REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102411211054
Carlos Felipe Alves Magalhães
André Fellipe Gusmão Nunes
Orientadora: Prof. Me. Anna Fernanda Machado Sales da Cruz Ferreira
Co-orientadora: Profa. Ana Paula Gonçalves Ferreira Miranda
RESUMO
A Pododermatite asséptica difusa ou Laminite é uma doença que decorre da inflamação e degeneração nas lâminas do casco dos equinos. O seu desenvolvimento ainda não é completamente compreendido e possui fatores envolvidos como doenças infeciosas e/ou sistêmicas, excesso de exercício, patologias locomotoras, obesidade e distúrbios metabólicos. Os principais sinais clínicos dessa enfermidade são claudicação, dor, aumento da temperatura, aumento no pulso digital, podendo haver alteração em outros sistemas. Tem seu diagnóstico baseado em sinais clínicos, elevação na temperatura dos cascos e aumento da frequência e intensidade do pulso nas artérias digitais palmares. O tratamento consiste na diminuição da inflamação, controle da dor e melhora da perfusão periférica. Essa síndrome inflamatória tem relevância dentre as enfermidades dos equinos devido ao seu impacto na funcionalidade de animais atletas, em diversas modalidades equestres, além de estar associada a uma taxa de mortalidade alta, seja devido às alterações circulatórias, seja a eutanásia devido a irreversibilidade do quadro locomotor. O objetivo deste trabalho foi evidenciar as consequências geradas pela laminite em equinos após abdômen agudo, relatando os aspectos diagnósticos, os procedimentos terapêuticos adotados, a evolução do tratamento instituído, assim como o desfecho do caso.
Palavras-chave: Claudicação; Casco; Cólica
LAMINITIS IN THE HIND LIMB AFTER ACUTE ABDOMEN IN A HORSE: CASE REPORT
ABSTRACT
Diffuse aseptic pododermatitis or laminitis is a disease that results from inflammation and degeneration in the laminae of the equine hoof. Its development is not yet fully understood and involves factors such as infectious and/or systemic diseases, excessive exercise, locomotor pathologies, obesity and metabolic disorders. The main clinical signs of this disease are lameness, pain, increased temperature, increased digital pulse, and there may be changes in other systems. Its diagnosis is based on clinical signs, increased hoof temperature and increased pulse frequency and intensity in the palmar digital arteries. Treatment consists of reducing inflammation, controlling pain and improving peripheral perfusion. This inflammatory syndrome is relevant among equine diseases due to its impact on the functionality of athletic animals in various equestrian sports, in addition to being associated with a high mortality rate, either due to circulatory changes or euthanasia due to the irreversibility of the locomotor condition. The objective of this study was to highlight the consequences of laminitis in horses after acute abdomen, reporting the diagnostic aspects, the therapeutic procedures adopted, the evolution of the treatment instituted, as well as the outcome of the case.
Keywords: Lameness; Hoof; Colic
- INTRODUÇÃO
A laminite é uma das principais enfermidades que afeta a espécie equina, sendo caracterizada pela inflamação das lâminas do casco (AZEVEDO, 2020). Essa doença, acomete os animais independente de sua raça, idade, sexo e pelagem, é uma das principais demandas de solicitações veterinárias devido ao grande desconforto apresentado pelos equinos, pois o sistema locomotor é de extrema importância para sua sustentação e locomoção (AMARAL, 2022; RIBEIRO, 2013; SILVA, 2018).
Essa grave enfermidade, conhecida também como aguamento ou pododermatite asséptica (PDA), possui diversos fatores patogênicos, como mecanismos isquêmicos, inflamatórios, enzimáticos e endócrinos (metabólicos) (OLIVEIRA, 2018). Por meio desses processos, a laminite causa uma diminuição na perfusão capilar, levando a formação de desvios arteriovenosos, e, consequentemente, à necrose e isquemia das lâminas do membro afetado (ASSIS, 2016).
