REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503171055
Hellen Cristina de Paiva Machado1
Sabrina Cristina Silva dos Santos2
Francisco de Assis Oliveira Filho3
Rosana Almeida Bezerra4
Priscila Cardoso Barroso5
Fernando Rodrigues da Costa Junior6
Fernando Rodrigues da Costa Neto7
Jhemisson Mathews e Silva Carneiro8
Polyana Fontes Rodrigues9
Yslavia Prisccilla Soares10
Bárbara Karollynne Santos Maia11
Resumo
Introdução: A peri-implantite é uma condição inflamatória que afeta os tecidos ao redor de implantes dentários, resultando em perda óssea progressiva e, se não tratada adequadamente, pode levar à falha do implante. O tratamento da peri-implantite é um desafio clínico significativo, exigindo abordagens terapêuticas eficazes que promovam a cicatrização dos tecidos e a regeneração óssea. Nos últimos anos, o uso de laser de baixa potência (LLLT, Low-Level Laser Therapy) tem emergido como uma terapia coadjuvante promissora no manejo da peri-implantite Objetivo: Avaliar os resultados do uso de laser de baixa potência no tratamento da peri-implantite, analisando sua eficácia na redução da inflamação e promoção da reparação tecidual. Metodologia: Esta revisão de literatura foi realizada com base em artigos científicos dispostos nas bases de dados MEDLINE via PubMed (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a seleção dos estudos foram utilizados, como critérios de inclusão, artigos que estivessem dentro da abordagem temática, disponíveis na íntegra e de forma gratuita, nos idiomas inglês, português e espanhol. Como parâmetros de exclusão foram retirados artigos duplicados e que fugiam do tema central da pesquisa. Resultados: Os resultados demonstram que o laser de baixa potência (LBP) é uma abordagem eficaz e complementar no tratamento da peri-implantite, promovendo efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e bioestimulantes. Seu mecanismo de ação baseia-se na fotobiomodulação, estimulando a atividade mitocondrial e a produção de ATP, o que acelera a regeneração tecidual. Além disso, o LBP modula a resposta inflamatória, reduzindo citocinas pró-inflamatórias e o estresse oxidativo, favorecendo a reparação dos tecidos peri-implantares. Estudos indicam que sua aplicação melhora a angiogênese, estimula a proliferação de fibroblastos e osteoblastos e reduz a reabsorção óssea ao redor dos implantes. Quando associado à terapia mecânica e antimicrobiana, o LBP potencializa a descontaminação da superfície do implante e favorece a osseointegração. Dessa forma, seu uso representa uma alternativa minimamente invasiva, segura e promissora para o controle da peri-implantite, melhorando os desfechos clínicos e reduzindo a progressão da doença. Conclusão: O uso de laser de baixa potência no tratamento da peri-implantite mostra-se uma abordagem terapêutica promissora, com evidências científicas robustas que suportam seus benefícios. A capacidade do Laser de Baixa Potência de reduzir a inflamação e promover a regeneração óssea contribui significativamente para o sucesso do tratamento da peri-implantite, melhorando a saúde dos tecidos peri-implantares e a estabilidade dos implantes. No entanto, é necessário realizar mais estudos clínicos com amostras maiores e seguimentos mais longos para confirmar esses resultados e estabelecer protocolos clínicos padronizados. Em conclusão, a terapia com laser de baixa potência apresenta-se como uma ferramenta valiosa no arsenal terapêutico para o manejo da peri-implantite, oferecendo uma abordagem minimamente invasiva e eficaz. A incorporação dessa tecnologia na prática clínica pode melhorar os resultados do tratamento e, consequentemente, a qualidade de vida dos pacientes com implantes dentários.
Palavras – Chave: Terapia a Laser. Peri-Implantite. Odontologia.
1. INTRODUÇÃO
A reabilitação oral com implantes dentários representa uma alternativa eficaz para a substituição de dentes perdidos, proporcionando função mastigatória adequada, conforto e estética satisfatória ao paciente. A implantodontia tem evoluído significativamente, com avanços nos materiais e nas técnicas cirúrgicas, aumentando as taxas de sucesso dos procedimentos. No entanto, apesar dos benefícios proporcionados pelos implantes, algumas complicações podem comprometer sua longevidade, sendo a peri-implantite uma das principais preocupações clínicas (Abe, 2025).
