LEPTOSPIROSE: OS DESAFIOS E DIFICULDADES DO DIAGNÓSTICO PRECOCE

LEPTOSPIROSIS: THE CHALLENGES AND DIFFICULTIES OF EARLY DIAGNOSIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10044182


Adriano Abreu Monteiro1
Orientador: Omero Martins Rodrigues Junior2


RESUMO

A Leptospirose é uma doença infecciosa provocada pela bactéria Leptospira interrogans. Objetivo Geral: compreender os desafios e dificuldades que cercam o diagnostico precoce da leptospirose, bem como o papel do farmacêutico. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo do tipo Revisão de Literatura Integrativa. Para o levantamento dos artigos na literatura, foi realizada uma busca nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), no período de 2018 à 2023. Resultados e Discussão: Através desse estudo de revisão ficou evidenciado que a Leptospirose foi uma doença negligenciada durante a pandemia da Covid 19, destacando que a assistência farmacêutica atua ainda na prevenção, orientação dessas doenças, protagonizando ainda como sanitarista. Considerações Finais: Através desse estudo ficou evidenciado que o farmacêutico é tido como um profissional essencial o andamento do tratamento da leptospirose, bem como na prevenção, orientação e aspectos sanitaristas da referida doença.

Palavras-chave: Leptospirose; Tratamento; Diagnóstico.

ABSTRACT

Leptospirosis is an infectious disease caused by the bacteria Leptospira interrogans. General Objective: to understand the challenges and difficulties surrounding the early diagnosis of leptospirosis, as well as the role of the pharmacist. Methodology: This is a descriptive study of the Integrative Literature Review type. To survey articles in the literature, a search was carried out in the following databases: Virtual Health Library (VHL) and MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), from 2018 to 2023. Results and Discussion: Through this review study showed that Leptospirosis was a neglected disease during the Covid 19 pandemic, highlighting that pharmaceutical assistance still acts in the prevention and guidance of these diseases, also playing a leading role in healthcare. Final Considerations: Through this study it was evident that the pharmacist is considered an essential professional in the progress of the treatment of leptospirosis, as well as in the prevention, guidance and health aspects of this disease.

Keywords: Leptospirosis; Treatment; Diagnosis.

1. INTRODUÇÃO

A leptospirose é uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada Leptospira interrogans. É considerada zoonótica e ocorre em todo o mundo, exceto nas regiões polares. São, na sua maioria, áreas subdesenvolvidas onde o saneamento básico é deficiente e a criação de roedores é difícil. Os reservatórios são ratos, cães, gatos, vacas, cavalos, cabras e ovelhas. Animais de estimação vacinados (cães e gatos) também são portadores e podem transmitir a bactéria pela urina (NUNES et al., 2019).

Essa patologia acarreta uma condição clínica grave, que pode se manifestar com lesão renal aguda e hemorragia pulmonar, levando a falência de múltiplos órgãos em cerca de 5 a 15% dos casos. É considerada uma zoonose de distribuição mundial que tem como agente etiológico uma bactéria espiroqueta do gênero leptospira (OLIVEIRA; GUIMARÃES; MEDEIROS, 2009).

Em suas duas fases clínicas a precoce e a tardia, seus sintomas podem ser facilmente confundidos com de algumas viroses e o diagnóstico é muito especifico trazendo dificuldade para o mesmo, tendo tratamentos distintos em suas respectivas fases, e pelo fato de serem consideradas como viroses o uso de antibióticos é isento, fazendo com que haja piora do quadro do paciente (RODRIGUES, 2017).

A doença pode ser transmitida através da urina de animais, água contaminada e alimentos. Os ratos são o principal vetor desta doença em humanos devido à sua abundância nas cidades e perto das pessoas. As bactérias entram através da pele e das membranas mucosas (olhos, nariz e boca). Não há evidências de transmissão entre humanos. No Brasil, as infecções ocorrem principalmente após enchentes devido ao contato com água contaminada com urina de rato (SOARES et al., 2013).

