DIGITAL LITERACY, MESSENGER APPS AND TEACHERS’ CONTINUING PROFESSIONAL DEVELOPMENT: A HIGHLIGHT OF SUCCESSFUL PRACTICES
ALFABETIZACIÓN DIGITAL, APLICACIONES DE MENSAJERÍA Y FORMACIÓN CONTINUA DEL PROFESORADO: UN ANÁLISIS DE LAS PRÁCTICAS DE ÉXITO
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10702954
Adelma L.O.S. Araújo1
Rita Cristina Lima Lages2
Rivânia Maria Trotta Sant’Ana3
Resumo
Este trabalho analisa o uso do telefone celular, e aplicativos de mensagens, como instrumento pedagógico de inserção das tecnologias na formação continuada de professores. O uso dos dispositivos móveis em sala de aula apresentou-se como uma potencial ferramenta de aproximação docente-discente, discente-discente, dentro e fora da escola. Percebeu-se que as atividades promovem formas inovadoras de aprendizagem, visto que possibilitam diferentes modos de acesso ao material estudado, além de maior interação e colaboratividade entre os alunos em outros contextos. A metodologia utilizada são análises baseadas em planos de aulas elaborados por professores do ensino público, que atuam em diferentes níveis da educação básica. O planejamento das atividades realizou-se no âmbito de um curso de especialização em mídias e educação, ofertado por uma instituição federal de ensino. Percebeu-se que as atividades, que usam o aplicativo WhatsApp como ferramenta, promovem formas motivadoras de aprender, uma vez que as práticas escolares aproximam-se das práticas cotidianas e culturais dos alunos.
Palavras–chave: TIC. Formação Continuada. WhatsApp. Planos de Aula
Abstract
This study analyzes the appropriation of Whatsapp application as a pedagogical tool in the classroom, allowing for the use of technologies in education. The analysis capitalized from class plans made by public school teachers working at different levels of basic education. The use of mobile devices in the classroom was presented as a potential tool that allows a teacher-student, student-student approach, inside and outside the school. It was noticed that the activities promote innovative forms of learning, since they allow different ways of accessing the studied material, in addition to greater interaction and collaboration between students in other contexts The planning of such activities took place during a specialization course on technologies and education offered by a federal institution of education. It was noticed that the activities involving the use of Whatsapp became a motivating way to learn by bringing together students’ routine and school practice.
Keywords: TIC. Teacher training . WhatsApp. Class plans.
Resumen
Pretendemos analizar, con este trabajo, la apropiación de la aplicación Whatsapp como herramienta pedagógica, tomando esta práctica como posibilidad de inserción de tecnologías en la educación. El uso de dispositivos móviles en el aula se presentó como una herramienta potencial que permite un acercamiento maestro-alumno, alumno-alumno, dentro y fuera de la escuela. Se notó que las actividades promueven formas innovadoras de aprendizaje, ya que permiten diferentes formas de acceder al material estudiado, además de una mayor interacción y colaboración entre los estudiantes en otros contextos. Los análisis se basan en planes de lecciones preparados por docentes de escuelas públicas, que trabajan en diferentes niveles de la educación básica. La planificación de las actividades tuvo lugar en el contexto de un curso de especialización en medios en la educación, ofrecido por una institución educativa federal. Se observó que las actividades que utilizan esta aplicación como herramienta promueven formas motivadoras de aprender, ya que las prácticas escolares dialogan con las prácticas cotidianas y culturales de los estudiantes.
Palabras clave: TIC. Formación Docente . Whatsapp. Plan de clase.
Introdução
A proposta deste trabalho é analisar o uso do telefone celular, e um aplicativo de mensagens de modo mais específico, como instrumento pedagógico de inserção das tecnologias na formação continuada de professores. O uso dos dispositivos móveis em sala de aula apresentou-se como uma potencial ferramenta de aproximação docente-discente, discente-discente, dentro e fora da escola. Percebeu-se que as atividades promovem formas inovadoras de aprendizagem, visto que possibilitam diferentes modos de acesso ao material estudado, além de maior interação e colaboratividade entre os alunos em outros contextos. A metodologia utilizada são análises baseadas em planos de aulas elaborados por professores do ensino público, que atuam em diferentes níveis da educação básica. Vale dizer que o planejamento das atividades realizou-se no âmbito de um curso de especialização em mídias e educação, ofertado por uma instituição federal de ensino. Percebeu-se que as atividades, que usam o aplicativo WhatsApp como ferramenta, promovem formas motivadoras de aprender, uma vez que as práticas escolares aproximam-se das práticas cotidianas e culturais dos alunos.
