LESÕES MAIS COMUNS EM MULHERES ATLETAS:

MOST COMMON INJURIES IN FEMALE ATHLETES:

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202502082157


Andressa Lourenço Carvalho1,
Samira dos Santos Ferreira de Freitas1,
Melissa Franciely Batista Marques1,
Denise Paia Lagasse1,
Isabelle Campos Campi1


RESUMO

Este estudo investigou a prevalência de lesões em atletas femininas em comparação aos masculinos, destacando fatores anatômicos e biomecânicos que aumentam a suscetibilidade das mulheres a certas lesões, como diferenças hormonais, menor massa muscular e padrões específicos de movimento. A revisão sistemática analisou artigos publicados entre 2016 e 2023, focando nas lesões mais comuns em mulheres atletas.

Os achados indicam que as lesões mais frequentes incluem rupturas do ligamento cruzado anterior (LCA), fraturas por estresse nos membros inferiores (tíbia e metatarsos), entorses de tornozelo e desequilíbrios musculares entre músculos agonistas e antagonistas do joelho. A aterrissagem inadequada após saltos e o planejamento inadequado dos treinos foram identificados como fatores determinantes para essas lesões.

A prevenção deve incluir programas de treinamento neuromuscular, fortalecimento muscular e estabilização da parte inferior do corpo. Estratégias como a progressão adequada dos exercícios e o alinhamento correto dos músculos do quadril e joelho são essenciais. No entanto, as taxas de lesões do LCA não apresentaram reduções significativas, evidenciando a necessidade de mais pesquisas para aprimorar as estratégias preventivas.

Conclui-se que um planejamento adequado do treinamento é essencial para garantir qualidade de vida e longevidade no esporte. Diante do crescente número de mulheres na prática esportiva, seja de forma competitiva ou recreativa, torna-se indispensável investir em medidas preventivas para minimizar lesões e melhorar o desempenho das atletas.

Palavras-chave: Lesões esportivas femininas. Ligamento cruzado anterior (LCA). Prevenção de doenças. Treinamento neuromuscular. Desempenho atlético feminino.

1 INTRODUÇÃO

Ao longo das últimas três décadas, uma tendência notável tem sido o crescente envolvimento das mulheres em atividades esportivas, abrangendo diversos níveis de competição. Entretanto, esse aumento na participação também tem sido acompanhado por um incremento nas incidências de lesões esportivas, que podem ser classificadas como agudas ou resultantes de um padrão de uso excessivo. IVKOVIĆ, A. et al 2007. 

A susceptibilidade diferenciada das mulheres a certos tipos de lesões, em comparação com os homens, é o resultado de uma complexa interação entre variáveis. Elementos anatômicos distintivos, tais como maiores níveis de estrogênio, menor massa muscular e uma proporção mais elevada de tecido adiposo em atletas do sexo feminino, bem como uma pelve mais ampla que afeta a alinhamento do joelho e tornozelo, têm contribuído para essa discrepância. Ademais, padrões singulares de movimentação, como aterrissagem com postura mais ereta e joelhos mais próximos ao solo após saltos, além das mudanças de direção frequentemente realizadas com o apoio de um único pé, têm potencializado esse risco. A confluência desses fatores, somada a uma maior propensão a deficiências nutricionais, desvela-se como uma explicação plausível para a maior prevalência de lesões em atletas femininas. SHMERLING, R. H. 

Diante da predisposição às lesões entre atletas do sexo feminino, revela-se crucial a identificação precoce dessas ocorrências, a fim de que estratégias preventivas possam ser delineadas e implementadas. O cerne desta abordagem reside na redução do período de afastamento das atletas de suas atividades esportivas devido a lesões. Nesse contexto, o propósito central deste estudo consiste em investigar a prevalência de lesões em atletas femininas quando comparadas aos atletas masculinos. HEWETT, T. E.; MYER, G. D.; FORD, K. R. 2006.

2 METODOLOGIA

Revisão sistemática sobre as lesões mais comuns em mulheres atletas, realizada no mês de agosto de 2023.

A pesquisa foi realizada por consulta abrangente na literatura, utilizando as palavras-chave : (“female athlete injuries”).