Essa patologia pode ainda ser assintomática. Assim que os sintomas aparecem, a doença pode melhorar naturalmente em 3 a 7 dias, sem sequelas. Os principais sintomas que aparecem em 90% dos pacientes são febre alta acompanhada de calafrios, dor de cabeça e dores musculares. Cerca de 15% dos casos evoluem para uma fase posterior com sintomas graves e fatais, incluindo hemorragia, complicações renais, dormência e coma (RODRIGUES, 2017).

Para prevenir esta doença, evite entrar em águas potencialmente contaminadas (devido a inundações). Melhoraremos o meio ambiente nos subúrbios das grandes cidades, promoveremos a coleta regular de lixo e fortaleceremos o funcionamento das redes de esgoto e drenagem de águas pluviais. Os moradores também podem ajudar evitando que o lixo fique nas ruas, evitando que entre nos bueiros e os obstrua (LIMA et al., 2021).

Dessa forma, nota-se que a leptospirose é uma zoonose de importância mundial, causada por leptospiras patogênicas transmitidas pelo contato com urina de animais infectados ou água e lama contaminadas pela bactéria. Um amplo espectro de animais sinantrópicos, domésticos e selvagens servem como reservatório para a persistência de focos de infecção. No meio urbano, os principais reservatórios são os roedores (especialmente o rato de esgoto); outros reservatórios são os suínos, bovinos, equinos, ovinos e cães (BRASIL, 2009).

O principal motivo que conduziu a escolha dessa temática para elaboração deste projeto foi a crescente preocupação observada atualmente no que diz respeito à elevada incidência da leptospirose e ao diagnóstico tardio (SILVA, et al. 2021). Levantando-se a partir disso o seguinte questionamento: Quais as dificuldades e desafios enfrentados para a determinação do diagnóstico da Leptospirose? De que forma o farmacêutico pode contribuir para o processo de promoção do tratamento adequado da leptospirose?

O objetivos geral desse estudo é compreender os desafios e dificuldades que cercam o diagnostico precoce da leptospirose, bem como o papel do farmacêutico.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo do tipo Revisão de Literatura Integrativa que corresponde às análises de pesquisas importantes que darão suporte aos profissionais de farmácia quanto da tomada de decisão, melhorando a prática clínica, sintetizando o estado do conhecimento e identificando possíveis ausências no conhecimento que merecem a realização de novos estudos no que se refere a leptospirose, as dificuldades diagnósticas e os desafios enfrentados no tratamento dessa patologia (SOUSA, OLIVEIRA, ALVES, 2021).

A elaboração deste estudo seguiu as seis etapas de uma revisão integrativa, sendo: identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa; estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/ categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; interpretação dos resultados; apresentação da revisão/síntese do conhecimento (SOUSA, OLIVEIRA, ALVES, 2021).

Tal revisão parte da coleta de dados realizada a partir de fontes secundárias, por meio de levantamento bibliográfico, tendo a finalidade de reunir e sintetizar conhecimentos recentes pertinentes a Leptospirose e as ações do farmacêutico e seu protagonismo no tratamento adequado.

Para o levantamento dos artigos na literatura, foi realizada uma busca nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), no período de 2018 à 2023.

Foram utilizados, para busca dos artigos, os seguintes descritores e suas combinações nas línguas portuguesa e inglesa: leptospirose; tratamento; diagnóstico. Estes descritores foram extraídos dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).

Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos publicados em português e inglês; artigos disponíveis na íntegra; artigos que retratam a temática abordada e que, portanto, atendessem aos objetivos desta revisão; presentes nas bases de dados selecionadas.

Entre os critérios de exclusão foi considerado os artigos com data de produção e publicação fora do período estabelecido nos últimos 5 anos. Após a busca dos artigos e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, estes foram selecionados, precedendo-se à leitura em aprofundamento afim de extrair as informações necessárias à composição dos resultados e discussão desta revisão.

