SOCIAL JET LAG AND ABUSIVE USE OF ALCOHOLIC BEVERAGES AMONG MEDICINE STUDENTS
JET LAG SOCIAL Y USO ABUSIVO DE BEBIDAS ALCOHÓLICAS ENTRE ESTUDIANTES DE MEDICINA
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10610621
Paula Thais Cardoso Menezes1
Thayná Oliveira de Moraes Higashikawauchi Neri1
Victor Menezes Cardoso2
Annelise Costa Machado Gomes1
Waléria Dantas Pereira Gusmão1
RESUMO
Objetivo: Investigar associação do jet lag social e uso abusivo de bebidas alcoólicas entre estudantes de medicina de uma instituição privada. Métodos: Estudo analítico observacional transversal, com estudantes matriculados no semestre 2021.2, o procedimento de coleta de dados ocorreu de forma digital, com início no mês de setembro e término em dezembro de 2021. O formulário eletrônico era autopreenchido e composto pelo compilado de um questionário de caracterização sociodemográfica, identificação do padrão do consumo de álcool, por meio da utilização do Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) e análise do jet lag social por meio do questionário de Cronotipo de Munique. Resultados: Foram incluídos no estudo 246 indivíduos. No que tange ao consumo de bebidas alcoólicas, o presente estudo demonstrou que 30,1% dos estudantes apresentaram uso de risco do uso problemático de álcool. Além disso, percebeu-se que pode haver uma dessincronização no ritmo circadiano nos dias não letivos dos estudantes, o que demonstrou forte correlação do jet lag social com o consumo prejudicial de álcool (r=0,916). Conclusão: O jet lag social foi associado com o consumo maior de álcool dos estudantes de medicina desta instituição, o que pode ser decorrente das mudanças adversas de comportamento pela restrição crônica de sono.
Palavras-chave: Universitários, Jet lag social, Sono-vigília, Uso abusivo de álcool.
ABSTRACT
Objective: To investigate the association of social jet lag and alcohol abuse among medical students at a private institution. Methods: Cross-sectional observational analytical study, with students enrolled in the 2021.2 semester, the data collection procedure took place digitally, starting in September and ending in December 2021. The electronic form was self-completed and consisted of a compiled questionnaire sociodemographic characterization, identification of the pattern of alcohol consumption, through the use of the Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) and analysis of social jet lag using the Munich Chronotype questionnaire. Results: 246 individuals were included in the study. With regard to the consumption of alcoholic beverages, the present study demonstrated that 30.1% of students presented a risk of problematic alcohol use. Furthermore, we see that there may be a desynchronization in the circadian rhythm on students’ non-school days, which demonstrated a strong demonstration of social jet lag with harmful alcohol consumption (r=0.916). Conclusion: Social jet lag was associated with greater alcohol consumption among medical students at this institution, which may be due to adverse changes in behavior due to chronic sleep restriction.
Keywords: University students, Social jet lag, Sleep-wake, Alcohol abuse.
RESUMEN
Objetivo: Investigar la asociación entre el desfase horario social y el abuso de alcohol entre estudiantes de medicina de una institución privada. Métodos: Estudio analítico observacional transversal, con estudiantes matriculados en el semestre 2021.2, el procedimiento de recolección de datos se realizó de manera digital, iniciando en septiembre y finalizando en diciembre de 2021. El formulario electrónico fue autocompletado y estuvo conformado por un cuestionario de caracterización sociodemográfica, identificación del patrón de consumo de alcohol, mediante el uso del Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) y análisis del jet lag social mediante el cuestionario Munich Chronotype. Resultados: Se incluyeron en el estudio 246 personas. Respecto al consumo de bebidas alcohólicas, el presente estudio demostró que el 30,1% de los estudiantes presentaron riesgo de consumo problemático de alcohol. Además, se observó que puede haber una desincronización en el ritmo circadiano en los días no escolares de los estudiantes, lo que demostró una fuerte correlación entre el desfase horario social y el consumo nocivo de alcohol (r=0,916). Conclusión: El jet lag social se asoció con un mayor consumo de alcohol entre los estudiantes de medicina de esta institución, lo que puede deberse a cambios adversos en el comportamiento debido a la restricción crónica del sueño.
Palabras clave: Estudiantes universitarios, Jet lag social, Sueño-vigilia, Abuso de alcohol.
