LEITURA FÁCIL: DESCOMPLEXIFICANDO O TEXTO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11660137


Janete Inês Müller1
Márcia Denise Dias e Silva2


Resumo: Este artigo aborda a Leitura Fácil como uma ferramenta essencial para promover a inclusão educacional de estudantes com deficiências. A pesquisa tem como objetivo mapear estudos sobre essa técnica, destacando sua aplicação na adaptação textual, diagramação e inclusão de ilustrações para acessibilizar o conteúdo a todos. A metodologia envolve revisão bibliográfica, explorando manuais, artigos e contos adaptados em Leitura Fácil. Os resultados indicam uma crescente visibilidade da técnica desde 2018, com materiais online e publicações, demonstrando seu potencial na promoção da inclusão, de modo a não infantilizar o conteúdo dos textos. Conclui-se que a Leitura Fácil é crucial para uma educação inclusiva, capacitando os estudantes a atingirem seu pleno potencial. No entanto, destaca-se a necessidade de maior divulgação e capacitação dos professores para sua implementação eficaz nas escolas.

Palavras-chave: Leitura Fácil. Inclusão educacional. Adaptação textual. Acessibilidade. 

Abstract: This article addresses Easy Reading as an essential tool to promote the educational inclusion of students with disabilities. The research aims to map studies on this technique, highlighting its application in textual adaptation, layout and inclusion of illustrations to make content accessible to everyone. The methodology involves a bibliographic review, exploring manuals, articles and short stories adapted in Easy Reading. The results indicate a growing visibility of the technique since 2018, with online materials and publications, demonstrating its potential in promoting inclusion without infantilizing the content. It is concluded that Easy Reading is crucial for inclusive education, enabling students to reach their full potential. However, the need for greater dissemination and training of teachers stands out for its effective implementation in schools.

KeyWords: Easy Reading. Educational inclusion. Textual adaptation. Accessibility. 

1 PALAVRAS INTRODUTÓRIAS

É por meio da linguagem que os seres humanos interagem com o ambiente e com os outros sujeitos, expressam seus sentimentos e constroem pensamentos. Por isso, é extremamente necessário o domínio do código linguístico, pois a linguagem é um dos campos de luta pela inclusão. 

Profissionais da educação atuam com os mais diversos sujeitos e, por isso, é imprescindível adaptar as metodologias para efetivar os processos de inclusão de todos os estudantes em sala de aula. Em algumas situações, encontram-se poucos materiais que possam ajudar no trabalho com o conteúdo de forma clara e de fácil compreensão para o aprendiz. Para o atendimento de estudantes com deficiência, geralmente, encontram-se atividades infantilizadas, o que acaba gerando insatisfação, tanto para o estudante quanto para o professor. 

Desse modo, este trabalho, que tematiza a técnica de Leitura Fácil, busca facilitar a compreensão leitora por meio de estratégias como a adaptação de texto, a ilustração e a diagramação, enriquecendo a discussão sobre material adaptado e contribuindo para a melhoria do aprendizado escolar. Essa técnica, por ser extremamente relevante, deveria ser mais divulgada, além de mais implementada nas escolas, pois existem muitas crianças e jovens com dificuldades na aprendizagem da leitura, e muitos professores não estão capacitados para esta demanda. 

Nessa perspectiva, objetiva-se mapear e investigar os estudos realizados sobre a técnica de Leitura Fácil, para compreender seus usos nos processos escolares de descomplexificação de textos. São objetivos específicos deste trabalho: aprofundar conhecimentos acerca da técnica de Leitura Fácil e suas contribuições aos estudantes com deficiências; e socializar modos de auxiliar estudantes com necessidades específicas, considerando suas dificuldades relacionadas à compreensão leitora.

Na seção seguinte, há discussões teóricas sobre a Leitura Fácil, considerando as pesquisas realizadas em textos acadêmicos e materiais existentes para a aplicação da técnica. 