Por se tratar de um estudo de revisão integrativa, com utilização de informações secundárias, não houve necessidade de submissão do estudo a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com seres humanos para apreciação, porém, procurou-se respeitar todos os princípios da resolução 466 de 2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que trata sobre a temática envolvendo pesquisas com seres humanos. Além disso, procurou-se respeitar todos os princípios relacionados à citação e direitos autorais em referência aos autores nesta revisão utilizados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A estratégia de pesquisa seguiu o fluxograma de seleção de estudos conforme a Figura 1. Após a realização da pesquisa foram encontrados nas bases de dados após o corte temporal de 5 anos o total de 225 estudos, sendo 109 do banco de dados MEDLINE e 116 da BVS, levando em consideração as palavras-chaves mencionadas, sendo 66 excluídos por duplicação, restando 159 estudos. Contudo após análise 104 foram excluídos por estarem fora do tema e dos objetivos do trabalho. Restando 55 artigos para aplicação dos critérios de elegibilidade, dos quais 22 foram excluídos por estarem em outros idiomas e também 18 por serem outros tipos de estudos, resultando em 15 artigos pra análise e confecção de uma tabela com o resumo das principais características relacionadas ao tipo de estudo, métodos, objetivos e conclusões.

Figura 1. Fluxograma da busca de estudos

Fonte: Autores.

Quadro 1- Síntese das ações do farmacêutico na promoção do tratamento da Leptospirose.

AUTORES/ ANOTÍTULOTIPO DE ESTUDOOBJETIVORESULTADOS
Neto, J.W.V.; et al. 2023.Doenças tropicais negligenciadas durante a pandemia da Covid-19.Estudo de revisão exploratória e narrativa da literatura.Descrever as evidências científicas acerca da incidência progressiva de novos casos de doenças tropicais negligenciadas durante o período pandêmico causado pelo Sars-Cov-2.A partir desse estudo ficou evidenciado que a Leptospirose foi uma doença negligenciada durante a pandemia da Covid 19, destacando que a assistência farmacêutica atua ainda na prevenção dessas doenças, além do papel de sanitarista.
Torres, A.S.F.; et al. 2021.A institucionalização da assistência farmacêutica no município de Ananindeua, Pará.Trata-se de uma pesquisa ação, exploratória, descritiva e analítica.Contextualizar a adequação aos marcos regulatórios atuais, os vínculos com os instrumentos de governança, gestão e planejamento, estrutura e organização e ações, atividades e tarefas inerentes ao campo técnico-assistencial e técnico-gerencial da assistênciaNo Pará frente aos casos e leptospirose, o farmacêutico atuou frente a orientação das medicações, uso correto, orientação quanto as doses, efeitos adversos e importância da manutenção do tratamento.
Martins, M.H.M.; Spink, M.J.P. 2020.A leptospirose humana como doença duplamente negligenciada no Brasil.Estudo metodológico, de análise comparativa.Analisar as discrepâncias e lacunas informacionais que produzem uma versão duplamente negligenciada da leptospirose humana na política pública de saúde brasileira.Esse estudo evidência que a leptospirose é uma doença da pobreza, com uma população camuflada pela invisibilidade de dados populacionais, cabendo ao farmacêutico a evidenciação desse doença, a necessidade do tratamento adequado e a maior visibilidade da importância patológica dessa doença.
Marteli, A.N.; Genro, L.V.; Diament, D; et al. 2020.Análise espacial da leptospirose no Brasil.Estudo ecológico retrospectivo.Analisar a distribuição espacial e temporal da leptospirose no período entre 2007 e 2017 no Brasil.Esse estudo demonstrou a incidência de casos prevalentes no Brasil de Leptospirose, evidenciando o farmacêutico como um dos profissionais protagonistas na área da pesquisa epidemiológica de doenças negligenciadas no Brasil.
Melo, D.O.; Castro, L.L.C. 2018.A contribuição do farmacêutico para a promoção do acesso e uso racional de medicamentos essenciais no SUS.Estudo descritivo, transversal.Descrever o processo da inserção do farmacêutico na equipe de uma Unidade Básica de Saúde e os resultados na promoção do acesso e uso racional de medicamentos.A atuação do farmacêutico apresentou resultados estatisticamente significativos na redução da falta de medicamentos; melhora da qualidade da prescrição (com aumento do número de prescrições atendidas); redução do número de medicamentos prescritos entre os pacientes em seguimento farmacoterapêutico; e, no que se refere a leptospirose as recomendações de mudanças na farmacoterapia passaram a ter maior nível de aceitação.

