 2,6, despersonalização ou cinismo com média de 2,3 e sintomas gerais com média de 2,9. Entende- se que apesar de a média não detectar níveis altos de incidência (entre 3,9 e 5) ou muito elevada (5 a 5,9) notou-se que há a presença de indivíduos que apresentam níveis máximos destes sintomas.  Pontou-se também no artigo que as médias da realização profissional foram maiores nos participantes cujos pais tinham ensino fundamental completo do que para o ensino superior completo. Percebeu-se também que os respondentes jovens do gênero feminino são ligeiramente menos exauridos (m=2,48) que do gênero masculino.

Estudantes de escola Fundamental entre 11 e 17 anos de idade

De acordo com o estudo realizado em 4 escolas primárias do estado do Rio de Janeiro por ACHKAR, et al, em 2019, os sintomas da Síndrome de Burnout (Exaustão Emocional e baixa Realização Profissional) em familiares de estudantes dos ensinos médio e fundamental são preditores de baixa produtividade no ambiente escolar. Além disso, a correlação entre sintomas de Burnout em professores e a baixa produtividade escolar dos estudantes também foi positiva.

4 CONCLUSÃO

 O presente levantamento bibliográfico abordou os principais sintomas, fatores de riscos e comorbidades no que se refere à Síndrome de Burnout em diferentes ambientes de vivência. E teve como objetivo geral realizar um levantamento dos principais artigos sobre a Síndrome de Burnout nos últimos 5 anos e como objetivos específicos identificar os prejuízos associados a esse distúrbio psicoemocional.

No que diz respeito ao grupo de médicos residentes, os dados mostram que há maior predisposição para o surgimento dos primeiros sintomas da síndrome no gênero masculino, sobretudo quando associado ao estresse laboral de forma crônica. Neste grupo, não foi possível evidenciar a presença dos três principais sintomas presentes simultaneamente nos avaliados, demonstrando que para os diferentes indivíduos a síndrome tem formas específicas de acometimento.

Quanto aos profissionais de enfermagem, dentre os artigos analisados, a incidência da Síndrome de Burnout entre os profissionais foi relativamente baixa comparado aos outros grupos. Apesar disso, foi constatada alta incidência das dimensões de burnout com a exaustão emocional, a mais prevalente em todos os estudos. Além disso, as dimensões da doença foram ainda mais notórias em profissionais que atuaram na linha de frente do combate à COVID-19 no período da pandemia. No geral, também pode-se acrescentar que além da influência que os distúrbios psicomotores têm sobre o desgaste emocional, os profissionais de risco estão mais expostos aos mesmos distúrbios. Deve-se ressaltar que o perfil com maior incidência evidente foi de profissionais mulheres, que possuem maior nível acadêmico com pelo menos 30 horas de serviço. Foi notado também correlação da doença com o tipo de vínculo com a instituição em que trabalham, a experiência profissional, tempo de trabalho em UTI e uso de medicamentos.

Em profissionais dos serviços de emergência hospitalar, com base nos artigos analisados foi notado que o nível de Burnout foi médio, sendo a realização pessoal o sintoma mais incidente, acometendo mais da metade da população. Ademais, foi levantada a probabilidade de que mais de um terço do público estudado sofre de transtorno psiquiátrico. Notou-se também, nas duas amostras, que a média de idade foi entre 40 e 49 anos. Em conjunto com esses achados, a prática de atividade física se mostrou possivelmente benéfica no combate aos principais sintomas da Síndrome de Burnout. Acredita-se que baixa carga de atividade física semanal, média de horas de sono menor que 6h por noite e uso de fármacos (antiinflamatórios, psicofármacos, psicoestimulantes) podem funcionar como fatores de risco para desenvolvimento dos sintomas de Burnout.

Em referência ao grupo de estudantes do ensino fundamental, a presença da Síndrome de Burnout em seus familiares possui relação com os baixos níveis de produtividade no âmbito escolar. Logo, constata-se que para os níveis de ensino fundamental, os familiares com a síndrome possuem influência relativa na desenvoltura escolar de seus filhos, corroborando para a conclusão de que o ambiente familiar tem influência no desempenho escolar. 

Em relação aos jovens trabalhadores, ficou perceptível que menores níveis de escolaridade implicam em uma maior alteração nos índices de realização profissional. Porém, dentro do grupo de trabalhadores, independente do grau de escolaridade, quando os sintomas estão presentes eles podem estar no seu mais alto nível de acometimento. 

Referente ao grupo dos professores do ensino médio, foi revelado que a presença de dores musculoesqueléticas e o fator de estresse ocupacional do MBI estão relacionados. Acredita-se que a presença da síndrome pode estar associada à mudança laboral no período da pandemia do COVID-19, influenciando em níveis de estresse maiores devido ao aumento da dor.

De acordo com os dados coletados na avaliação dos acadêmicos de medicina de um centro universitário na região nordeste do Brasil, existe a correlação da Síndrome do Impostor com os sintomas presentes na síndrome de Burnout, por exemplo a exaustão emocional e baixos níveis de realização profissional. A severidade dos sintomas é diretamente proporcional à severidade da síndrome, porém, os três sintomas principais de Burnout não foram encontrados simultaneamente em boa parte dos indivíduos. É possível chegar à conclusão de que o menor desejo de realizar o curso de medicina, sobrecarga extracurricular e desejo de abandonar o curso estão diretamente ligados ao surgimento dos fatores estressores que podem desencadear a síndrome de Burnout. Idade superior a 25 anos, sexo feminino, horas de sono inferiores a 6 e uso de fármacos de indução ao sono foram fatores de risco de maior relevância encontrados nessa população.

No estudo referente aos graduandos em odontologia foi verificada estreita relação entre a Síndrome de Burnout e sintomas temporomandibulares, onde de todos diagnosticados tiveram uma nota alta no protocolo ProTMDmulti, além de que, apesar de em menor proporção, foi perceptível também correlação sintomas com as principais dimensões da síndrome.

No geral, diante de toda a pesquisa, foi entendido que a Síndrome de Burnout tem como critérios diagnósticos a exaustão emocional seguido de despersonalização e realização pessoal. Além disso, vale ressaltar que existem fatores de risco relacionados, como pacientes acometidos por dor músculo-esquelética e Disfunção Temporomandibular, além de comorbidades, como a depressão. Foi possível notar também que é mais incidente em pessoas em ambientes mais estressantes, como em unidades de terapia intensiva e em pessoas que sofrem de estresse constante, como médicos residentes e as que trabalham na linha de frente no combate à covid 19 durante a pandemia. Pode-se também, considerar que há uma alta prevalência no sexo feminino e em usuários de medicamentos.

Tendo em vista os resultados obtidos pela revisão, pode-se concluir que foi possível cumprir os objetivos propostos pelo presente estudo. Dessa forma, pôde-se revisar os artigos recentes acerca do tema e destacar os principais sintomas, fatores de risco e comorbidades associadas que acometem os pacientes com Síndrome de Burnout nos seus diversos níveis. Espera-se que essa revisão possa ser utilizada como referência para futuras pesquisas e consultas acerca do tema.

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1,2,3Graduando em Medicina pela Faculdade Santo Agostinho de Itabuna.
4Orientadora e Professora.