2   LEITURA FÁCIL

A Leitura Fácil é um modo de escrita criado na Suécia, nos anos 60, que compreende a adaptação textual, diagramação e inclusão de ilustrações. Amplamente divulgada na Europa, é destinada a sujeitos cuja capacidade de compreensão leitora se encontra limitada. Conforme Santos, Cruz e Baião (2019), Leitura Fácil compreende uma forma de elaborar ou adaptar textos seguindo as diretrizes da International Federation of Library Associations and Institutions[3] (IFLA), a fim de que as informações possam ser compreendidas por qualquer pessoa, independentemente de suas capacidades cognitivas ou linguísticas.

É uma técnica de adaptação que leva em consideração, de igual maneira, o conteúdo, a língua e a forma que esse texto vai ser apresentado, ou seja, os três pilares são muito importantes. Em se tratando de língua, preocupa-se com o sentido das palavras e das orações. No plano dos vocábulos, procuram-se outros que sejam mais usuais, frequentes e curtos. Além disso, privilegiam-se orações mais simples, que não sejam encadeadas. Essa técnica vem para facilitar a leitura por parte do estudante iniciante ou com dificuldades, eliminando algumas barreiras, além de contribuir para o desenvolvimento de suas habilidades de interpretação. 

O Instituto Federal Sul-Rio-Grandense – IFSul Câmpus Sapucaia do Sul criou, em colaboração com o Câmpus Camaquã, no segundo semestre de 2020, o programa Literatura Fácil, que inclui uma série de ações voltadas à adaptação literária em para estudantes e pessoas com dificuldades de compreensão leitora. Sobre a Leitura Fácil, no site Literatura acessível[4], lê-se:

A leitura fácil é um modo de escrita que facilita a compreensão e contribui para conseguir mais equidade em sociedades caracterizadas por esta diversidade, pois compreende que a linguagem é um dos campos de luta pela inclusão. Ela pode ser utilizada para adaptação de textos informativos, expositivos e literários (especialmente a prosa), o que a diferencia de outros métodos, como a Linguagem Simples, que se destina apenas a adaptar textos informativos ou expositivos, por exemplo. 

É importante que os professores possam se atualizar sobre as técnicas de ensino que visam incluir esses estudantes, e a Leitura Fácil apresenta-se como uma nova possibilidade. Isso porque, comumente, os materiais encontrados para adolescentes com deficiência são atividades muito infantilizadas, que acabam por não despertar a atenção deles. 

Tendo isso em mente, atender esse público com qualidade é uma exigência posta e que desafia práticas pedagógicas inclusivas no Ensino Médio. Como nessa etapa os estudantes são adolescentes ou jovens adultos, é importante não os infantilizar nas atividades que lhes são propostas, mas também não se podem negligenciar suas dificuldades de aprendizagem, em especial as daqueles com deficiência intelectual e/ou com transtorno do espectro autista. (PIRES; TREVISAN, 2020, p. 4)

Além disso, os textos produzidos e distribuídos nos livros didáticos não são pensados para estudantes com deficiência e/ou transtorno do espectro autista, por exemplo; em geral, são preparados pensando que todos os estudantes estão no mesmo nível de aprendizagem, o que não condiz com a realidade escolar. 

Também são proporcionalmente essenciais projetos que resultem na elaboração de materiais literários, pois, muitas vezes, o único tipo de obra literária acessível a esse público são os livros infanto-juvenis, que não correspondem à sua realidade nem ao objetivo da educação de tornar nossos estudantes cidadãos autônomos e plenos em seus direitos e deveres. (PIRES; TREVISAN, 2020, p. 12).

                   Além disso, a Leitura Fácil

[…] é um importante instrumento de acessibilidade cognitiva para pessoas com DI [5] e outras dificuldades de compreensão em leitura. Com o objetivo de simplificar a linguagem, ela pode ser utilizada para fins didáticos e literários, por possuir um conjunto maior de diretrizes de adaptação textual que envolve tanto o texto como a ilustração e a diagramação. Essa técnica também permite a adaptação de textos literários em prosa. (PIRES, SCHERER e

MACHADO, 2021, p. 3)

Utilizando a técnica de Leitura Fácil, é possível contribuir para a democratização das informações para estudantes com dificuldades, possibilitando que a mesma atividade possa ser realizada por todos de forma igualitária, pois se torna mais acessível, promovendo o letramento e favorecendo o processo de aprendizagem.