Leptospirose: Fatores de risco e aspectos fisiopatológicos

A leptospirose é uma doença secular de importância mundial que acomete animais e humanos, podendo produzir infecção grave. Animais silvestres e domésticos servem de reservatório. Em área urbana, os roedores sinantrópicos são os principais reservatórios, cães e animais de produção também são considerados reservatórios importantes. O homem é considerado hospedeiro acidental e terminal dentro da cadeia de transmissão (ADLER, 2015).

É uma doença zoonótica causada por microrganismos do gênero Leptospira, espiroquetas aeróbias obrigatórias de duas espécies, L. interrogans (patogênica) e L. biflexa (não patogênica e saprofítica), amplamente distribuídas mundialmente. O complexo L. interrogans consiste em 23 sorogrupos e aproximadamente 210 sorovariantes. Mesmo o mesmo sorotipo pode causar sintomas clínicos diferentes (HAAK; LEVETT, 2015).

A patogênese da leptospirose humana ainda é pouco conhecida, sua transmissão para seres humanos ocorre de modo acidental por intermédio da urina de animais contaminados por uma bactéria e, embora tenha sido caracterizada historicamente como uma doença rural, atinge hoje cada vez mais as populações urbanas. Essa enfermidade está relacionada tanto a condições comportamentais como socioambientais e é recorrente em áreas pobres, com altos índices de desigualdade social, de países em desenvolvimento, causando grandes perdas sociais e econômicas (MARTINS; SPINK, 2020).

Os estágios iniciais da leptospirose são caracterizados por febre, dor de cabeça, dores musculares, anorexia, náuseas e vômitos, que ocorrem em 90% dos casos, semelhante a outras doenças febris agudas. Esta fase tende a progredir espontaneamente durante 3 a 7 dias sem quaisquer consequências. Em cerca de 15% dos casos, a leptospirose progride para fases posteriores da doença, causando sintomas graves e potencialmente fatais (GONCALVES et al. 2016).

O período de incubação até o surgimento dos sintomas é de 15 dias em média. As manifestações clínicas da leptospirose podem ser classificadas da seguinte forma: (I) doença febril ácida limitada (85%-90% dos casos), (II) doença de Weil caracterizada por miocardite com icterícia, insuficiência renal, hemorragia e arritmias. 10%)). % casos), (III) meningite/meningoencefalite e (IV) hemorragia pulmonar com insuficiência respiratória. O curso clínico da doença pode ser dividido em duas fases, a fase inicial dura de 3 a 7 dias. Os indivíduos apresentam febre alta, calafrios, fortes dores de cabeça e, posteriormente, desenvolvem anorexia, diarreia, náuseas, vômitos, coma, além de dores musculares mais pronunciadas na região da panturrilha. A febre é de 38-39°C e desaparece 4-7 dias após o início dos sintomas. Nesta fase é possível isolar a Leptospira do sangue. Em alguns casos (cerca de 20%), os sintomas reaparecem após 1 a 3 dias e inicia-se a fase imunológica da doença, que dura de 4 a 30 dias. Nesta fase podem ocorrer sintomas mais graves, como meningite ou uveíte. Os anticorpos IgM são geralmente detectados nesta fase, e a gravidade da leptospirose está relacionada com a força da resposta imune humoral do hospedeiro (SCHNEIDER, et al. 2015)

A leptospirose é uma patologia classificada como uma vasculite infecciosa. Nas formas graves, os pacientes podem apresentar alterações hemodinâmicas devido à diminuição do volume sanguíneo devido à desidratação e à exposição direta a toxinas que danificam o endotélio vascular e aumentam sua permeabilidade (MARTINS; SPINK, 2020).

O envolvimento renal na leptospirose pode variar desde um curso assintomático com proteinúria leve e alterações no sedimento urinário até LRA grave. Glóbulos brancos e glóbulos vermelhos podem ser vistos no sedimento urinário. Se houver proteinúria, geralmente é inferior a 1 g/24h. Pigmentos biliares e cilindros granulares também podem ser observados (GONCALVES et al. 2016).

A insuficiência renal aguda geralmente se apresenta com elevações rápidas da uréia e da creatinina séricas e pode estar associada à icterícia. A insuficiência renal em pacientes com hiperbilirrubinemia é grave e frequentemente acompanhada de oligoúria. A insuficiência renal aguda por leptospirose é tipicamente não oligúrica e apresenta hipocalemia, que pode ser encontrada em 41% a 45% dos pacientes com insuficiência renal aguda relacionada à leptospirose (MARTINS; SPINK, 2020).

