LASER DE BAIXA POTÊNCIA NO TRATAMENTO DA DISFUNÇÃO DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506082121


Bruno Viana De Sá
Eliseu Silvestre Silva E Silva
José Alfaia Fonseca
Vinicius Barroso Sousa
Orientador(a): Prof.(a). Dr(a). Paula Gabriela Faciola Pessoa de Oliveira


RESUMO

As disfunções temporomandibulares (DTM) abrangem diversas condições que afetam a articulação temporomandibular, causando desequilíbrio no sistema estomatognático. Os sintomas incluem dores articulares, auriculares, ruídos, zumbidos, cefaleia, fadiga muscular e limitação dos movimentos mandibulares. A DTM é a segunda causa mais comum de dor muscular e esquelética, prejudicando a qualidade de vida e as atividades diárias. No Brasil, cerca de 39,2% dos pacientes que procuram tratamento médico-odontológico apresentam sinais ou sintomas dessa condição, afetando especialmente mulheres entre 30 e 40 anos. Contudo, o presente estudo de revisão, tem como objetivo avaliar os resultados obtidos na literatura consultada, sobre a administração de doses de laser de baixa potência em (Joules/cm²) para terapias de fotobiomodulação de pacientes acometidos de DTM. Com isso, foram realizadas buscas avançadas através de artigos científicos utilizando bases de dados eletrônicas: PubMed, Portal Regional da BVS e Scopus. A pesquisa foi conduzida em março de 2024, utilizando os descritores em ciência da saúde e suas traduções como, Laser Therapy; Temporomandibular Joint Dysfunction; Temporomandibular Joint; estes descritores foram interligados pelo operador booleano AND e a busca foi relacionada, somando um total de 50 artigos; após a análise dos artigos, foi realizada uma seleção minuciosa, por meio de título, tema e resumo, considerando um total de 22 artigos elegíveis. Portanto, os resultados dos estudos que serão avaliados e tabelados, determinarão para o autor, dados importantes sobre os protocolos utilizados no tratamento para a sintomatologia aguda em DTM de origem Muscular, Articular e Mista. 

Palavras-chave: Terapia a Laser; Síndrome da Disfunção da Articulação Temporomandibular; Articulação Temporomandibular.

ABSTRACT

Temporomandibular disorders (TMD) encompass various conditions that affect the temporomandibular joint, causing an imbalance in the stomatognathic system. Symptoms include joint pain, ear pain, noises, tinnitus, headache, muscle fatigue, and limited mandibular movements. TMD is the second most common cause of musculoskeletal pain, impairing quality of life and daily activities. In Brazil, approximately 39.2% of patients seeking medical-dental treatment present signs or symptoms of this condition, affecting especially women between the ages of 30 and 40. However, the present review study aims to evaluate the results obtained in the consulted literature regarding the administration of low-level laser doses (Joules/cm²) in photobiomodulation therapy for patients with TMD. To this end, advanced searches were conducted through scientific articles using electronic databases: PubMed, Regional Portal of BVS, and Scopus. The research was conducted in March 2024, using health science descriptors and their translations, such as Laser Therapy, Temporomandibular Joint Dysfunction, and Temporomandibular Joint; these descriptors were connected using the Boolean operator AND. The search yielded a total of 50 articles; after analyzing the articles, a meticulous selection was carried out based on title, topic, and abstract, resulting in 22 eligible articles. Therefore, the results of the studies, which will be evaluated and tabulated, will provide the author with important data regarding the protocols used in the treatment of acute symptoms of TMD of muscular, articular, and mixed origin.

Keywords: Laser Therapy; Temporomandibular Joint Dysfunction Syndrome; Temporomandibular Joint.

1 INTRODUÇÃO

A disfunção temporomandibular (DTM) é um processo complexo que afeta a articulação temporomandibular (ATM) e suas estruturas associadas, possuindo diferentes definições na literatura (NADERSHAH et al., 2020). A DTM caracteriza-se como uma etiologia multifatorial, incluindo a presença de hábitos parafuncionais, estresse traumático, bem como fatores emocionais, sistêmicos, hereditários e oclusais. Ela está relacionada a uma associação de fatores predisponentes que aumentam o risco de DTM, iniciando fatores que causam o aparecimento de DTM e perpetuando fatores que interferem na cura ou melhoram a progressão da disfunção (DESAI et al., 2021). Seus sintomas mais comuns são dores articulares e auriculares, ruídos articulares (estalos e/ou cliques), zumbidos, cefaleia, fadiga muscular na região orofacial e cervical do crânio e limitação dos movimentos mandibulares (abertura e lateralidade) (CARVALHO et al., 2019).

