REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7241964
Cleane Goes Dias1
Jania Costa de Sousa Araújo
Jaynara da Silva e Silva
Joice Batista da Silva Oliveira
Leidiane da Silva Mota
RESUMO
A necessidade do sustento está diretamente relacionada ao trabalho desde a antiguidade, mas a forma de como é realizado o serviço envolve fatores químicos, físicos e até mesmo biológicos para a conclusão das atividades, onde o aparecimento de alterações físicas decorrentes de atividades profissionais de trabalho identificadas como Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT) em seus aspectos gerais, trazem sofrimento e dor aos trabalhadores, no desenvolvimento de suas funções. As Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) vêm alcançando destaque por seu aparecimento constante e progressivo nas mais diversas ocupações. O interesse por este trabalho surgiu pelo fato da LER /DORT serem cada vez mais comuns nos profissionais de enfermagem, porém pouco explorada cientificamente
ABSTRACT
The need for sustenance is directly related to work since antiquity, but the way in which the service is performed involves chemical, physical and even biological factors for the completion of activities, where the appearance of physical changes resulting from identified professional work activities such as Repetitive Strain Injuries (RSI) and WorkRelated Musculoskeletal Diseases (WRMD) in their general aspects, bring suffering and pain to workers, in the development of their functions. Repetitive Strain Injuries/Work-Related Musculoskeletal Disorders (RSI/WRMD) have been gaining prominence due to their constant and progressive appearance in the most diverse occupations. The interest in this work arose from the fact that RSI / WMSDs are increasingly common in nursing professionals, but little explored scientifically.
Key-words: Nursing. Health. RSI/WRMD.
1. INTRODUÇÃO
O trabalho é um direito garantido ao cidadão pela Constituição Brasileira e idealmente para o exercício de atividades laborais, o indivíduo necessita permanecer apto físico e mentalmente a fim de que possa desenvolver o trabalho de forma criativa e prazerosa, com qualidade de vida.
Com o avanço tecnológico, os locais de trabalho tornaram-se mais complexos, necessitando de trabalhadores mais especializados e capacitados, em constante aprimoramento, capazes de desempenhar várias atividades, com exigência por maior produtividade e qualidade. A organização de saúde, principalmente as instituições hospitalares, vem adotando inovações tecnológicas o que acarretou mudanças no processo de trabalho.
No Brasil, o Sistema Nacional de Informação do Sistema Único de Saúde não inclui os acidentes de trabalho em geral e nem LER/DORT, em particular, […] (BRASIL, 2000, p.8 grifo nosso).
As afecções musculoesqueléticas relacionadas com o trabalho, no Brasil, tornaram-se conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos (LER), representam o principal grupo de agravos à saúde, entre as doenças ocupacionais em nosso país. Trata-se de afecções de grande importância em vários países do mundo, com dimensões epidêmicas em diversas categorias profissionais.
A LER/DORT é um termo abrangente e de etiologia multifatorial, refere-se às lesões causadas ao sistema musculoesquelético por esforço repetitivo, pode ser resultante da ação de fatores de risco no trabalho, sobrecarga, posturas inadequadas. Com o surgimento de adventos tecnológicos e o mau uso destes, os digitadores foram os primeiros a adquirirem afecções e atualmente vem se estendendo a outras categorias profissionais, principalmente as de saúde, dentre elas a enfermagem. O aparecimento de lesões ligadas ao aparelho locomotor tem repercussão na saúde pública em países industrializados, e resulta em uma desestruturação socioeconômica, onerando os custos ao governo.
A relevância do tema para a comunidade acadêmica e profissional, como para a sociedade, toma pertinente o seguinte questionamento: o ambiente de trabalho hospitalar e a atividade profissional do enfermeiro são um fator predisponente às lesões do aparelho locomotor?
Os dados epidemiológicos da totalidade de casos da LER/DORT na enfermagem ainda são escassos, tendo como fator agravante a existência da subnotificação, pois estes profissionais ao se acidentarem no trabalho não realizam a notificação do caso, para que se possa ter uma ideia da dimensão da quantidade de trabalhadores atingidos por essa patologia.
O aparecimento de lesões ligadas ao aparelho locomotor tem repercussão em nível de saúde pública em países industrializados, resulta numa desestruturação socioeconômica onerando os custos para o governo.
A resolução dessa problemática é um desafio a ser ultrapassado pelos profissionais de saúde, no que diz respeito à relação entre a atividade ocupacional e a doença, enquanto isso não for resolvido, o trabalhador se abstém dos direitos assegurados à sua saúde, resultando na diminuição da produtividade no trabalho e o aumento do absenteísmo.
O tema é de extrema relevância na área de saúde do trabalhador, pois contempla a necessidade de se fazer uma abordagem das doenças que são mais prevalentes na enfermagem vista a conscientização destes profissionais.
A justificativa tem como fundamento questões pessoais, pois uma das pesquisadoras vivenciou em seu ambiente familiar um caso de LER/DORT, no qual uma enfermeira foi afastada do trabalho por essa patologia e que posteriormente levou-a a incapacidade funcional.
A relevância do estudo tanto para a comunidade acadêmica e profissional, como para a sociedade, torna pertinente o seguinte questionamento: o ambiente de trabalho hospitalar e a atividade profissional do enfermeiro são um fator predisponente às lesões do aparelho locomotor?
OBJETIVOS
O presente estudo tem como objetivo geral identificar na literatura a associação entre a atividade profissional da enfermagem e as lesões do aparelho locomotor que abordam estes profissionais, tendo como objetivos específicos, citar a prevalência das lesões do aparelho locomotor na enfermagem, o mecanismo causal, a topografia das lesões, além disso, correlacionar a incidência das principais lesões músculo esqueléticas com outros profissionais.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O DESENVOLVIMENTO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE E A TRAJETÓRIA EVOLUTIVA DA ENFERMAGEM
Desde os tempos mais remotos o ser humano cultivava a cura da doença através de plantas encontradas em na natureza, – prática realizada por algumas pessoas até os dias atuais -, onde nossos antepassados utilizavam dos chamados “chás” para curar doenças. Nesta época, esta forma utilizada para curar doenças preservava a sobrevivência humana. Então, desde a origem das civilizações sempre se cuidou, mesmo sem conhecimentos científicos visando fundamentalmente, evitar à morte e perdas.
Carrera e Reascos (2002) comentam que para o homem primitivo a resposta de suas doenças estava na natureza, pois este devido a sua crença no sobrenatural acreditava que tudo tinha vida. Na busca de respostas para a cura de suas doenças, então tidas como sobrenaturais, associam-se práticas ocultas e empíricas. Nesta época, o mundo era visto como dois, o visível e o invisível, sendo que o homem primitivo era afetado profundamente pelo mundo invisível ou sobrenatural. Com o passar dos tempos, outras doenças surgem em nosso meio, e consequentemente, a procura por conhecimentos para sanar as enfermidades que cercam a humanidade, faz com que curandeiros, feiticeiros e bruxas entrem em cena.
Observa-se nesta época o início da magia negra destrutiva, envolvendo maus espíritos e magia branca com os espíritos do bem, e, nesse tom religioso, ainda que existissem diferenças entre os sacerdotes e os curandeiros, ambos eram tidos como autoridades para lidar com a vida e com a morte. As feridas e a febre eram tratadas com porções a base de ervas pelas anciãs, enquanto outras mulheres cuidavam de crianças, anciãos doentes e de seus serviços domésticos. Ao homem, cabia a defesa de sua tribo e a busca de alimentos por meio da caça.
Meio as práticas e costumes desta sociedade, nascem às bases do que conhecemos hoje por higiene, saúde pública, saneamento, cirurgia e Enfermagem.