Historicamente as pessoas com deficiência intelectual passaram por muitos estigmas e preconceitos que podem ser observados na própria nomenclatura utilizada para denominar tais sujeitos (retardado, incapacitado, debilitado, louco, dentre outras). Todas essas expressões trazidas em documentos científicos e legais apontam para um posicionamento acerca da sociedade e as compreensões sobre esses indivíduos. Apenas mais recentemente, a deficiência intelectual tem sido abordada em termos científicos, a partir de um desenvolvimento neurológico deficitário que envolve prejuízos cognitivos (funções intelectuais) e prejuízos adaptativos (funções sociais, emocionais e práticas). Mesmo que não seja possível uma reversão completa, é importante atentar que avanços escolares significativos são possíveis através de estratégias pedagógicas adequadas, considerando as peculiaridades do quadro da deficiência e a individualidade de cada sujeito. (SANTOS, 2012; apud PIRES, SCHERER e MACHADO, 2021, p. 2)

Existem algumas orientações para adaptação dos textos em Leitura Fácil.

Dentre os critérios de redação acessível, destacam-se o uso de vocabulário simples e de fácil compreensão, com objetividade, evitando metáforas e o uso dos sinônimos nas referências textuais (como, por exemplo, o uso dos vocábulos aluno, estudante, pupilo, em um mesmo texto curto). Em relação à diagramação, podemos citar como exemplos os seguintes critérios: utilizar o mesmo tipo de letra em todo o texto, evitar fontes manuscritas e eleger aquelas que são sem serifas, como Arial. (SANTOS, CRUZ e BAIÃO, 2019, p. 117)

Na técnica de Leitura Fácil, o adaptador tem um papel muito importante: respeitar as características próprias do autor original da obra. Não se trata de criar uma nova história ou infantilizar a leitura, mas, sim, manter a atmosfera criada na obra original, para possibilitar a mesma fruição às pessoas que apresentam dificuldades de leitura e de compreensão textual. 

Institucionalmente, concebe-se que o adaptador não é apenas um profissional que “atualiza” a linguagem de uma obra, mas que também assumiria, parcialmente, o lugar discursivo reservado ao “autor”. Em outros termos, com frequência pressupõe-se que a narrativa, em uma adaptação, seja “compartilhada” entre autor original e o adaptador- “autor”, que a

“reconta” conferindo um “toque” especial à narrativa. (AMORIM, 2015, p. 21)

Machado e Pires (2021) também explicam a importância do adaptador dentro da técnica de Leitura Fácil:

[…] é de suma importância que o adaptador conheça seu público, para que possa fazer uma adaptação adequada, levando em consideração as dificuldades que podem apresentar os seus leitores, como dificuldades de memória, atenção, desconhecimento de variedades linguísticas ou conhecimento prévio sobre o tema. Também se espera que o adaptador respeite as características próprias do autor original da obra, e procure manter a atmosfera criada por este, na obra adaptada.  

 O adaptador deve pensar na hierarquia das informações dentro do texto, para que consiga manter aquilo que é mais importante. Dessa forma, vai ser possibilitado ao leitor obter uma melhor compreensão do texto; também dará a oportunidade de produzir inferências, pois o texto vai ser reorganizado de uma forma que faz mais sentido para o leitor. Segundo Pires e Trevisan (2020), a adaptação dos textos literários teve como objetivo torná-los adequados para pessoas com deficiência, tendo em vista o direito delas de serem incluídas em práticas culturais e de ensino.

Embora a ilustração tenha a ideia de trazer beleza ao texto, na técnica de Leitura Fácil, ela tem a importante função de agregar informações a ele e de auxiliar o estudante na compreensão leitora; por isso, ela deve ser formulada e bem pensada, para estar em conformidade com o texto original. Nem sempre a utilização de recursos imagéticos contribui na leitura, pois, para que a imagem tenha significado, ela deve estar diretamente ligada àquilo que está descrito no texto.  