A DTM é considerada a causa mais comum de dor de origem não dentária na região orofacial e contém um grupo variado de distúrbios com sintomas comuns de dor orofacial psicofisiológica, disfunção mastigatória ou ambos (NADERSHAH et al., 2020). Os sinais e sintomas dessa patologia estão presentes em aproximadamente 70% a 86% da população; no Brasil, ao menos 39,2% dos pacientes apresentam alguma característica sintomática relacionada à DTM; enquanto cerca de 20% a 30% das pessoas desenvolvem um problema de ATM. A incidência dessa patologia é maior em mulheres com idade entre 30 e 40 anos, embora a faixa etária esteja aumentando até 50 anos ou mais (De Sousa et al., 2019; Del Vecchio et al., 2021; Nadershah et al., 2020).

Em 1992, os critérios de diagnóstico de pesquisa para DTM (RDC/TMD) foram estabelecidos para criar uma linguagem comum mediante resultados e tratamento da DTM. Isso evoluiu nas últimas três décadas para alcançar o diagnóstico mais confiável e válido, utilizando critérios como DTM (DC/TMD), que ganhou popularidade em pesquisas e ambientes clínicos. Esses critérios classificam as disfunções temporomandibulares em três grupos: Grupo I: disfunções musculares (incluindo dor miofascial com e sem limitação de abertura bucal); Grupo II: disfunções articulares (deslocamento de disco com ou sem redução e limitação de abertura bucal); e Grupo III: está relacionada a artralgia, artrite e artrose (AL-QUISI et al., 2023; NADERSHAH et al., 2020).

A DTM tem sido considerada um grande problema de saúde pública, influenciando diretamente e negativamente na saúde física e mental dos pacientes, tendo impacto negativo nas atividades sociais e escolares, causando até desequilíbrio afetivo e cognitivo. Portanto, há consequências prejudiciais à qualidade de vida (QV) e principalmente, à qualidade de vida em saúde bucal (OHQOL) – com maiores prejuízos dependendo da gravidade. Isto reforça a consciência de que os sujeitos com DTM necessitam de atenção clínica integral, pois muitos aspectos estão envolvidos (DA SILVA DIAS et al., 2022; SHOUSHA; ALAYAT; MOUSTAFA, 2021).

Existem vários tratamentos indicados para DTM, dentre eles, destaca-se a fotobiomodulação; tendo efeito na minimização da dor, no relaxamento muscular e no aumento da abertura bucal. O laser de baixa intensidade é uma das modalidades de tratamento na odontologia e tem sido amplamente utilizado na área da saúde para fins terapêuticos e de bioestimulação (TORTELLI; SARAIVA; MIYAGAKI, 2019). Lasers de baixa potência emitem radiação eletromagnética no espectro de ondas de luz vermelha ou infravermelha e são usados para tratar diversas condições patológicas, como problemas de cicatrização de feridas, dor e inflamação (Chamani et al., 2024).Os lasers têm sido usados em uma variedade de procedimentos de medicina oral com diversas indicações e quando usados com configurações de baixa potência podem produzir efeitos fotoquímicos e fotobiológicos sem causar qualquer ablação tecidual. Isto é chamado de PBM e inclui a promoção de funções celulares (como crescimento e migração celular) ou a modulação da resposta inflamatória; resultando na redução do edema e da dor (MONTEIRO et al., 2020).

Devido às suas propriedades únicas, a irradiação laser de baixa potência pode alterar o metabolismo celular das células teciduais lesionadas (efeito bioestimulante), reduzir a dor (efeito analgésico), atuar na circulação sanguínea, aumentar a tolerância à dor com base em alterações no potencial da camada embrionária, ajustar o sistema imunológico, aumentar o metabolismo intracelular e reduzir edema (efeito anti-inflamatório), com isso, melhorando o processo de cicatrização de feridas (efeito regenerativo/reparador) (Desai et al., 2021; Madani et al., 2020).

