LETRAMENTOS E MULTILETRAMENTOS EM TECNOLOGIAS DIGITAIS UTILIZADAS EM SALAS DE AULA DO ENSINO FUNDAMENTAL I

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7569467


Bethânia de Souza Rodrigues1


1 INTRODUÇÃO

O presente artigo trará uma atividade criada como exemplo de prática de multiletramentos envolvendo tecnologias digitais, pensando no atual contexto educacional advindo da necessidade de adaptação da educação neste período pandêmico e analisará 5 propostas de atividades trazidas no livro do professor do material desenvolvido pela prefeitura de Duque de Caxias, denominado de “Aprender – Caderno de Atividades Pedagógicas – 1º Ano de Escolaridade – Trabalhando com a Língua Portuguesa”(2015).

Além disso, diferenciam o letramento do multiletramento, por meio de pesquisa bibliográfica, visando mostrar a importância da utilização dos multiletramentos na formação crítica do pensar do aluno, principalmente no que tange a facilidade de pesquisa, favorecendo-o ao ambiente de trabalho futuro, que o exigirá muito além do que práticas de alfabetização comum, pois, diante de uma calamidade, por exemplo, o aprendizado deverá englobar técnicas para não se estagnar socialmente diante da globalização.

No mais, é mister que práticas de multiletramentos, podem fazer o estudante ter mais interesse nas atividades escolares, pois estas englobam  materiais de seu cotidiano e da atualidade na hora de elaborar textos e demais complexos de aprendizado, quebrando-se paradigmas, pois, a semiótica demonstra e aborda significados as linguagens existentes, principalmente na era digital.

2. AS PRÁTICAS DE LETRAMENTO E MULTILETRAMENTO 

Sabe-se que as práticas de letramento e de multiletramento estão em evidência no ambiente cotidiano escolar dos alunos, uma vez que, o processo de aprendizagem e de ensino da escrita e da leitura não se verificam apenas na codificação e na decodificação de dados, sem a utilização do pensamento crítico e de tomadas de decisões.

As práticas da leitura e da escrita são essenciais habilidades para que o ser humano exerça a sua cidadania, um exemplo disso, é o fato do poder de voto apenas ser utilizado para quem detém a alfabetização. Diante disso, a escola, como fonte principal de direção para formação do conhecimento dos alunos para o letramento, tem a responsabilidade de aumentar a capacidade de leitura e escrita dos discentes, em razão da era tecnológica vivenciada na atualidade, uma vez que, diariamente surgem novas técnicas de informação e, consequentemente, formas de letramento.

Como letramento entende-se as práticas voltadas para leitura e escrita, mas que vai além das práticas de alfabetização. Conforme Rios (2010, p.80), pode-se analisar o letramento de duas formas: 

Se um/a estudioso/a parte do pressuposto de que o letramento é um ponto de chegada após um tempo de escolarização, tem-se então que para ele ou ela o que deve ser estudado é o que o indivíduo sabe fazer de leitura e escrita em decorrência desse tempo que passou na escola. Se, por outro lado, outro/a estudioso/a pensar que o letramento compreende tudo que um indivíduo tenha feito de leitura e escrita em sua vida, então estamos diante de uma visão mais ampla e aplicada a todas as esferas da vida social.

Neste sentido, entende-se que, se os alunos estão alfabetizados e letrados, as atividades de letramento ficam mais evidentes no ambiente escolar e no social, em razão das atividades desenvolvidas no cotidiano, pois se quebram os paradigmas e conhecem-se as diferentes formas de escrita e leitura, uma vez que, segundo Soares (2004, p.08) “letramento não é apenas estado ou condição de quem sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita”, o que corrobora com o narrado alhures, sobre o poder de voto. 

Diante do exposto, conforme Melo (2019), observa-se que outros caminhos devem ser percorridos no processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, pois atualmente, os celulares, tabletes e outros meios de comunicação estão invadindo cada vez mais a vida dos nossos jovens e faz-se necessário uma ressignificação, em que os alunos possam ser ao mesmo tempo alfabetizados e letrados. Pode-se perceber que a escola e seus docentes precisam estar preparados para receber esta nova geração da sociedade do conhecimento. (MELO, 2019, s/p).