Os critérios de seleção para a pesquisa foram artigos publicados em língua inglesa ou portuguesa, realizados no período de 26 de dezembro de 2016 até 13 de maio de 2023, exclusivamente em mulheres.

Critérios de exclusão: Pacientes do sexo feminino não atletas, trabalhos retornados na pesquisa que não abordavam o assunto ou que não continham a metodologia de interesse, publicados em outro idioma que não o inglês ou português.

Após a aplicação dos critérios de seleção, 6 artigos foram utilizados para análise dos resultados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
AutorDataMaterial e MétodoEsportesPrincipais lesões Conclusão 
Ariadne Maria dos Santos; Márcia Greguol.2016Foi realizado um estudo com estudo 36 adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos, de ambos os sexos, sendo 18 do sexo feminino e 18 do masculino. Os participantes eram atletas das modalidades de natação, atletismo, voleibol  e  futsal  da  cidade  de  Londrina-PRNatação, atletismo, voleibol  e  futsal  Dor, fratura, luxação, tendinite, entorse e distensão.As queixas esportivas e de dor acabam interferindo em atividades cotidianas dos atletas. Sendo os atletas de natação e de vôlei maior lesão nos membros superiores e no pescoço, enquanto atletas de Atletismo e Futsal possuem mais queixas de dor nos membros inferiores. Sendo um dos principais motivos o planejamento  inadequado   do   treinamento e o volume de treinamento, por isso destaca-se a importância de mais estudos na área de prevenção de  lesões  entre  atletas.
Bruna Travassos Benck, Ana Cristina de David, Jake Carvalho do Carmo2016Foi realizado um estudo Descritivo, do tipo transversal, em que participaram da pesquisa 24 atletas do sexo feminino de ginástica artística e ginástica acrobática entre nove e 15 anos de Brasília/Distrito Federal.Ginástica artística e ginástica acrobáticaLesão no ligamento cruzado anterior  e maior chances de lesões nos membros inferiores.As ginastas entre 9 e 15 anos podem ter maior risco devido a desequilíbrios musculares entre músculos agonistas e antagonistas na extensão e flexão de joelho. Por isso destaca-se a importância de fortalecer os músculos isquiotibiais, para diminuir esses desequilíbrios e com isso reduzir o risco de lesões.
Alexandra Abbott, Mackenzie L. Pássaro, Emily Selvagem, Symone M. Brown, Greg Stewart, Mary K. Mulcahey2019Revisão de literaturaAtleta femininoFratura por estresse (SFx) As fraturas por estresse (SFx) nos membros inferiores representam a maioria, sendo as principais fraturas de tíbia em corridas de resistência, e as lesões de  metatarsos. Além de destacar a importância do reconhecimento imediato dos fatores de risco intrínsecos e extrínsecos.
Erich J Petushek, Dai Sugimoto, Michael Stoolmiller, Graça Smith, Gregory D. Myer2019Foi realizado um projeto de estudo prospectivo controlado, (2) uma intervenção NMT destinada a reduzir a incidência de lesão do LCA, (3) um grupo de comparação, (4) incidência de lesão do LCA e (5) participantes do sexo feminino.atletas jovens do sexo femininoLesão no ligamento cruzado anterior  usem implementadores treinados que incorporem exercícios de força para a parte inferior do corpo com foco na aterrissagem 
Lauren E Caldemeyer, Simone M Brown, Mary K. Mulcahey2020Revisão sistemática Atletas do sexo feminino de  basquete, handebol, vôlei, futebol e floorballEntorse de tornozelo Foi relatado eficiência no treinamento neuromuscular (NMT), na prevenção de entorses de tornozelo em atletas do sexo feminino, realizando uma abordagem de força, equilíbrio, pliometria e agilidade no treino.
Cristina Rotllan, Ginés Viscor 2023Foi realizado um estudo seguindo as diretrizes da Escala de Avaliação de Artigos de Revisão Narrativa (SANRA), usando três bases de dados eletrônicas para a pesquisa de artigos originais e de revisão.Esportes de inverno como: esqui Alpino, snowboard, Salto de esqui, Esqui cross-countryLesão no ligamento cruzado anterior (LCA), lesões no tornozelo e pé   As atletas  esquiadoras e saltadoras de esqui sofreram lesões nos joelhos (LCA) como o evento mais frequente, já as atletas do snowboard e do esqui cross-country tiveram uma prevalência ainda maior de lesões nos tornozelos e pés. Tendo no geral a principal causa de lesão, trauma de contato e a prevenção deve ser focada em fatores como: carga de treinamento, condições neuromusculares, lesões anteriores no joelho, período do ano e questões técnicas.