Para instigar os alunos – professores em formação continuada – de um curso de especialização Mídias na Educação, ofertado por uma universidade pública a pensarem no uso dessa ferramenta em sua prática pedagógica, estabelecemos que, nas disciplinas, teoria e prática correriam como ações simultâneas. Dessa forma, após a conclusão do primeiro módulo da disciplina, que discorreu sobre o uso do celular na sala de aula, com estudos embasados em referencial teórico atual, colocamos à disposição dos alunos vídeos com especialistas no tema e abrimos fóruns de discussão para troca de saberes entre todos os participantes. Solicitamos, como atividade da unidade, que eles elaborassem um plano de aula usando o WhatsApp como instrumento educativo. Eles poderiam escolher qualquer um dos recursos disponíveis no aplicativo: mensagens de texto, fotos, emotions, áudios, etc.). Na proposição da atividade, os professores deveriam levar em consideração os seguintes itens: (i) o que os alunos precisariam aprender; (ii) o que eles já sabiam; (iii) quais conteúdos seriam trabalhados ao se usar o WhatsApp; (iv) quais habilidades deveriam ser desenvolvidas (v) como os alunos seriam avaliados e, por fim, (v) quais seriam as melhores estratégias a serem compartilhadas com os estudantes, a fim de que eles se tornassem autônomos e independentes.
Os alunos do curso de especialização não poderiam se esquecer de descrever as etapas a serem desenvolvidas, definindo os objetivos a serem alcançados, os resultados pretendidos, e a forma de avaliação escolhida. Essa atividade deveria ser realizada em grupo composto por cinco desses alunos, e as discussões deveriam ser realizadas por meio do WhatsApp. Para a escritura do texto, a ser feito de forma colaborativa, deveria ser aberto um arquivo Google Docs. Tanto no grupo do Whatsapp quanto no arquivo do Google Docs, a professora da disciplina deveria ser adicionada, embora a sua participação se limitaria a observar a movimentação e a participação dos alunos. O objetivo a ser alcançado pela professora, com essa atividade, era perceber como se daria a construção coletiva de um plano de aula, sem que os alunos tivessem recebido um roteiro de trabalho prévio, como eles estruturariam o trabalho em grupo, como se construiria o processo de colaboratividade entre eles e qual seria o engajamento de cada um na execução da tarefa proposta.
Planos de aulas como potentes fontes de análises
Nesta seção, trataremos dos resultados obtidos pela coleta e análise dos dados a partir do corpus formado por 27 planos de aula elaborados pelos 126 alunos da disciplina do curso de especialização em Mídias na Educação. Esses alunos do curso de especialização, professores da rede pública brasileira, mostraram-nos a qualidade de suas formações, sua criatividade, inventividade, colaboratividade e, acima de tudo, vontade de promover a inovação em suas salas de aula. Na experiência de conhecimento construída com esses professores, verificamos que, embora alguns ainda sintam “medo/receio” do uso das tecnologias na sua prática pedagógica, esses “medos/receios” se diluem quando eles têm acesso a uma formação que dê suporte à integração das mídias em suas práticas docentes. A primeira estratégia utilizada para fazer desabrochar no professor a coragem de inovar é fazê-los se sentirem novamente livres para criar em suas salas de aula. Oferecemos a esses professores, em primeiro lugar, a oportunidade para se libertarem das algemas imaginárias tão presentes nas ações das escolas, que podam nossa criatividade ao exigir que sigamos, cegamente, um roteiro pré-determinado, distante da realidade dos alunos.