A laminite tem um quadro clínico caracterizado por claudicação, grave desconforto podal e dificuldade de permanência da posição quadrupedal, por isso o animal tenta adotar uma postura antálgica para minimizar a dor (LASKOSKI, 2016; POLLITT, 1999). Nesse sentido, a variação desses sinais clínicos está relacionada à divisão desta doença em três fases: fase de desenvolvimento, fase aguda e fase crônica. A primeira acontece antes do surgimento da claudicação e é precedida pela presença de fator predisponente ou de doença preexistente, sendo necessário o tratamento precoce para impedir sua progressão e garantir um melhor prognóstico (COL, 2024; MENDES, 2021)
Na fase aguda, o animal apresenta inicialmente claudicação e outros sinais clínicos, como aumento da pressão arterial, aumento da frequência cardiorrespiratória, presença de tremores, sudorese e uma expressão típica dolorosa. Na tentativa de aliviar a dor, o equino apoia-se nos talões contralaterais aos membros acometidos (COL, 2024; MENDES, 2021; POLLITTI, 2008). Caso não seja resolvida, inicia-se a fase crônica, determinada pela continuação da dor no casco após 72 horas ou rotação da terceira falange (COL, 2024; MENDES, 2021; RODRIGUES, 2020).
Tem causas variadas, sendo a mais prevalente a sepse bacteriana, que está relacionada com endotoxemia, por conta de outros eventos como colite, endometrite e pleuropneumonia. (BURNS, 2017; FALEIROS et al., 2008; WALSH, 2017) Além disso, a obesidade pode levar a essa doença, pois o excesso de lipídeos estimula a liberação de citocinas inflamatórias (MCGOWAN, 2008). Por fim, distúrbios endócrinos e metabólicos também causam laminite, como síndrome metabólica ou de Cushing e resistência insulínica (XAVIER, 2012).
Para o diagnóstico definitivo e acompanhamento dessa enfermidade, é necessária a realização de exames de imagem como a radiografia (MENDES, 2021). São utilizadas, frequentemente, as projeções lateromediais e dorso palmares ou dorso plantares, as quais evidenciam a rotação e afundamento da terceira falange (ALMEIDA, 2017). Além disso, pode ser utilizada a venografia para auxiliar o tratamento e avaliar o prognóstico do animal, visto que esse exame tem como objetivo analisar a perfusão regional. A literatura também relata a importância da termografia por ser um método não invasivo e preciso para diagnosticar essa doença em seus estágios iniciais. (MENDES, 2021).
A laminite pode ser uma consequência após o abdômen agudo em equinos, isso porque, essa síndrome provoca isquemia e liberação de endotoxina, promovendo um quadro de inflamação sistêmica, podendo acometer as lâminas dérmicas e terceira falange (CANELLO, 2018). Observa-se que há uma correlação entre essas duas enfermidades, principalmente, nos casos em que o animal passou uma intervenção cirúrgica para sua resolução (CANELLO, 2018). Diante da importância dessa enfermidade e sua ocorrência frequente, este trabalho teve o objetivo de relatar um quadro de laminite em um equino após síndrome cólica, evidenciando a evolução clínica e as medidas terapêuticas adotadas.
- MATERIAL E MÉTODOS
Foi atendido no dia 6 de junho de 2024, pelo médico veterinário plantonista,na Cavalaria da Polícia Militar da Bahia (CPMBA), situada no distrito de Maria Quitéria, no município de Feira de Santana – Bahia (BA), um equino macho, sem raça definida (SRD), de pelagem tordilha, de oito anos de idade e peso de 460 Kg, que pertence ao esquadrão da guarda montada, tendo como queixa principal o desconforto abdominal.
Foi relatado a alimentação e o manejo habitual dos equinos, destacando que os animais eram criados soltos a pasto, recebendo também arraçoamento em cochos diariamente, sendo 4 kg de ração peletizada por dia, distribuídos em duas refeições, além de ter acesso livre ao feno. No entanto, no dia 6 de junho de 2024, o equino do caso apresentou sintomas de cólica e foi atendido imediatamente, quando, após avaliação clinica, foi diagnosticada síndrome cólica, por compactação de cólon maior sem resolução no tratamento clinico. Por este motivo o animal foi encaminhado para a Clínica do Rancho, localizada no município de Camaçari-BA. O paciente foi submetido à cirurgia emergencial no mesmo dia, durando cerca de quatro horas, sem intercorrências. O animal respondeu positivamente à intervenção, apresentando apenas leve diarreia e desidratação no pós-cirúrgico. Diante disso, foi iniciado o tratamento com fluidoterapia intravenosa e a prevenção da laminite por meio de crioterapia, que consiste na imersão dos membros em um recipiente com gelo e água, durante 72 horas.
