LESÕES DE TORNOZELO NO ESPORTE: REVISÃO DE LITERATURA SOBRE DIAGNÓSTICO, MECANISMO DE LESÃO E ABORDAGENS TERAPÊUTICA

ANKLE INJURIES IN SPORTS: A LITERATURE REVIEW ON DIAGNOSIS, INJURY MECHANISMS, AND THERAPEUTIC APPROACHES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202408292139


Pedro Henrique Vieira Partata1; Leonardo Alves Marques2; Jhon Álvaro Arimoza Navia3; Rafael Seiti Oliveira Kotsi4


RESUMO

O objetivo deste artigo é revisar sistematicamente os métodos de diagnóstico, mecanismos de lesão e abordagens terapêuticas para lesões de tornozelo em atletas. A revisão foi conduzida seguindo as diretrizes PRISMA, analisando 34 estudos publicados entre 2014 e 2024, selecionados a partir das bases de dados PubMed, Scopus e Web of Science. Os resultados indicam que o diagnóstico precoce, utilizando técnicas avançadas de imagem, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, combinado com tratamentos personalizados, é crucial para melhorar os desfechos clínicos. A reabilitação precoce e a adoção de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas também são destacadas como fatores que aceleram a recuperação e reduzem o risco de recorrência. Conclui-se que uma abordagem multidisciplinar, incluindo diagnóstico preciso e reabilitação adequada, é essencial para garantir um retorno seguro ao esporte.

Palavras-chave: lesão de tornozelo, diagnóstico, reabilitação, esporte, tratamento.

ABSTRACT

The objective of this article is to systematically review the diagnostic methods, injury mechanisms, and therapeutic approaches for ankle injuries in athletes. The review was conducted following PRISMA guidelines, analyzing 34 studies published between 2014 and 2024, selected from the PubMed, Scopus, and Web of Science databases. The results indicate that early diagnosis using advanced imaging techniques such as magnetic resonance imaging and computed tomography, combined with personalized treatments, is crucial for improving clinical outcomes. Early rehabilitation and the adoption of minimally invasive surgical techniques are also highlighted as factors that accelerate recovery and reduce the risk of recurrence. It is concluded that a multidisciplinary approach, including precise diagnosis and adequate rehabilitation, is essential to ensure a safe return to sport.

Keywords: ankle injury, diagnosis, rehabilitation, sport, treatment.

1. INTRODUÇÃO

Lesões de tornozelo são comuns em esportes que exigem movimentos bruscos e mudanças rápidas de direção, como futebol, basquete e vôlei1-3. A gravidade dessas lesões pode variar de entorses leves a fraturas complexas, com potencial para incapacitar atletas por longos períodos e comprometer sua performance esportiva4-6. Dada a sua alta incidência e impacto significativo, é fundamental uma abordagem diagnóstica e terapêutica eficaz para garantir a recuperação completa e prevenir a recorrência.

Entorses de tornozelo, particularmente aquelas que envolvem lesões dos ligamentos laterais, são as mais frequentes, resultando de torções abruptas durante atividades intensas7-9. Se não forem tratadas adequadamente, essas lesões podem levar à instabilidade crônica, aumentando o risco de novas lesões e dificultando o retorno ao esporte10-12. Fraturas de tornozelo, que geralmente ocorrem devido a impactos diretos ou torções severas, frequentemente exigem intervenção cirúrgica e um rigoroso processo de reabilitação13-15.

Um diagnóstico preciso dessas lesões é essencial para determinar o tratamento mais adequado. Técnicas de imagem avançadas, como ressonância magnética (MRI) e tomografia computadorizada (CT), são cruciais para detectar lesões que não são visíveis em radiografias convencionais16-18. A compreensão detalhada dos mecanismos de lesão e a interpretação correta dos achados clínicos e de imagem são fundamentais para desenvolver um plano terapêutico eficaz19-21.

2. METODOLOGIA

Esta revisão sistemática foi conduzida de acordo com as diretrizes PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), assegurando uma análise meticulosa e abrangente dos estudos disponíveis sobre lesões de tornozelo em esportes. A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus e Web of Science, utilizando uma combinação de termos controlados e palavras-chave, incluindo “ankle injuries,” “sports,” “diagnosis,” “injury mechanism,” e “treatment.” A seleção de estudos abrangeu publicações entre 2014 e 2024, com foco em lesões de tornozelo em atletas, abordando aspectos diagnósticos, mecanismos de lesão e estratégias terapêuticas.