Diferentemente do conceito de letramentos, que aborda as variadas práticas letradas, os multiletramentos advêm de uma aprendizagem além da escrita não verbal e verbal, pois, atualmente, as imagens são predominantes com seus efeitos que motivam e dão satisfação aos alunos na hora do aprendizado, até porque, é o que predomina em suas vidas, ou seja, utilizar o objeto do cotidiano do aluno para que o mesmo aprenda, chama mais atenção para o momento de estudar.

Ademais, para Rojo (2013, p.8-9) “as profissões da atualidade lidam com imagem, com som digitalizado, com programas de edição de fotos, ou seja, grande parte dos profissionais não opera mais, sem os textos multiletrados”. Ou seja, essa é forma de escrever futurística para os jovens, pois é assim que irão trabalhar em seus ambientes de emprego, portanto, devem se utilizar de tais técnicas no momento em que estão na escola.

Esse é um dos motivos pelos quais o conceito de multiletramentos tem toda a relevância para a escola. Do mesmo jeito que ela alfabetizava para ensinar a assinar o nome no começo do século XIX e que alfabetizava para ler pequenos textos e depois mais complexos ao longo do século XX, agora é preciso letrar para esses novos textos que se valem de várias linguagens. (ROJO, 2013, p. 8-9).

Desta forma, compreende-se que os letramentos e os multiletramentos devem estar evidentes no ambiente escolar, uma vez que, na era digital, os alunos devem estar conscientes e familiarizados com as novas tecnologias da comunicação e da informação, principalmente com as variadas linguagens existentes, sob pena de acontecer um retrocesso educacional.

Corroborando com o supramencionado, Nicolau et al. (2010, p.2), aduziu que, “em tempos de mídias digitais interativas, em que há uma profusão de linguagens sendo criadas e desdobradas, vemos a necessidade premente de verificar como vem se dando esse processo de criação de signos, capaz de gerar novas significações”.                                                   

Neste viés, verifica-se que há uma diversidade cultural na sociedade, portanto, um novo conceito de letramento, que são os multiletramentos e, as novas formas de tecnologia que abrangem os estudantes e os professores, devem interagir entre si, no intuito de fomentar a criação de novas perspectivas de ensino e aprendizagem, por meio das semioses e dos multiletramentos.

Até porque, 

Não se pode desvincular a semiótica dos multiletramentos, pois ela dá significado aos textos verbais e não verbais em que estão presentes stop motions, machinimas, animes e outros recursos com o plurilinguismo/multissemiose abordado na pluralidade cultural, como também a introdução de novas ferramentas de aprendizagem através do hipertexto. (MELO, 2019, s/p).

3. TECNOLOGIAS DIGITAIS EM SALA DE AULA

Com frequência o ambiente escolar (re)pensar as práticas de ensino e aprendizagem, porém com poucos avanços, devido principalmente ao fato de se trabalhar com poucos recursos financeiros, baixos incentivos à formação e aperfeiçoamento dos docentes  (principalmente na esfera pública, mas vale ressaltar que também ocorre na esfera privada que, mesmo com recurso financeiro maior, muitas vezes apenas implanta novidades sem o devido suporte para o docente) dentre tantos outros problemas que o sistema educacional brasileiro apresenta, mas que não vêm ao caso detalhar no presente trabalho.   

Com o advento das tecnologias e das necessidades mundiais, a atualização didática escolar se faz necessária, sob pena de estagnação do aprendizado e do ensino. Atualmente, inclusive, pode-se citar como exemplo a pandemia mundial do COVID-19, que fechou as escolas e demais ambientes de aglomeração de pessoas, no intuito de evitar o esparrame do vírus, o que poderia ter causado a estagnação do ensino se não houvesse as tecnologias da informação e informatização.

O fato das tecnologias de informação terem sido inseridas de forma tão rápida na educação só reforça a importância do trabalho com o multiletramento em sala de aula, pois acredita-se que é uma forma de agregar práticas mais próximas à realidade dos alunos, pois convivem com as diversas tecnologias digitais de comunicação e informação. Apesar de tal tema estar relacionado ao ensino a distância, não significa que seja apenas para esta demanda a sua utilização, pois, atualmente, faz parte do cotidiano das escolas, principalmente em razão do ensino remoto ocasionado pela pandemia do COVID-19 no que se relaciona aos objetos de pesquisa.

A contemporaneidade dá ensejo a novas criações e recriações, mediante reformas que representam avanços e inovações tecnológicas, através da globalização, que cria exigências e mudanças relativas aos letramentos e aos multiletramentos, que implementam tendências e paradigmas metodológicos para facilitar a interação social. 