No vigésimo segundo dia pós-operatório, o equino recebeu alta médica e retornou à sede da CPMBA, sendo acomodado em uma baia com cama de areia lavada. Foi montado um plano alimentar baseado em feno, pastejo e sal mineral, sem o consumo de concentrado. No entanto, duas semanas após o retorno, no dia 7 de julho de 2024, o animal começou a apresentar claudicação intensa no membro posterior direito, e imediatamente foi atendido pelo médico veterinário de plantão da CPMBA, sendo realizado exame clínico, com avaliação locomotora, especialmente dos cascos, coleta de sangue para hemograma e exame radiográfico, que constatou alterações, iniciando-se imediatamente o tratamento para a suspeita de laminite.
No dia 10 de julho de 2024, foi feito o primeiro casqueamento terapêutico nos dois membros posteriores para manter a mesma altura e aumentar o equilíbrio, sendo que apenas o direito foi afetado. Utilizou-se depois gesso sintético no casco, para proteger a palmilha de silicone, usada para auxiliar no amortecimento e conforto, deixando espaço aberto na sola, para realização da assepsia, feita a cada 48h, durante 15 dias consecutivos. Também se iniciou a terapêutica sistêmica, durante 10 dias seguidos, tanto anti-inflamatória com a Fenilbutazona (4,4mg/kg, uma vez ao dia, intravenoso) quanto antibiótica com a associação de Penicilinas (20000UI/Kg, uma vez ao dia, intramuscular), instituindo-se ainda fluidoterapia endovenosa com dois litros de soro ringer lactato. Após esse período, continuou-se terapia com Meloxicam (0,6mg/kg, uma vez ao dia, oral), por 14 dias consecutivos.
Foi realizado monitoramento diário dos parâmetros clínicos, durante 26 dias, desde o primeiro atendimento e casqueamento. No dia 16 de agosto foi verificado um ferimento decorrente do contato do gesso terapêutico na quartela, fazendo-se necessária a retirada da bota gessada e realização de ferrageamento, adotando-se a utilização da ferradura em formato de coração, objetivando promover uma melhor distribuição de peso para os talões, além de proporcionar maior conforto e bem estar para o animal.
Apesar da recomendação de manter o animal apenas no volumoso, foi necessário retorno do fornecimento da ração, devido à logística do manejo alimentar da CPMBA. No 29º dia de tratamento da laminite, o animal apresentou um novo desconforto abdominal, sendo diagnosticado com síndrome cólica e precisou ser encaminhado para a clínica do CDP/UFBA. .Mesmo após atendimento clinico emergencial, houve piora durante terapêutica clinica conservativa, com aumento da dor e refluxo nasogástrico espontâneo, observando-se deslocamento de flexura pélvica, encaminhando-se paciente para o centro cirúrgico da Clínica do Rancho. Uma vez lá o animal foi reavaliado e devido a deterioração dos parâmetros vitais, não havia mais condições para cirurgia, optando-se por indicação de eutanásia, para abreviar o sofrimento do animal, devido a irreversibilidade do quadro. Após comunicação com responsável do equino e autorização da eutanásia, a mesma foi realizada, observando-se ruptura de alça de intestino delgado à necropsia.
- RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente trabalho relatou um quadro de laminite aguda pós síndrome cólica em um equino, que passou por uma intervenção cirúrgica para resolução do problema. Nesse sentido, Azevedo et al.(2020) também relatou que a laminite pode ser consequência de enfermidades sistêmicas, como síndrome cólica e pleuropneumonias, uma vez que as mesmas podem desencadear um quadro de endotoxemia.