A periimplantite é uma condição inflamatória que afeta os tecidos peri-implantares e está associada à perda óssea progressiva ao redor dos implantes dentários. Trata-se de uma das principais complicações que podem comprometer o sucesso dos implantes a longo prazo. A doença compartilha semelhanças com a periodontite, afetando os tecidos de suporte, incluindo o osso alveolar (Oliveira; Silva; Araújo, 2013).
Os sinais clínicos da peri-implantite são variados e podem ser detectados por meio do exame clínico e radiográfico. O primeiro sinal característico é a inflamação da mucosa peri-implantar, manifestada por edema, eritema e aumento da vascularização local. Esses sinais são similares aos observados na gengivite em dentes naturais, mas, no caso dos implantes, podem progredir rapidamente para um quadro destrutivo (Baltazar; Guaracilei; Oldemar, 2000).
Outro sinal importante é o sangramento à sondagem (SAS), que indica a presença de inflamação nos tecidos moles ao redor do implante. O sangramento pode ser espontâneo ou provocado pelo exame periodontal. Em estágios mais avançados, a supuração pode estar presente, evidenciando um processo infeccioso ativo e contribuindo para a reabsorção óssea peri-implantar (Cerbasi, 2010).
A profundidade de sondagem aumentada é outro sinal relevante da peri-implantite. Em comparação aos dentes naturais, os implantes apresentam uma arquitetura de inserção dos tecidos moles diferente, sem ligamento periodontal, o que pode levar a uma profundidade de sondagem naturalmente maior. No entanto, um aumento progressivo desta profundidade sugere perda de inserção óssea e progressão da doença (Gerber et al., 2009).
A mobilidade do implante é um sinal tardio e indica falha do processo de osseointegração. Em estágios iniciais, a peri-implantite pode ser detectada sem a presença de mobilidade, sendo o exame radiográfico fundamental para avaliar a extensão da perda óssea. As imagens radiográficas revelam reabsorção óssea em forma de crateras ou padrão irregular ao redor do implante, diferenciando-se da reabsorção óssea marginal fisiológica que ocorre nos primeiros meses após a instalação do implante (Sahrmann et al., 2000).
O diagnóstico da periimplantite é realizado por meio de exames clínicos e radiográficos. Clinicamente, os principais sinais incluem sangramento à sondagem, supuração, aumento da profundidade de sondagem peri-implantar e, em estágios avançados, mobilidade do implante. O uso de sondas periodontais apropriadas é essencial para avaliar a saúde peri-implantar sem causar dano às estruturas. Radiograficamente, observa-se a perda óssea ao redor do implante, que pode ser comparada a exames anteriores para avaliar a progressão da doença (Rezende; Ramos; Daquila, 2005).
A etiologia da periimplantite é multifatorial, envolvendo fatores microbiológicos, mecânicos e sistêmicos. A principal causa da doença é a formação de biofilme bacteriano ao redor do implante, promovendo uma resposta inflamatória destrutiva. Outros fatores predisponentes incluem história de doença periodontal, tabagismo, diabetes mellitus descompensada, sobrecarga oclusal e técnicas cirúrgicas inadequadas. O material e o design do implante também podem influenciar na susceptibilidade à periimplantite, assim como a qualidade da mucosa peri-implantar (Melo et al., 2024).
A instalação do implante dentário requer uma integração ótima com o tecido ósseo, em um processo conhecido como osteointegração. No entanto, a presença de inflamação peri-implantar pode comprometer essa conexão, levando à reabsorção óssea progressiva. A peri-implantite pode ser precedida por uma condição menos severa, denominada mucosite peri-implantar, caracterizada por inflamação da mucosa sem perda óssea. A progressão para peri-implantite ocorre quando a inflamação atinge o osso de suporte, causando danos irreversíveis (Oliveira et al., 2015).
2. REVISÃO DA LITERATURA
A peri-implantite ocorre quando uma infecção bacteriana se instala ao redor do implante, desencadeando uma resposta inflamatória que resulta na destruição progressiva do osso de suporte. Inicialmente, observa-se uma mucosite peri-implantar, caracterizada pela inflamação da mucosa ao redor do implante sem envolvimento ósseo. Se não tratada, a inflamação progride para a peri-implantite, levando à perda óssea e comprometendo a estabilidade do implante (Ting et al., 2017).
O diabetes mellitus, especialmente quando descompensado, tem sido amplamente correlacionado com um maior risco de peri-implantite. Pacientes diabéticos apresentam uma resposta inflamatória exacerbada, redução da capacidade de reparo tecidual e alterações na microbiota oral, favorecendo a progressão da infecção peri-implantar. Além disso, a osteoporose, caracterizada pela redução da densidade óssea, pode comprometer a osseointegração e aumentar a suscetibilidade à perda óssea peri-implantar (Ting et al., 2017).
A prevalência da peri-implantite varia amplamente na literatura devido a diferenças nos critérios diagnósticos e nas populações estudadas. Estudos indicam que entre 10% e 47% dos pacientes com implantes dentários desenvolvem peri-implantite em algum grau. A taxa de ocorrência também pode estar relacionada ao tempo de função do implante, hábitos de higiene oral e fatores sistêmicos (Hasanoglu; Hocaoğlu, 2019).
Diversos fatores podem predispor ao desenvolvimento da peri-implantite. A higienização inadequada é um dos principais fatores de risco, permitindo o acúmulo de biofilme bacteriano ao redor do implante. Pacientes com histórico de periodontite também apresentam maior risco, pois a susceptibilidade à infecção bacteriana pode se estender aos implantes (Melo et al., 2024).
O sexo mais acometido pela peri-implantite ainda é um tema controverso na literatura. No entanto, alguns estudos sugerem que os homens podem ser mais propensos a desenvolver a condição devido a uma higiene oral frequentemente menos rigorosa e a maior prevalência de fatores de risco, como tabagismo e doenças sistêmicas. Por outro lado, as mulheres podem apresentar maior taxa de peri-implantite em razão de variações hormonais que afetam a resposta imunoinflamatória dos tecidos periodontais e peri-implantares (Dreyer et al., 2018).
O tratamento da peri-implantite envolve abordagem cirúrgica e não cirúrgica, sendo essencial o controle da infecção por meio de protocolos medicamentosos eficazes. A terapia não cirúrgica inclui a remoção mecânica do biofilme com instrumentos ultrassônicos ou manuais, o uso de agentes antimicrobianos locais e sistêmicos, e a terapia fotodinâmica. Entretanto, a eficácia dessa abordagem é limitada em casos mais avançados, devido à dificuldade de acesso e remoção completa do biofilme bacteriano (Casati et al., 2005).
O uso de antimicrobianos locais e sistêmicos é frequentemente indicado para controlar a infecção bacteriana. Entre os antibióticos mais utilizados, destacam-se a amoxicilina associada ao metronidazol, que apresenta ampla ação contra anaeróbios e patógenos peri-implantares. Para pacientes alérgicos à penicilina, a clindamicina é uma alternativa eficaz (Karrabi; Baghani, 2022).
Além dos antibióticos, o uso de agentes antissépticos, como a clorexidina a 0,12% ou 0,2%, é amplamente recomendado para o controle da microbiota oral. A aplicação local de minociclina ou doxiciclina em forma de géis ou microesferas também tem sido utilizada como terapia adjunta ao tratamento mecânico da infecção (Karrabi; Baghani, 2022).
Outro aspecto importante do tratamento é o controle da resposta inflamatória. O uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) pode ser recomendado para reduzir a inflamação e a dor. Em casos mais severos, corticosteroides podem ser indicados para modular a resposta inflamatória e evitar a progressão da doença. Nesse contexto, a laserterapia como coadjuvante tem emergido como uma abordagem inovadora e promissora, oferecendo vantagens significativas, ajudando a melhorar os resultados dos tratamentos convencionais da peri-implantite (Devise, 2023).
Quando a intervenção não cirúrgica não é suficiente, recorre-se à abordagem cirúrgica. As técnicas incluem a ressecção de tecidos infectados, descontaminação da superfície do implante e procedimentos regenerativos com uso de enxertos ósseos e biomateriais. As técnicas a laser e o uso de substâncias antimicrobianas, como a clorexidina e a tetraciclina, são frequentemente empregadas para otimizar os resultados (Devise, 2023).