A disfunção tubular, especialmente dos túbulos proximais, é muito comum mesmo na ausência de insuficiência renal aguda. Alterações como bicarcinúria, diabetes mellitus, diminuição da reabsorção proximal de sódio e da excreção de ácido úrico e fósforo têm sido observadas e deficiências de concentração urinária podem persistir por muito tempo (SCHNEIDER, et al. 2015).

A hipocalemia é comum na leptospirose por insuficiência renal aguda e é observada em 45% a 74% dos pacientes durante a hospitalização, com 80% necessitando de suplementação intravenosa de potássio. Na leptospirose por insuficiência renal aguda, a hipercalemia geralmente não ocorre, mesmo em pacientes com oligúria. A hipocalemia é o achado laboratorial mais característico na leptospirose com a insuficiência renal aguda, por leptospirose geralmente não é oligúrica e se apresenta com hipocalemia em 45% dos casos. Portanto, a leptospirose da insuficiência renal aguda é caracterizada por normocalemia ou hipocalemia, independentemente da gravidade, hipercatabolismo, rabdomiólise, acidose e oligúria. Esta é uma característica importante da leptospirose insuficiência renal aguda no momento do diagnóstico (ADLER, 2015).

Os dados epidemiológicos da leptospirose e as dificuldades relacionadas ao diagnóstico precoce da doença

O principal reservatório da Leptospira são os roedores, principalmente nas áreas urbanas. A transmissão aos seres humanos ocorre através do contato direto com sangue, tecidos, órgãos ou urina de animais infectados, ou indiretamente quando membranas mucosas ou pele danificadas entram em contato com água contaminada. É endêmico em regiões tropicais, com surtos ocorrendo durante a estação chuvosa, que coincide com áreas inundadas. A incidência da leptospirose está aumentando em alguns países endêmicos. Por exemplo, na Tailândia, o número de incidentes notificados aumentou 30 vezes entre 1995 e 2000. Segundo dados do Ministério da Saúde do Brasil, foram notificados 33.174 casos de leptospirose entre 1996 e 2005 e 1.547 em 2007, a maioria deles na região Sul (45,7%) (CLOSS; MICHELON, 2020).

No Brasil, a leptospirose é endêmica, com média de 13 mil casos notificados anualmente, dos quais 3,5 mil são confirmados, com mortalidade média de 10,8%. O surto de doenças infecciosas parece estar relacionado a questões ambientais, como estação chuvosa, inundações e inundações. Afeta principalmente homens, residentes urbanos e suburbanos, grupos etários menos escolarizados e economicamente activos (MARTINS; SPINK, 2020).

A cidade de Belém é uma grande área urbana a menos de 4 metros acima do nível do mar, que é afetada pelas marés e tem dificuldade de escoar as águas pluviais. Esta área é chamada de “Varíz de Belém”. As bacias dos rios Guam, Guajará e Marajó são feições geográficas importantes na sua formação. O clima é quente e úmido com precipitação média anual de 2.834 mm, características que mudaram nas últimas décadas devido à ocorrência de padrões climáticos incluindo El Niño e La Niña. A temperatura média em fevereiro é de 25°C e em novembro de 26°C, condições ideais para que os patógenos permaneçam suspensos e infecciosos na água por até seis meses, em média, na ausência de inverno (GONCALVES et al. 2016).

O índice de desenvolvimento humano (IDHM) do município de Belém é de 0,746, a taxa de alfabetização é de 94,82%, a renda per capita do município é de R$ 853,82 e a taxa de pobreza populacional é de 18,2%, portanto é necessário o uso de variáveis socioeconômicas. Compreender o processo patológico de doenças causadas por fatores sociais, como a leptospirose (GONCALVES et al. 2016).