Em um livro comum, a ilustração é conceituada como “desenho, gravura, imagem que acompanha um texto”, ou seja, grande parte das ilustrações em textos não adaptados representam as cenas da história apenas como complemento de embelezamento da obra, diferente da proposta de usá-la como uma ferramenta de compreensão da narrativa em que, além do embelezamento, é recomendável usar estilos que chamem a atenção do leitor para que ele compreenda os elementos descritos no momento da adaptação.(DAGOSTIM, CARDOZO e KEMPER, 2020, p. 3)

Pensando na importância da adaptação, Pires e Trevisan (2020) entendem que tornar textos literários acessíveis às pessoas com deficiência intelectual e Transtorno do Espectro Autista (TEA) é permitir a elas a construção de um letramento literário autônomo, garantindo-lhes a aproximação a obras adequadas às suas necessidades, mas sem privá-las de atividades educacionais, culturais e próprias do exercício da cidadania. 

A adaptação de textos para estudantes com dificuldades de aprendizagem desempenha um papel crucial na promoção da equidade e inclusão educacional. Cada aluno é único em suas necessidades e capacidades de aprendizado, e é fundamental que o ambiente educacional seja flexível o suficiente para acomodar essa diversidade. Através da adaptação de materiais e textos, com a técnica de Leitura Fácil, os educadores podem oferecer suporte individualizado, tornando o conteúdo mais acessível e compreensível para estudantes que enfrentam desafios na leitura, compreensão ou processamento de informações. 

Essa prática não apenas melhora a experiência de aprendizado dos estudantes, como também fortalece a autoestima e a confiança em suas habilidades acadêmicas, capacitando-os a alcançar seu pleno potencial. Nesse contexto, a adaptação de textos emerge como uma ferramenta essencial para construir uma educação inclusiva e igualitária, na qual todos os estudantes tenham a oportunidade de aprender.

3 CAMINHOS DE PESQUISA

Nas últimas décadas, no cenário educacional brasileiro, muito se tem discutido sobre a inclusão escolar de alunos com deficiências. A legislação atual garante o acesso desses estudantes à Escola, independentemente de sua condição, além do acesso ao atendimento educacional especializado para a sua deficiência. Nem todas as escolas oferecem uma sala de AEE (Atendimento Educacional Especializado), na qual são desenvolvidas atividades específicas que potencializam o desenvolvimento desse estudante.  Para que isso aconteça, cabe ressaltar a importância do vínculo entre o profissional de AEE e o estudante, e de o professor conhecer cada estudante na sua singularidade.

A técnica de Leitura Fácil se destaca com uma ferramenta valiosa para promover a inclusão desses estudantes, pois torna o conteúdo mais acessível às diferentes necessidades de aprendizado, como as deficiências cognitivas, dislexia, TEA e outras condições que afetam a leitura e compreensão. Além disso, a técnica permite que os estudantes processem e assimilem as informações de forma mais eficaz. Dessa forma, ela promove a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento acadêmico e social desses alunos, permitindo que eles alcancem o seu potencial máximo. 

Nesse contexto, este trabalho é, metodologicamente, constituído por meio de uma revisão bibliográfica de livros, periódicos, artigos científicos impressos e virtuais.  A pesquisa bibliográfica, segundo Cervo e Bervian (1996), procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. Também busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. Este trabalho caracteriza-se também como uma pesquisa de natureza exploratória, visando proporcionar uma maior familiaridade com a temática apresentada.  

Após a leitura informativa, são selecionados alguns materiais sobre o uso da técnica de Leitura Fácil. Essa pesquisa foi realizada, nos meses de março e abril de 2023, nos portais educacionais por meio de busca por palavras-chaves que se relacionassem com o tema. As palavras-chave utilizadas na pesquisa foram: “Leitura Fácil adaptação”, “Leitura Fácil”, “Contos adaptados em Leitura Fácil”, “Diferença entre Linguagem Fácil e Leitura Fácil”. As bases de dados utilizadas foram o Portal Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Editora

Realize, Enierpt (Encontro Nacional sobre Inclusão Escolar da Rede Profissional Tecnológica), o site Literatura Acessível, a Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), a Revista Transmutare, a Unespar (Universidade Estadual do Paraná), e a Ufpel (Universidade Federal de Pelotas), nos quais foram encontrados alguns artigos e publicações sobre o tema. Já no site Lengua Franca foram encontrados cinco contos adaptados em Leitura Fácil; e, na página do IFSul (Instituto Federal Sul-RioGrandense) Sapucaia, foram localizados dois contos adaptados. No site da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi encontrada uma monografia sobre o tema. Por isso, esta pesquisa tem o caráter predominantemente qualitativo, método que permite compreender e interpretar determinados comportamentos dos indivíduos em sociedade.