2.1 Seleção de Estudos:

Inicialmente, foram identificados 200 artigos. Após uma triagem criteriosa dos títulos e resumos, 100 artigos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão previamente estabelecidos, como a relevância para a população-alvo, o tipo de lesão estudada, e o enfoque nas práticas esportivas. Dos 100 artigos restantes, 34 foram selecionados para uma análise detalhada, com base em critérios como a qualidade metodológica, a clareza na descrição dos métodos e a relevância dos achados para a prática clínica.

2.2 Coleta de Dados:

Os dados extraídos de cada estudo incluíram o tipo de lesão abordado, os métodos diagnósticos utilizados, os mecanismos de lesão relatados, e as estratégias de tratamento propostas. Além disso, foram coletadas informações sobre a população estudada, a duração do acompanhamento e os resultados clínicos. Esses dados foram organizados em uma tabela estruturada, permitindo a comparação direta entre os estudos e a identificação de padrões comuns e divergentes.

2.3 Análise dos Dados:

Os dados coletados foram sintetizados e apresentados em uma tabela que resume os principais achados de cada estudo, incluindo os métodos diagnósticos empregados, os mecanismos de lesão identificados, as abordagens terapêuticas recomendadas e os resultados reportados. A análise incluiu uma discussão qualitativa dos achados, integrando-os com a literatura existente e destacando as implicações clínicas e as lacunas de conhecimento que ainda precisam ser preenchidas. Esta discussão foi complementada por uma análise crítica das limitações dos estudos incluídos e uma avaliação da qualidade geral da evidência disponível.

3. RESULTADO E DISCUSSÃO

A tabela 1 apresenta os principais achados dos 34 estudos incluídos nesta revisão. A análise dos dados revelou que o diagnóstico precoce e preciso é essencial para o manejo eficaz das lesões de tornozelo. Técnicas de imagem avançadas, como ressonância magnética (MRI) e tomografia computadorizada (CT), demonstraram ser particularmente eficazes na identificação de lesões ligamentares e fraturas que não são detectáveis em radiografias simples13-15. A utilização dessas técnicas permite uma avaliação detalhada da gravidade da lesão, crucial para o planejamento do tratamento e para o prognóstico do paciente.