Ao solicitarmos em uma atividade avaliativa do curso que os professores elaborassem, em equipe, estratégias para inserção do WhatsApp na sala de aula, presenciamos o surgimento de um conjunto de ideias pragmáticas, estruturadas, integradoras e que, certamente, instigarão os alunos do ensino básico a quererem estar na escola plugada. Inserir as tecnologias móveis nas práticas escolares, como instrumento pedagógico, exige que pensemos em um plano de aula com regras determinadas, objetivos claramente estabelecidos, metas a serem alcançadas bem definidas e aceitemos a participação dos alunos na definição das formas de sua avaliação. Ou seja, o uso consciente desses recursos na sala de aula ou em atividades extracurriculares e extraclasse se mostra uma arma poderosa para a aproximação entre os mundo de dentro e o de fora da escola.
Após todas essas questões já tão minuciosamente discutidas, iremos partir para a análise dos planos de aula recebidos e avaliados no curso. Embora não tivéssemos determinado um roteiro a ser seguido, mencionamos itens relevantes a serem observados em um plano de aula. Nosso corpus foi, portanto, analisado tomando como base esses itens: (i) tema do plano de aula e disciplinas envolvidas; (ii) público alvo; (iii) recursos a serem utilizados; (iv) estratégias a serem utilizadas; (v) objetivos a serem alcançados; (vi) adoção de regras e critérios para a utilização do WhatsApp no espaço escolar e em atividades extraescolares; (vii) plano de aula uno ou multidisciplinar; (viii) duração da atividade proposta; (ix) formas de avaliação concebidas.
Quanto ao item (i), temas dos planos de aula e disciplinas envolvidas, verificamos que, em sua maioria, os tópicos escolhidos estão relacionados à violência contra a mulher, homofobia, bullying, valores éticos e morais, contribuição do negro na cultura brasileira, meio ambiente, sustentabilidade, hereditariedade (estudada através da genética) e neocolonialismo na África. Todos esses temas foram propostos de forma a serem trabalhados interdisciplinarmente. Outros temas também citados foram: receitas de comida, sendo preparadas e filmadas pelos alunos, como atividade de língua portuguesa, com o objetivo de se trabalhar a expressão oral. O poder de argumentação foi destacado como sendo um dos objetivos dos grupos que escolheram trabalhar com os textos opinativos, em diversos gêneros textuais, dando destaque e incentivo à leitura. Outra proposta foi a construção pelos alunos de histórias em quadrinho, promovendo uma leitura crítica sobre a ética na rede, assim como a conscientização sobre o uso das redes sociais. Como esse trabalho estava sendo desenvolvido num ano de copa do mundo, um grupo de professores nos convenceu de que aquele momento era uma oportunidade única para instigar seus alunos a conhecerem outros países, suas culturas, modos de vida, geografia, história, sua língua, costumes, comidas e crenças religiosas, etc. Essa proposta foi acatada, tendo em vista a relevância de um trabalho como esse, que, além de possibilitar o conhecimento sobre a diversidade de culturas, ajuda a promover uma cultura de paz, por meio da reflexão sobre a necessidade do respeito à diferença, aos direitos humanos, à liberdade de expressão e de escolha da religião, etc.