Diante de novos recursos, segundo Gaydeczka e Karwoski (2015, p.153), as mudanças relativas aos letramentos e multiletramentos exigem três características: 

a) a intensa circulação da informação provocou mudanças significativas nas maneiras de ler, de produzir e de fazer circular os textos na sociedade, contribuindo para a consolidação dos suportes digitais;

b) a diminuição das distâncias sociais por meio das mídias digitais criou um efeito de aproximação das distâncias físicas. Além disso, o volume de informações que precisam ser processadas, criadas e/ou sistematizadas criou um efeito de contração do tempo físico e cronológico;

c) a multissemiose que as possibilidades multimidiáticas e hipermidiática trazem para o texto eletrônico coloca o signo verbal (palavra) num continuum de signos de outras modalidades de linguagem (imagens bidimensionais, tridimensionais fixas ou em movimento, signo verbal escrito ou oral com tipografias diversas, músicas, sons etc.).

Nesta toada, Rojo (2009) aduz que mudanças induzem a novas possibilidades de pesquisa e desafios no campo linguístico, pois os letramentos são diversos e diferenciados no que tange aos locais de aplicabilidade e, diante disso, cabe aos educadores auxiliar os discentes a adquirir consciência de trabalho e estudo múltiplo comunicativo.

No mesmo viés, Kleiman (2007, p.04), narra que “é na escola, agência de letramento por excelência de nossa sociedade, que devem ser criados espaços para experimentar formas de participação nas práticas sociais letradas e, portanto, acredito também na pertinência de assumir o letramento, ou melhor, os múltiplos letramentos da vida social”. 

A análise dos letramentos advém de uma concepção de escrita e de leitura com múltiplas práticas discursivas, que se fundamentam na utilização de acesso à internet e a computadores na escola, para que a mobilidade educacional cresça e mantenha-se moderna na acepção contemporânea do termo. Conforme descreveu Junger (2009, p.31):

como toda nova prática social, implica mudanças de comportamento e surgimento de novas formas de uso da linguagem. Assumindo que a escola tem como um de seus papéis favorecer a ampliação do horizonte de conhecimentos de seus alunos, é preciso fomentar reflexões críticas sobre o lugar e as implicações do computador em nossa sociedade e sobre os recursos que ele oferece.

Desta feita, tendo em vista os recursos digitais e midiáticos, tem-se que o docente é aquele que tem o papel de assumir a sala de aula como um mentor e não mais como uma fonte primária de informação e de conhecimento, ou seja, o professor passa a ser o sumário do aprendizado.

Dito isto, há que se falar que as práticas de multiletramentos utilizam as novas tecnologias e lhes dão privilégio no quesito de aprendizagem, uma vez que intercalam os conteúdos da grade curricular com o mundo atual, utilizando-se do trabalho em rede, com multidisciplinariedade e multiplicidade de ações.

“Nesse movimento, o processo de ensino relaciona a aprendizagem de conceitos ao desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas e enfrentamento de desafios, princípios indissociáveis das práticas sociais letradas”. (Gaydeczka; Karwoski, 2015, p.153).

Em razão disso, não é correto afirmar que computadores no ambiente escolar são uma forma de inovação, mas sim, que um computador com acesso à internet e com mídias abertas é um instrumento de trabalho para o professor e de aprendizado para o aluno, que irá aprender mediante estratégias didáticas com a utilização de tecnologia.

Efetivando o que fora narrado, propõe-se a atividade abaixo, que se volta a um processo interativo e criativo para o docente aplicar em sua prática disciplinar:

Atividade 1:

Atualmente, é corriqueiro que notícias falsas se espalhem perante as mídias digitais e em sites da web, como por exemplo, WhatsApp e Facebook, as quais são conhecidas como “Fake News”. Tais notícias podem dar ensejo a um prejuízo social, relativo à saúde, à educação, à política e à segurança da população. Diante disso, o site “Fato ou Fake” foi criado para desvendar algumas notícias que podem ser consideradas falsas ou verdadeiras. Com base no que fora exposto, explique, mediante exemplos, o prejuízo que uma notícia falsa pode trazer para uma sociedade, se ela estiver relacionada à saúde da população. Após, procure no site https://g1.globo.com/fato-ou-fake/ uma notícia verdadeira e uma notícia falsa sobre o coronavírus e elenque o link do que encontrou. Por fim, recrie uma manchete de jornal físico ou eletrônico, ou encontre uma reportagem jornalística que espalhou uma “Fake News” e explique como tal fato poderia ter sido desvendado. Não se esqueça de mencionar as fontes de pesquisa.