Essa última era entendida como uma ocupação feminina, onde a enfermeira exercia o papel de mãe, aquela que cuida como um fazer doméstico.
Assim, inicialmente, com uma visão centrada na cura, tinham o enfermeiro e o médico basicamente uma só função, o que acabou mudando com a divisão do trabalho, quando então, o “provedor de serviço” era responsável pela organização dos serviços e o “cuidador” que os realizava. Assim, pode-se afirmar que a Enfermagem favoreceu a fundação da medicina, tendo procedido ao sacerdote, ao curandeiro e ao médico.
No século XVI a Enfermagem é ainda uma prática feminina, onde a enfermeira era a mulher que cuidava de doentes, mas no século XVIII a prática do cuidar não mais era específica da mulher sendo a Enfermagem tida como um ofício voltado a “atender um doente e tratar dele”. Já, no século XIX a definição de Enfermagem ganhou novo sentido a ser: “a preparação daqueles que cuidam de doentes” e este fazer deveria ser sob a supervisão médica, o que marcaria a Enfermagem como uma prática de submissão.
Embora desde a origem das civilizações sempre fora preciso alguém para cuidar de enfermos e desta necessidade tenha se originado a Enfermagem, é nesse contexto que ela passou a se desenvolver sob o manto da submissão, perdendo seu foco e sua autonomia para o cuidado.
Entretanto, ainda que o cuidado anteceda a Enfermagem, ao analisar sua origem, evolução e profissionalização, torna-se evidente que com o tempo, a prática de saúde nas quais a Enfermagem relacionou-se e ainda continua relacionada diretamente, deu ao cuidado um aspecto profissionalizante ao ato de cuidar que hoje caracteriza essa profissão.
Tratava-se de um cuidar direcionado à necessidade de sobrevivência, a partir do estabelecimento de grupos nômades em áreas fixas com o aprendizado do cultivo da terra para a produção de seus alimentos e afins, de práticas instintivas caracterizadas pelo cuidado de crianças, velhos e doentes por mulheres que tinham a responsabilidade de desenvolver habilidades psicomotoras relativas à prática de cuidar detendo os conhecimentos para cura.
Neste momento, o homem que até então se responsabilizava em suprir as necessidades alimentares e de proteção de suas famílias, apodera-se dos meios de cura alienando-se no conhecimento e misticismo, uma vez que isso proporcionaria maior poder e prestígio frente suas tribos. Concomitantemente, a religião passa a interferir em profundidade no contexto da evolução da Enfermagem e das práticas de saúde, tornando-se o sacerdote a ser o elo entre os homens e deuses.
As práticas de saúde foram marcadas por uma verdadeira batalha de milagres e encantamentos contra forças ocultas e demônios, os causadores de todos os males do corpo e da alma. Essa prática mágico-sacerdotal perdurou por séculos, sendo os templos lugares de aprendizagem dos conceitos primitivos de saúde e a Enfermagem, por sua vez, continuou relacionada à prática domiciliar de partos e cuidados com familiares.
Assim de acordo com o entendimento de Geovanini et al. (2005, p. 10):
As únicas referências concernentes à época em questão estão relacionadas com a prática domiciliar de partos e a autuação pouco clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as atividades dos templos com os sacerdotes.
Mas, com o alvorecer da filosofia, da ciência e seus evidentes progressos trazendo princípios astronômicos e matemáticos entre outros, as práticas de saúde passaram a se basear na relação de causa e efeito, período no qual surgem novas hipóteses e diretrizes do pensamento. Constata-se ainda, que os hindus, neste período, já requeriam daqueles que aspiravam ser cuidadores atributos como asseio, habilidade, dedicação, entre outras.
Logo no início da Era Cristã, com o culto a Cristo, o misticismo volta a sobressair e Ele então é tido como o médico do corpo e da alma. A ignorância coletiva, a crença em superstições e crendices é reforçada frente às grandes epidemias de sífilis e lepra, que marcaram esse período. Hospitais começam a ser construídos por ordem dos concílios religiosos na vizinhança dos mosteiros com sua direção pela ordem religiosa, fazendo com que a prática de saúde ficasse a mercê dos mosteiros. Essa Enfermagem praticada então pelas mãos de mulheres religiosas com princípios de caridade e religiosidade perdurou por muitos séculos o que a caracterizou como um sacerdócio e não como uma prática profissional.
Mais tarde, em pleno feudalismo e com a crise do cristianismo, a ciência tradicional cede à ciência ocidental, as cidades se desenvolvem, acumulam riquezas e universidades são construídas. Conforme resgate feito por Geovanini et al. (2005, p. 18):
Ao sair do monastério para a universidade, a prática médica encontrou um refúgio seguro que possibilitou sua evolução. O mesmo não se deu com a Enfermagem que viria sofrer diretamente todas as consequências dos movimentos religiosos que se anunciavam.
Esse foi o período histórico da Inquisição cujo fanatismo cegou os espíritos dos reformadores, além da crença em satanás e feitiçarias, que resultou em queimas de feiticeiras e bruxos, fazendo com que filósofos, cientistas e mulheres curandeiras fossem vítimas de castigos bárbaros. Em conjunto com um ambiente de miséria e profunda degradação humana, as condições políticas e o baixo nível de qualidade das práticas de saúde, a Enfermagem passou por um período de pleno desprestígio, fato relacionado também a condição da mulher considerada um ser inferior na sociedade.
Em plena Revolução Industrial marcando a Era Moderna e as práticas de saúde no mundo moderno, uma grande massa popular é formada pela população camponesa que então, tinha sido expulsa de suas terras em razão do regime feudal.
A doença passa a ser um problema para a economia local, uma vez que o trabalhador enfermo resultaria em queda de produção e a preocupação com a saúde se instala. É neste contexto que o Estado surge assumir a assistência à saúde e uma legislação de proteção ao trabalhador é criada, tornando-se predominante a relação de dominação/subordinação.
No Brasil, a Enfermagem enquanto prática leiga e instintiva, baseada em valores como solidariedade e nas crendices e misticismos, profissionalizou-se graças à intervenção da sistematização do ensino da prática de cuidar em Enfermagem, antes desempenhada por pessoas inaptas tecnicamente.
Neste sentido, Geovanini et al. (2005) consideram três fases no desenvolvimento da Enfermagem latino-americana: a organização da Enfermagem na sociedade brasileira; abrangendo desde o período colonial até o final do século XIX. O desenvolvimento da educação em Enfermagem no Brasil; abrange até o início da Segunda Guerra Mundial, destaca a influência internacional e as visões política e econômica que fizeram parte da profissionalização. E a Enfermagem no Brasil Moderno; que analisa as especificidades de cada década. Cada uma com características próprias, mas que se interligam para personalizar a enfermagem atual.
Lima apud Moreira (2005, p. 31) também se refere a três fases distintas da evolução da Enfermagem, a serem: a empírica ou primitiva, a evolutiva e a de aprimoramento. “[…] na fase empírica ou primitiva, não havia profissionais, e a assistência aos doentes era prestada por leigos que usavam os mais diversos meios de tratamento, mesmo sem recursos ou conhecimentos”.
A história mostra a clara necessidade de cuidado mesmo sem existir uma reflexão profunda em torno da relevância de uma visão integral do ser humano adoentado.
Moreira e Oguisso (2005, p. 28) lembram que:
O cliente enquanto objeto de cuidados foi isolado, reduzido à parcela, fissurado e excluído das dimensões sociais e coletivas. Surgiram os diversos especialistas que, sozinhos, não conseguiam tratar os doentes e passaram a necessitar de outras pessoas que assumissem as numerosas atividades para assegurar a investigação e tratamento das doenças.
Nesse sentido, a Enfermagem começa a adquirir seu espaço e relevância advinda de uma luta que perdura até os dias de hoje para sua independência, para deixar de ser vista como uma prática de sujeição. Por outro lado, vale destacar, que historicamente, ao se preocupar em se profissionalizar, enfermeiros acabaram se dedicando mais ao conhecimento e a realização de técnicas e se esquecendo do cuidado humano, o que contribuiu para uma construção fragmentada do ser humano.
Quando à temática central é o cuidado, o mesmo deve ser definido como sendo a marca do trabalho da Enfermagem sendo necessária uma reflexão mais aprofundada para entendê-lo melhor, assim como seus benefícios e sua aplicabilidade junto ao humano no contexto de sua prática cotidiana.
2.2 O CUIDADO QUE SE PROFISSIONALIZOU E A NECESSÁRIA VALORIZAÇÃO DA ENFERMAGEM
Diariamente, nos deparamos com diversos acontecimentos que denotam descaso com o ser humano, verdadeiras situações que caracterizam o descuidado, as quais para algumas pessoas são naturais, perfeitamente integrados em seus dia a dia meio ao torvelinho de obrigações diárias que garantem sua sobrevivência.
Waldow (2001, p. 51) defende que o cuidado, “[…] nasce de um interesse, de uma responsabilidade, de uma preocupação, de um afeto, o qual, em geral, implicitamente inclui o maternal e o educar que, por sua vez, implicam ajudar a crescer.”
Ainda, referindo-se à Saúde, sempre que uma pessoa procura por atendimento nessa área, a maioria das vezes, chega debilitada e necessitada de ajuda a qual nem sempre lhe é oferecida de forma humanizada. O enfermeiro tem o dever de não deixar que isso aconteça, tendo em vista que sua principal finalidade é o cuidado.
De acordo com Sá (2001, p. 11), a Enfermagem, dentre todas as demais ciências da Saúde, foi a primeira a enxergar o indivíduo de maneira holística.
“Quando se fala de cuidado emocional olhar o indivíduo como um todo inclui, certamente, olhar também para suas necessidades não ditas e muitas vezes expressadas por gestos, pequenas palavras, olhares […]”.
Em outro estudo sobre o cuidar, Waldow (2006, p. 63) defende que ele:
[…] sempre esteve presente na história humana, como forma de viver, de se relacionar e como atividade leiga e religiosa. O cuidado tecnológico também, de certa forma, está presente nas diversas civilizações, porém de maneira indiferenciada, às vezes, das práticas de cura, ou seja, da medicina. O cuidar cumpre lembrar, sempre fez e ainda faz parte da medicina (ou deveria fazer), com a única diferença de que a sua ênfase atual está no procedimento, na tarefa e, obviamente, visando a um objetivo, a um resultado: a cura.
Com relação à profissionalização da Enfermagem, outro aspecto primordial a ser analisado é o desenvolvimento da Educação para seu exercício. No Brasil, este desenvolvimento aconteceu em cidades com mercado mais desenvolvido como São Paulo e Rio de janeiro, devido ao desenvolvimento industrial que nessas cidades se intensificou resultando em acelerado crescimento urbano. A saúde então passou a constituir uma questão delicada sob os aspectos econômicos e sociais devido às doenças infectocontagiosas conduzidas pelos europeus e escravos africanos atingindo grandes proporções nos principais eixos urbanos.
Devido a essa problemática, o governo brasileiro assume a assistência à saúde visando proteger a expansão comercial brasileira ainda que sob pressões externas. Entre outras ações, há a criação de serviços públicos, a vigilância e o controle mais efetivo sobre os portos e, instalam-se então o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela e o Instituto Soroterápico Federal, que viria a se transformar posteriormente no Instituto Oswaldo Cruz.
Numa experiência de reorganizar os serviços de saúde, em 1920 com a Reforma Carlos Chagas, tem origem o Departamento Nacional de Saúde Pública normalizando as atividades de Saúde Pública no Brasil. Visando a princípio atender os hospitais civis e militares, posteriormente investiu-se na formação do pessoal de Enfermagem, quando da criação pelo governo da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras na cidade do Rio de Janeiro, ligado ao Hospital Nacional de Alienados do Ministério dos Negócios do Interior.
Esta é a primeira escola de Enfermagem no Brasil, edificada pelo Decreto Federal 791 de 27 de Setembro de 1890, hoje conhecida por Escola de Enfermagem Alfredo Pinto e pertencente à Universidade do Rio de Janeiro/UNIRIO. Porém, mesmo com necessidade urgente de pessoal para atuar na saúde pública, constatasse que a formação era em grande parte, desenvolvida à área hospitalar com o desenvolvimento de longos estágios em hospitais.
Neste contexto no Brasil colonial a figura masculina é citada enquanto executora da Enfermagem doméstica e empírica, uma vez cabia aos escravos a atividade de cuidar, inclusive nas Santas Casas de Misericórdia, fundadas nas principais capitais brasileiras a partir de 1543, como constatado por Geovanini et al. (2005).
Por conseguinte, a necessidade de pessoas devidamente treinadas e capazes foi o que propiciou a criação de cursos de Enfermagem como no caso do Hospício Nacional de Alienados, já que neste faltavam enfermeiros para cuidar dos enfermos, das vítimas da guerra e outras. A história então deixa claro tratar-se de um equívoco o fato de que o profissional Enfermeiro surgiu no Brasil para atender as necessidades de saúde pública, segundo estudo de Moreira (2005).
Mais tarde, a escola de Enfermagem Anna Nery, criada em 1923, que redimensionava a Enfermagem profissional no Brasil foi uma iniciativa do Departamento Nacional de Saúde Pública, dirigido por Carlos Chagas que contou com o apoio do governo americano o qual enviou enfermeiras para ajudar nesta iniciativa, baseada no modelo nightingaleano. Florence Nightingale (1820-1910) foi um verdadeiro rito de iniciação para o surgimento da profissão em escala mundial.
De fato, sua influência pessoal e a força de sua personalidade causaram um impacto duradouro em muitas regiões da Europa ocidental. Entretanto, os artefatos básicos do profissionalismo receberam o incentivo, sobretudo, das frequentes relações e associações entre propagadoras dos novos preceitos e das práticas do cuidar.
O apoio de uma política interessada em promover o desenvolvimento desta profissão mesmo que com interesses particulares e a característica de seleção da então escola que selecionava moças de origem social elevadas, com um maior grau de escolaridade colaborou para que esta fosse reconhecida como padrão de referência para as demais escolas, sendo que na Escola de Enfermagem Ana Nery as alunas eram preparadas para a efetuação de serviços com complexidade intelectual, a partir da formação destas alunas que pessoalizava a verdadeira enfermeira brasileira eram assim consideradas padrão. Ser enfermeira subtendia ser formada pela escola Anna Nery. Desde então, todas as demais escolas deveriam inserir os padrões da escola Anna Nery como ficava estabelecido pelo decreto 20.109 de 15/06/31, ou seja, com conceitos provindos do modelo nightingaleano.
Reconhecendo a responsabilidade com a problemática educacional, cultural e da saúde da população tem-se a instalação do Ministério da Educação e Saúde em 1931, ano em que se criam as normas legais para o ensino e exercício da Enfermagem. Em 1973, ocorre à criação do Conselho Federal de Enfermagem, órgão disciplinador do exercício profissional.
Exigindo que a educação em Enfermagem fosse concentrada em centros universitários, o Projeto de lei 775 também controlou a expansão das escolas havendo assim na década de 40, a agregação da Escola Anna Nery à Universidade do Brasil em 1949. Em 1961, a partir da Lei 2.995/56 todas as escolas passaram a exigir curso secundário completo e no ano seguinte a Enfermagem passou a ensino de nível superior.
A Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras (ABEn) cria em 1979, o Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEN) visando promover pesquisa em Enfermagem, consequência de um aumento contínuo da produção cientifica em Enfermagem devido ao incremento dos cursos de pósgraduação.
De um lado enfermeiros se especializam e de outro há a multiplicação de novos ocupacionais promovendo o processo de proletarização da Enfermagem.
Dentre alguns avanços para a Enfermagem na década de 80 observa-se a criação da Lei 7.498, em julho de 19862, que eliminava a anterior já defasada (2.604 de 1955). Ainda, quanto à trajetória da profissionalização é possível constatar o empenho desta categoria para adquirir o reconhecimento e o respeito, pois a falta destes na realidade é motivo de descontentamento e desmotivação pessoal.
Neste contexto, Santos e Luchesi (2009, p. 01) em estudo sobre a imagem da Enfermagem frente aos estereótipos, afirmam que ainda hoje, muitas pessoas desconhecem o que é a Enfermagem e muitos envolvidos com a profissão também ignoram seu próprio papel e os objetivos de suas ações. Os autores ainda colocam que um dos motivos que torna o exercício da profissão uma luta permanente seria a invisibilidade de que se reveste o trabalho, o fazer da Enfermagem, sendo que uma das desvantagens de ser enfermeiro é não ter o reconhecimento da sociedade.
De fato ser reconhecida, valorizada e ter o fazer como algo importante traz um alento para o dia-a-dia do trabalho na Enfermagem, porém as mudanças de pensamento quanto a essa profissão têm que nascer primeiro na consciência da própria categoria. Assim, se os profissionais estivessem convictos do objetivo da profissão e de toda sua complexidade, não visassem tanto o modelo médico o qual foca à cura e não o cuidado, esta questão lhes seria menos angustiante.
A verdade é que muitas vezes a desvalorização da categoria acontece por parte dos próprios profissionais da Enfermagem que acham mais importante o fazer do médico do que o fazer do enfermeiro. Então, lamentavelmente, comparar o fazer médico com o fazer do enfermeiro parece ser uma questão muito comum observada ao se estudar a história e a realidade da Enfermagem brasileira. Trata-se de fazeres diferentes, sendo que um não é menos importante que o outro e o bem estar do cliente ao fazê-lo sentir-se atendido em suas necessidades, acontecem exatamente da adição dos dois fazeres.
O ideal seria ao invés de medir forças, deveria reuni-las. A competição e comparação entre fazeres geram atritos e desgastes, vertendo em perda de tempo e numa atuação desfocada da Enfermagem, o que desvaloriza a prática qualificada do cuidado.
Conforme estudos voltados à reconfiguração da identidade profissional da Enfermagem brasileira, com relação à Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, comenta-se que a própria denominação enfermeiro, enfermeira não ajuda de forma relevante a definir a profissão, sobretudo para o público leigo uma vez que o termo relaciona-se com o nome enfermo, doença, sendo que o enfermeiro tem hoje uma atuação muito mais ampla e complexa.
Este fato, é tão relevante que a própria Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) se mostrando preocupada com o status da profissão por volta de 1960, buscou encontrar um nome que melhor definisse a figura do enfermeiro.
Assim como ocorreu com a parteira que passou a ser chamada de obstetriz, bem como aconteceu com o profissional da alimentação que passou a ser chamado de nutricionista.
Para o enfermeiro pensou-se em enfermólogo, que não desvinculava a profissão do termo enfermo, mas que então não foi aceita. A seguir, pensou-se em tecnólogo, título também recusado uma vez que não fazia jus à especificidade da profissão, que é o cuidado com o ser humano visando atender sua singularidade, quer seja na individualidade, em sua família e mesmo em comunidade. No citado trabalho pode-se constatar ainda o fato de que pesquisas mostram quão defasadas estão à visão e a percepção que a comunidade tem do enfermeiro. Sendo assim, é preciso vencer o desfio de tornar visível à sociedade à atuação do enfermeiro em toda sua totalidade, pois os relatos estereótipos da profissão têm interferido na remodelagem da imagem do enfermeiro no meio social.
Cabe a própria equipe de Enfermagem possibilitar esta remodelagem, uma verdadeira reestruturação que mostre uma Enfermagem profissional edificada em princípios científicos e embasada na ética e na moral, comprometida com a humanização que atende e compreende cada ser humano como único. É preciso voltar-se a uma reflexão crítica que proporcione incentivo aos enfermeiros para vencerem o desafio de descobrir quem são e para onde vão.
2.3 CONCEITOS DE LER/DORT
Marano (2003, p. 149) define LER/DORT como: “… uma desordem músculo-tendinosa de origem ocupacional que atinge os membros superiores, região escapular e pescoço pelo uso forçado e repetido de grupos musculares ou em consequência de uma postura forçada”.
Schmitz (2002, p. 15) conceitua LER/DORT da seguinte maneira:
Lesões por Esforços Repetitivos são doenças músculo-tendinosas, dos membros superiores, ombros e pescoço, causadas pela sobrecarga de um grupo muscular particular, devido a movimentos repetitivos ou posturas inadequadas, que resultam em dor, fadiga e declínio no desempenho profissional.
De acordo com Gaigher, (2001) LER/DORT é a denominação pela qual se identifica um grupo de doenças ocupacionais, das quais as mais conhecidas são tendinites, tenossinovites e bursites.
Schmitz (2002) descreve a LER/DORT num estágio mais avançado como síndrome dolorosa crônica:
… são transtornos funcionais, transtornos mecânicos e lesões de músculos e/ou tendões e/ou fáscias e/ou nervos e/ou bolsas articulares e pontas ósseas nos membros superiores ocasionadas pela utilização biomecanicamente incorreta dos membros superiores, que resultam em dor, fadiga, queda do desempenho no trabalho, incapacidade temporária e conforme o caso pode evoluir para uma síndrome dolorosa crônica, nesta fase, agravadas por todos os fatores psíquicos (inerentes ao trabalho ou não) capazes de reduzir o limiar de sensibilidade dolorosa do indivíduo.
Segundo a Norma Técnica sobre LER do INSS, de 1993, descreve LER como sendo afecções que podem atingir tendões, sinóvias, músculos, fáscias ou ligamentos – de forma isolada ou associada, com ou sem degeneração dos tecidos – afetando principalmente, os membros superiores, região escapular e pescoço. De origem ocupacional decorre, de forma combinada ou não, dos seguintes fatores: uso repetitivo de grupos musculares; uso forçado de grupos musculares, manutenção de postura inadequada.
A partir da revisão da Norma Técnica em 1997, pelo INSS, a expressão LER foi substituída por DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), mas a terminologia LER continua sendo aceita devido a sua difusão. De acordo com a Ordem de Serviço 606, que disciplina a nova Norma Técnica, o conceito de LER/DORT é: LER/DORT são lesões causadas por esforços repetitivos, são patologias, manifestações ou síndromes patológicas que se instalam insidiosamente em determinados segmentos do corpo, em consequência do trabalho realizado de forma inadequada.
Segundo O’Neill (2003 p. 9). As LER/DORT são doenças relacionadas ao trabalho que incapacitam os trabalhadores. Além da dor física, geram sofrimento mental, afastam o trabalhador da organização, causando transtornos de ordem financeira e também às empresas e ao governo causam grandes prejuízos. Segundo relata em seu livro as empresas gastam, para cada funcionário doente, aproximadamente 89 mil reais por ano e o governo gasta cerca de 20 bilhões de reais anualmente com doenças relacionados ao trabalho e com acidentes do trabalho. As LER/DORT respondem por 80 a 90% dos casos de doenças profissionais registrados nos últimos anos pela Previdência Social.
2.4 COMO SURGIRAM AS DOENÇAS POR MOVIMENTOS REPETITIVOS
Consta que no século XVI, os secretários dos príncipes, os escribas, apresentaram lesões devido a movimentos repetitivos, sedentarismo e pressões que sofriam para não manchar os livros. Foram descritas pelo médico Bernardino
Ramazini (1633-1714) em seu livro “De Morbis Artificum Diatriba” como doenças dos escribas e notários, estes são os primeiros relatos que constam em relação às doenças ocupacionais. Também, neste período os tecelões começaram a apresentar doenças ocupacionais relacionadas a movimentos repetitivos Marano (2003, p. 149).
No século XVIII, com a Revolução Industrial na Inglaterra, a forma de executar as tarefas mudou totalmente. O operário trabalhava até 18 horas por dia executando tarefas repetitivas o que ocasionou o surgimento de muitas doenças causadas por movimentos repetitivos.
O primeiro país a reconhecer a LER como doença ocupacional do trabalho e de origem multicausal foi o Japão na década de 70. No Brasil e na Austrália a LER só foi reconhecida como doença na década de 80. Atualmente o termo técnico mais adequado (pela previdência e Ministério da Saúde) é DORT Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho.
O principal fenômeno social responsável por essa patologia é a modernização do trabalho (mecanização, automação das tarefas, informatização nas áreas de serviços), determinando um aumento das tarefas manuais repetitivas, especialmente dos membros superiores, ombros e região cervical.
Alguns grupos de pessoas são mais suscetíveis ao desenvolvimento de lesões por movimentos repetitivos. As mulheres, entre 20 e 40 anos, são duas vezes mais propensas que os homens às lesões. Uma das razões é que os músculos, tendões e ligamentos das mulheres possuem menor resistência que os dos homens. A dupla jornada de trabalho da mulher (mesmo trabalhando fora, quando chega em casa existem “N” coisas para se fazer, cuidar de crianças, lavar roupas, louças, fazer comida e entre outras coisas) e os fatores hormonais (TPM) também contribuem para o aparecimento das LER/DORT, pois ela está exposta a esforços musculares no tempo que transcende a jornada de trabalho na empresa. Schmitz (2002, p. 16).
Segundo O’Neill (2003, p. 94) há no universo do trabalho uma desigualdade considerável entre homens e mulheres, não só no Brasil, mas no mundo todo, em relação à remuneração. Há lugares em que o salário de uma mulher chega à metade do salário do homem, como é o caso do Japão. Aqui a diferença salarial é de aproximadamente 76%. Sendo assim a classe empresarial teria certa preferência pelas mulheres porque representa mão-de-obra barata, mais habilidade para executar atividades que requerem alta repetitividade e tarefas fragmentadas; também pelo seu perfeccionismo, sua alta produtividade e sua dedicação seriam maiores que a dos homens.
Segundo Gaigher (2001, p. 20) existe no Brasil a psicossomatização das LER/DORT:
… teriam como causa fenômenos de ordem psicológica. No entanto, entende-se por “psicológico” valores como: fraqueza, preguiça, má vontade, o que prontamente culpabiliza os trabalhadores pela manifestação da doença, pois interpreta-se erroneamente, que a dimensão psicológica, ao se tratar de fator explicativo da doença, é sinônimo de fingimento e, portanto, denota que a doença se instala de acordo com a vontade das pessoas, insinua-se que o trabalhador é frágil, fraco. Essa explicação parece ter o poder de descaracterizar o que os achados epidemiológicos informam, ou seja, o que todas as pessoas portadoras de LER/DORT executavam atividades ocupacionais que demandavam movimentos e esforços repetitivos. Porém, o que seria então o psicológico se não uma fraqueza ou preguiça? O psicológico remete a pessoa; e a pessoa tem história e expectativas, tem potencialidades e ritmos, tem limites subjetivos.
Segundo Orso (2001) A dificuldade no diagnóstico e o fato de ser uma doença relacionada com a organização do trabalho têm gerado uma série de malentendidos e preconceito em relação aos lesionados. Alguns acham que é fantasia de trabalhador preguiçoso, problemas com autoestima, medo, frustração; outros dizem que é doença de mulher, tratam-na como se fossem problemas emocionais ou sintomas de histeria.
Ou seja, trata-se de descaracterizar a LER/DORT como doença do trabalho. Mas a ocorrência de muitos casos nos últimos anos não deixa dúvida de que ela existe. Ainda no artigo diz que um em quatro funcionários do Banco do Brasil apresenta algum sintoma da LER/DORT.
Segundo O’Neill (2003, p. 20) o portador da LER/DORT entra em depressão devido as consequências da doença e do descrédito que sofre na empresa, dos peritos do INSS, os quais acabam por diagnosticá-la de origem psicológica, ainda é discriminado pela família e rejeitado pela sociedade.
Como é de difícil diagnóstico, torna-se complicado comprovar a existência da doença, se até os médicos, muitas vezes acreditam que a pessoa está com outros problemas como adaptação ao ambiente, ou mesmo fingimento ou preguiça para se ausentar do trabalho.
Então acaba gerando conflitos no trabalho como a desconfiança dos colegas, questionamentos da família, problemas financeiros e as constantes dores causando-lhe incapacidade para trabalhar; é onde o trabalhador acaba se deprimindo sem autoestima, sentindo-se impotente e até culpado pelo seu estado de saúde.
2.5 PRINCIPAIS SINTOMAS DAS LER/DORT
Como descreve Orso, (2001) em seu artigo sobre os sintomas das LER/DORT podemos citar os seguintes:
… dor, dormência, ardor, fraqueza, peso, fadiga, queimação, sensação de frio e inchaço nos membros superiores, câimbras, distúrbios do sono, diminuição das agilidades dos dedos, incapacidade de manutenção da força motora e de permanecer sentado por muito tempo, enrijecimento doloroso da musculatura, limitação dos movimentos das articulações, alta sensibilidade, sinais de distrofia simpático-reflexa, dificuldade de pegar e manusear pequenos objetos, para manter os membros superiores elevados, para escrever, para segurar o telefone, carregar sacolas e bebês, para pentear, para dirigir.
Segundo O’Neill (2003) que além das dores intensas que são causadas pelas múltiplas lesões das LER/DORT, a falta de força, impotência funcional induzem a uma grande crueldade, o trabalhador não é aceito em nova empresa porque tem problemas de saúde (mesmo que tenha o melhor currículo) na maioria dos casos não é recebido de volta para readaptação na antiga empresa e não consegue se aposentar devido a pouca idade.
2.6 LER/DORT MAIS FREQUENTES
Marano (2003, p.151) descreve as seguintes partes do corpo em que as LER/DORT surgem com maior frequência:
a) Mão: Síndrome do túnel do carpo, síndrome de Raynaud, sinovite dos dedos e dedo em gatilho;
b) Braço/Antebraço: Tendinites, tenossinovites, epicondilites, neurite radial e artrose da cabeça do rádio;
c) Ombro: Tendinite biciptal, ombro doloroso, desarranjos capsulares, lesões de manguito rotator e sinovite acrônio clavicular;
d) Coluna: Cervicalgia, dorsalgia, lombalgia, discopatia e bursite subescapular.
Os distúrbios e doenças relacionadas à coluna vertebral e regiões paravertebrais constituem uma das causas de afastamento do trabalho mais frequentes. No cotidiano, fora do trabalho, esses distúrbios e doenças comprometem a qualidade de vida de um grande número de pessoas.
Muitos trabalhadores sentem dores nos braços, ombros, pescoço e outras partes do corpo, mas continuam a trabalhar. No mesmo ritmo, sob a mesma pressão, usando os mesmos instrumentos. A ficha só cai quando a pessoa não consegue mais pentear o cabelo ou segurar um copo. E como as LER são doenças invisíveis, não é raro um portador ser alvo de piadas.
2.7. FORMAS CLÍNICAS DAS LER/DORT
Marano, (2003, p. 150) Cita em seu livro as formas clínicas que as LER/DORT se apresentam:
a) Doença de Quervain: Em razão de um processo inflamatório da bainha tendinosa do músculo abdutor e extensor do polegar, ocasionando distúrbio da sensibilidade e da capacidade funcional. Ex: trabalho com ferramentas retas que exigem força e repetição (alicate, tenaz, chave de fenda, etc.);
b) Dedo em Gatilho: Provocada por um processo inflamatório da bainha tendinosa da região palmar ocasionando dificuldade de extensão do dedo.
c) Síndrome do Túnel do Carpo: Ocorre pela compressão do nervo mediano da face palmar do punho, em consequência de um processo inflamatório dos tendões, ocasionando espaçamento e fibrose, que provoca dor e incapacidade funcional, particularmente do 1º ao 4º dedo;
d) Síndrome do túnel lunar: Ocasionado por compressão do nervo lunar (túnel lunar em torno do osso pisiforme do punho), provocando dor, incapacidade funcional e hipotrofia do 4º e 5° dedos;
e) Epicondilite: Caracterizada por dor nos músculos epicondelianos (bordos do cotovelo) com irradiação para o ombro e a mão;
f) Síndrome do pronador redondo: Provocada pela compressão do nervo mediano abaixo da prega do cotovelo em conseqüência de movimentos repetitivos de prono e supinação;
g) bursite: Processo inflamatório da musculatura do ombro, por causa de repetidos movimentos de aduções e abduções do ombro. Caracteriza-se por dor que se irradia para a região escapular e pescoço;
h) Cervicobraquialgia: Movimentos repetidos dos braços e das mãos podem provocar dores por comprometimento dos músculos trapézio, rombóide, levantador da cápsula, do supra-espinhoso e dos músculos cervicais.
Como estes grupos musculares se inserem diretamente no periósteo, os movimentos repetidos e forçados e cujas atividades exigem do trabalhador a posição de pé e com os membros superiores elevados, provocam compressão dos feixes vásculo-nervoso, ocasionando tensão sobre o periósteo, seguida de isquemia, inflamação e a conseqüente fibrose (miosite de tensão). Como conseqüência surge a dor e a hiperestesia.
2.8 OS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM E AS DOENÇAS OSTEOMUSCULARES RELACIONADAS AO TRABALHO (DORT)
No contexto hospitalar a enfermagem é a forma mais tradicional e
simples de assistência direta e contínua ao paciente pelo fato de desempenhar suas atividades de uma forma hierarquizada o que a difere das outras profissões.
Pinho (2002 apud APPOLINÁRIO, 2008, p. 84) afirma que:
Além disso, a equipe de enfermagem traz consigo outra especificidade, a profunda fragmentação do seu trabalho, sendo a única equipe no ambiente hospitalar dotada de diferentes profissionais, entre eles o auxiliar de enfermagem, o técnico de enfermagem e o enfermeiro, divisão esta iniciada em meados do século XIX, ainda na formação das primeiras enfermeiras em escolas da França e Inglaterra, chegando ao Brasil no início do século XX.
Existem várias funções pertinentes a esses profissionais, os auxiliares e técnicos revezam-se entre a prestação de cuidados diretos ao paciente, já o enfermeiro é responsável pela manutenção da assistência de enfermagem, delegando tarefas a equipe, uma vez que suas atividades são predominantemente administrativas, embora possua tarefas prescritas na área assistencial. A atividade laboral da enfermagem fragmentou-se em um conjunto de cuidados concentrados na mão de cada trabalhador e direcionada para uma visão completa do paciente.
Diversas atividades da enfermagem ocasionam disfunções biomecânicas que ao longo do tempo provocam incapacidades funcionais e progressivas ao sistema corporal. Além da assistência, o enfermeiro realiza tarefas nas quais utiliza os computadores para elaborar relatórios, monitorizar o fluxo de pacientes, com o intuito de desempenhar processos de documentação e comunicação na sua atividade laboral. Estas ferramentas apoiam e orientam as ações de enfermagem, mas por outro lado, com o seu uso demasiado tornam estes profissionais propensos a LER/DORT.
O principal papel dos profissionais de enfermagem é assistir criteriosamente à saúde dos pacientes, exigindo total cuidado, atenção e dedicação. Desta forma, os distúrbios laborais estão relacionados às atividades prestadas, que exigem grande esforço físico, mental e psicológico (SOUSA et al., 2016).
Durante a jornada de trabalho os profissionais de enfermagem realizam atividades que exigem esforço físico e mecânico intenso para remoção e movimentação de pacientes acamados ou incapacitados de realizar suas atividades de vida diária de forma independente. Com isso, a presença da exaustão e do desgaste físico são comuns, prejudicando a saúde destes trabalhadores, tornando-os susceptíveis a agravos a própria vida (PASA et al., 2015)
Os profissionais prestadores de serviço na área da saúde têm uma proximidade física muito ampla com seus pacientes, contato direto devido ao fato de cuidar, sendo então expostos a vários riscos, além de físicos também químicos, mecânicos, biológicos e psicossociais, podendo assim causar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, que hoje tem sido um dos maiores motivos de afastamento no trabalho em todo o mundo (BEZERRA et al., 2015).
Prestando cuidados direto ao paciente, os distúrbios osteomusculares estão relacionados às atividades laborais da equipe de enfermagem, como por exemplo, o reposicionamento do paciente no leito, o banho, a troca de roupa, a transferência do leito para a maca e da maca para o leito, do leito para a cadeira de banho, nos casos em que o paciente tem a mobilidade reduzida com dependência total do profissional. Sem os devidos conhecimentos e cuidados ergonômicos o profissional realiza estas atividades de forma repetitiva, fatigante e que demandam intensa força física, sem se preocupar se estão realizando da maneira correta, visando apenas agilizar seu trabalho em um menor tempo hábil possível (SOUSA et al., 2016).
Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT’s) compõem condições advindas da inflamação ou degeneração dos tendões, nervos, ligamentos, músculos e estruturas periarticulares em várias regiões do corpo. O termo pode ser variado de acordo com cada literatura, como; lesões por esforço repetitivo (LER’s), lesões por traumas cumulativos, distúrbios inespecíficos dos membros relacionados ao trabalho, problemas musculoesqueléticas, síndrome cervicobraquial de origem ocupacional, entre inúmeros outros termos utilizadas para definir essas doenças, importante ressaltar que independente da literatura utilizado o termo designam inflamações localizadas, síndromes nervosas compressivas ou síndromes dolorosas (ASSUNÇÃO; ABREU, 2017).
Os DORT’s abrangem um grupo variado de agravos ao sistema muscular e esquelético por atividades realizadas durante toda jornada de trabalho e até mesmo suas obrigações domésticas, ou seja, atividades repetitivas durante todo o dia, estes são um dos fatores que levam os profissionais de enfermagem a se afastarem do trabalho devido rotina fatigante sem pausas (OLIVEIRA; ALMEIDA,2017).