Vale destacar que, em relação ao item (ii), público alvo envolvido, todas as propostas de aulas foram planejadas para alunos do Ensino Fundamental II, do 6º ao 9º anos, Ensino Médio e EJA. Um dos motivos de não contarmos com planos de aulas para alunos do Ensino Fundamental I pode ser o fato de termos um pequeno número de pedagogas nos grupos. Sendo assim, a decisão de se trabalhar a ferramenta WhatsApp só foi consenso quando a proposta tinha como público alunos a partir do 5º ano. Um dos grupos argumentou que esse recurso poderia ser usado nas séries iniciais, do 1º ao 5 º ano, pelos professores, como um diário digital das tarefas desenvolvidas em sala de aula. Para tornar esta ideia real, cada professor deveria fazer um grupo nesse aplicativo, como administrador, adicionando todos os telefones dos pais dos alunos. A comunicação com os pais se daria através do envio de fotos e vídeos dos alunos durante o desenvolvimento das atividades na escola. Os objetivos pretendidos seriam: a) destaque estimular os alunos a utilizarem o celular e seus aplicativos como uma importante fonte de compartilhamento de informações, incentivando o uso das redes sociais com responsabilidade e comprometimento; b) desmistificar o uso do celular na sala de aula, trazendo ao conhecimento dos pais o uso das tecnologias como instrumento pedagógico de ensino e aprendizagem dos conteúdos e não apenas de entretenimento; c) explicar aos alunos as regras da instituição para uso do instrumento digital em questão, para formar a consciência dos alunos sobre o uso adequado das tecnologias; d) informar aos pais o que seus filhos estavam aprendendo e construindo de conhecimento na escola;e) informar aos pais as atividades de “para casa” que seus filhos deveriam realizar, facilitando, assim, a divisão de responsabilidade pelo processo de escolarização dos alunos. Segundo os grupos, a escolha de se trabalhar com alunos das séries finais do Ensino Fundamental II, do Ensino Médio e da EJA se deu porque consideram que alunos da faixa etária própria desses níveis de ensino já têm a noção exata do perigo que envolve o uso dos celulares para fins não específicos da disciplina.
Ao definirmos objetivos bem delimitados e explicitarmos a seriedade da proposta de trabalho na escola, podemos comprovar que o celular, quando bem utilizado, pode ser um importante aliado na ampliação das habilidades de leitura e escrita, podendo-se, por exemplo, aprofundar os conteúdos abordados em sala de aula, por meio de troca de informações entre alunos e professores. Na disciplina de língua portuguesa, podemos trabalhar as diversas funções da linguagem; conhecer e trabalhar as estruturas dos textos, as diferentes modalidades de linguagem e os diferentes gêneros textuais; trazer ao debate o que são normas padrão e não padrão e fazer os alunos pensarem sobre o porquê do prestígio e do não prestígio das diferentes normas. Podemos trabalhar a língua materna também promovendo o compartilhamento das leituras realizadas entre os estudantes no decorrer da semana e da rotina de cada um nos grupos de WhatsApp. Propor atividades nas quais os alunos possam fazer inferências a partir de postagens dos colegas. Podemos analisar o conteúdo das postagens, motivar os alunos a manifestarem suas opiniões, aprendendo a respeitar as opiniões alheias, também com o objetivo de melhorar o desempenho oral e escrito dos colegas de turma. Outro uso do celular que seria benéfico na sala de aula seria propiciar pesquisas na rede para a compreensão de textos compartilhados com os usos do hipertexto, do hiperlink e outros recursos midiáticos como ferramenta de leitura e aprofundamento de compreensão do texto, explorando todos as ferramentas do aplicativo WhatsApp.
Outro objetivo é promover o trabalho multidisciplinar na escola, focando em temas transversais que abordam, por exemplo, a cidadania, a diversidade racial, o racismo, a promoção da igualdade racial, a homofobia, o bullying, levantando-se as características e contrastes de cada uma das práticas discriminatórias e suas consequências para a sociedade e o indivíduo.Propor como objetivos a serem alcançados pela turma o ato de fotografar atitudes éticas e ações de aceitação da pluralidade cultural da comunidade por meio do registro de tudo, usando o WhatsApp, é motivador para professores e alunos. Também a promoção de discussões sobre causas e consequências das atitudes antiéticas e amorais no cotidiano da comunidade são necessárias ao processo de conscientização de que só há vivência da cidadania se todos lutarem por uma sociedade justa e igualitária como um bem comum. Ainda como objetivo a ser alcançado pela escola, família e comunidade, temos a conscientização de todos sobre ações sustentáveis realizadas por cada um, começando, portanto, no plano individual, indo para o familiar e até para o plano municipal. Seria importante e motivador produzir vídeos colaborativos que deem visibilidade nas mídias sociais a essas ações mobilizadoras que possam ser replicadas em outros municípios.