Proposta a atividade, observa-se que há, no questionamento da mesma, a utilização de diversas formas de interação do aluno, uma vez que, elaborou-se um caso prático com um tema atual, relativo às “fake news”, em que o discente terá que ter o seu professor como auxiliar explicativo para as buscas que fará para desenvolver a questão. 

O multiletramento, no presente caso, se verifica quando o aluno tiver que elencar uma notícia falsa com algo relacionado à saúde e, ainda, pesquisar ou criar uma manchete não verdadeira sobre determinada situação e, após, busca em site de pesquisa específico uma notícia falsa e uma verdadeira sobre o coronavírus, o que retorna a pergunta inicial sobre saúde.  

Corroborando com a proposição acima, Rojo (2013), explica que “a integração de semioses, o hipertexto, a garantia de um espaço para a autoria e para a interação, a circulação de discursos polifônicos num mesmo ciberespaço, com a distância de um clique, desenham novas práticas de letramento na hipermídia”.

Assim, se o ambiente escolar assumir os multiletramentos e dar ao aluno o suporte necessário para que haja a leitura e a escrita física e eletrônica, haverá a promoção de novas habilidades para a vivência de mundo, bem como permite ao aluno praticar o ato de ler e escrever com funcionalidade e não apenas conceitualmente em um meio de busca específico, ou seja, efetua-se o olhar crítico na resposta dos questionamentos. 

4. ANÁLISE DE ATIVIDADES DIDÁTICAS E VERIFICAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE LETRAMENTOS E MULTILETRAMENTOS.

Denota-se a importância da aplicabilidade dos multiletramentos na educação e no aprendizado, conforme demonstrado nas especificações acima, contudo, é necessário explanar se há efetiva aplicabilidade de letramentos e multiletramentos digitais nos materiais didáticos do ensino fundamental I, principalmente no que tange ao material sugestivo ao professor, que é o responsável por fornecer o melhor aprendizado ao aluno.

Os infantes que ingressam pela primeira vez na escola, normalmente, quando estão em fase de alfabetização, não possuem tanto conhecimento de mundo e capacidade interpretativa textual, até porque, precisam aprender a ler e escrever primeiramente, mas, atualmente, muitas crianças são mais “alfabetizadas” eletronicamente do que da forma tradicional.

Ou seja, a aplicabilidade digital em um material didático inicial pode ser utilizada como forma de letramento e multiletramento para que haja o maior interesse do aluno em aprender a ler e escrever e, consequentemente, desenvolver a sua capacidade crítica desde o início de sua alfabetização, para que consiga aprender a compreender argumentos desde cedo. 

Dito isto, passa-se a análise de um material didático específico, desenvolvido pela prefeitura de Duque de Caxias para orientar os professores no trabalho com os alunos, denominado de “Aprender – Caderno de Atividades Pedagógicas – 1º Ano de Escolaridade – Trabalhando com a Língua Portuguesa” (2015), que buscou utilizar textos desde a alfabetização no intuito de melhor significar as atividades escolares e ampliar o conhecimento dos estudantes em fase inicial.

Na justificativa inicial do material, obteve-se a seguinte abordagem acerca do elencar do letramento e da alfabetização: 

A alfabetização a partir de textos tem sido realizada com êxito há algumas décadas.  Por acreditar que trabalhar com pequenos textos — sejam eles notícias, poemas, quadrinhas, contos  de  fadas  e  etc. —,  é  uma  possibilidade  interessante  de ampliar o repertório dos alunos, nosso material está composto basicamente de diferentes textos. Para aprender a ler, é necessário conhecer as letras e os sons que elas representam, e assim, compreender o que está escrito. Os textos poderão ser favoráveis para enfocar estas duas facetas da aprendizagem: a alfabetização e o letramento. Grifou-se. (SEMED de Duque de Caxias, 2015, p.04). 

Nota-se, diante do fragmento do texto retirado do caderno de orientações didáticas ao professor, que há a preocupação, desde o ensino infantil em ampliar o conhecimento dos alunos, de forma moderna e adaptável, sem que haja a utilização da antiga cartilha de ensinar diretamente o nome das letras, sem qualquer atividade interpretativa.