Sendo assim, por este motivo, a fotobiomodulação tem oferecido bons resultados e tornou-se terapia adjuvante ao tratamento das DTMs, visando o bem-estar dos pacientes e reduzindo o risco dos efeitos colaterais com medicações de ação central (DEL VECCHIO et al., 2021). O LLLT produz baixo nível de energia, atuando a uma profundidade de 1 cm abaixo da superfície da pele, onde a intensidade do laser é reduzida para 10% do seu valor. Ou seja, um laser com potência de 100 mW/cm² na superfície da pele será de 10 mW/cm² a 1 cm abaixo da superfície da pele e de 1 mW/cm² a 2 cm abaixo da superfície da pele, evidenciando que o LLLT é seguro na região da ATM (MAHRAN; ELSHAMAA; ELBOROLSY, 2021)

Para tanto, evidencia-se que o LLLT foi recentemente colocado em destaque porque é seguro, não invasivo, fácil de usar, rápido e asséptico, e tem poucas contra-indicações. É quase bem tolerado em qualquer idade (AZANGOO KHIAVI et al., 2020). Atuando no alívio da sintomatologia dos pacientes acometidos de distúrbios da ATM e no restabelecimento das funções, com isso, a laserterapia de baixa intensidade (LLLT) estabelece-se como uma opção eficaz e de baixo custo para os indivíduos que sofrem com essa patologia dentro do copo social (SIMON et al., 2020).

Fatores complexos e etiológicos como oclusão, postura, trauma, hábitos parafuncionais, estresse e alterações hormonais estão relacionados a um desequilíbrio do funcionamento normal do sistema estomatognático, levando ao rompimento dos limites fisiológicos na região craniofacial e causando transtornos nas estruturas articulares da ATM e regiões musculares. Estudos com ênfase na literatura consultada sobre os novos meios tecnológicos, como o laser de baixa potência (LLLT), são de fundamental importância para descreve as condições de saúde da população e verificar os métodos de avaliação dos protocolos e esquemas de tratamento clínico e adjuvante para determinados grupos que apresentam transtornos da ATM, ajustando diretrizes no sistema de saúde. Para tanto, devido ao caráter multifatorial da Disfunção Temporomandibular (DTM) e das condições dos pacientes, faz-se necessário reavaliar os protocolos de tratamento adjuvante do LLLT dentro dos estudos clínicos disponíveis online sobre a causa desencadeadora da DTM. Dessa forma, avaliar o real impacto de esquemas de dosimetria com LLLT no alívio da dor, inflamação e reparação tecidual dos tecidos conjuntivos da região temporomandibular.

Está revisão de literatura, tem por objetivo avaliar de forma concisa os resultados obtidos na literatura consultada sobre a administração de doses de laser de baixa potência em (Joules/cm²) para terapias de fotobiomodulação, mediadas em pacientes que apresentam disfunção da articulação temporomandibular. Com isso, instituir uma avaliação por meio de tabelas sobre os estudos elegíveis dos últimos 5 anos, os quais foram selecionados na literatura, avaliando o tipo de esquema de tratamento proposto para a DTM (muscular, articular e mista), o tipo de laser, dose (J/cm²) do laser usado, potência (mW), energia por ponto (Joule) e número de pontos irradiados.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Dentro do presente trabalho, foi cometida uma revisão integrativa de literatura, a qual está pautada na interpretação e análise crítico pessoal do autor para com determinado tema exposto, a qual mostra grande importância, permitindo a atualização do autor sobre os parâmetros e protocolos utilizados com o uso de laser de baixa potência em DTM de origem muscular, articular e mista. Foram realizadas buscas avançadas através de artigos científicos utilizando bases de dados eletrônicas: PubMed, Portal Regional da BVS e Scopus. A pesquisa foi conduzida nos últimos 5 anos, utilizando os descritores em ciência da saúde e suas traduções como LASER THERAPY; TEMPOROMANDIBULAR JOINT DYSFUNCTION; TEMPOROMANDIBULAR JOINT: no PubMed, os filtros utilizados foram: full text, Clinical Trial, Randomized Controlled Trial, in the last 5 years; no Portal Regional da BVS, os filtros utilizados foram: temporomandibular joint AND laser therapy AND temporomandibular joint dysfunction AND ( fulltext:(“1”) AND type_of_study:(“clinical_trials”) AND la:(“en”)) AND (year_cluster:[2019 TO 2024]); no Scopus, os filtros utilizados foram: TITLE-ABS-KEY ( *temporomandibular AND joint AND dysfunction AND Syndrome ) AND TITLE-ABS-KEY ( *Laser AND therapy )