INTRODUÇÃO
A admissão na universidade se configura em um período caracterizado por conflitos psicossociais, o que pode ser relacionado à necessidade de interação social, busca da autoafirmação e conquista de independência individual. Segundo Saravanan C e Wilks R (2014) as faculdades de medicina são reconhecidas por serem ambientes bastante estressantes que, por vezes, exercem efeitos negativos sobre o desempenho acadêmico dos alunos, seu bem-estar psicossocial e sua saúde física. A restrição de sono, seja ela aguda ou crônica, total ou parcial, pode induzir mudanças adversas no desempenho cognitivo. Além de outras funções, a restrição aguda total de sono prejudica à atenção, à memória imediata e a de longo prazo, bem como à tomada de decisões. Enquanto a restrição parcial crônica do sono pode influenciar na vigilância e na atenção (ALHOLA P e POLO-KANTOLA P, 2007).
Os distúrbios do sono podem acarretar consequências que afetam a qualidade de vida a curto, médio e longo prazo, além de alterações fisiológicas, funcionais com implicações em atividades cotidianas e desempenho profissional (MÜLLER MR e GUIMARÃES SS, 2007). Assim, tais irregularidades repercutem negativamente na saúde dos jovens (GOMES NL, 2005). Portanto, deve-se dar mais atenção à qualidade do sono dos estudantes de medicina, principalmente quanto às características habituais do sono a fim de evitar prejuízos na saúde e na vida acadêmica (MEYER C, et al., 2019). Entretanto, esse fato pode estar sendo potencializado, pois o estudante universitário constitui um grupo vulnerável para o desenvolvimento de hábitos de vigília e sono inadequados. Grande parte dessa população tende a deitar-se tarde e levantar-se cedo demais, ocasionando uma variação nos padrões de sono entre dias úteis e fins de semana ou feriados, ou seja, caracterizando o jet lag social (SILVA MS, et al., 2020).
A literatura afirma que indivíduos jovens que apresentam maior jet lag social são aqueles que manifestam menores indicadores de bem-estar e, consequentemente, apresentam maiores traços de impulsividade, o que possivelmente justificaria o uso problemático de bebidas alcoólicas (FERRARI JUNIOR JJ, et al., 2019). Esta fase do desenvolvimento humano apresenta-se como um período de possibilidade de iniciação ao uso de bebidas alcoólicas tanto como experimentação, como consumo ocasional ou abusivo, pois costumam aparecer muitas dúvidas e incertezas, que exigem dos estudantes um período de mudança de estilo de vida e de adaptação (SCHERER ZAP, et al., 2006).
Segundo Oliveira EB, et al. (2009), os estudos acerca do consumo de álcool e outras drogas entre os estudantes universitários têm crescido nos últimos anos de forma acelerada na tentativa de compreender as características de consumo e o perfil deste grupo populacional, visando extrapolar dados para a população geral e aprimorar programas de prevenção existentes em instituições de ensino. A preocupação em analisar o perfil dos estudantes universitários, no que se refere ao uso abusivo de substâncias psicoativas, parte do pressuposto de que esse padrão de consumo pode interferir negativamente na vida acadêmica do jovem universitário e na sua futura experiência profissional (RODRIGUES IS, et al., 2021). Segundo Pedrosa AAS, et al. (2011), a prevalência de uso de álcool entre estudantes de medicina de uma universidade pública da cidade na cidade de Maceió foi de 90,4% e o uso abusivo se aproximou de 18,3%.
Mediante o exposto, o presente trabalho teve o objetivo de investigar possíveis associação entre jet lag social e uso abusivo de bebidas alcoólicas entre estudantes de medicina de uma instituição privada.
MÉTODOS
O estudo foi do tipo analítico observacional transversal e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Cesmac pelo parecer n°. 4.931.346 e com número CAAE 50002221.1.0000.0039. Para o cálculo amostral foi considerado um tamanho de efeito de 40%, erro alfa de 5% e um poder amostral de 85%, 85%, o que resultou em um tamanho amostral de 918 participantes. A partir do número de 170 participantes, foi considerada uma possível perda de 5% e foram coletados dados de 246 estudantes.