Neste sentido passa-se a análise das seguintes atividades expostas no livro didático, manual do professor, que visam propor a melhor desenvoltura do profissional docente e do aluno: 

Atividade 1: Desenvolvimento de Oralidade

Para desenvolver a oralidade, podemos pedir que o aluno reconte o texto de seu jeito, ou que faça um resumo oral de uma  notícia  ou  história,  brinque  com  palavras,  e  a  partir  de  determinadas  palavras  ditas  pelo  professor inventar  uma história.  Pode-se  fazer  uma  roda  e  cada  aluno  inventa  uma  parte  da  história;  fazer  a  hora  da  novidade  na  “roda  de conversa”, quando um dos alunos levará algo (objeto, ou alguma notícia) para sala de aula e falará sobre ele; promover o trabalho  em  duplas,  para  que  os  alunos  possam  interagir  entre  si  e  desenvolver  a  capacidade  de  ouvir  o  colega  e  de argumentar sobre suas ideias  a respeito da atividade proposta; fazer pausas no texto indagando os alunos sobre o que acontecerá.

Na atividade 1, que versa sobre desenvolvimento de oralidade, verifica-se o letramento no momento em que se propõe ao aluno recontar o texto do jeito que interpretou e que efetue brincadeiras e atividades de prática relativa ao texto abordado, bem como um toque de multiletramento no momento em que solicita-se ao aluno trazer um objeto ou recorte de notícia que tenha relação com o texto, assim, mostra-se a utilização de multiplicidade de linguagens, sem especificação, o que amplia a capacidade de busca do aluno.

Atividade 2: Trabalho com Nome Próprio

Existem outras atividades que podem ser feitas utilizando os nomes próprios. São elas: caça-palavras com o nome dos alunos,  cruzadinhas  de  nomes,  bingo  de  nomes,  montagem  de  listas  com  o  alfabeto  móvel,  organização  da  lista  em ordem alfabética, organização através da última letra, organização dos nomes de meninos e meninas, contagem de letras de cada nome, comparação entre quantidades de letras, análise dos que possuem letras repetidas (discutir que letras são essas),  observação  dos  nomes  que  começam  com  a  mesma  letra,  organização  de  listas  pela  quantidade  de  letras, começando com o que possui mais letras ou vice-versa.  

Na proposta de trabalho com nome próprio não foi possível verificar a utilização de multiletramentos ou atividade interativa digital, pois, o que foi analisado, tem relação a uma prática didática diferenciada e criativa, mas que não dá ensejo ao olhar crítico do aluno, pois não dinamiza o aprendizado de forma amplificada. 

Atividade 3: Atividade com Listas

Podemos  confeccionar  diversos  tipos  de  listas  e  deixá-las  expostas  em  sala  de  aula,  assim  os  alunos  poderão  fazer inferência  das  palavras  listadas  com  novas  palavras  que  pretendem  escrever.  Com  a  criação  de  listas  podemos  trabalhar:   o ditado numerado, o professor dita uma das palavras da lista e pede que o aluno coloque um número qualquer ao lado da palavra  ditada  (as  palavras  devem  ser  ditadas  de  forma  aleatória),  colocar  as  palavras  da  lista  em  ordem  alfabética,  ou organizá-las  de  acordo  com  a  quantidade  de  letras  das  palavras,  criar  uma  lista  e  nela  colocar alguma  palavra  que  não pertença  àquele  campo  semântico  para  que  os  alunos  percebam  o  que  está  “errado”  na  lista.  Misturar palavras pertencentes a dois campos semânticos diferentes e deixar que eles se separem, por exemplo, cores e animais.

Assim como na atividade 2, atividade 3, que trabalha com o uso de listas, demonstrou uma atividade mecânica interativa, mas sem cunho interpretativo e sim alfabetizador e criativo, não mostrou aplicabilidade de multiletramento, pois, se o exemplo de separar uma lista de objetos fosse englobado com uma pesquisa de campo dos alunos, a atividade investigativa seria mais abrangente.