3. METODOLOGIA
Esta revisão de literatura foi realizada com base em artigos científicos dispostos nas bases de dados MEDLINE via PubMed (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a seleção dos estudos foram utilizados, como critérios de inclusão, artigos que estivessem dentro da abordagem temática, disponíveis na íntegra e de forma gratuita, nos idiomas inglês, português e espanhol. Como parâmetros de exclusão foram retirados artigos duplicados e que fugiam do tema central da pesquisa. Para busca dos artigos foram utilizadas as palavras-chave: “Terapia a Laser”; “Peri-Implantite”; “Odontologia”, indexadas aos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS).
4. DISCUSSÕES
O uso da terapia a laser na descontaminação de superfícies de implantes tem sido amplamente estudado na literatura como uma abordagem minimamente invasiva para o tratamento da peri-implantite, devido aos seus efeitos bioestimulantes e antimicrobianos. O laser de baixa potência atua por meio da fotobiomodulação, promovendo efeitos terapêuticos que auxiliam no processo de reparação tecidual e controle inflamatório. Seu mecanismo de ação está relacionado à absorção da luz pelos cromóforos celulares, especialmente a citocromo C oxidase na cadeia respiratória mitocondrial, resultando no aumento da produção de trifosfato de adenosina (ATP). Esse fenômeno melhora o metabolismo celular e favorece a proliferação e diferenciação celular, essenciais para a regeneração óssea e tecidual ao redor dos implantes (Azizi et al., 2018).
Estudos “in vitro” destacam as vantagens do uso do laser nesse contexto, incluindo fácil manipulação, rápida cicatrização, procedimentos operatórios mais ágeis e menos dolorosos, além de promover melhor hemostasia e um pós-operatório mais satisfatório. Em particular, o efeito hidroacústico do laser de Er:Cr:YSGG mostrou-se 10 vezes mais eficiente na eliminação de bactérias da infecção quando comparado a agentes químicos (1000 γm contra 10 γm, respectivamente). Além disso, o uso adjuvante do laser à curetagem e aos agentes químicos favoreceu a cicatrização e aumentou o contato osso-implante (Azizi et al., 2018).
Revisões de literatura apontam que a terapia com laser e a terapia fotodinâmica apresentam benefícios no tratamento da peri-implantite. No entanto, um estudo clínico randomizado e prospectivo concluiu que os métodos de descontaminação dos sítios afetados não influenciaram significativamente o tratamento da peri-implantite avançada. Os autores ressaltam que a terapia mecânica continua sendo a principal abordagem para tratar doenças periodontais e peri-implantares induzidas por placa, mas sua completa erradicação bacteriana e cicatrização não podem ser alcançadas apenas por esse meio. Dessa forma, o uso de terapias adjuvantes, como mecânica, química e fototerápica, tem ganhado popularidade (Alberto et al., 2023).
Dentre os tipos analisados, o laser de Nd:YAG, por sua alta penetração e efeitos térmicos deletérios, assim como os lasers de diodo, são contraindicados para o tratamento da peri-implantite. Em contrapartida, os lasers de Er:YAG e Er:Cr:YSGG se destacam como as opções mais promissoras para o desbridamento das estruturas fixas dos implantes e defeitos ósseos, devido aos seus efeitos termomecânicos e fotobiomoduladores. Esses dispositivos promovem ação bactericida e remoção de partículas sólidas presentes na região peri-implantar, atuando por meio da vaporização das moléculas de água e efeitos térmicos que provocam a quebra do tecido duro com mínima coagulação e carbonização. Esse mecanismo é descrito como efeito “fotomecânico” ou “termomecânico”. No entanto, ainda há necessidade de mais estudos para compreender melhor a influência dos lasers sobre a superfície de titânio dos implantes (Simonatto, 2023).