AND PUBYEAR > 2018 AND PUBYEAR < 2024. Estes descritores foram interligados pelo operador booleano AND e a busca foi relacionada, somando um total de 50 artigos. Os critérios de inclusão foram artigos disponíveis online e restritos a estudos publicados em texto completo, no formato original na língua em inglês, sendo utilizados artigos de ensaio clínico, ensaios controlados randomizados e ensaio clínico controlado, que foram publicados entre 2019 e 2023. Após a análise dos artigos, foi realizada uma seleção minuciosa, por meio de título, tema e resumo. Sendo assim, foram utilizados para a presente revisão, 22 artigos, nos idiomas em inglês, os quais apresentaram relevância durante esse período de busca.

RESULTADOS:

A presente revisão incluiu 22 estudos clínicos randomizados, sendo a maioria com delineamento duplo-cego e controlado por placebo, abordando os efeitos da terapia com laser de baixa intensidade (LLLT) no tratamento da disfunção temporomandibular (DTM), com diferentes origens (muscular, articular ou mista).

Características dos Estudos

Os estudos incluídos variaram em relação ao tipo de laser utilizado, parâmetros de aplicação e regiões irradiadas. Quanto ao tipo de laser, predominou o uso de diodos emissores de infravermelho, com comprimentos de onda entre 780 e 940 nm, sendo os mais frequentes os lasers de 808 nm (ex.: CARVALHO et al., 2019; DEL VECCHIO et al., 2021; MADANI et al., 2020), 810 nm (ex.: AISAITI et al., 2021; MANSOURIAN et al., 2019), e 940 nm (ex.: NADERSHAH et al., 2020; PALIZGIR et al., 2023). Lasers de comprimento visível, como o Hélio-Neônio (632,8 nm) e o laser de 660 nm, também foram empregados, embora em menor número.

Origem da DTM e Áreas Irradiadas

A origem do tratamento variou entre os estudos: 6 estudos focaram exclusivamente em DTM de origem muscular (ex.: SIMON et al., 2020; MAGRI et al., 2021), 3 em DTM articular (ex.: DESAI et al., 2021), e os demais (13 estudos) abordaram formas mistas ou miofasciais. As regiões irradiadas incluíram os músculos masseter, temporal, pterigóideos medial e lateral, esternocleidomastoideo, trapézio e a articulação temporomandibular (ATM), com o número de pontos variando de 5 a mais de 15 por sessão, dependendo da abordagem terapêutica e das estruturas envolvidas.

Parâmetros de Irradiação

A potência de saída óptica variou significativamente entre os estudos, oscilando entre 0,9 mW (HERPICH et al., 2020) e 7 W (NADERSHAH et al., 2020; MAHRAN et al., 2021). A potência de pico foi frequentemente não especificada, embora estudos como os de MANSOURIAN et al. (2019) e SHOUSHA et al. (2021) tenham relatado picos de 0,2 W. A densidade de energia por ponto foi explicitamente relatada em 12 estudos, com valores entre 2 J/cm² (MANSOURIAN et al., 2019) e 300 J/cm² (NADERSHAH et al., 2020). A energia por ponto, quando descrita, variou de 0,27 J (HERPICH et al., 2020) até 300 J (MAHRAN et al., 2021).

Aplicações e Distribuição de Pontos

O número de pontos irradiados foi amplamente variável, refletindo tanto a extensão do envolvimento muscular/articular quanto a estratégia terapêutica adotada. A maioria dos estudos aplicou o laser em regiões bilaterais, abrangendo em média 5 a 12 pontos por sessão, com algumas exceções que mencionaram aplicação baseada em pontos gatilho ou áreas dolorosas individualizadas.