Atividade 4: Atividades de Leitura

Como  sugestões  de  outras  atividades  de  leitura  podemos: realizar  o  empréstimo  de  alguns  livros  em  sala  de  aula, deixando que  os  alunos  o  levem  para  casa  e  no dia  seguinte  contem  a  história  na  “roda  de  conversa”  para  os  demais colegas.  Mesmo  que  ainda  não  saiba  ler  convencionalmente, o aluno  pode  utilizar  outras  estratégias  para  contar  a história: escolher uma história na “roda de leitura”, e depois visitar a outras salas para que eles contem a história que foi ouvida  na  “roda  de  conversa”.  O  professor  pode  ainda  fazer  uma  “roda  de  leitura”,  para  que  a  leitura  da  história  feita pelos  alunos  seja  gravada  por  meio  de  um  gravador,  a  partir  dessa leitura,  seja  gravado  um  CD  com diversas  histórias contadas pela turma.

A atividade 4 foi a única, até o presente momento, que demonstrou um indício de utilização tecnológica na educação infantil alfabetizadora, mediante uso de gravadores e CD’s para ouvir e gravar as histórias dos colegas, incluindo, diferentes histórias, portanto, verifica-se nesta atividade o uso de multiletramentos e de inclusão digital, que já é de conhecimento das crianças. 

Atividade 5: Trabalho Textual

O que podemos fazer quando trabalhamos com o texto: circular ou marcar palavras no texto, pintar intervalos entre as palavras, completar o texto com palavras que faltam, ordenar frases do texto, comparar textos do mesmo assunto, dar ao texto  sua  função  social  (escrita  de  bilhetes  para  os  colegas,  cartazes  para  serem  expostos na  escola  e  etc.),  criar  um caderno de textos que possa ser levado para casa e compartilhado com a família.

Por fim, no que se refere a análise da atividade 5, há que se falar na prática do letramento, mas não do multiletramento, pois não houve a proposição de interações além das criativas com os familiares em casa, atividades estas, pouco efetivas quando relacionadas com o desinteresse dos que compõem o núcleo familiar do infante. 

Analisando as sugestões de atividades abordadas acima, retiradas do livro didático orientativo ao docente, da prefeitura de Duque de Caxias, observa-se que, há nas atividades indícios de letramento e multiletramentos em algumas delas, e proposições interativas, contudo, a interatividade exposta para o ensino fundamental I, envolve, neste material, mais a figura do professor e dos pais como fonte de ensino do que os materiais digitais.

Usa-se ideias de livros e de meios interativos físicos e pessoais no desenvolvimento de atividades, sem englobar a fundo a multidisciplinaridade por completo em algumas atividades, demonstrou-se pouco, por exemplo, o fomento à pesquisa e ao pensamento crítico, porém, abordou-se mais atos de aprendizado alfabetizante para a compreensão da língua em si e não do significado dos textos.

As práticas de multiletramento, neste material em análise, não são tanto observadas, pois, não há a grandes formas de utilização de buscas ou pesquisas interativas em materiais alternativos aos de costume ou interpretação e busca de imagens ou figuras, mas sim, atividades que fogem da cartilha antiga, sem dar muito ensejo aos conceitos básicos de multiletramento.

Portanto, com base no que fora exposto e analisado nas atividades escolhidas para a abordagem, entende-se que a utilização neste material didático, de multiletramentos, é fraca em relação ao que se pôde elaborar com a proposta de atividade disposta no tópico 2 do presente artigo, proposta essa que poderia abranger o ensino médio ou fundamental II, pelo conhecimento de mundo do aluno.

Ou seja, sem conhecimento de mundo e de bases alfabetizadoras, não é fácil elaborar tarefas que envolvam multiletramentos aos alunos, mas não é impossível, pois, com o uso de tecnologias e de imagens e objetos, o aluno em fase de alfabetização pode ampliar o seu conhecimento crítico e desenvolver melhor a sua capacidade interpretativa.

É válido ressaltar, neste sentido, que neste material didático abordado, as tecnologias para o ensino fundamental I não foram abrangentes para os alunos, tampouco utilizou-se de maneira ampla os multiletramentos em conluio com as técnicas alfabetizadoras, contudo, conforme mencionado é citado nos demais tópicos do presente artigo, são de extrema relevância para a atualidade e para o aluno. 

5. CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto, denota-se que, o que fora abordado, relaciona-se as práticas de letramentos e de multiletramentos no ambiente escolar e, quais as técnicas que podem ser utilizadas para dar ensejo ao melhor aprendizado do aluno que vai à escola e precisa aprender a ter uma visão crítica do mundo e fugir dos muros da escola no sentido de ampliar os seus conhecimentos para além dos ideais dos livros e dos professores.