Alguns estudos demonstraram que a terapia com laser de diodo pode ser segura, sem causar alterações na superfície do titânio, como trincas ou derretimento, quando comparada aos métodos mecânicos convencionais. Além disso, lasers de baixa intensidade mostraram-se eficazes na inativação de endotoxinas bacterianas, como lipopolissacarídeos de bactérias gram-negativas presentes na peri-implantite. A combinação do efeito fototérmico com o desbridamento não cirúrgico pode potencializar a cicatrização devido ao efeito biomodulador desses lasers (Cavalcanti et al., 2011).
Ainda, um estudo “in vitro” apontou que o laser de diodo com comprimento de onda de 940 nm é o mais seguro entre os sistemas de diodo, pois a iniciação prévia da ponta ativa reduz a geração de calor e os danos ao implante e tecidos adjacentes. Além disso, a descontaminação de implantes com laser e LED causou menos injúria aos tecidos peri-implantares em comparação à toxicidade da clorexidina sobre as células do hospedeiro, apesar da maior ação bactericida da substância química (Araki et al., 2006).
Embora a terapia a laser seja promissora no tratamento da peri-implantite, alguns autores alertam para seus possíveis efeitos adversos. O alto pico de energia do Nd:YAG, por exemplo, pode causar derretimento da superfície do implante quando aplicado diretamente com pulsos de curta duração (<100 microssegundos). Schwarz et al. (2000) recomendam cautela no uso de lasers de diodo e Nd:YAG para tratar peri-implantite, pois seus mecanismos de ação podem ser prejudiciais à superfície do implante. Além disso, Esposito et al. (2010) afirmam que o alto custo da terapia a laser não se justifica, visto que os resultados obtidos são similares aos das terapias mecânicas convencionais (Limeira et al., 2024).
Outro aspecto relevante é que a terapia isolada com laser Er:YAG pode ser insuficiente para eliminar biofilmes mais espessos, exigindo múltiplas aplicações. Além disso, as terapias não cirúrgicas demonstraram limitações nos resultados quando comparadas ao tratamento cirúrgico combinado com outras abordagens (Araki et al., 2006).
Revisões sistemáticas e metanálises não identificaram vantagens adicionais no uso da terapia a laser para redução de bolsas periodontais. A análise de 22 estudos clínicos randomizados e não randomizados não conseguiu comprovar benefícios garantidos do uso isolado do laser em terapias não cirúrgicas, em detrimento das abordagens mecânicas convencionais com curetas de plástico ou metal e clorexidina. Além disso, estudos “ex vivo” indicaram que a terapia a laser não remove completamente os detritos biológicos da superfície dos implantes (Limeira et al., 2024).
Diante da variedade de métodos disponíveis para o tratamento da peri-implantite — mecânicos, químicos ou a laser — ainda não há consenso sobre a abordagem mais eficaz. A escolha do tratamento ideal deve considerar metas específicas, como controle da inflamação, remoção completa do biofilme bacteriano, desintoxicação da superfície do implante para evitar recidivas, criação de um ambiente propício para regeneração óssea e segurança do procedimento, minimizando efeitos colaterais. Estudos “ex vivo” testaram diferentes métodos de descontaminação e mostraram que a implantoplastia obteve os melhores resultados na remoção de detritos biológicos, enquanto o laser, ar-abrasivo e escova abrasiva de titânio tiveram eficácia parcial (Botelho et al., 2023).
Apesar de algumas evidências positivas sobre o uso da terapia a laser na descontaminação de implantes, outros estudos apontam a falta de resultados clínicos conclusivos e questionam sua real efetividade. Como os diferentes tipos de laser apresentam distintos modos de ação e o número de estudos ainda é limitado, sem análises de longo prazo, não há dados confiáveis suficientes para comprovar benefícios consistentes do laser na peri-implantite (Lin; Amo; Wang, 2018).
A diversidade de protocolos e fatores individuais torna difícil estabelecer um padrão de tratamento. Dessa forma, mais estudos clínicos randomizados são necessários para elucidar a doença peri-implantar e definir protocolos eficazes. Conclui-se que as terapias não cirúrgicas são eficazes para a mucosite, mas não para a peri-implantite. Nesse contexto, os tratamentos cirúrgicos demonstraram maior potencial terapêutico. A maioria dos estudos sobre peri-implantite ainda são relatos de casos, com controle de viés deficiente, reforçando a necessidade de mais pesquisas robustas sobre o tema (Oliveira et al., 2015).