Com isso, para avaliação das queixas destes distúrbios, se vê necessário o entendimento de seu conceito. Os distúrbios osteomusculares descrevem-se como doenças de característica inflamatória, atingindo os tecidos moles, como músculos, ligamentos, cápsulas articulares e aponeuroses, manifestando-se em mialgias globais, lombalgias, fibromialgias, cervicalgias, sinovites, tendinites, tenossinovites, epicondilites, LER, DORT’s; todos estes quadros repercutem em dor, perda de força, parestesias, fadiga e edema, afetando os aspectos cotidianos e culminando na diminuição do rendimento no trabalho. Inicialmente, repousos noturnos e nos finais de semana solucionam provisoriamente a questão; porém com o tempo, as dores tornamse mais intensas, podendo evoluir para um estágio de incapacidade funcional (ARAÚJO, 2014).
Segundo Assunção e Abreu (2017), a prevalência de distúrbios ocupacionais relacionados ao trabalho na população brasileira é limitante, e parte da população já necessitou procurar algum profissional por decorrência de sintomas osteomusculares. Para Oliveira e Almeida (2017), nos dias atuais, as DORT’s se destacam no ranking de motivos que levam o trabalhador a recorrerem a atestados médicos.
Os profissionais de enfermagem estão susceptíveis a adquirirem doenças ocupacionais, pois realizam atividades manuais repetidamente, o trabalho exaustivo na posição de pé, andando na maior parte do dia, realizando transferência de peso, exigindo esforço máximo e força muscular durante a maior parte do tempo, rotina essa que predispõe fatores antecedentes de doenças decorrentes do trabalho.
A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) de número 311 de 2007 defende a suspensão das atividades laborais quando a empresa não oferece condições favoráveis de trabalho ao profissional, podendo assim ser comunicado ao Conselho Regional de Enfermagem (COREN) sobre sua decisão e fatores que agravem a saúde do trabalhador, afastando-o de suas funções (OLIVEIRA; ALMEIDA, 2017).
3. METODOLOGIA
Este estudo baseou-se em uma estratégia qualitativa de pesquisa, de caráter descritivo, por meio de uma pesquisa bibliográfica. O estudo descritivo correlaciona fatos ou fenômenos sem altera-los. Procura então descobrir a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características (COSTA, 2006).
O estudo de revisão bibliográfica de acordo com Gil (1999) é uma revisão rigorosa da literatura de matérias já publicados, como artigos científicos e livros, este tipo de pesquisa, permite uma cobertura mais ampla do fenômeno a ser estudado.
O estudo inclui: artigos, teses, dissertações, monografias, livros e manuscritos. Com base em todo material revisado procura-se fazer uma discussão entre os autores, avaliando os pontos positivos e negativos para chegar a um resultado final.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O trabalho de enfermagem é repetitivo, demanda esforço físico, levantamento de peso e posturas inadequadas, associados aos estressores mentais que são fatores de risco para ocorrência de DORT. Estes distúrbios ganham importância na profissão de enfermagem, que se caracteriza, como sendo de alto risco de estresse e adoecimento, com período prolongado de trabalho, exigindo grande responsabilidade dos trabalhadores.
Os profissionais realizam atividades multivariadas, fragmentadas, apresentando sobrecarga e ritmo de trabalho acelerado; submetidos à alta exigência no ambiente laboral apresentam chances de desenvolver dor musculoesquelética em algumas regiões do corpo.
DORT apresenta relação com a forma de organização e intensidade do ritmo do trabalho intensificando o sofrimento dos acometidos e gerando, muitas vezes, subnotificação dos dados. Há desinformação sobre o problema, levando as pessoas a esconderem seus sintomas, o que acaba comprometendo o diagnóstico e tratamento corretos. Adoecimentos relacionados ao labor são subnotificados; constitui-se um desafio reconhecer, diagnosticar e estabelecer o nexo causal entre grande parte das doenças e o trabalho.
O trabalho, de enfermagem pode provocar lesões físicas, muitas vezes, irreversíveis com afastamentos e incapacidades parciais ou permanentes. Consequentemente as DORT são doenças de difícil tratamento e acarretam afastamento do trabalhador, representando fator limitante para o trabalho hospitalar.
A prevenção e promoção da saúde por parte da empresa é a melhor maneira de cuidar da saúde do trabalhador, com ações capazes de criar ambientes ergonomicamente adequados e saudáveis. Medidas preventivas representam menor custo se comparadas ao tratamento de um trabalhador doente e ainda previnem o absenteísmo. A prevenção desses distúrbios envolve o entendimento dos fatores psicossociais e do estresse no ambiente laboral e auxilia no desenvolvimento de estratégias de prevenção de agravos e promoção da saúde dos trabalhadores, como o maior aproveitamento de tecnologias para o desenvolvimento de trabalhos que exijam maior força física, pausas esporádicas durante a jornada, administração de conflitos e melhoria do clima organizacional.
Murofuse e Marziale (2005) apontam que as pesquisas sobre os problemas de saúde, causados pelo trabalho, têm crescido nos últimos anos, incluindo os estudos que envolvem os trabalhadores da saúde, o que tem colaborado para dar visibilidade a acidentes e doenças do trabalho dos quais eles são vítimas.
Esses autores ainda afirmam que as condições de trabalho são representadas por um conjunto de fatores interdependentes, que atuam direta ou indiretamente na qualidade de vida das pessoas e nos resultados do próprio trabalho, visão também defendida por Marziale e Robazzi (2000).
Essas condições, segundo Marziale e Carvalho (1998), são representadas pelos fatores que atuam na relação trabalho-trabalhador. São eles, o desenho dos equipamentos, do posto de trabalho, a maneira como a atividade é executada, a comunicação, o meio ambiente, que envolve grau de insalubridade, iluminação, temperatura etc.
Os fatores ergonômicos são de tal importância que estudo realizado por Marziale e Carvalho (1998) mostrou a fadiga mental por meio da ergonomia em enfermeiras que atuavam em esquema de turnos alternantes em hospital, constatando que o referido esquema de horários era responsável pela inadaptação das enfermeiras às condições de trabalho.
Os sistemas de saúde, em especial as instituições hospitalares brasileiras, têm adotado, a partir dos anos de 1990, algumas novidades incorporadas inicialmente pelas indústrias e pelo sistema financeiro, como a introdução de inovações tecnológicas e novos modelos de gestão, visando à melhoria da eficiência e produtividade das empresas (Marziale e Robazzi, 2000).
Murofuse e Marziale (2005) realizaram estudo na rede Hospitalar do Estado de Minas Gerais visando relacionar os problemas de saúde encontrados em trabalhadores de enfermagem de 23 instituições de saúde. Entre 6.070 atendimentos estudados, as doenças legalmente consideradas como doenças do trabalho relacionadas ao sistema músculo esquelético foram identificadas em 255 (35%) atendimentos, destacando-se as dorsalgias (20%) e as sinovites e tenossinovites (13,7%), agrupadas como LER-DORT. Guedes (2000) realizou estudo em uma unidade de ortopedia de um hospital universitário da cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, sobre problemas osteomoleculares com 19 auxiliares de enfermagem e concluiu, entre outros dados, que 84,25% dos profissionais trabalham em posição em pé frequente, com muito dispêndio de energia e grande esforço no transporte e mobilização dos pacientes.
Concluiu também que as condições de trabalho são inadequadas, que há inobservância dos princípios ergonômicos e da proteção à saúde, resultando em problemas osteomusculares. Moreira e Mendes (2005) estudaram a exposição dos profissionais de enfermagem do Hospital Universitário Pedro Ernesto – HUPE – da cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, aos fatores de risco das DORT e os resultados evidenciaram que os profissionais de enfermagem daquela Instituição estão expostos a vários fatores de risco, principalmente os de natureza organizacional e ergonômica.