A visão crítica do aluno, além de ser adquirida com multidisciplinaridade, pode ser abordada mediante a análise de mundo, com pesquisas diferenciadas e criativas, bem como com o uso de tecnologias digitais, que serão a fonte futura de trabalho dos alunos em fase de adaptação escolar e finalização escolar. 

Observou-se que a utilização de tecnologias da informação são ótimas e adaptáveis ao cotidiano dos alunos, contudo, em alguns casos, por exemplo, como no ensino fundamental I, o material didático analisado, do município de Duque de Caxias, pouco abordou a utilização de tecnologias e de atividades com multiletramentos. 

Nota-se, portanto, que não há dificuldade, atualmente, de utilizar-se de novas técnicas na alfabetização infantil, mas sim, um conforto com o que há do material antigo. Contudo, o que se tem estudado é que a forma antiga pode estigmatizar o ensino e causar um retrocesso, diante da globalização em que vivemos.

A sociedade exige cada vez mais do cidadão as técnicas críticas e as visões de mundo para o mercado de trabalho e, se não forem trabalhadas tais técnicas desde a educação infantil e alfabetização, a consciência infantil de aprendizado sofrerá dificuldades no futuro para se adaptar às técnicas interpretativas. 

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDIZZI, Ana Carla et al. Pibid Letras. Universidade do Estado do Amazonas. Manaus: Realiza; 2012.

GAYDECZKA, Beatriz; KARWOSKI, Acir Mário. Pedagogia dos Multiletramentos e desafios para uso das novas tecnologias digitais em sala de aula no ensino de língua portuguesa. Pelotas. 2015. Disponível em: < https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/rle/article/viewFile/15301/9489 >. Acesso em 06/07/2021.

KLEIMAN, A. Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna. Signo. Santa Cruz do Sul. 2007. Disponível em: < https://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/viewFile/242/196>. Acesso em:  06/07/2021. 

KLEIMAN, Angela B. Trajetórias de acesso ao mundo da escrita: relevância das práticas não escolares de letramento para o letramento escolar. Florianópolis, 2010. Disponível em: < https://pdfs.semanticscholar.org/be95/db0780080445b433ae95226b943a74addf8e.pdf>. Acesso em: 06/07/2021. 

MELO, Heronita Maria Dantas. Práticas de Letramento e Multiletramento em Sala de Aula. III CONEDU – Congresso Nacional de Educação. Pernambuco. 2015. Disponível em: http://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2016/TRABALHO_EV056_MD1_SA5_ID10666_14082016141702.pdf >. Acesso em: 06/07/2021.

NICOLAU, et al. Comunicação e Semiótica: visão geral e introdutória à Semiótica de Peirce1. Revista Eletrônica Temática. Paraíba. Ano VI, n. 08. 2010. 

RIOS, G. V. Considerações sobre letramento, escolarização e avaliação educacional. In: RESENDE, Viviane de Melo; PEREIRA, Fábio Henrique (Orgs.). Práticas socioculturais e discurso: debates transdisciplinares. LabCom Books, 2010. p. 77 – 107.

ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

ROJO, R.; MOURA, E. (Org.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

ROJO, Roxane. Entrevista – Outras maneiras de ler o mundo. Educação no Século XXI. São Paulo: Fundação Telefônica, 2013.

ROJO, R. (Org.). Escol@ conectada: os multiletramentos e as TICs. São Paulo: Parábola Editorial, 2013.

SEMED de Duque de Caxias. Aprender – Caderno de Atividades Pedagógicas – 1º Ano de Escolaridade – Trabalhando com a Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Equipe DEIJ, 2015. Disponível em: < http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/Produ%C3%A7%C3%B5es%20SME/Cadernos%20de%20Atividades%20Pedag%C3%B3gicas/L%C3%ADngua%20Portuguesa%20-%201%C2%BA%20ano.pdf >. Acesso em: 07/07/2021.

VERGNANO-JUNGER, C. S. Leitura na tela: reconstruindo uma prática antiga. In: SOTO, U. et al. (Org.) Novas tecnologias em sala de aula: (re)construindo conceitos e práticas. São Carlos: Claraluz, 2009. p. 25-33.


1Mestranda em Letras – UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná)