REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411201309
Natanael Ribeiro Vargas1;
Itallo Santos Oliveira2;
Máiron Barreto Sousa3
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de uma égua que teve laceração perineal de terceiro grau. A causa derivou de uma distorcia fetal, que foi percebida após ser passada para outro proprietário. Ela foi levada ao hospital veterinário para solução do caso após meses do acontecido, sendo a laceração classificada como grave, pois já havia acometido todo sistema reprodutor do animal, sendo encaminhada para tratamento e logo em seguida optou-se pela cirurgia de reparação. A técnica usada foi Pouret Modificada por Papa et al. em três estágios; o animal foi para o brete para ser contida, em seguida sedada, para assim dar início ao processo operatório, ressaltando-se que durante todo o tempo o animal se comportou de maneira adequada. Depois do pós-operatório o animal foi mantido em baia separada com a finalidade de mantê-la tranquila, sendo mantida em uma dieta específica para que as fezes permanecessem moles evitando complicações do quadro, também foram administrados de medicamentos e curativos para sua boa recuperação. Notou-se que a técnica escolhida resultou em uma absoluta recuperação sem nenhuma consequência física.
Palavras-chave: Laceração Vulvar; Infertilidade; Vulvoplastia.
ABSTRACT
The present work aims to report the case of a mare that had a third-degree perineal laceration. The cause was due to fetal distortion, which was noticed after being passed on to another owner. She was taken to the veterinary hospital to resolve the case months after the incident, with the laceration classified as serious, as it had already affected the animal’s entire reproductive system, being sent for treatment and then repair surgery was chosen. The technique used was Modified Pouret by Papa et al. in three stages; the animal went to the chute to be restrained, then sedated, to begin the operative process, highlighting that throughout the time the animal behaved appropriately. After the postoperative period, the animal was kept in a separate stall in order to keep it calm, being kept on a specific diet so that the feces remained soft, avoiding complications from the condition, and medications and dressings were also administered for its good recovery. It was noted that the chosen technique resulted in an absolute recovery without any physical consequences.
Keywords: Vulvar Laceration; Infertility; Vulvoplasty.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, o setor do agronegócio voltado para a criação de cavalos movimenta anualmente mais de R$ 16 bilhões, gerando cerca de três milhões de empregos diretos e indiretos. Esse crescimento expressivo é provavelmente impulsionado pelo aumento da criação de cavalos destinados a esportes e lazer, em vez de para o trabalho rural. Isso ocorre porque os animais voltados para atividades esportivas ou recreativas exigem cuidados mais especializados, resultando em maiores investimentos (Brasil, 2016). A paixão por cavalos tem se intensificado entre os praticantes de esportes equestres, o que contribui para a expansão desse mercado, abrindo novas oportunidades em diversos segmentos. Nesse contexto, a medicina veterinária desempenha um papel essencial, garantindo a saúde e o bem-estar desses animais e acompanhando a crescente demanda por cuidados especializados.
Uma das áreas que mais tem ganhado espaço é a de reprodução, portanto, vem despertando o interesse de médicos veterinários que buscam aprimoramento nesta área, o que induz uma maior descoberta de casos de patologias do trato reprodutivo da fêmea. O estudo das lesões perineais em éguas tem sido abordado de maneira diversificada por diferentes autores, destacando aspectos distintos da reprodução equina. Por um lado, Brandtner et al. (2014) sugerem que éguas primíparas ou de estrutura corporal pequena apresentam maior predisposição a distocias fetais e, consequentemente, às lesões perineais, especialmente quando não recebem assistência adequada durante o parto. Essa perspectiva enfoca a vulnerabilidade física e a falta de apoio durante o processo de parto como fatores de risco primários.
Por outro lado, LeBlanc (2008) argumenta que éguas com grande massa muscular ou jovens primíparas, que frequentemente experimentam pânico no momento do parto, são as mais acometidas pelas lesões perineais. Aqui, a ênfase recai sobre o comportamento psicológico e a resposta emocional da égua durante o parto, sugerindo que o estresse pode ser um fator agravante significativo. Essas duas perspectivas não são mutuamente exclusivas, mas, em vez disso, podem ser complementares. Enquanto Brandtner et al. (2014) chamam atenção para fatores físicos e ambientais, LeBlanc (2008) coloca em foco a dinâmica emocional e comportamental.