Todos os participantes expressaram concordância em participar da pesquisa mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, só depois puderam ter acesso ao formulário de coleta de dados. O procedimento de coleta ocorreu de forma digital, com aplicação de formulário eletrônico para autopreenchimento, cujo início se deu no mês de setembro e o término em dezembro de 2021. O instrumento era estruturado, dividido em três partes: 1) caracterização sociodemográfica dos participantes, com questões objetivas 2) identificação do padrão do consumo de álcool, através da utilização do Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT); e 3) análise o jet lag social por meio do questionário de Cronotipo de Munique.
Com a finalidade de compreender os danos relacionados ao uso e abuso do álcool na saúde de um indivíduo, é de extrema importância saber em qual padrão de consumo ele se encontra. Para isso, o presente trabalho utilizou o AUDIT, visto que ele é reconhecido mundialmente e alguns autores apontam como instrumento de rastreamento mais indicado para realizar a detecção desse padrão (BABOR TF, et al., 2006; PAZ FILHO GJ et al., 2001). Seu desenvolvimento se deu pela Organização Mundial de Saúde, com a finalidade de avaliar o risco relativo ao consumo de álcool, em serviços de saúde de diferentes níveis e contextos (WHO, 2002). A versão em português foi desenvolvida por Mendez B (1999) e, posteriormente, adaptada por Lima e colaboradores (2005), a qual o presente estudo optou por utilizar. Esse questionário é composto por 10 questões, divididas em três domínios: o padrão do consumo de álcool, sinais e sintomas de dependência e problemas decorrentes do uso de álcool.
Para o jet lag social foi usado o questionário de Cronotipo de Munique (Munich Chronotype Questionnaire – MCTQ) que estabelece a tipologia circadiana por meio de uma escala que avalia aspectos relacionados ao ritmo de dormir e acordar nos dias de trabalho e nos dias “livres”, como folgas, feriados e finais de semana (ROENNEBERG T; WIRZ-JUSTICE A; MERROW M, 2003). O fenômeno conhecido como jet lag social é a diferença entre os horários sociais e biológicos, o MCTQ permite a eficiência dessa análise. Dividindo as categorias “dia livre” e “dias de trabalho” (que nesse caso seriam os dias letivos). A avaliação é baseada no ponto médio do sono em dias livres, considerando o débito acumulado de sono nos dias de trabalho, que são compensados em dias livres, dessa forma, o jet lag social (JLS) é entendido e calculado através desse débito, executando a seguinte análise: diferença entre ponto médio do sono em dias livres (MSF); e o ponto médio nos dias de trabalho (MSW); logo, JLS= |MSF – MSW| (ZAVADA A et al., 2005).
Análise dos dados
Os dados coletados foram digitados numa planilha Excel (Microsoft Corp., Estados Unidos), analisados de forma aglomerada, de modo a não acarretar a estigmatização de possíveis indivíduos. O tratamento estatístico para análise descritiva dos questionários foi procedido ao programa BioEstat (versão 5.3, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Belém, Pará, Brasil). No estudo de variáveis normais aplicou-se o teste Pearson de correlação, considerando o intervalo de confiança de 95% e nível de significância de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram incluídos no estudo 246 indivíduos, representando 26,79 % do total de 918 estudantes. Do total, 175 (71,1%) eram do sexo feminino e 71 (28,9%) do sexo masculino, a maioria se identificava como branca, com variação de 18 a 25 anos e que residia com os pais. No que diz respeito ao período de curso, não houve nenhuma resposta de discentes do último ano letivo, e a maioria dos respondentes eram do 3º ano, ou seja, do ciclo clínico, conforme tabela 1.
Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica dos participantes do estudo.
