LESÃO DE CÁRIE PROFUNDA EM PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10123715


Samuel Campos Chagas
Gisele Santos De Souza
Orientador: Saul Alfredo Antezana Vera


RESUMO

Introdução: Pacientes com necessidades especiais requerem tratamento odontológico diferenciado devido às limitações ditadas pela deficiência. A qualidade da higiene bucal está diretamente ligada ao estado clínico de cada paciente, sendo que aqueles com dificuldades motoras e cognitivas podem apresentar comprometimento na higiene bucal.

Objetivo: Realizar uma revisão de literatura sobre cárie profunda em pacientes com necessidades especiais (PNE).

Metodologia: Foi realizada a revisão de literatura por meio de levantamento bibliográfico no Pubmed e Bireme. Estudos epidemiológicos de cárie e estado de doença gengival em pacientes com necessidades especiais mostraram uma alta incidência de cárie profunda. No entanto, é importante contar com profissionais capacitados e uma abordagem multidisciplinar adequada para superar as barreiras impostas durante o atendimento, como ansiedade dos pais, questões sistêmicas e discriminação.

Conclusão: Procurar ajuda o mais cedo possível leva a uma maior cooperação no tratamento dentário e acesso a cuidados que se prolongam ao longo da vida. Um programa de promoção de saúde bucal adaptado a esses pacientes com necessidades especiais, incluindo orientações de higiene bucal, dieta, controle de placa, motivação do paciente e interação com profissionais, família e sociedade, provou ser a melhor abordagem.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde bucal; Cárie dentária; Pacientes com necessidades especiais;

ABSTRACT

Introduction: Patients with special needs require differentiated dental treatment due to limitations dictated by disability. The quality of oral hygiene is directly linked to the clinical status of each patient, and those with motor and cognitive difficulties may present compromised oral hygiene.

Objective: To carry out a literature review on deep caries in patients with special needs (PNE).

Methodology: A literature review was carried out through a bibliographic survey on Pubmed and Bireme. Epidemiological studies of caries and gum disease status in patients with special needs have shown a high incidence of deep caries. However, it is important to have trained professionals and an appropriate multidisciplinary approach to overcome barriers imposed during care, such as parental anxiety, systemic issues and discrimination.

Conclusion: Seeking help as early as possible leads to greater cooperation in dental treatment and access to lifelong care. An oral health promotion program adapted to these patients with special needs, including guidance on oral hygiene, diet, plaque control, patient motivation and interaction with professionals, family and society, proved to be the best approach.

KEYWORDS: Oral health; Dental cavity; Patients with special needs;      

1. INTRODUÇÃO

Os pacientes com necessidades especiais são indivíduos com condições físicas e e psicológicas alteradas, estes requerem cuidados especiais por um período de tempo ou indefinidamente durante sua vida (C. PORTOLAN, D VELASKI, M MAÇALAI, M HOCHMULLER, 2017). Esses pacientes necessitam de atendimento odontológico específico para sua condição, portanto os profissionais de saúde devem estar preparados para oferecer um tratamento adequado e de qualidade (MORRETO, MCRA REZENDE, 2014). Como por exemplo pessoas com autismo, através da anamnese, sabe-se da sua deficiência com cores, o consultório odontológico deve ser adaptado para as cores que o paciente se sinta mais a vontade. 

O tratamento odontológico baseia-se em eliminar ou contornar as dificuldades existentes devido às limitações do paciente, sejam elas mentais, físicas, sensoriais, comportamentais ou de crescimento.(RB VASCONCELOS – 2014)

É de extrema importância, tratar essa população com atendimento odontológico o mais precocemente possível, para prevenir maior proporção de problemas no futuro, além de desenvolver hábitos que perdurarão por toda a vida do paciente, neste contexto, abordaremos não apenas as barreiras clínicas e técnicas associadas a estes pacientes, mas também a importância da comunicação eficaz, do manejo comportamental e da colaboração interdisciplinar na prestação de cuidados odontológicos de qualidade a essa população. Nota-se que os cirurgiões dentistas que tratam pacientes com necessidades especiais, devem realizar uma série de adaptações em seus consultórios, para garantir que esses pacientes recebam atendimento odontológico de qualidade e com conforto. As adaptações devem variar de acordo com a natureza das necessidades especiais do paciente e podem incluir: treinamento e educação, para o atendimento desses pacientes, acessibilidade, se certificando que seja acessível ao tipo de PNE a ser atendido, comunicação, o uso de linguagem simples para o paciente entender o atendimento, ambiente confortável, criar um ambiente que reduza a ansiedade do paciente, tempo e paciência, o cirurgião tem que esta disponível para atender o paciente com tranquilidade, sedação consciente a anestesia local, equipamentos especiais, preparação previa, equipe multidisciplinar e um registo detalhado.

Portanto, o presente trabalho projetou uma revisão da literatura sobre a promoção da saúde bucal em pacientes com necessidades especiais, enfatizando a importância das adaptações para o acolhimento desses pacientes, quanto aos cuidados relacionados à cárie dentária.

2. MATERIAIS E MÉTODOS REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para a elaboração deste estudo de revisão literária, foi realizado uma pesquisa na base de dados digitais de artigos científicos disponibilizados em: PubMed, Scielo, Capes.

Os critérios de inclusão foram os artigos publicados em português, inglês e espanhol que abordassem temas e pesquisas dentro da (LESÃO DE CÁRIE PROFUNDA EM PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS) sendo os mais relevantes e foi imposto o limite temporal dos últimos 20 anos, sendo assim, foram obtidas um total de 05 artigos selecionados.

3. REVISÃO DE LITERATURA

Consideram-se que para realizar o tratamento dentário dos PNE, existem dificuldades específicas e inespecíficas ligadas às deficiências e aos próprios pacientes, que devem ser superadas (Lannes C, Moraes SAV – 1991).

A ergonomia no consultório odontológico é muito importante para o atendimento de pessoas com necessidades especiais. Portas largas, corrimãos para apoio, rampas para cadeiras de rodas, consultórios térreos ou prédios comerciais com elevadores garantem maior acessibilidade e conforto (MARTA SN, 2011).

 O grau de limitação física e/ou mental, a dificuldade da realização da higiene bucal, a dieta alimentar, geralmente rica em carboidratos e alimentos pastosos, além do fato de muitas vezes terem sua higiene oral negligenciada pelos seus responsáveis, são fatores que favorecem o acúmulo de placa bacteriana e, consequentemente, o aparecimento dessas patologias ( REZENDE VLS, CASTILHO LS, VIEGAS CMS, SOARES MA, 2007).

No quadro 1, estão demonstrados 07 estudos incluídos nessa revisão de literatura, apresentando os seguintes itens: ano de publicação, autor, tema, base de dados e resultados, conforme tabela abaixo: 

Quadro 01 – Estudos selecionados na pesquisa

AUTORANOTEMABASE DE DADOSPrincipais Resultados
Abreu, Paixão e Resende1999Controle da Placa Bacteriana em Pessoas com Deficiencia Física: Avaliação de Pais e Responsaveis  PubMedMelhorar a higiene bucal com adoção promocionais da saúde bucal diminuendo a placa bacteriana, assim como, considerar a importância da saúde bucal e por meio de buscar informações e conhecimentos a respeito dos cuidados com a saúde bucal.
Alves, et al2001Estudo Epidemiológico dos Pacientes Portadores de Deficiência Neuropsicomotora no CAPE-FOUSP  ScieloÉ evidente a importância de tratamentos periodontais, exodontias e procedimentos restauradores, assim como, as perdas dentárias são preponderantes da restauração e as necessidades da PNE dar-se não somente ambulatoriais como psicologicamente.
Pomarico, et al2003Cárie de Estabelecimento precoce em Pacientes Portados de Nanismo Hipotisário: Relato de Caso  CapesA falta de conhecimento acerca da patologia é um dos fatores que contribui ao aparecimento da patologia na saúde bucal sendo necessário a atuação e boa prática professional na prevenção, promoção e reabilitação da saúde bucal.
Cortez, et al2004Prevalência da cárie em institucionalização e não institucionalizados em pacientes.  ScieloA cárie afeta a vida e saúde das pessoas mediante inúmeros fatores e ações cotidianas realizadas ao longo do dia correlacionando até mesmo mediante consumos e alimentações.
Campos, et al2009  Correlação entre Prevalência de Cárie e a Utilização de Medicamentos em PNE Institucionalizados e não institucionalizados  LilacsAo considerar as particularidades da PNE o atendimento visa todo o cuidado e tratamento necessário de forma específica e de qualidade visando a saúde bucal e, mesmo assim, tende a buscar facilitar desde o diagnóstico, o tratamento e todo o acompanhamento para não somente na reabilitação como para mudanças de hábitos quanto a higienização e cuidados da saúde bucal considerando suas condições de fragilidades especiais.
Rezende VLS, Castilho LS, Viegas CMS, Soares  MA2007Avaliação das condições de saúde bucal de Portadores de Necessidades Especiais  scieloOs altos índices revelados pelo CPO-D, bem como a higiene oral deficiente, somados às dificuldades relatadas em se realizar o acompanhamento odontológico desses indivíduos, mostram a necessidade da implementação de políticas públicas mais voltadas à atenção a esses pacientes. Pessoas com deficiência; saúde bucal; Odontologia  
Lannes C, Moraes SAV1991Perfil odontológico dos pacientes portadores de necessidades especiais atendidos no instituto de previdência do estado do cearáRedalycNa avaliação da relação entre a conclusão do tratamento odontológico e o controle preventivo dos 166 pacientes (Tabela I), verificou-se que 92 indivíduos concluíram o tratamento odontológico e os demais, 74 não finalizaram