A partir da leitura dos textos localizados, foi elaborada uma planilha na qual são consideradas a base de dados que foi utilizada para a pesquisa, incluindo o ano, o título e autoria da publicação, bem como um resumo e o link de publicação, desenvolvendo-se uma análise desses textos investigados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Apesar da técnica da Leitura Fácil não ser tão recente, somente a partir do ano de 2018, foram encontrados mais materiais sobre o tema no Brasil. O tipo localizado de maior recorrência são artigos acadêmicos, sendo que a maioria deles são de uma mesma autora, do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense, Campus Sapucaia do Sul, que se dedica à  pesquisa do tema: a professora Vanessa de Oliveira Dagostim Pires[6]. Dentre esses materiais, a maioria encontra-se no meio virtual, em formato de publicações, sendo que não foi encontrado nenhum material impresso disponível sobre o tema.

Nesta pesquisa, foram encontrados alguns manuais que orientam como realizar a adaptação de textos em Leitura Fácil. Além disso, foram pesquisados alguns contos adaptados, mas que estão disponíveis apenas no formato virtual, não tendo nenhuma versão impressa disponível. Um deles, intitulado “A missa do Galo”, originalmente de Machado de Assis, foi disponibilizado no site do projeto Literatura Acessível, criado pelo IFSul de Sapucaia do Sul. Na obra, as autoras fazem uso da técnica de Leitura Fácil de forma exemplar, facilitando a compreensão em leitura e utilizando imagens, não apenas como forma de divulgar a obra, mas, sim, para auxiliar na compreensão do aluno. 

A Associação Civil Lengua Franca, de Buenos Aires, trabalha pelo direito à comunicação. Preocupados com a situação de que muitas pessoas não conseguem entender o que os outros escrevem ou dizem, resolveram produzir e adaptar textos informativos, educativos e literários em Leitura Fácil, para que sejam acessíveis a todas as pessoas, os quais estão disponibilizados na internet. A Instituição realiza a adaptação de contos argentinos. A coleção se chama “Cinco contos de leitura fácil” e tem contos de Roberto Arlt, Jorge Luis Borges, Sara Gallardo, Angélica Gorodischer, Leopoldo Lugones, Manuel Mujica Lainez, Silvina Ocampo, Rodolfo Walsh, entre outros. Além desse trabalho de adaptação de contos, todos de escritores argentinos, a Associação Lengua Franca também oferece cursos de redação em Leitura Fácil, além de supervisionar trabalhos de adaptação, promovendo a dinamização de clubes de leitura. 

Em geral, os materiais encontrados possuem distribuição gratuita, com livre acesso nas plataformas de busca. Foram encontrados três manuais da técnica de Leitura Fácil. Na plataforma Capes, encontramos o “Guia de adaptação de textos em Leitura Fácil”, publicado em 2018, que faz uma análise do material didático distribuído pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, utilizando critérios de acessibilidade textual para leitores iniciantes ou com dificuldades de aprendizagem. O material foi criado por professores da rede com o objetivo de elaborar um guia para elaboração de textos acessíveis em Leitura Fácil, para leitores iniciantes ou estudantes com dificuldades no processo de alfabetização e letramento. 

Em 2021, a Editora Realize também publicou o “Manual de Leitura Fácil em Língua Portuguesa para educadores”, com o objetivo de elaborar um manual para que os educadores pudessem realizar adaptações de textos didáticos e literários. No mesmo ano, no Encontro Nacional sobre Inclusão Escolar da Rede Profissional Tecnológica (Enierpt), foi publicado um artigo intitulado “Um manual de Leitura Fácil para educadores”, com a intenção de criar um manual para a orientação sobre o uso e publicização da técnica de Leitura Fácil, especialmente para os profissionais da educação. 