Característica | n | % |
Sexo | ||
Feminino | 175 | 71,1 |
Masculino | 71 | 28,9 |
Grupo étnico | ||
Amarelo | 13 | 5,3 |
Branco | 162 | 65,8 |
Pardo | 69 | 28,8 |
Preto | 10 | 4,1 |
Faixa etária | ||
18 a 25 anos | 189 | 76,8 |
26 a 35 anos | 42 | 17,1 |
36 a 45 anos | 15 | 6,1 |
Acima de 45 anos | 0 | 0 |
Estado civil | ||
Solteiro(a) | 220 | 89.4 |
Casado(a) / União Estável / Morando junto | 21 | 8,5 |
Divorciado | 5 | 2,1 |
Renda familiar | ||
Menos que 1 salário mínimo | 0 | 0 |
De 1 a 5 salários mínimos | 52 | 21,1 |
De 6 a 10 salários mínimos | 39 | 15,9 |
De 11 a 15 salários mínimos | 57 | 23,2 |
De 16 a 20 salários mínimos | 51 | 22,7 |
Preferiu não declarar | 47 | 19,1 |
Residência | ||
Com familiares | 175 | 71,1 |
Com outros universitários | 11 | 4,5 |
Sozinhos | 60 | 24,4 |
Religião | ||
Agnóstico | 6 | 2,4 |
Ateu | 5 | 2,1 |
Católico | 84 | 35,8 |
Evangélico | 26 | 10,6 |
Espírita | 22 | 8,9 |
Umbanda | 4 | 1,6 |
Não sabe ou não respondeu | 99 | 38,6 |
Dados Acadêmicos | ||
1º ano (1º e 2º semestre) | 45 | 18,3 |
2º ano (3º e 4º semestre) | 55 | 22,3 |
3º ano (5º e 6º semestre) | 106 | 43,1 |
4º ano (7º e 8º semestre) | 15 | 6,1 |
5º ano (9º e 10º semestre) | 25 | 10,2 |
6º ano (11º e 12º semestre) | 0 | 0 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
Os achados desta pesquisa mostraram que os dados em relação a caracterização da amostra foram similares aos encontrados em um estudo realizado na Faculdade de Medicina de Coimbra, no qual a população era predominante feminina, com idade majoritária entre 18 e 23 anos, estando a maioria no ciclo clínico do curso de graduação (FAUSTINO TDCMA , 2012).
A prevalência de consumo de bebidas alcoólicas pelos acadêmicos avaliados. foi de 88,7%, valor similar ao da população brasileira que é de 86,2%, segundo o I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras (BRASIL, 2010) e de um estudo realizado em uma Universidade de Cartagena (ARRIETA et al., 2011).
A tabela 2 demonstra a pontuação obtida pelos acadêmicos no Alcohol Use Disorders Identification Test. A maioria (35,4%) dos respondentes, tiveram um baixo risco de consumo de álcool. Embora no que tange ao consumo de bebidas alcoólicas que poderia levar a problemas associados ao risco de dependência, o presente estudo demonstrou que 30,1% dos estudantes apresentaram uso de risco do álcool, pela pontuação do AUDIT. O resultado tem semelhança com a literatura atual, como observado no estudo em uma Universidade Pública no Estado do Pará (RODRIGUES IS, et al., 2021).
Tabela 2 – Pontuação do Alcohol Use Disorders Identification Test, dosdiscentes de medicina.
Pontuação | Zona | Risco | n | % |
0 a 7 | 1 | Baixo risco | 87 | 35,4 |
8 a 15 | 2 | Uso de risco | 74 | 30,1 |
16 a 19 | 3 | Uso nocivo | 56 | 22,9 |
20 ou mais | 4 | Possível dependência | 29 | 11,6 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
Os jovens universitários fazem parte de um grupo com maior vulnerabilidade para o início e consumo problemático do álcool, além de apresentar maior risco para manter este hábito e para agravos advindos do consumo (GOMES LS et al., 2018). Na presente pesquisa, destacam-se que 39,4% dos discentes perceberam que houve repercussões negativas do consumo da bebida alcoólica em pelo menos 1 vez ou menos no mês e que 58,2% consumiram este tipo de bebida pelo menos 2 vezes por mês. Segundo Rodrigues IS e colaboradores (2021) tais atitudes possuem direta relação com o desenvolvimento de problemas de saúde, lesões resultantes de violência e acidentes de trânsito (Tabela 3).
Tabela 3 – Caracterização do comportamento social dos estudantes de medicina quanto ao padrão de uso de álcool e suas repercussões negativas.
Frequência de consumo | n | % |
Nunca | 6 | 2,4 |
1 vez ou menos/mês 4 ou mais no mês vezes/mês 2-3 vezes/mês | 97 82 61 | 39,4 33,4 24,8 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
Com a análise discriminante dos parâmetros de cronotipologia, o trabalho demonstrou que a rotina acadêmica tem levado a um padrão de cronotipologia do relógio biológico à vespertinidade, apesar de se observar duração curta do sono pela necessidade de despertar cedo (06:10±00:22) nos dias letivos.