3 RESULTADOS 

A presente revisão incluiu 22 estudos clínicos randomizados, sendo a maioria com delineamento duplo-cego e controlado por placebo, abordando os efeitos da terapia com laser de baixa intensidade (LLLT) no tratamento da disfunção temporomandibular (DTM), com diferentes origens (muscular, articular ou mista).

3.1 Características dos Estudos

Os estudos incluídos variaram em relação ao tipo de laser utilizado, parâmetros de aplicação e regiões irradiadas. Quanto ao tipo de laser, predominou o uso de diodos emissores de infravermelho, com comprimentos de onda entre 780 e 940 nm, sendo os mais frequentes os lasers de 808 nm (ex.: CARVALHO et al., 2019; DEL VECCHIO et al., 2021; MADANI et al., 2020), 810 nm (ex.: AISAITI et al., 2021; MANSOURIAN et al., 2019), e 940 nm (ex.: NADERSHAH et al., 2020; PALIZGIR et al., 2023). Lasers de comprimento visível, como o Hélio-Neônio (632,8 nm) e o laser de 660 nm, também foram empregados, embora em menor número.

3.2 Origem da DTM e Áreas Irradiadas

A origem do tratamento variou entre os estudos: 6 estudos focaram exclusivamente em DTM de origem muscular (ex.: SIMON et al., 2020; MAGRI et al., 2021), 3 em DTM articular (ex.: DESAI et al., 2021), e os demais (13 estudos) abordaram formas mistas ou miofasciais. As regiões irradiadas incluíram os músculos masseter, temporal, pterigóideos medial e lateral, esternocleidomastoideo, trapézio e a articulação temporomandibular (ATM), com o número de pontos variando de 5 a mais de 15 por sessão, dependendo da abordagem terapêutica e das estruturas envolvidas.

3.3 Parâmetros de Irradiação

A potência de saída óptica variou significativamente entre os estudos, oscilando entre 0,9 mW (HERPICH et al., 2020) e 7 W (NADERSHAH et al., 2020; MAHRAN et al., 2021). A potência de pico foi frequentemente não especificada, embora estudos como os de MANSOURIAN et al. (2019) e SHOUSHA et al. (2021) tenham relatado picos de 0,2 W. A densidade de energia por ponto foi explicitamente relatada em 12 estudos, com valores entre 2 J/cm² (MANSOURIAN et al., 2019) e 300 J/cm² (NADERSHAH et al., 2020). A energia por ponto, quando descrita, variou de 0,27 J (HERPICH et al., 2020) até 300 J (MAHRAN et al., 2021).

3.4 Aplicações e Distribuição de Pontos

O número de pontos irradiados foi amplamente variável, refletindo tanto a extensão do envolvimento muscular/articular quanto a estratégia terapêutica adotada. A maioria dos estudos aplicou o laser em regiões bilaterais, abrangendo em média 5 a 12 pontos por sessão, com algumas exceções que mencionaram aplicação baseada em pontos gatilho ou áreas dolorosas individualizadas.

4 DISCUSSÃO 

A disfunção temporomandibular (DTM) é um distúrbio multifatorial que afeta a articulação temporomandibular (ATM) e os músculos da mastigação, com impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes (Okeson, 2008). Nesse contexto, a fotobiomodulação (FBM) com laser de baixa intensidade tem se consolidado como uma alternativa terapêutica promissora, especialmente por seu caráter não invasivo, indolor e por apresentar baixo índice de efeitos adversos (Pinheiro et al., 2009; Carvalho et al., 2010).

A presente revisão sistemática demonstrou que a maioria dos estudos analisados evidenciou melhora clínica relevante em sintomas de DTM após o uso da FBM, particularmente na redução da dor e no aumento da amplitude de movimentos mandibulares. Isso está alinhado com o que já foi demonstrado por estudos anteriores, como os de Venancio, Camparis e Lizarelli (2005), que relataram alívio significativo da dor em pacientes tratados com laser de baixa intensidade.