Por fim, levantamos outros objetivos propostos pelos grupos, tais como a promoção da participação ativa dos alunos nas atividades dentro e fora da escola, incluindo até o convite para agirem ativamente no planejamento de atividades a serem executadas na sala de aula. Motivando e instigando os jovens a se posicionarem sobre as aulas que têm, as que gostariam de ter, propiciando umaeducação integradora em que a vivência social dos alunos fora e dentro da escola possam ter pontos de aproximação.
No que diz respeito ao item (vi), os 27 grupos descreveram como espaços permitidos para utilização do celular como ferramenta pedagógica os laboratórios de informática e as salas de aula, além do espaço residencial de cada aluno. No que se refere ao item (iii), os recursos didáticos mais citados foram celular e computador com acesso à internet, textos digitalizados; recursos multimídia; vídeos do Youtube; imagens e fotos; áudios de músicas; vídeo documentário, textos diversos, livros, internet, celular, aplicativos, lousa, marcador para quadro branco e apagador, data-show, microfones, entre outros recursos. Disponibilizaremos para a realização do plano de ação a participação ativa dos alunos, pais, da colaboração da direção e de toda a equipe pedagógica. Quanto à duração do projeto de implementação do uso do WhatsApp na sala de aula, item (viii), as propostas variaram de 4 h/a (quatro horas/aula), com duração de 50 minutos cada aula, de uma única disciplina, a um semestre, quando o projeto for desenvolvido por uma equipe multidisciplinar.
A metodologia escolhida pelos grupos de trabalho, item (iv), para se usar o WhatsApp como ferramenta na sala de aula, está fundamentada na pesquisa-ação, uma forma de investigação continuada, sistemática, para se aprimorar a prática, baseada em uma autorreflexão dos participantes, aqui professores da rede pública, de modo que eles pudessem utilizar suas pesquisas e suas práticas pedagógicas para aprimorar seu ensino e, em decorrência, o aprendizado de seus alunos (TRIPP, 2006; THIOLLENT, 1996.).
Como último item do plano de aula elaborado pelos alunos da especialização, discorreremos sobre o item (ix), formas de avaliação escolhidas. Na análise dos planos, levantamos que a forma de avaliação escolhida pelos grupos, em sua maioria, se restringia à participação dos alunos nas atividades do grupo e à apresentação final do projeto desenvolvido em forma de seminário, gincana, exposição, ou até mesmo da divulgação, nas redes sociais, em forma de vídeos e fotos, das atividades educacionais realizadas com inserção do WhatsApp na sala de aula, desmistificando, assim, esse uso e repensando seus usos na escola. Diagnosticamos, na análise dos planos de aula, que as formas de avaliação estabelecidas em nossas instituições de ensino não são, muitas vezes, utilizadas como elemento auxiliar no processo de ensino/aprendizagem. Ainda precisamos mostrar aos educadores o quanto perdemos ao utilizar as avaliações apenas para mensurar e quantificar o conhecimento.
Conclusão
Após analisarmos os 27 planos de aula elaborados por professores de escolas públicas, alunos de um curso de pós-graduação em Mídias na Educação, verificamos que incorporar as tecnologias de informação e comunicação no processo educacional (nos casos analisados, trata-se da utilização da ferramenta WhatsApp) ainda se mostra como um desafio que, aos poucos, está sendo vencido pelos docentes. A partir da análise dos planos de aula, percebemos que os professores que desenvolveram a proposta em suas escolas concordaram que a inserção do referido dispositivo móvel nas atividades escolares representou grande ganho para o ensino, conferindo motivação, engajamento e construção de sentidos para as atividades por parte dos alunos. Essa conclusão a que os professores chegaram vai ao encontro dos dados da pesquisa realizada pela TIC Educação 2016 e divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que afirma que 52% de alunos de escolas com turmas do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental II, em regiões urbanas, já fazem uso dos celulares em atividades escolares. Se a esse percentual somarmos os alunos do 2º ano do Ensino Médio, este percentual se eleva de 52% para 74%.