Concluiu-se que as condições de trabalho são inadequadas, no que tange à organização do trabalho e à inobservância dos princípios ergonômicos, o que propicia a manifestação de DORT nos trabalhadores. Varela e Ferreira (2004) estudaram 79 profissionais de enfermagem do Centro dos Estudos de Saúde de Trabalhadores (Cesat) em Salvador, Estado da Bahia, quanto à incidência de doenças relacionadas ao trabalho e detectaram, entre os diversos achados, a prevalência de síndrome do túnel carpo e dorsalgia.
Lincoln et al. (2002) realizaram estudo para analisar os resultados de treinamento ergonômico com enfermeiras, sendo analisados dois grupos de profissionais, e um deles recebeu treinamento e outro não. Concluíram que os profissionais treinados melhoraram sua forma de trabalho no uso de equipamentos, acessórios e tarefas computadorizadas.
Nielsen e Trinkoff (2003) realizaram estudo literário sobre ergonomia das condições de trabalho de profissionais de enfermagem e concluíram que a profissão está associada a altas taxas de desordens músculo-esqueléticas relacionadas à manipulação de pacientes. As enfermeiras correm alto risco de desenvolver distúrbios relacionados ao trabalho e, assim, precisam incorporar fatores ergonômicos às suas atividades, para promover ambientes seguros. Finalizando, Parada et al. (2002) relatam que diversos estudos já comprovaram a importância clínico-epidemiológica da lombalgia entre trabalhadores de enfermagem, indicando que esta resulta de traumas cumulativos e constitui-se em acidentes típicos de trabalho.
O tratamento das LER/DORT foi abordado por dois estudos e ambos afirmavam que este deverá, necessariamente, ser realizado por uma equipe multidisciplinar composta por médicos (ortopedistas, reumatologistas, fisiatras, neurologistas e especialistas em dor), enfermeiros, ergonomistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e assistentes sociais. Todos membros da equipe devem ter uma capacitação específica (Minayo-Gomez e ThedimCosta, 1997; Takahashi e Canesqui, 2003).
A gênese da LER/DORT continua sendo um desafio a ser superado pelos conflitos e controvérsias existentes e envolve pesquisadores, profissionais da saúde e trabalhadores.
De acordo com o entendimento que se tem acerca da origem dessa doença, são distintas as medidas preventivas e terapêuticas implementadas. Adotando a visão de Ribeiro (1999), a controvérsia, de forma geral, é resultado da negação da existência do nexo causal entre a doença e a atividade desempenhada pelo trabalhador, que resulta em maior prejuízo ao trabalhador que fica sem ter assegurados seus direitos referentes à questão que envolve a saúde.
Conhecida como a doença da modernidade, tem causado inúmeros afastamentos do trabalho, cuja quase totalidade evolui para incapacidade parcial e, em muitos casos, para a incapacidade permanente, com aposentadoria por invalidez.
Maior atenção deve ser direcionada às posturas adotadas pelos trabalhadores na execução das atividades laborais, elaborando-se programas de treinamento e esclarecimentos, além de mobiliários adequados à execução das tarefas, bem como se faz necessário disponibilizar instrumentos e equipamentos ergonomicamente idealizados, visando à redução da incidência das doenças relacionadas ao trabalho.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em sua evolução, o homem aprendeu a fazer outros usos de suas mãos, além daquele primitivo e restrito de pegar. O contato, a sensibilidade, a percepção das formas e do movimento e a projeção das mãos como instrumento para conhecer e transformar o mundo foi um aprendizado histórico longo que teve correspondência a nível de seu córtex cerebral. Em o transformando, transformou-se. O uso sensível, preciso, ágil e coordenado das mãos é o resultado, pois, da própria construção, simultaneamente, biológica, histórica e social do homem.
Nas diferenças qualitativas do trabalho, provavelmente mais do que nas de natureza quantitativa dos movimentos e posturas físico-corporais, estarão as causas da desigualdade de prevalência das LER observadas nas diversas categorias e dentro de uma mesma categoria. enfermagem como uma profissão com risco para o aparecimento de LER/DORT, principalmente em função da exposição do enfermeiro que realizam múltiplas tarefas que exigem cuidado, atenção, para não ocorrer nenhum risco ao paciente. No entanto, sabemos que as práticas mais adequadas para responder ao problema da LER/DORT são aquelas que investem na prevenção, e condições de trabalho que preservem a integridade física e emocional dos profissionais. É necessário o planejamento dos equipamentos e móveis dentro de parâmetros ergonômicos, realizarem pausas regulares a cada período de trabalho ininterrupto, de modo a evitar a permanência numa mesma postura e a repetitividade dos movimentos.
Apesar de a LER/DORT não ser uma forma de adoecimento exclusiva dos trabalhadores de enfermagem, podem acometer outras categorias como: médicos, fisioterapeutas, e outros profissionais, mas não na mesma proporção que a enfermagem, isso pode ser explicado devido à demanda de trabalhos intensos dos profissionais nas instituições hospitalares.
Em toda a atividade laboral é importante promover condições para garantir a saúde física dos trabalhadores. Porém, este aspecto é muitas vezes colocado em segundo plano. Na maioria das instituições de saúde, a preocupação com os aspectos ergonômicos é pouco observada dificultando a atuação dos profissionais no modo geral, e particularmente os profissionais de enfermagem ocasionando agravos à saúde e a insatisfação no ambiente de trabalho.
Muitos profissionais quando adquirem esta patologia, podem ocasionar uma incapacidade funcional permanente, tendo que abandonar o posto de trabalho ou se aposentando precocemente. Uma das intervenções para a diminuição do sofrimento físico no ambiente de trabalho seria a diminuição das longas jornadas de trabalho, sendo assim, diminui a exposição dos trabalhadores aos riscos inerentes a sua atividade laboral.
Desta forma, fica evidente a necessidade de um aprofundamento destas discussões, para uma melhor concepção dos problemas identificados, relacionarem temas como ações preventivas, estudos ergonômicos e outros, visando colaborar para a manutenção da integridade do sistema músculo esquelético da equipe de enfermagem, em busca da melhoria da sua qualidade de vida pessoal e profissional.
Portanto, conclui-se que é de extrema relevância o conhecimento sobre as lesões do aparelho locomotor na enfermagem, e a associação com outros profissionais, em que as informações ampliam o entendimento das causas e do desenvolvimento das lesões.
Conclui-se que a LER/DORT constitui-se, sobretudo, em um desafio aos conceitos tradicionais da medicina, porque estes trabalhos demonstram que são necessárias outras formas de visão para se apreender os nexos entre o processo de trabalho e saúde. Além disso, há a necessidade de um tratamento diferente do até então adotado, uma vez que apenas o enfoque no físico do indivíduo demonstrou-se ineficiente, pois o lado emocional também apresenta doença ocupacional. Conhecer os aspectos que determinam o aparecimento da doença relacionada ao trabalho é fundamental para os profissionais de saúde, pois somente a partir dessa compreensão será possível estabelecer medidas de prevenção e entender por que um profissional pode sentir dor e não apresentar lesões. Apenas uma abordagem multiprofissional e sistêmica dos problemas de saúde, no trabalho, poderá minimizar eficaz e duradouramente o fenômeno LER/DORT.
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1Trabalho de Conclusão de Curso apresentado conclusão do curso de Enfermagem na Faculdade UNIPLAN – Centro Universitário Planalto Do Distrito Federal. Orientador (a): Joyciane Lima