As lacerações perineais acontecem também em outras espécies, no entanto, nas éguas observa-se uma maior frequência correlacionada a força da contração para expulsar o feto. Devido ao tamanho, há uma maior incidência de mal posicionamento durante o nascimento, sendo assim o(s) membro(s) ou a cabeça do potro são pressionados caudal e dorsalmente, levando a laceração de assoalho anal, sendo narrado que em alguns casos isto acontece quando a ponta do casco do nascituro acaba perfurando o teto vaginal e transpassa pela ampola retal; a cabeça do feto segue em direção a vagina e em seguida a vulva causando assim a laceração de terceiro grau (Pooniya et al., 2019). Em partos distócicos, a apresentação ou tamanho do feto em relação à égua podem contribuir para a laceração perineal, quando, por exemplo, o nariz ou cascos do potro são desviados para cima e tocam a dobra anular do hímen, entre a vagina e o vestíbulo, penetrando assim no vestíbulo dorsal e no reto devido a maior dobra anular do hímen e o inadequado relaxamento dos tecidos vaginais. A não abertura decorrente das vulvoplastias antes do parto, além de histórico de lacerações em partos anteriores também são causas comuns de laceração perineal (Prestes; Lourenção, 2015). As lacerações perineais normalmente não causam risco iminente de vida, porém se não tratadas adequadamente podem levar a uma série de complicações que irão comprometer a fertilidade da égua e o seu desempenho reprodutivo (Queiroz et al., 2019).
Em virtude desta lesão, segue-se uma sequência de problemas que podem ser ocasionados devido ao rompimento dessas barreiras de proteção. Uma delas é a contaminação do sistema reprodutor. A vulva é a primeira porta de proteção do sistema reprodutor, caso a vulva não tenha uma boa cooptação dos lábios resultará na entrada de ar, contaminando assim a vagina (Papa et al., 2014).
A laceração perineal tem três distintos graus: primeiro, segundo e terceiro. As de primeiro grau ocorrem na mucosa vestibular e pele da comissura dorsal da vulva; as de segundo grau tem ocorrência na mucosa vestibular e submucosa, a pele da comissura dorsal da vulva e o músculo do corpo perineal; as de terceiro grau ocorrem na mucosa retal e submucosa, septo perineal e esfíncter anal, essas lesões podem levar ao aparecimento de uma pneumovagina, até um quadro de esterilidade permanente, e, em casos mais graves, a morte do animal. Na lesão de terceiro grau se tem um rompimento total causando uma deformidade entre os limiares anatômicos entre a ampola retal e o teto vaginal, nota-se o acúmulo de fezes com urina neste espaço comum levando, como consequência, a vaginite, cervicite e endometrite, o que colabora para esterilidade do animal (Brandtner et al., 2014).
A presença de fezes em lesões de segundo e terceiro grau indica um comprometimento significativo da região perineal. Essa condição aumenta o risco de infecções e gera desconforto, exigindo uma avaliação e intervenção rápidas para restaurar a função normal e evitar complicações adicionais, como infecções secundárias, como explica Brandtner et al. (2014). As lacerações de terceiro grau necessitam de tratamento cirúrgico. Quando a lesão é detectada imediatamente após o trauma, alguns profissionais optam por realizar a reparação cirúrgica de forma imediata. No entanto, muitos autores desaconselham essa abordagem se já tiverem se passado mais de seis horas, devido às condições desfavoráveis, como contaminação fecal e edema ou necrose tecidual. Assim, o manejo é dividido em duas etapas: cuidados iniciais e intervenção cirúrgica. Os cuidados imediatos incluem a limpeza da ferida e a cicatrização por segunda intenção. A reparação cirúrgica deve ser realizada após três a quatro semanas, ou quando os tecidos lesados estiverem completamente cicatrizados, afirma Queiroz et al. (2019).
O tratamento cirúrgico recomendado envolve a combinação de vulvoplastia e perineoplastia, procedimentos essenciais para a recuperação das estruturas da vulva, períneo e reto, que são fundamentais para a função reprodutiva e a saúde geral da égua (Brandtner et al., 2014). A vulvoplastia tem como objetivo restaurar a anatomia da vulva, corrigindo danos ou deslocamentos causados pela lesão. Durante essa etapa, o cirurgião ajusta a forma e a função da vulva, prevenindo complicações futuras, como infecções e problemas de retenção urinária (Papa et al., 2014).
Por sua vez, a perineoplastia é direcionada à correção das lesões no períneo, região localizada entre a vulva e o reto. Esse procedimento reconstrói e fortalece a parede perineal, que pode ter sido danificada pela lesão. A integridade do períneo é essencial para o bom funcionamento do trato reprodutivo e para evitar a formação de fístulas e outras complicações associadas (Papa et al., 2014).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Uma égua Quarto de Milha de 8 anos, recentemente adquirida para atividades esportivas, chegou à propriedade com histórico de pneumovagina, uma condição que afeta a saúde reprodutiva. O antigo proprietário relatou que a égua havia passado por uma manobra assistida durante o parto, mas não deu atenção ao sangramento persistente que se seguiu, acreditando ser uma ocorrência normal. Ao assumir o cuidado do animal, os novos proprietários consultaram um médico veterinário especializado para uma avaliação detalhada. O exame clínico revelou uma lesão perineal de terceiro grau, que comprometia significativamente os órgãos reprodutivos.
Além disso, foi identificada uma fístula envolvendo a ampola retal e o teto do vestíbulo vaginal, com extensão aproximada de 20 cm. Diante da gravidade do quadro, a égua foi imediatamente internada. Para obter um diagnóstico preciso e orientar o tratamento, foram realizados exames laboratoriais, como antibiograma, cultura fúngica e antifungigrama, que confirmaram a presença de uma infecção bacteriana ativa, exigindo intervenção veterinária especializada
Antes de proceder com a cirurgia corretiva, o tratamento inicial foi focado em controlar a infecção e estabilização. O protocolo de tratamento eletivo incluiu o uso de antibióticos e a realização de lavagem uterina para limpeza da área afetada. Para combater a infecção bacteriana foi administrada Gentamicina intramuscular, na dosagem de 40 ml por um período de 7 dias. Na lavagem do útero foram utilizados dois frascos de Botukiller, totalizando 90 ml, também durante 7 dias, para promover uma higienização eficaz e ajudar na recuperação da área afetada.
Após a conclusão do tratamento supra elencado, a avaliação clínica indicou uma melhora significativa na condição do animal sendo programado o procedimento cirúrgico corretivo. A cirurgia consistiu na realização de vulvoplastia e perineoplastia, técnicas destinadas a reparar e reconstruir a vulva e o períneo danificados. Esses procedimentos são essenciais para restaurar a funcionalidade normal da área reprodutiva e resolver as complicações associadas à lesão perineal e à fístula.
A vulvoplastia focou na restauração da anatomia da vulva, garantindo que retornasse à sua forma e função normais. A perineoplastia envolveu a reparação da parede perineal e a correção das fístulas, visando a recuperação da integridade estrutural da região. A combinação desses procedimentos cirúrgicos visa não apenas corrigir os danos físicos, mas também melhorar a saúde geral e a capacidade reprodutiva da égua. A abordagem cuidadosa e o tratamento completo, que incluíram tanto a terapia medicamentosa quanto a intervenção cirúrgica, são fundamentais para garantir a recuperação bem-sucedida da égua e permitir que ela retome suas atividades esportivas e reprodutivas de forma saudável e eficaz.
No dia planejado para a cirurgia, 17/05/2024, o animal foi direcionado ao brete de contenção para realização do procedimento cirúrgico em estação, sendo realizada a sedação com Detomidina (0,8 ml/kg) e esvaziamento do reto. Após a tricotomia e antissepsia foi realizada uma analgesia epidural (Co1-Co2) com Lidocaína na dose de 1,5 mg/kg, no volume total de 20 ml, aplicado em quatro pontos de 5 ml. Seguiu-se com enfaixamento da cauda, fixação do pescoço e colocação de pano de campo na porta do brete, com antissepsia do períneo, com incisão vertical da pele e subcutâneo do mesmo. Em sequência realizou-se divulsionamento dos tecidos perineais com tesoura de Metzembauer para afastamento do assoalho retal e teto vaginal. Para finalizar, conforme visto na figura 1, realizou-se sutura tipo Wolf com fio nylon nº 2-0 no sentido horizontal.
Figura 1 – Sutura tipo Wolf com fio nylon nº 2-0 no sentido horizontal.
Em seguida, conforme figura 2, procedeu-se a técnica de Caslick, que consiste em reduzir a rima vulvar para resolução de pneumovagina. Para isso pinçou-se a comissura dorsal e demarcou-se o limite lateral dos lábios vulvares excedentes acima das tuberosidades isquiáticas propiciando a entrada de ar na vagina. Procedeu-se a retirada de tecido da borda da vulva desta região demarcada para formação de face cruenta e em seguida efetuou-se sutura dos lábios tipo Wolf com fio nylon nº 2-0.
Figura 2 – Técnica de Caslick.
Durante o transoperatório, foi administrado cetoprofeno na dosagem de 2,2 mg/kg, via intravenosa, como terapêutica anti-inflamatória. No pós-operatório imediato, a higienização foi realizada com solução iodada a 1%, seguida da aplicação de uma fina camada de pomada antibiótica contendo sulfato de neomicina e bacitracina diretamente sobre a ferida, duas vezes ao dia. Após a conclusão da vulvoplastia, procedeu-se com a limpeza dos pontos utilizando clorexidina alcoólica a 0,5%, secagem com gases estéreis e aplicação de spray cicatrizante à base de sulfadiazina de prata (Max prata®), além da administração intravenosa de flunixin meglumine (Flumax®) na dose de 1,1 mg/kg, volume de 10 ml.
No pós-operatório, foi prescrita antibioticoterapia com enrofloxacina 10%, aplicada logo após o procedimento, na dose de 7,5 mg/kg (12 ml), com uma segunda aplicação após 72 horas, também de 12 ml. Além disso, continuou-se com o anti-inflamatório flunixin meglumine 5%, na dose de 1,1 mg/kg (10 ml), administrado uma vez ao dia por três dias. O procedimento ocorreu com sucesso, e a égua recebeu alta com orientações para realizar a limpeza da ferida duas vezes ao dia utilizando água e clorexidina a 0,5%, seguida da aplicação de Ganadol em quantidade de 1-2 cm sobre a área, duas vezes ao dia. Foi indicada a restrição de exercícios físicos até a completa cicatrização, além da avaliação periódica da integridade da ferida e da cooptação das bordas. Dez dias após o procedimento, os pontos foram retirados.
Durante o período de internação, a égua teve uma recuperação excelente e recebeu alta após 15 dias de tratamento intensivo. No momento da alta, foram fornecidas orientações para o manejo domiciliar, com ênfase na importância de manter a área suturada limpa e asséptica. Os cuidados incluíam a realização de curativos duas vezes ao dia, utilizando água corrente e detergente neutro para garantir a higiene das suturas. Apesar da boa evolução clínica, foi detectada uma pequena deiscência em um ponto da sutura, que foi imediatamente comunicada ao veterinário responsável. Este orientou a manutenção dos pontos por mais sete dias, para garantir uma cicatrização completa. Após o período adicional, os pontos foram retirados conforme o protocolo, e exames subsequentes confirmaram que a infecção havia sido totalmente resolvida.
Com a infecção controlada, a égua iniciou gradualmente suas atividades físicas. No entanto, foi observada uma falta de cooptação adequada nos lábios vulvares, o que motivou um novo retorno ao veterinário para um procedimento corretivo. Dois meses após a alta, foi realizada uma intervenção estética na vulva, com o objetivo de alinhar e ajustar os lábios, corrigindo o problema. O procedimento estético foi bem-sucedido, restaurando tanto a funcionalidade quanto a aparência da área reprodutiva da égua. A abordagem cuidadosa e as intervenções complementares foram fundamentais para garantir a recuperação plena e o bem-estar do animal, permitindo-lhe retomar suas atividades sem qualquer limitação funcional ou estética.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As lesões perineais em éguas representam um desafio clínico significativo, exigindo tratamentos especializados devido à sua complexidade e à gravidade das consequências. Tais lesões geralmente resultam de um monitoramento inadequado durante a gestação e o parto, o que pode levar a impactos duradouros na saúde reprodutiva e no bem-estar geral do animal. Além disso, o processo de cicatrização dessas lesões tende a ser prolongado e demanda cuidados veterinários rigorosos para evitar complicações, como infecções secundárias (Pooniya et al., 2019).