Por ser um recurso disponível na sala de aula, o WhatsApp foi integrado ao projeto de ensino-aprendizagem de várias formas, quer seja em trabalho realizado em uma disciplina, quer seja em projeto desenvolvido de forma interdisciplinar. Além de despertar o interesse dos alunos, a experiência de utilização do recurso digital em sala de aula possibilitou maior contato entre professores, pais e direção pedagógica, para a divisão das responsabilidades de participação no aprendizado dos alunos.
Ao planejar a utilização da ferramenta digital e, em alguns casos, utilizá-la na sala de aula, os professores promoveram uma nova significação do aplicativo WhatsApp: para os próprios professores, ele passou a ser também um recurso pedagógico; para os alunos, de instrumento de diversão, o aplicativo passou a ser um meio para adquirir conhecimento de forma rápida e estimulante.
Importante dizer que a experiência teve efeitos também para a direção das escolas em que foi realizada e para os pais dos alunos envolvidos. A partir da comunicação mais intensa que se estabeleceu entre professores, direção escolar, alunos e pais, deu-se o início a uma percepção mais clara de que a colaboratividade é um elemento de grande relevância para um processo educacional bem sucedido.
Voltando aos planos de aula, para encerrarmos esta reflexão, podemos dizer que a disposição dos professores para refletirem sobre a sua prática docente e aceitarem pensar em formas de utilização de um recurso normalmente mal visto nas escolas, para transformá-lo em recurso pedagógico, demonstrou como esses professores estão comprometidos com a formação de seus alunos. Tanto que estão dispostos a adaptarem suas práticas em prol dos desejos e das necessidades dos alunos, criando possibilidades de conexões entre as práticas escolares e o cotidiano do aluno. Sem deixar de ressaltar a conscientização sobre a importância de um letramento digital contínuo para os professores.
Embora os planos de aula sejam muito bem estruturados em termos de objetivos, metodologia e recursos a serem utilizados, observamos que a necessidade de inserção de tecnologias nas salas de aula, de alguma forma imposta pela sociedade plugada, tem exigido dos docentes uma nova atitude e o desempenho de novos papéis. Entre esses papéis se encontra o desafio de se avaliarem atividades que transcendem a sala de aula regular. Os dados levantados neste artigo, portanto, deixam uma importante reflexão: precisamos pensar em outras formas de ensino e avaliação que integrem o uso das novas tecnologias, permitindo que o ensino e a aprendizagem sejam significativas e continuem fora do espaço escolar. Em suma, este trabalho trouxe à discussão a relevância da incorporação das TIC no âmbito escolar, salientando que a inserção digital deve seguir um planejamento estruturado, pautado em um currículo conhecido, observando as particularidades da comunidade na qual a escola está inserida e levando em consideração a importância da tecnologia educacional que os educadores imprimem na sua prática pedagógica.
Discutir, planejar e o executar este trabalho em grupo também trouxe a todos uma visão geral sobre a pesquisa em inovação social: guia para estudos futuros. Terminamos com o relato de uma professora, aluna do curso e membro de um dos 27 grupos de trabalho, ao tomar ciência do poder do uso das tecnologias na sua prática docente. Ela percebeu que as TIC mudam o papel do professor, de centralizador do processo de ensino/aprendizagem, para assumir uma postura tanto de mediação quanto de aprendiz. “Ao planejar uma aula usando o WhatsApp, eu descobri algo extraordinário: a tecnologia permite ao professor perceber que o único expert em tecnologia na sala de aula não é o professor não. Os alunos também podem me ensinar”. Frase que fez viva a afirmação de Paulo Freire (2011): “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
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1Pós doutoranda do PósLetras – UFOP
Grupo de Pesquisa Texto Livre: Semiótica e Tecnologia – FALE/UFMG
Grupo de Pesquisa Recursos Educacionais Abertos para Leitura e Produção de Textos nas Licenciaturas (REALPTL) – UFTM
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-8503-7096
E-mail: adelmaa.ufmg@gmail.com
2Departamento de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto
Grupo de História e Historiografia da Educação da UFOP – GERAES
Membro do Projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil (1822-2022) – UFMG
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0796-3363
E-mail: ritallages@yahoo.com.br
3Departamento de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0935-9944
E-mail: rivaniatrotta@gmail.com