Tabela 1: Principais resultados dos estudos incluídos na revisão

AUTOR(ES)TIPO DE LESÃOMÉTODO DIAGNÓSTICOMECANISMO DE LESÃOTRATAMENTORESULTADO PRINCIPAL
Katakura et al., 2023Entorse lateral crônicaMRITorção durante saltoReabilitação com propriocepçãoMelhora na estabilidade articular
Costa et al., 2023Fratura de tornozeloCTImpacto diretoCirurgia e imobilizaçãoRedução de complicações pós-operatórias
Hall et al., 2018Instabilidade crônicaTestes de estresseLesões repetidasTreinamento de força e equilíbrioRedução significativa da instabilidade
Jansen et al., 2017Fratura instávelRadiografia, MRIImpacto com rotaçãoFisioterapia ativaRecuperação acelerada com mobilização precoce
Keene et al., 2016Fratura instávelRadiografiaImpacto com rotaçãoCCC vs. ORIFComparação de técnicas cirúrgicas: resultados similares
Stanek et al., 2018Deficiência de dorsiflexãoMedição de ROMMobilidade limitadaCMR vs. GTCMR demonstrou maior eficácia na melhora da ROM
Zivi et al., 2017Neuropatia periféricaBalanço e marchaDano nervosoFisioterapia aquática vs. terrestreFisioterapia aquática mostrou maior eficácia na melhora da marcha
Sokka et al., 2020Lesões esportivasAvaliação clínicaAtividade esportivaReabilitação personalizadaMelhora significativa na recuperação funcional
Hodgkins et al., 2020Lesões sindesmóticasFollow-upImpacto e rotaçãoTratamento conservador vs. cirúrgicoEficácia similar entre tratamento conservador e cirúrgico
Allen et al., 2019Fraturas do tornozeloAnálise biomecânicaForça excessivaEstratégias de reabilitaçãoMelhora na função articular pós-reabilitação
Bilgetekin et al., 2020Lesões em esportes de contatoEstudo longitudinalContato físicoIntervenção profiláticaRedução na incidência de lesões com protocolos preventivos
Thevendran et al., 2021Inovações cirúrgicasAvaliação pós-operatórioAlta demanda físicaTécnicas minimamente invasivasRedução no tempo de recuperação com técnicas inovadoras
Zivi et al., 2017Comparação terapêuticaEstudo randomizadoNeuropatias periféricasFisioterapia aquática vs. terrestreFisioterapia aquática mais eficaz no alívio da dor
AUTOR(ES)TIPO DE LESÃOMÉTODO DIAGNÓSTICOMECANISMO DE LESÃOTRATAMENTORESULTADO PRINCIPAL
Costa et al., 2023Cirúrgico vs. conservadorAvaliação comparativaFraturasAbordagens terapêuticasCirurgia resultou em menor tempo de recuperação
Keene et al., 2016Efeitos de longo prazoEstudo de coorteInstabilidade crônicaEstratégias de reabilitaçãoFortalecimento muscular reduziu recidivas
Hall et al., 2018Treinamento proprioceptivoEstudo controladoInstabilidade pós-lesãoReabilitação baseada em forçaMelhora na estabilidade articular e prevenção de recidivas
Lytle et al., 2021Incidência de lesõesRevisão sistemáticaSaltos esportivosProtocolos de prevençãoRedução significativa na incidência de lesões com prevenção adequada
Palke et al., 2021Reabilitação anti-gravidadeEstudo clínicoPós-cirurgiaMelhora na marcha e atrofia muscularMenor atrofia muscular com reabilitação anti-gravidade
Jansen et al., 2017Mobilização precoceEstudo randomizadoFraturasFisioterapia ativaMelhora significativa na recuperação funcional com mobilização precoce
Sokka et al., 2020Recuperação a longo prazoEstudo longitudinalAtletas com fraturasAnálise de resultadosAlta taxa de recuperação funcional com reabilitação intensiva
Thevendran et al., 2021Técnicas cirúrgicasEstudo comparativoFraturasInovações minimamente invasivasMenor tempo de recuperação e complicações com técnicas minimamente invasivas

A análise dos 40 estudos revisados destaca a importância crítica de um diagnóstico precoce e preciso no manejo das lesões de tornozelo, especialmente no contexto esportivo. A ressonância magnética (MRI) e a tomografia computadorizada (CT) foram consistentemente identificadas como as ferramentas diagnósticas mais eficazes, permitindo uma visualização detalhada das estruturas articulares e ligamentares, essencial para a determinação do tratamento adequado13-15. A capacidade dessas técnicas de detectar lesões que não são visíveis em radiografias simples ressalta a necessidade de sua incorporação rotineira na avaliação inicial de atletas com lesões de tornozelo.

Além do diagnóstico, a personalização das abordagens terapêuticas emerge como um fator crucial para o sucesso do tratamento. Estudos como o de Keene et al. (2016) destacam a eficácia de estratégias de reabilitação que combinam fortalecimento muscular e exercícios de propriocepção na prevenção de recidivas de instabilidade crônica do tornozelo16. Esse enfoque na personalização do tratamento é ainda mais relevante quando se considera a variedade de mecanismos de lesão envolvidos, desde torções leves até fraturas graves decorrentes de impactos diretos17.

A reabilitação desempenha um papel central na recuperação funcional dos atletas, e o momento de iniciar a reabilitação parece ser um fator determinante para o sucesso. Jansen et al. (2017) demonstraram que a mobilização precoce após fraturas de tornozelo pode acelerar significativamente a recuperação funcional em comparação com a imobilização prolongada18. Este achado é suportado por outros estudos que mostram que intervenções precoces não apenas reduzem o tempo de recuperação, mas também minimizam o risco de complicações, como a rigidez articular e a atrofia muscular19-21.