Em um caso específico, foi realizada uma correção cirúrgica em uma égua com laceração perineal de terceiro grau, utilizando abordagens consolidadas na literatura. O tratamento começou com a aplicação da técnica de Caslick, amplamente utilizada na correção de pneumovagina, uma condição em que a abertura vulvar permite a entrada de ar e agentes infecciosos. Segundo Turner e McIlwraith (2011), a correção de lacerações perineais de terceiro grau deve ser realizada em dois estágios, utilizando o método de Aanes. No primeiro estágio, uma proeminência foi formada entre o reto e a vagina, sendo suturada com fio categute. Já no segundo estágio, o corpo perineal foi reestruturado, visando reduzir a tensão nas suturas e evitar a ruptura prematura das mesmas.
No entanto, a literatura aponta algumas limitações dessa técnica. Silva e Pippi (1983), citados por Stainki e Gheller (2000), sugerem que, quando o teto do vestíbulo não é incluído na sutura, a simples correção dos lábios vulvares pode ser insuficiente, resultando em recidivas. Em contraste, Colbern et al. (1985), conforme citado por Stainki e Gheller (2000), defendem o uso de uma técnica em dois estágios, que mostrou uma taxa de sucesso de 75%, em um estudo com 47 éguas, quando aplicada em casos mais graves. Embora exigente em termos de conhecimento técnico e acompanhamento pós-operatório, essa abordagem se mostrou mais eficaz, promovendo uma cicatrização mais completa e reduzindo o risco de recidivas.
Além da técnica de Caslick, o tratamento incluiu a realização de vulvoplastia, com o objetivo de restaurar a anatomia e função da vulva, prevenindo complicações como infecções e retenção urinária. A literatura reforça a importância da integridade da vulva e do períneo para evitar problemas subsequentes, como pneumovagina e infecções uterinas (Prestes; Lourenção, 2015). No caso da égua tratada, a vulvoplastia foi eficaz, restaurando a função vulvar e prevenindo a entrada de ar e agentes infecciosos.
Em um estudo conduzido por Anand e Singh (2015), a correção cirúrgica de lacerações de terceiro grau foi realizada em sete éguas, sendo que apenas uma delas apresentou deiscência dos pontos sete dias após a cirurgia. No entanto, após a realização de um segundo procedimento, o sucesso foi alcançado. O estudo reforça que, mesmo em procedimentos bem planejados, nem todas as correções cirúrgicas podem gerar resultados positivos. Além disso, o pós-operatório envolve riscos de complicações, como retenção fecal devido à dor, necrose tecidual causada por trombose, eversão da bexiga urinária, prolapso retal, deiscência das suturas por contaminação ou pressão causada pela constipação, e até mesmo infertilidade (Prestes, 2012).
Outra técnica empregada foi a perineoplastia, realizada para corrigir a lesão no períneo, também foi fundamental para fortalecer a parede perineal e restaurar sua funcionalidade. De acordo com Papa et al. (2014), lacerações no períneo podem afetar gravemente a fertilidade e o bem-estar do animal. A perineoplastia realizada neste caso foi bem-sucedida, e a recuperação clínica da égua ocorreu de maneira satisfatória, seguindo as melhores práticas relatadas na literatura. O pós-operatório foi cuidadosamente monitorado para prevenir complicações como retenção fecal, necrose tecidual ou eversão da bexiga urinária, problemas comumente descritos após esse tipo de cirurgia (Prestes, 2012). Após 15 dias de tratamento intensivo, a égua recebeu alta, com a recomendação de cuidados domiciliares. Durante o período pós-operatório, foi observada uma pequena deiscência nos pontos, que foi prontamente tratada, conforme sugerido por Stainki e Gheller (2000). A intervenção corretiva adicional foi eficaz, garantindo a completa recuperação da área afetada.