O estudo se dedica a lesões mais comuns em mulheres, sendo a principal no ligamento cruzado anterior (LCA). Conforme corroborado por investigações bibliográficas, observa-se uma diminuição na angulação de flexão do joelho durante o contato inicial com a superfície em mulheres, bem como uma maior ativação do grupo muscular quadríceps e uma ativação reduzida dos músculos isquiotibiais. Tais fatores parecem estar associados a um possível incremento na incidência de lesões no LCA em mulheres. Adicionalmente, durante manobras esportivas, observa-se uma amplitude de flexão inferior no quadril, combinada com uma maior absorção de impacto pelo joelho e tornozelo. No que diz a respeito às lesões no LCA, é fundamental esclarecer os mecanismos que conduzem sua ocorrência, bem como saber o papel do quadril nesse contexto, e podem ser categorizados em traumáticos e atraumáticos. As lesões resultantes da força direta aplicada no joelho são consideradas atraumáticas, associada ao contato físico no esporte e quando há o impacto indireto, de natureza atraumática está associado a aterrissagens após um salto, sendo o principal mecanismo de ruptura. Há indícios de que as discrepâncias nos ângulos de valgo do joelho entre os gêneros durante atividades esportivas e nas posições pré-impacto adotadas por mulheres podem derivar de ajustes no controle muscular dos membros inferiores.(BALDON et al, 2011; TEOTÓNIO, Sofia Rodrigues, 2018)

É notório que as esquiadoras alpinas austríacas demonstraram uma taxa de risco elevada para lesões do LCA quando comparadas aos atletas masculinos. Além disso, as atletas de esqui cross-country apresentaram uma maior incidência de lesões no tornozelo, enquanto os snowboarders reportaram uma tendência aumentada de lesões nessa mesma região. Ademais, este estudo revelou que o risco de lesões em esquiadores alpinos varia significativamente ao longo da temporada, com as mulheres apresentando maior suscetibilidade a lesões por uso excessivo durante a temporada de competição e lesões traumáticas durante a entressafra. Fatores como treinamento intensivo de inverno e más condições de neve no final da temporada de competição também foram identificados como contribuintes para um aumento no risco de lesões. Além disso, enfatizou que exercícios específicos, como saltos, corrida, flexibilidade e treinamento de equilíbrio, podem ser eficazes na minimização do risco de lesões, principalmente no que diz respeito ao LCA, embora reconheça a necessidade de estudos adicionais para aprimorar a reabilitação clínica e compreender melhor os mecanismos de lesão. Nesse sentido, a pesquisa ressaltou a importância de estratégias de prevenção que levem em consideração as flutuações sazonais e as diferenças de gênero. (ROTLLAN, 2023)

No que diz a respeito aos  programas de prevenção no LCA mais eficazes incluem o treinamento neuromuscular ao longo da temporada esportiva, junto a exercícios de fortalecimento e estabilização da parte inferior do corpo. Não se observaram resultados significativos em relação à inclusão de elementos como equilíbrio, fortalecimento do núcleo, alongamento ou agilidade, em comparação com programas que os excluíam. No entanto, é importante ressaltar que determinados componentes, como o treinamento de equilíbrio, demonstraram eficácia na prevenção de entorses de tornozelo. Adicionalmente, um aspecto frequentemente negligenciado nos programas de prevenção do LCA é a progressão adequada dos exercícios, especialmente no que se refere à estabilização durante a aterrissagem. Quanto ao mecanismo da lesão do LCA existe a importância de incorporar exercícios que engajem os músculos do quadril e joelho  e manter um alinhamento adequado. Apesar da eficácia e dos benefícios da prevenção existe um déficit na adesão, visto que as taxas de lesões do LCA não reduziram significativamente. A análise da qualidade dos estudos envolvidos revelou uma classificação moderada, o que aponta para a necessidade de realizar pesquisas de maior qualidade para reforçar as recomendações. (CALDEMEYER et al, 2023)