Tendo em vista a produção de materiais em Leitura Fácil, foi encontrado um artigo sobre a ilustração, que se intitula “A ilustração na adaptação para a Leitura Fácil do conto “Missa do Galo” de Machado de Assis”, o qual analisa a aplicação da técnica da Leitura Fácil na adaptação de textos literários, mais especificamente do conto “Missa do Galo”, de Machado de Assis. 

Sobre os textos acadêmicos voltados de forma mais específica para as deficiências, encontramos o artigo do ano de 2020, da Revista Transmutare,  intitulado “Adaptação literária para pessoas com deficiência intelectual e pessoas com transtorno do espectro autista no ensino técnico integrado”. Neste, apresenta-se o trabalho de adaptação de textos literários para pessoas com deficiência intelectual e/ou transtorno do espectro autista, realizado através de um projeto de ensino, no laboratório da Sala de Recursos Multifuncionais do Câmpus Sapucaia do Sul do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul). 

Além disso, foi localizado um artigo do ano de 2019, publicado no repositório da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), intitulado “Descrição e análise de uma oficina de adaptação textual em Leitura Fácil: ampliando o conceito de acessibilidade”, que tem o objetivo de analisar e descrever a realização de uma oficina para professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, do Rio de Janeiro, sobre adaptação de textos, utilizando como parâmetro o “Guia de Adaptação de Textos em Leitura Fácil”.

Já no artigo publicado em 2020, na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), intitulado “Só é acessível se der para entender”, faz-se uma diferenciação entre a Linguagem Simples e a Leitura Fácil, além de exemplificar também a importância da utilização da Linguagem Simples em órgãos públicos. 

Além dos manuais e artigos, foi investigada uma monografia sobre o assunto, publicada recentemente, em 2022, que traz por título: “Por um ensino de português acessível: análise de tarefas de leitura adaptadas em Leitura Fácil”, que tem como objetivo propor e analisar tarefas de leitura adaptadas em Leitura Fácil para o ensino de português a estudantes com necessidades educacionais específicas, buscando engajar o discente nas aulas de Literatura.

A pesquisa revelou que a Leitura Fácil está se tornando mais reconhecida no cenário educacional brasileiro, especialmente a partir de 2018, com a publicação de diversos materiais, incluindo manuais, artigos acadêmicos e adaptações literárias. Esses materiais visam não apenas auxiliar estudantes com deficiências intelectuais, dislexia, Transtorno do Espectro Autista e outras necessidades educacionais especiais, mas também promover a inclusão sem infantilizar o conteúdo, permitindo que os alunos acessem textos que estejam de acordo com seu nível de desenvolvimento e idade.

Este texto apresentou uma visão abrangente da Leitura Fácil, explorando suas origens, conceitos-chave e princípios, bem como sua aplicação na adaptação de textos para estudantes com deficiências. As discussões centralizaram como a Leitura Fácil simplifica a linguagem, a diagramação e a inclusão de ilustrações para tornar o conteúdo mais acessível e compreensível. Além disso, foram problematizadas as contribuições da Leitura Fácil para o desenvolvimento da compreensão leitora em estudantes com necessidades educacionais específicas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível afirmar a significativa importância da Leitura Fácil no cenário educacional, mas ela ainda é bastante incipiente, já que foram encontrados poucos e recentes materiais sobre o assunto. Essa técnica é relevante na aplicação com estudantes com necessidades especiais, também para o trabalho do professor, que poderá auxiliar com maior eficácia os alunos, especialmente aqueles que têm deficiência intelectual e/ou transtorno do espectro autista. 

No contexto educacional brasileiro, a Leitura Fácil emerge como uma ferramenta essencial para promover a inclusão e a equidade educacional. Ela permite que os educadores adaptem materiais de ensino de acordo com as necessidades individuais dos alunos, promovendo, assim, uma educação inclusiva que capacita todos os estudantes a alcançar seu potencial máximo. Cabe também ressaltar que a criação de materiais adaptados em Leitura Fácil possibilita aos estudantes com necessidades especiais o acesso ao conteúdo correspondente à sua realização e não a um material infantilizado, que infelizmente é o que acontece nos dias atuais. 