Além disso, o LBP possui propriedades antimicrobianas, reduzindo a carga bacteriana no entorno do implante sem causar danos aos tecidos adjacentes. A modulação da resposta inflamatória ocorre por meio da redução da produção de citocinas pró-inflamatórias, como interleucina-1 beta (IL-1β) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), e do aumento da expressão de mediadores anti-inflamatórios, como a interleucina-10 (IL-10). Esse equilíbrio favorece um ambiente mais propício para a cicatrização (Lopes; Pereira, Bacelar, 2018).
Estudos indicam que o LBP melhora a resposta tecidual quando associado a outras terapias convencionais, como desinfecção mecânica e química da superfície do implante. A combinação do laser com agentes antimicrobianos, como o peróxido de hidrogênio ou a clorexidina, potencializa a remoção do biofilme e reduz significativamente a viabilidade bacteriana. Além disso, a fotobiomodulação pode estimular a atividade de osteoblastos, contribuindo para a neoformação óssea ao redor dos implantes afetados (Silva et al., 2020).
Outro benefício do LBP é seu efeito analgésico e modulador da dor, promovendo alívio sintomático para os pacientes com peri-implantite. Esse efeito está relacionado à inibição da liberação de mediadores inflamatórios e à redução da excitabilidade neuronal periférica, melhorando o conforto do paciente durante e após o tratamento (Pelegrini; Venâncio; Liebano, 2012).
Entretanto, apesar dos benefícios relatados, a padronização dos parâmetros do LBP ainda é um desafio, pois fatores como comprimento de onda, tempo de exposição e dose energética influenciam diretamente nos resultados terapêuticos.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que o uso do laser de baixa potência como adjuvante no tratamento da peri-implantite apresenta vantagens significativas, como bioestimulação, efeito antimicrobiano, modulação inflamatória e alívio da dor. No entanto, sua aplicação clínica deve ser baseada em evidências científicas, considerando os parâmetros adequados para otimizar os resultados terapêuticos. A continuidade das pesquisas nesse campo é fundamental para consolidar o papel do LBP na implantodontia moderna e aprimorar estratégias de manejo da peri-implantite.
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1Formada no curso superior de Odontologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) – Campus Guamá, Belém – PA, Brasil. E-mail: hellen.machado10@gmail.com;
2Formada no curso superior de Odontologia pelo Centro Universitário Newton Paiva (NEWTON PAIVA) – Campus Silva Lobo, Belo Horizonte – MG, Brasil. E-mail: sabrina.csds@gmail.com;
3Especialista em Implantodontia pela Escola de Educação Continuada (UNIABO), Campus Fortaleza, Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: assisfaof@gmail.com;
4Especializando em Prótese pela Associação Brasileira de Odontologia (ABO-SE) – Campus Aracaju, Aracaju – SE, Brasil. E-mail: rosana.bezerra@ebserh.gov.br;
5Discente do curso superior de Odontologia pela Universidade da Amazônia (UNAMA) – Campus Gentil, Belém – PA, Brasil. E-mail: prisbarroso@gmail.com;
6Formado no curso superior de Odontologia pela Universidade de Santo Amaro (UNISA) – Campus São Paulo, São Paulo – SP, Brasil. E-mail: fernando@gmail.com
7Formado no curso superior de Odontologia pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) – Campus São Paulo, São Paulo – SP, Brasil. E-mail:fernando@gmail.com
8Discente do curso superior de Odontologia pela Universidade da Amazônia (UNAMA) – Campus Gentil, Belém – PA, Brasil. E-mail: mathewssilvaa@gmail.com
9Discente do curso superior de Odontologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU)– Campus Umuarama, Uberlândia – MG, Brasil. E-mail: polyanafrodrigues@gmail.com;
10Mestranda em Odontologia Legal pela São Leopoldo Mandic (SLMANDIC) – Campus Campinas, São Paulo – SP, Brasil. E-mail: yslaviasoares2020@gmail.com
11Formada no curso superior de Odontologia pelo Centro Universitário UniFavip (UNIFAVIP) – Campus Caruaru, Caruaru – PE, Brasil. E-mail: barbaraksmaia@gmail.com