4 CONCLUSÃO

A prática esportiva entre as mulheres é progressivamente evidente, seja de modo competitivo, entretenimento ou em busca de qualidade de vida. É evidente que as exigências esportivas somadas a falta de condicionamento, provoque lesões, e patologias que podem ser evitadas, além disso, é necessário estar atento ao fato de que as atletas femininas possuem diferenças anatômicas e fisiológicas em relação aos atletas do sexo masculino.

Sendo assim, a prática esportiva deve ser acompanhada de profissionais constantemente, visando a prevenção de desgastes e lesões às atletas, focando nos fatores: carga de treino, lesões prévias, condição neuromuscular, treinamento compatível ao condicionamento físico, desequilíbrio entre os músculos agonistas e antagonistas e direcionado para o esporte praticado. Os eletrodos de neurotransmissão (NTM), podem ser utilizados como ferramenta essencial para a redução das lesões esportivas, por conseguir medir a atividade elétrica do músculo e estimulação nervosa. 

O planejamento adequado do treino, é indispensável para que o atleta tenha qualidade de vida, saúde, e disposição para se manter no esporte. 

REFERÊNCIAS
  1. IVKOVIĆ, A. et al. Overuse Injuries in Female Athletes. Croatian medical journal, v. 48, n. 6, p. 767–778, dez. 2007. 
  2. SHMERLING, R. H. The gender gap in sports injuries – Harvard Health Blog. Disponível em: <https://www.health.harvard.edu/blog/the-gender-gap-in-sports-injuries-201512038708>
  3. HEWETT, T. E.; MYER, G. D.; FORD, K. R. Anterior Cruciate Ligament Injuries in Female Athletes. The American Journal of Sports Medicine, v. 34, n. 2, p. 299–311, fev. 2006.
  4. ROTLLAN, C.; GINÉS VISCOR. Winter Sports Injuries in Elite Female Athletes: A Narrative Review. v. 20, n. 10, p. 5815–5815, 13 maio 2023.
  5. CALDEMEYER, L. E.; BROWN, S. M.; MULCAHEY, M. K. Neuromuscular training for the prevention of ankle sprains in female athletes: a systematic review. The Physician and Sportsmedicine, v. 1, n. 1, p. 1–7, 28 fev. 2020.
  6. PETUSHEK, E. J. et al. Evidence-Based Best-Practice Guidelines for Preventing Anterior Cruciate Ligament Injuries in Young Female Athletes: A Systematic Review and Meta-analysis. The American Journal of Sports Medicine, v. 47, n. 7, p. 036354651878246, 12 jul. 2018.
  7. ABBOTT, A. et al. Part I: epidemiology and risk factors for stress fractures in female athletes. The Physician and Sportsmedicine, v. 48, n. 1, p. 17–24, 11 jul. 2019.
  8. BENCK, B. T.; DAVID, A. C. DE; CARMO, J. C. DO. Déficits no equilíbrio muscular em jovens atletas de ginástica feminina. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, p. 342–348, 2016.
  9. SANTOS, A. M. DOS; GREGUOL, M. Prevalência de lesões em atletas jovens. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, v. 37, n. 2, p. 115, 26 dez. 2016.
  10. BALDON, Rodrigo de Marche et al. Diferenças biomecânicas entre os gêneros e sua importância nas lesões do joelho. Fisioterapia em movimento, v. 24, p. 157-166, 2011.
  11. TEOTÓNIO, Sofia Rodrigues. Incidência e características das lesões em atletas femininas federadas de basquetebol Português. 2018.

1Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Universidade Anhembi Morumbi Campus Mooca e-mail: a.l.c.andressa.l.c@gmail.com; samirafreitas2018@gmail.com; melbamarques@gmail.com; estudosdenisepaialagasse@gmail.com; isabellecampi01@gmail.com;