Nos países desenvolvidos, casos de leptospirose relacionados a insuficiência renal aguda são raros. No entanto, em países tropicais onde a leptospirose é endêmica, esta é uma causa importante. A incidência de insuficiência renal aguda varia de 10 a 60% dependendo da gravidade da doença, idade e definição. Em alguns países, como Tailândia e Singapura, a leptospirose é responsável por mais de 20% dos casos. No estado brasileiro de São Paulo, 7.374 casos foram notificados nos últimos 10 anos, representando 22,3% de todos os casos no Brasil. Dos 6.777 casos graves de insuficiência renal aguda atendidos no mesmo período, apenas 60 tiveram leptospirose nos hospitais paulistas, com prevalência de 0,89%. Essa taxa também pode ser observada em hospitais similares em países desenvolvidos (SILVA, et al. 2022).

O diagnóstico é baseado no quadro clínico e dados epidemiológicos e é confirmado por exames laboratoriais. O diagnóstico clínico pode ser difícil se for confundido com dengue, febre hemorrágica por hantavírus, meningite viral ou bacteriana, malária ou hepatite viral. A hipocalemia, um achado precoce e marca registrada da leptospirose, pode indicar o diagnóstico. O diagnóstico confirmatório é possível através do isolamento da Leptospira, mas este método é difícil devido ao longo período de cultura e, em muitos casos, apenas o diagnóstico retrospectivo é possível. A detecção de anticorpos IgM por ensaio imunoenzimático (ELISA) é altamente sensível e específica (ambos aproximadamente 90%). Porém, apresenta menor sensibilidade (39% a 72%) na fase aguda (HAAK; LEVETT, 2015).

A reação em cadeia da polimerase (PCR) é sensível nas fases iniciais, mas seu alto custo e a necessidade de alto controle de qualidade são os maiores desafios para sua aplicação. O método laboratorial mais utilizado para o diagnóstico da leptospirose é o teste de aglutinação microscópica (MAT), realizado em duas amostras de sangue colhidas com intervalo de duas semanas. O resultado é considerado positivo se o título de anticorpos for quatro vezes superior ao valor de corte. Um estudo recente da Sociedade Internacional de Leptospirose sobre sua eficácia encontrou uma taxa de falsos negativos de 13% (MARTINS; SPINK, 2020).

As principais ações farmacêuticas no processo de promoção do tratamento adequado da leptospirose

Através do estudo de revisão exploratória e narrativa da literatura acerca das doenças tropicais negligenciadas durante a pandemia da Covid-19, ficou evidenciado que a Leptospirose foi uma doença negligenciada durante a pandemia da Covid 19, destacando que a assistência farmacêutica atua ainda na prevenção dessas doenças, protagonizando ainda como sanitarista (NETO et al., 2023).

Por meio da pesquisa realizada por Torres et al. (2021), na modalidade exploratória, descritiva e analítica, acerca da institucionalização da assistência farmacêutica no município de Ananindeua, no Pará, frente aos casos de leptospirose, o farmacêutico atuou frente a orientação das medicações, uso correto, orientação quanto as doses, efeitos adversos e importância da manutenção do tratamento.

Ficou evidenciado ainda por um estudo metodológico, de análise comparativa, acerca da leptospirose humana como doença duplamente negligenciada no Brasil, que a leptospirose é uma doença da pobreza, com uma população camuflada pela invisibilidade de dados populacionais, cabendo ao farmacêutico a evidenciação dessa doença, a necessidade do tratamento adequado e a maior visibilidade da importância patológica dessa doença (MARTINS; SPINK, 2020).

Segundo o estudo ecológico retrospectivo de análise espacial da leptospirose no Brasil, acerca da incidência de casos prevalentes no Brasil de Leptospirose, evidenciou o farmacêutico como um dos profissionais protagonistas na área da pesquisa epidemiológica de doenças negligenciadas no Brasil (MARTELI et al., 2020). Em complemento ao citado, Melo e Castro (2018), por meio de um estudo descritivo, transversal, evidenciou o farmacêutico com resultados estatisticamente significativos na redução da falta de medicamentos; melhora da qualidade da prescrição (com aumento do número de prescrições atendidas); redução do número de medicamentos prescritos entre os pacientes em seguimento farmacoterapêutico; e, no que se refere a leptospirose as recomendações de mudanças na farmacoterapia passaram a ter maior nível de aceitação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desse estudo ficou evidenciado que o farmacêutico é tido como um profissional essencial o andamento do tratamento da leptospirose, bem como na prevenção, orientação e aspectos sanitaristas da referida doença.