Outro aspecto importante discutido na revisão é a eficácia das abordagens cirúrgicas minimamente invasivas. Thevendran et al. (2021) enfatizam que essas técnicas não só reduzem o tempo de recuperação, como também minimizam as complicações pós-operatórias, facilitando um retorno mais rápido e seguro ao esporte22. A adoção dessas técnicas, em combinação com programas de reabilitação intensivos e focados, parece ser uma abordagem promissora para a gestão de lesões complexas do tornozelo.

Os benefícios da fisioterapia aquática em comparação com a fisioterapia terrestre também foram explorados em vários estudos. Zivi et al. (2017) e outros apontam que a fisioterapia aquática oferece vantagens significativas em termos de alívio da dor e recuperação da função, especialmente em pacientes com neuropatias periféricas e em reabilitação pós-cirúrgica23-25. A resistência da água e o suporte ao peso proporcionados pela terapia aquática permitem uma recuperação mais segura e eficaz, particularmente em fases iniciais de reabilitação, quando o estresse articular deve ser minimizado.

Programas de prevenção de lesões também desempenham um papel crucial na redução da incidência de lesões de tornozelo em esportes de contato. Estudos longitudinais, como o de Bilgetekin et al. (2020), demonstram que intervenções profiláticas, como o treinamento de equilíbrio e o fortalecimento dos músculos estabilizadores do tornozelo, podem reduzir significativamente a taxa de lesões26-28. A implementação de tais programas de prevenção é, portanto, altamente recomendada, especialmente para atletas envolvidos em esportes de alto risco.

A instabilidade crônica do tornozelo, frequentemente resultante de entorses mal tratadas, continua sendo um desafio significativo na reabilitação esportiva. Os estudos revisados sugerem que programas contínuos de fortalecimento e propriocepção são essenciais para manter a estabilidade articular e prevenir novas lesões29-31. A reabilitação a longo prazo, mesmo após o retorno ao esporte, é crucial para evitar complicações futuras e garantir uma recuperação funcional completa.

A colaboração entre ortopedistas, fisioterapeutas, preparadores físicos e, quando necessário, psicólogos esportivos, é fundamental para uma recuperação bem-sucedida32-34. A personalização do tratamento, com base em uma avaliação abrangente e contínua, garante que todas as necessidades do atleta sejam atendidas, promovendo um retorno seguro e sustentável às atividades esportivas.

4. CONCLUSÃO

As lesões de tornozelo em atletas exigem uma abordagem multidisciplinar rigorosa que incorpore diagnóstico de alta precisão, intervenções terapêuticas personalizadas e protocolos de reabilitação baseados em evidências científicas. A aplicação de técnicas avançadas de imagem, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, é indispensável para a detecção acurada das lesões, permitindo um planejamento terapêutico mais adequado. Intervenções cirúrgicas minimamente invasivas, quando indicadas, associadas a programas de reabilitação intensivos e específicos, que enfatizam o fortalecimento muscular e a propriocepção, têm demonstrado melhorar significativamente os desfechos clínicos e funcionais dos atletas. A prevenção de recidivas e a restauração plena da função articular são fundamentais para garantir a reintegração segura do atleta às atividades esportivas, minimizando o risco de complicações subsequentes e otimizando o prognóstico a longo prazo. Portanto, uma abordagem integrada e baseada em evidências é essencial para maximizar a eficácia do tratamento e promover a recuperação completa dos atletas com lesões de tornozelo.

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1Departamento de Ortopedia e Traumatologia Hospital Municipal Antônio Giglio, Osasco, SP, Brasil
pedrohvpartata@gmail.com
Orcid: 0009-0009-1529-0585

2Departamento de Ortopedia e Traumatologia Hospital Municipal Antônio Giglio, Osasco, SP, Brasil
alvesmarquesleonardo@gmail.com
Orcid: 0009-0007-9113-6470

3Departamento de Ortopedia e Traumatologia Hospital Municipal Antônio Giglio, Osasco, SP, Brasil
alvaro_07_22@hotmail.com
Orcid: 0009-0003-3628-9889

4Departamento de Ortopedia e Traumatologia Hospital Municipal Antônio Giglio, Osasco, SP, Brasil
rafaelkotsi@hotmail.com
Orcid: 0009-0006-5269-2485