No entanto, é importante que haja uma maior divulgação e implementação dessa técnica nas escolas e que os professores sejam capacitados para utilizá-la de maneira eficaz. A Leitura Fácil representa uma oportunidade valiosa para democratizar o acesso à educação e promover uma sociedade mais inclusiva, na qual todos os indivíduos tenham a chance de participar plenamente na construção do conhecimento e no desenvolvimento de suas habilidades.

REFERÊNCIAS

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CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 4. ed. São Paulo: MAKRON Books, 1996.

DAGOSTIM, Vanessa de Oliveira; CARDOZO, Jéssica Viganico; KEMPER, Catarine. Projeto literatura acessível: adaptação do conto “Missa do Galo” através da leitura fácil.In: VI Seminário Nacional de educação especial, Rio de Janeiro, v. 3, n. 3, p. 119, 2020. 

FISCHER, Heloisa. Só é acessível se der para entender.Pelotas: Ed. da UFPel, p. 244-261, 2020. 

GROSSAC,      Paul. A        investigação.        Disponível    em: http://cincocuentos.com/pesquisa/full/.  Acesso em: 27 dez. 2023.

GUIRALDES, Ricardo. Noturno. Disponível em: http://cincocuentos.com/nocturno/1/.   Acesso em: 27 dez. 2023.

KEMPER, Catarine; PIRES, Vanessa de Oliveira Dagostim. A ilustração na adaptação para a Leitura Fácil do conto Missa do Galo de Machado de Assis.Editora Realize, 2021.

LUGONES, Leopoldo. Um fenômeno inexplicável. Disponível em: http://cincocuentos.com/inexplicable/full/.  Acesso em: 27 dez. 2023.

MACHADO, Veronica Pasqualin; PIRES, Vanessa de Oliveira Dagostim. Manual de Leitura Fácil em Língua Portuguesa para educadores.Editora Realize, 2021.

O QUE É LEITURA FÁCIL. Literatura acessível. Disponível em: http://ww3.sapucaia.ifsul.edu.br/literaturaacessivel/o-que-e-leitura-facil/. Acesso em: 06 nov. 2021.

PACHECO, Carla Lucie Wendling. Por um ensino de português acessível: análisede tarefas de leitura adaptadas em Leitura Fácil. UFRGS, 2022.

PIRES, Vanessa de Oliveira Dagostim; TREVISAN, Suzana. Adaptação literária para pessoas com deficiência intelectual e pessoas com transtorno do espectro autista no ensino técnico integrado. Revista Transmutare, Curitiba, v. 5. p. 1-18, 2020.

PIRES, Vanessa de Oliveira Dagostim; SCHERER, Renata Porcher; MACHADO, Verônica Pasqualin. Um manual de Leitura Fácil para educadores. Enierpt, 2021. 

PIRES, Vanessa de Oliveira Dagostim. Missa Do Galo. Sapucaia do Sul, 2020.

QUIROGA, Horácio. O travesseiro de penas. Disponível em: http://cincocuentos.com/almohadon-de-plumas/1/. Acesso em: 27 dez. 2023.

SANTOS, Marcela Marques dos. Guia de adaptação de textos em leitura fácil. Rio de Janeiro, 2018. 

SANTOS, Marcela Marques dos; CRUZ, Mara Monteiro da; BAIÃO, Jonê Carla. Descrição e análise de uma oficina de adaptação textual em Leitura Fácil: ampliando o conceito de acessibilidade. Unespar, 2019. 


[3] Federação Internacional de Associações e Instituições de Bibliotecas. 

[4] Disponível em: <http://ww3.sapucaia.ifsul.edu.br/literaturaacessivel/> Acesso em 15 set 2023.

[5] Deficiência Intelectual. 

[6] Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), 2014. 


1Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2016.  

2Graduada em Letras-Português pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), 2018.