Cerca de 10% da população mundial é constituída por Portadores de Necessidades Especiais (PNE), que são indivíduos que apresentam perda ou anormalidade de uma estrutura do corpo ou função fisiológica, temporária ou permanente, progressiva, regressiva ou estável, requerendo atendimento diferenciado (ABREU, PAIXÃO e RESENDE, 1999, p.25).

Os Portadores de Necessidades Especiais, tendem a apresentar maiores riscos de desenvolver cárie. O grau de limitação física e/ou mental, a dificuldade da realização da higiene bucal, a dieta alimentar geralmente rica em carboidratos e alimentos pastosos, além do fato de muitas vezes terem sua higiene oral negligenciada pelos seus responsáveis, são fatores que favorecem o acúmulo de placa bacteriana e, consequentemente, o aparecimento dessa patologia (CAMPOS, et al, 2009, p.15).

Citam como dificuldades específicas: as dificuldades motoras; dificuldades devido à falta de comunicação; hiper ou hipomotricidade muscular; a sialorréia; macroglossia; microdontia; microtomia; o apinhamento dental; as necessidades odontológicas acumuladas; graus de limitação física; graus de riscos anestésicos e a idade do paciente; e como dificuldades inespecíficas: a falta de profissionais habilitados; barreiras arquitetônicas; discriminação para com os pacientes especiais; rompimento da rotina de tratamento odontológico; falta de compreensão da família dos pacientes em relação à importância do tratamento odontológico; situação sócioeconômica do paciente; superproteção da criança especial; rejeição da criança especial e falta de compreensão quanto à importância da remoção diária da placa dental (Lannes C, Moraes SAV – 1991).

Nesse aspecto, o grupo de pacientes com necessidades especiais pode ser considerado um grupo vulnerável, uma vez que é extremamente dependente de outras pessoas, sendo assim, a identificação dos hábitos deste grupo de pacientes tem grande importância na prevalência da doença cárie. Dentre os fatores comumente associados na prevalência de doenças bucais em pacientes com necessidades especiais, têm-se destacado as condições de vida como um dos fatores principais, sendo que a desinstitucionalização tem sido preconizada como fator preponderante para melhoria das condições de saúde desses pacientes (CORTEZ, et al, 2004, p.12).

Entretanto, poucos estudos têm sido realizados analisando as diferenças entre o padrão de saúde de pacientes institucionalizados ou não. Além de todos os problemas médicos já envolvidos, destaca-se a dificuldade apresentada durante o tratamento odontológico, no que diz respeito à abertura de boca, devido à dificuldade do paciente em decorrência de sua síndrome (ALVES, et al, 2001, p.10).

A partir dos estudos de dados, observou‐se a necessidade do fortalecimento das ações de promoção de saúde bucal junto aos PNE, junto aos pais/responsáveis, enfatizando a importância das práticas saudáveis em saúde bucal já nos primeiros meses de vida, na perspectiva de uma redução da cárie (POMARICO, et al, 2003, p.32).

4. DISCUSSÃO

As condições de higiene oral dos pacientes com necessidades especiais, têm sido considerada um dos maiores problemas de saúde bucal. Esse fato é agravado entre outros fatores, pela baixa renda familiar, cujas famílias, muitas vezes, mal conseguem comprar alimentos, e menos ainda, escovas e cremes dentais. Esses dados foram confirmados através de alguns estudos, uma vez que a maioria destes pacientes apresentam índices de higiene oral precária, baixo poder aquisitivo, em que 43,9% dos entrevistados relataram viver com menos de um salário mínimo, associado ao fato de quase 50% dos responsáveis não possuírem sequer o Ensino Fundamental completo (ALVES, et al, 2001, p.15-18).

A experiência de cárie em pacientes portadores de deficiência, tem sido relatada, maior do que a encontrada na população normal, alertando para a necessidade de se realizar de maneira sistemática e organizada, um tratamento preventivo e curativo junto a essa população, e para tanto, se faz necessário um diagnóstico real da situação da saúde bucal, e dos fatores de risco associados nessa população (ABREU, PAIXÃO e RESENDE, 1999, p.09).