Neste relato utilizou-se a crioterapia após resolução cirúrgica da síndrome de cólica para prevenção de laminite. Esse procedimento causa a redução da temperatura do casco provocando vasoconstrição local, diminuindo o aporte sanguíneo e transporte de endotoxinas nas lâminas, impedindo, assim, o desencadeamento da laminite, assim como descrito na literatura (POLLIT, 2008). Kullmann et al. (2014), em seu estudo, também evidenciou que animais submetidos a crioterapia, tiveram 10 vezes menos chances de desenvolver pododermatite asséptica difusa, decorrente de endotoxemia e sepse, em relação aos que não utilizaram esse procedimento. Entretanto, mesmo utilizando essa terapia preventiva logo após a cirurgia, o equino relatado desenvolveu essa enfermidade.
Em relação ao quadro clínico da laminite, a claudicação no membro posterior direito foi o primeiro sinal apresentado pelo animal, com manutenção em posição anti-álgica. Luz et al. (2021) inferiu que a dor é o principal sinal clínico, sendo mais prevalente nos membros anteriores, por serem responsáveis por maior suporte do peso em equinos. Neste relato observou-se quadro de laminite não tão comum, visto que o membro acometido foi o posterior.
Figura 1 – Animal em posição antálgica de decúbito lateral
Fonte: Arquivo pessoal (2024).
Além da dor, outras manifestações clínicas associadas foram taquicardia (49 batimentos por minuto), taquipneia (30 movimentos respiratórios por minuto), pulsos palpáveis das artérias distais, hipertermia (temperatura retal 39,5ºC), tempo de preenchimento capilar (4 segundos). Col (2024) evidenciou que animais acometidos pela laminite também apresentaram esses sinais clínicos em seu estudo. Para uma melhor avaliação clinica, devem ser feito um bom histórico do paciente, além de exame físico e exames complementares, obtendo-se um diagnóstico precoce e efetivo segundo a literatura (MENDES, 2021), assim como no caso relatado, o animal apresentou esses sinais clínicos e teve uma investigação mais direcionada para laminite.
Segundo Mendes (2021) é importante ressaltar que os exames de imagem, auxiliam o diagnóstico da laminite, por avaliar o posicionamento da terceira falange dentro do casco; enquanto a venografia também pode ser um recurso importante, para identificação do nível de perfusão sanguínea, na região do casco. No caso relatado, fez-se a utilização apenas da radiografia, a qual evidenciou a rotação da terceira falange do membro posterior direito, associada à abcesso subsolar, com os demais membros não apresentando alterações, direcionando-se terapêutica adotada.
Figura 2 e 3 – Radiografia de membro equino apresentando laminite.
Fonte: Arquivo Pessoal (2024). Fonte: POLLIT (2008).
As medidas terapêuticas, descritas pela literatura, que podem ser adotadas para pacientes que estão acometidos por essa enfermidade são anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), vasodilatadores, analgésicos e fluidoterapia (Belknap et., al, 20217). No caso relatado, o tratamento foi baseado em AINES, como Fenilbutazona e Meloxicam, na fluidoterapia, acrescentando-se nesse caso a associação de Penicilinas e Estreptomicina, como antibiótico, visto que havia infecção secundária e abscedação solear, não sendo utilizados analgésicos nem vasodilatadores, que não estavam disponíveis na farmácia da cavalaria.
Belknap et al (2017) elucida que a utilização AINES como Flunixina meglumina, Fenilbutazona, Cetoprofeno e Meloxicam, são eficazes para combater a endotoxemia, quando associada a quadro de laminite, sendo o primeiro superior em relação aos demais como anti-endotoxêmico. Cita ainda que o último é uma boa alternativa terapêutica, por ser inibidor seletivo da Cicloxigenase-2 (COX-2), com menos efeitos colaterais e menor acontecimento de acidentes vasculares, no entanto, seu potencial analgésico é baixo (MENDES, 2021). Os anti-inflamatórios adotados no paciente relatado foram inicialmente a Fenilbutazona, com uma melhor ação analgésica, seguido do Meloxicam, por ter menos efeitos adversos gastrolesivos, sendo usado por tempo maior, estando parcialmente de acordo com Belknap et al. (2020) e Mendes (2021).