REFERÊNCIAS

ADLER, B. editor. Leptospira and Leptospirosis [Internet]. Berlin, Heidelberg: Springer Berlin Heidelberg; 2015 [cited 2023 May 7]. Current Topics in Microbiology and Immunology; vol. 387.

CLOSS, F.K.; MICHELON, C. Impactos socioambientais da fumicultura no município de Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, Brasil: revisão bibliográfica. Revista Meio Ambiente e Sustentabilidade [Internet]. 2020 Jul 28;9(18).

DAHER, E.F.; ABREU, K.L.S.; JUNIOR, G.B.S.; Insuficiência renal aguda associada à leptospirose. Artigos de Atualização, Braz. J. Nephrol. 32 (4), Dez 2010.

DE SOUZA, Amanda Alves Tavares et al. Variação sazonal e aspectos clínico- epidemiológicos da leptospirose humana na cidade de Itaperuna-RJ. Acta Biomedica Brasiliensia, v. 4, n. 1, p. 49-56, 2013.

GONCALVES, N.V.; et al. Distribuição espaço-temporal da leptospirose e fatores de risco em Belém, Pará, Brasil. Temas Livres, Ciênc. saúde colet. 21 (12), Dez 2016.

HAAKE, D.A; LEVETT, P.N. Leptospirosis in Humans. Curr Top Microbiol Immunol [Internet]. 2015 [cited 2023 May 27];387:65–97.

LIMA, A. dos S.; et al. Estudo comparativo dos efeitos dos antibióticos penicilina G, doxiciclina e ceftriaxona em tratamento das diferentes formas de leptospirose / Comparative study of the  effects of  the antibiotics penicillin G, doxycycline  and ceftriaxone in the treatment of different forms of leptospirosis. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 4, n. 5, p. 20291–20305, 2021.

MARTELI, A.N.; GENRO, L.V.; Diament, D; et al. Análise espacial da leptospirose no Brasil. Saúde debate, Rio de Janeiro, V. 44, N. 126, P. 805-817, JUL-SET 2020.

MARTINS, M.H.D.M.; SPINK, M.J.P. A leptospirose humana como doença duplamente negligenciada no Brasil. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2020 Mar [cited 2023 May 27];25(3):919–28.

MELO, D.O.; CASTRO, L.L.C. A contribuição do farmacêutico para a promoção do acesso e uso racional de medicamentos essenciais no SUS. Ciência & Saúde Coletiva, 22(1):235-244, 2018.

NETO, J.W.V.; et al. Doenças tropicais negligenciadas durante a pandemia da Covid-19. Editora Epitaya, Rio de Janeiro-RJ, ISBN978-65-87809-90-8, 2023.

OLIVEIRA, D. S. C. de; GUIMARÃES, M. J. B.; MEDEIROS, Z. Modelo produtivo para a Leptospirose. Revista de Patologia Tropical / Journal of Tropical Pathology, Goiânia, v. 38, n. 1, p. 17–26, 2009.

PELISSARI, D.M.; et al . Revisão sistemática dos fatores associados à leptospirose no Brasil, 2000-2009. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 20, n. 4, p. 565-574, dez. 2011.

RODRIGUES, C.M. O círculo vicioso da negligência da leptospirose no Brasil. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 76. 2017. p. 1-11.

SCHNEIDER, M.C.; et al. Leptospirosis in Rio Grande do Sul, Brazil: An Ecosystem Approach in the Animal-Human Interface. Vinetz JM, editor. PLoS Negl Trop Dis [Internet]. 2015 Nov 12 [cited 2023 Mar 22];9(11):e0004095.

SILVA, A.E.P.; et al. Tendência temporal da leptospirose e sua associação com variáveis climáticas e ambientais em Santa Catarina, Brasil. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2022 Mar [cited 2023 Mar 22];27(3):849–60.

TORRES, A.S.F.; et al. A institucionalização da assistência farmacêutica no município de Ananindeua, Pará. Research, Society and Development, v. 10, n. 14, e576101422368, 2021.


¹Graduando do curso de Farmácia da Universidade Nilton Lins. E-mail: Adrianoabreu35@gmail.com
2Especialista em Docência Superior – ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8552-3278