Através deste artigo, relata-se um caso de cárie de estabelecimento precoce em um paciente portador de nanismo hipofisário, dando ênfase à interação médico- odontológica. Geralmente, os responsáveis por crianças portadoras de necessidades especiais, apresentam ansiedade em relação à sua condição sistêmica, podendo acarretar o atraso no tratamento odontológico, e até ocorrer uma significante progressão da doença bucal. De acordo com Hallett et al. (1992), a precária saúde bucal destes pacientes sistemicamente comprometidos, é resultado da negligência com a higiene, que muitas vezes é relegada a segundo plano por parte dos responsáveis em função da condição da criança, e da ingestão constante de medicamentos açucarados (POMARICO, et al, 2003, p.15).

A promoção de saúde bucal para pacientes com necessidades especiais (PNE), depende das informações epidemiológicas sobre as doenças bucais mais prevalentes como cárie e periodontopatias, dos dados sobre as patologias que os acometem e do conhecimento das particularidades de suas limitações mentais e motoras. Finalmente, estes elementos são fundamentais para o desenvolvimento de programas educativos e preventivos. Com a finalidade de abordar estes aspectos de forma objetiva, a revisão da literatura apresenta-se dividida nos seguintes tópicos: – Odontologia para pacientes com necessidades especiais: características gerais; – Experiência de cárie dental em PNE; – Prevalência da doença cárie em PNE (CORTEZ, et al, 2004, p.22).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

– Considerando o levantamento bibliográfico realizado e levando em conta os altos índices revelados pelo CPO-D, bem como a higiene oral do deficiente, somados às dificuldades relatadas em se realizar o acompanhamento odontológico desses indivíduos, mostram a necessidade da implementação de políticas públicas mais voltadas à atenção a esses pacientes.

– Sabendo-se que a cárie dentária é uma doença multifatorial, pôde-se observar que, outros fatores de risco devem ser identificados, uma vez que o consumo de medicações via oral, não demonstrou correlação com a prevalência de cárie da população.

– Considerando o levantamento bibliográfico realizado, pode-se concluir que pacientes institucionalizados apresentam maior risco de desenvolver cárie dental, o índice de carboidrato simples mostrou-se mais preocupantes, a orientação da dieta deve ser realizada com o intuito de diminuir o risco da cárie.

REFERENCIAS

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Pomarico L, Mendes PC de A, Primo LG, Heil FC. Cárie de estabelecimento precoce em paciente portador de nanismo hipofisário: relato de caso. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê 2003; 6(33):366- 70.

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ALVES, E. G. R. A.; ACERBI, A. G.; MAGALHÃES, M. H. C. G. Estudo epidemiológico dos pacientes portadores de deficiência neuropsicomotora atendidos no CAPE – FOUSP entre 1989 e 2000. Odontol e Soc, São Paulo, v. 3, n. 1/2, p. 8- 12, 2001.

CAMPOS, Juliana Álvares Duarte Bonini et al. Correlação entre a prevalência de cárie e a utilização de medicamentos em pacientes com necessidades especiais institucionalizados e não institucionalizados. Salusvita, Bauru, v. 25, n. 1, p. 35-42.

PORTOLAN, Camila, et al. “Odontologia e pacientes especiais: conhecer, orientar e prevenir.” Revista Saúde Integrada 10.20 (2017): 7-15.

MORETTO, Marcelo Juliano, and Maria Cristina Rosifini Alves Rezende. “Reflexões sobre a importância da assistência odontológica preventiva e do adequado treinamento dos Cirurgiões-Dentistas para o atendimento de pessoas com deficiência.” Archives of Health Investigation 3.3 (2014).

VASCONCELOS, Rebeca Bastos. “Avaliação dos fatores de risco à cárie dentária em pacientes pediátricos portadores de necessidades especiais.” (2014).

MARTA SN. Programa de assistência odontológica ao paciente especial: uma experiência de 13 anos. Revista Gaúcha de Odontologia 2011; 59(3):379-85

RESENDE VLS, Castilho LS, Viegas CMS, Soares MA. Fatores de risco para a cárie em dentes decíduos portadores de necessidades especiais. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2007; 7(2): 111-7..


Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Programa de Graduação da Faculdade de Odontologia de Manaus – FOM, como parte do requisito para a obtenção do Título de Cirurgiã-Dentista.
Orientador: Saul Alfredo Antezana Vera