O controle da infecção, com o uso de antibióticos e anti-inflamatórios, foi essencial para a recuperação da égua, conforme recomendado pela literatura em casos de lacerações perineais de terceiro grau (Papa et al., 2014; Queiroz et al., 2019). Após a retirada dos pontos, a égua foi liberada para retomar gradualmente suas atividades físicas, sem limitações de funcionalidade ou estética. Esse resultado positivo demonstra a eficácia das técnicas empregadas e destaca a importância de um tratamento cirúrgico cuidadoso e bem planejado para o sucesso da recuperação e da saúde reprodutiva das éguas.
3. CONCLUSÃO
O manejo reprodutivo de éguas exige atenção especial para evitar problemas de saúde e prejuízos financeiros. Agir rapidamente diante de qualquer complicação é fundamental, pois a infertilidade e até mesmo a morte do animal são riscos reais. No caso em questão, o tratamento inicial com antibióticos controlou a infecção a tempo de preparar a égua para a cirurgia, demonstrando a importância de um diagnóstico preciso e uma intervenção rápida. Além disso, a alimentação adequada antes da operação foi crucial para evitar que a infecção se prolongasse e prejudicasse a recuperação da égua. A cirurgia, por sua vez, seguiu todas as etapas do pré e pós-operatório, garantindo a eficácia do procedimento e uma boa recuperação.
Após a cirurgia, a dieta foi ajustada para evitar esforços na região operada e prevenir complicações, como a deiscência das suturas. Para evitar o rompimento dos pontos, a monta natural foi proibida, sendo recomendadas técnicas de inseminação artificial e coleta de embriões, garantindo assim a continuidade da vida reprodutiva da égua sem comprometer a sua saúde. A técnica cirúrgica utilizada foi eficaz na resolução do problema, e todos os cuidados pós-operatórios, como a dieta e a restrição da monta, foram essenciais para a recuperação completa da égua. Como resultado, a égua voltou a suas atividades normais, inclusive esportivas, sem nenhuma sequela. Esse caso demonstra a importância do manejo adequado, que inclui nutrição, cuidados preventivos e intervenções veterinárias precisas, para garantir a saúde e o bem-estar das éguas, permitindo que elas expressem todo seu potencial, seja na reprodução ou no esporte.
REFERÊNCIAS
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1Graduando em Medicina Veterinária na Universidade Anísio Teixeira na cidade de Feira de Santana/BA. Pós-graduando em Clínica e Reprodução de Equinos na Faculdade Rebouças na cidade de Feira de Santana/BA. Email: natanvargasrx@gmail.com
ORCID:https://orcid.org/0009-0003-5207-7421.
2Graduando em Medicina Veterinária na Universidade Anísio Teixeira na cidade de Feira de Santana/Ba. Pós-graduando em Clínica e Reprodução de Equinos na Faculdade Rebouças na cidade de Feira de Santana/BA. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-9271-5194.
3Graduado em Medicina Veterinária pela Faculdade de Tecnologia e Ciências, pós graduado em clínica medica e cirurgia de pequenos animais, mestrado em Ciência Animal pela Universidade Federal do Recôncavo – Bahia, doutorando em Ciência Animal nos Trópicos pela Universidade Federal da Bahia. Possuindo experiência na área de Medicina Veterinária, análises laboratoriais de alimentos, atuando nas seguintes áreas: Produção de silagem para ruminantes, clínica de ruminantes e carnívoros. Atualmente professor do curso de Medicina Veterinária da Centro universitário de excelência (Unex-FSA), nas seguintes disciplinas: Morfofisiologia I e II, professor de anatomia das aves e forragicultura, na Faculdade Anísio Teixeira (FAT) membro do grupo de pesquisa Zootecnia Tropical – UFRB e diretor geral do polo da faculdade Rebouças em Feira de Santana e coordenador da pós graduação de clínica e cirurgia de pequenos animais da mesma. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7101-056X