O hemograma deste animal revelou leucocitose e neutrofilia, sugerindo inflamação e possível infecção bacteriana secundária à laminite, comprovada pela presença de abscesso subsolear, sendo por isso, utilizados antimicrobianos como Penicilinas associada a Estreptomicina, os quais estavam disponíveis na farmácia da CPMBA. Belknap et al (2017) também relatou que em casos de infecção, deve ser iniciada antibioticoterapia com medicamentos de amplo espectro, visto que, estes quando associados a anti-inflamatórios e terapia local nos cascos, isso pode ser indispensável para combater a inflamação e a infecção, diminuindo o progresso da laminite.
Baseado nos achados radiológicos de desvio da falange foi realizado o casqueamento para dar conforto ao animal. Esse procedimento mostra eficácia para manter a saúde do casco, ao promover um maior equilíbrio e diminuir a sustentação de peso na pinça, como também é descrito na literatura (SILVA, 2013; PAULA, 2020). No procedimento desse caso, adotou-se a técnica de gesso de sola aberta, com uso de palmilha de silicone, aplicando um material de impressão na região central como uma almofada, mantendo o restante da superfície solear exposta, sendo o gesso aplicado ao redor da sola e em volta da muralha do casco (figuras 4-A e B). Essa técnica, também descrita por Belknap et.al (2017), permite aumentar o suporte de peso no membro acometido e mantém o acesso à sola, para realização de medicamentos tópicos e curativos, como aqueles necessários em lesões subsoleares.
Figura 4A e B – Técnica de Gesso de Sola Aberta em equino no membro posterior direito
B |
A |
Fonte: Arquivo pessoal, 2024.
Pollit (2008) cita que o uso de ferradura, em formato de coração (figura 5A), aumenta a taxa de recuperação e a velocidade da regeneração efetiva da parede do casco. Essa técnica, ao evitar o contato direto da parede do casco com o solo, libera a pressão na falange distal rotacionada, distribuindo o peso e estimulando a circulação sanguínea local. Isso auxilia o tratamento da laminite e, em casos infectados, fornece drenagem para esse local (PASQUALINI, 2023; POLLIT, 2008). No relato também foi adotado esse tipo de ferrageamento (figura 5B), partindo desse pressuposto teórico, tendo um bom resultado.
Figura 5A e B – Ferradura em formato de coração
B |
A |
Fonte: POLLIT (2008). Fonte: Arquivo pessoal (2024).
Apesar da terapêutica que foi utilizada para laminite, causar melhora do locomotor, o animal apresentou recidiva do abdômen agudo, com quadro grave e irreversível, sendo necessária a eutanásia para que fosse interrompido seu sofrimento. O quadro grave e o óbito observado no relato, também foi descrito por Wuthe et al (2016), que cita a síndrome cólica como uma doença comum e severa para os equinos, sendo uma das maiores causas de morte, seja natural ou induzida, responsável por pelo menos 28% de mortalidade nessa espécie. Nesse sentido, o Guia Brasileiro de Boas Práticas para Eutanásia em Animais (CFMV, 2012), tem sugerido a prática da eutanásia, nos casos que o animal tem seu bem-estar comprometido, não sendo possível diminuir a sua dor através de analgesia e sedação ou solucionar o problema com tratamentos. Nesse caso, assim com o descrito na literatura, essa prática foi adotada, uma vez que o animal não respondia aos medicamentos administrados, nem possuía condições clinicas de realizar uma nova cirurgia para resolução da enfermidade.
- CONCLUSÃO
O animal do relato descrito apresentou laminite, decorrente de quadro de síndrome cólica associada a endotoxemia, assim como é descrito na literatura, sendo observado os sinais clínicos clássicos como claudicação, taquicardia, pulso das artérias digitais palpáveis e hipertermia local, devido às alterações sistêmicas e circulatórias. Mesmo após o tratamento conservativo da laminite, através de medicações parenterais, casqueamento e bandagem, ocorreram complicações associadas, necessitando de ferrageamento corretivo. Infelizmente, houve um novo quadro de abdômen agudo, evoluindo com gravidade e para óbito, impossibilitando a continuidade do tratamento para laminite.
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