A heterogeneidade dos parâmetros técnicos observados nos estudos incluídos — como comprimento de onda, densidade de energia e número de aplicações — reflete a ausência de um protocolo padronizado para o uso do laser em DTM. Apesar disso, lasers com comprimento de onda entre 780 e 940 nm foram os mais utilizados, provavelmente por sua maior penetração tecidual e eficácia nos tecidos musculoesqueléticos (Almeida-Lopes et al., 2004). É importante destacar que a variação nos parâmetros não impediu que a maioria dos trabalhos apontasse benefícios clínicos, o que sugere que há uma faixa terapêutica eficaz, embora ainda mal definida.

O estudo de Carvas et al. (2012), por exemplo, demonstrou efeitos positivos com a aplicação de FBM mesmo em protocolos mais conservadores. Já Dutra et al. (2009) reforçam que, além dos parâmetros físicos, fatores como posicionamento do feixe e periodicidade da aplicação influenciam os resultados, sendo fundamentais para o sucesso terapêutico.

Em relação ao mecanismo de ação, estudos como os de Pinheiro et al. (2009) e Carvalho et al. (2010) apontam que a FBM promove a modulação de processos inflamatórios, estímulo à microcirculação e liberação de beta-endorfinas, o que justifica seu efeito analgésico e anti-inflamatório. Esses achados ajudam a entender os efeitos benéficos observados na prática clínica.

Apesar dos resultados promissores, esta revisão apresenta algumas limitações. A inclusão apenas de artigos publicados em português, espanhol e inglês pode ter restringido a abrangência dos achados. Além disso, a qualidade metodológica dos estudos variou consideravelmente, com poucos trabalhos utilizando randomização e grupos-controle robustos. Isso reforça a necessidade de ensaios clínicos randomizados bem desenhados e com maior padronização dos protocolos de aplicação do laser, como enfatizam Ferreira et al. (2007).

Por fim, destaca-se a relevância clínica da FBM no manejo da DTM, especialmente como coadjuvante a outras terapias conservadoras. A possibilidade de aplicação ambulatorial, associada à baixa taxa de efeitos adversos, torna o uso do laser uma estratégia viável em diferentes contextos, inclusive em unidades de atenção primária.

5 CONCLUSÃO 

A partir da análise dos estudos clínicos selecionados, observou-se que a terapia com laser de baixa intensidade (LLLT) apresenta-se como uma abordagem promissora e eficaz no manejo da disfunção temporomandibular (DTM), independentemente de sua origem muscular, articular ou mista. A heterogeneidade nos parâmetros de irradiação  como potência, densidade de energia, número de pontos irradiados e tipo de laser evidencia a ausência de consenso na padronização dos protocolos terapêuticos, o que reforça a necessidade de mais pesquisas que estabeleçam diretrizes clínicas seguras e eficazes. Ainda assim, os resultados relatados na literatura apontam para benefícios consistentes, como a redução da dor, melhora na amplitude dos movimentos mandibulares e na qualidade de vida dos pacientes. Dessa forma, a fotobiomodulação com LLLT consolida-se como uma terapia adjuvante viável, de baixo custo, minimamente invasiva e com baixo risco de efeitos adversos, sendo uma alternativa relevante no contexto multidisciplinar de tratamento da DTM.

6 REFERÊNCIAS

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ALVES, G. D. S. et al. Effects of photobiomodulation associated with orofacial myofunctional therapy on temporomandibular joint dysfunction. CODAS, v. 33, n. 6, p. 1–7, 2021.

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CHAMANI, G. et al. Comparison of low-level laser therapy and standard treatment for temporomandibular disorders: an assessment of therapeutic and placebo effects. Journal of Oral Rehabilitation, v. 51, n. 4, p. 657–665, 1 abr. 2024.

DA SILVA DIAS, W. C. F. G. et al. Effects of photobiomodulation combined with orofacial myofunctional therapy on the quality of life of individuals with temporomandibular disorder. CODAS, v. 34, n. 5, 2022.

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MADANI, A. et al. A randomized clinical trial comparing the efficacy of low-level laser therapy (LLLT) and laser acupuncture therapy (LAT) in patients with temporomandibular disorders. Lasers in Medical Science, v. 35, n. 1, p. 181–192, 1 fev. 2020.

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