Um aspecto avaliado foi o horário de preferência para realizar as atividades diárias, nesse caso a maioria prefere a vespertinidade, o que favorece que os estudantes tenham início de sono tardio (00:15±00:35) e duração curta de sono, pela necessidade de acordar cedo (06:10±00:22) nos dias letivos. Já nos dias de folga, considerados não letivos, percebeu-se um início de sono em hora semelhante (00:35±01:25), mas o acordar foi tardio (11:10±02:43), conforme tabela 4.
Tabela 4 – Média de hora de dormir e se deitar de acordo com Munich Chronotype Questionnaire– MCTQ dos discentes avaliados.
Dias letivos | Dias não letivos | |
Média de hora de dormir | 00:15±00:35 | 00:35±01:25 |
Média de hora de acordar | 06:10±00:22 | 11:10±02:43 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
Os estudos que envolvem a temática de consumo de álcool (OLIVEIRA EB, 2012; FERNANDES TF, et al., 2017) e padrão de sono receberam uma maior ênfase nos últimos anos (SILVA MS, et al., 2020). Mesmo alguns tendo sido realizados com a população brasileira, normalmente possuem um recorte com o intuito de verificar a prevalência desses achados separadamente entre a população universitária. A maioria deles concorda que o uso de álcool e outras substâncias é maior entre universitários de diversas instituições quando comparado à população geral (GOMES LS, et al., 2018), porém, há poucas evidências na literatura que relacionem o consumo dessa substância ao padrão de sono e jet lag social.
A utilização do questionário de cronotipo de Munique permitiu determinar o cronotipo e observar a dessincronização entre o meio período de sono e o uso abusivo de álcool entre os estudantes. Em relação a comparação entre cronotipo, jet lag social e o consumo de álcool, percebeu-se que os indivíduos com restrição de sono (devido a tendência cronobiológica à vespetinidade), tinham uma maior pontuação no cronotipo de Munique (MCTQ) e apresentavam maior pontuação no Alcohol Use Disorders Identification Test, ou seja, tinham padrão do consumo de álcool com sinais e sintomas de dependência e problemas decorrentes do uso de álcool (Tabela 5).
Tabela 5 – Comparação de grupos de jet lag social quanto aos parâmetros de risco de consumo de álcool de discente de medicina.
Jet lag | ||
Risco | <2h | >2h |
Baixo risco | 47 | 40 |
Uso de risco | 35 | 39 |
Uso nocivo | 11 | 45 |
Possível dependência | 1 | 28 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
Foi encontrada associação entreo jet lag social e o consumo de bebidas alcoólicas, podendo se observar que quanto maior o jet lag social maior a pontuação no AUDIT, que se relaciona a problema de consumo prejudicial ou dependência de álcool (Figura 1). O valor do Coeficiente de Pearson (r=0,916)indica que a correlação é forte.
Figura 1 – Associação entre jet lag social (h) e pontuação no AUDIT (pontos) de acadêmicos de medicina avaliados.
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
A restrição de sono é um dos fatores, que ocasiona maior jet lag social e pode induzir mudanças adversas de comportamento, como o consumo problemático de álcool (ALHOLA P e POLO-KANTOLA P, 2007). Assim, os resultados obtidos nesta pesquisa apontam que a experiência universitária pode afetar hábitos de vida e corresponder a um momento de maior vulnerabilidade ao aumento do consumo de álccol. Além disso, esta prática, se estabelecida no adulto jovem pode gerar consequências para toda a vida.
CONCLUSÃO
A partir dos resultados expostos pode-se concluir que existe uma associação entre o jet lag social e uso abusivo de bebidas alcoólicas nos estudantes de medicina avaliados. Percebe-se que a restrição de sono ocasiona um maior jet lag social, esse fato pode influenciar e induzir mudanças adversas de comportamento e práticas que geram consequências na vida do estudante, como o consumo problemático de álcool. Esse achado leva aos autores a crerem que a sociedade contemporânea ainda não está sensibilizada para as questões de cronotipos biológicos individuais, sendo os estudantes um importante grupo que sofrem com maus hábitos de sono, sujeitos a maior incidência de hábitos de vida inadequados, pior desempenho acadêmicos e transtornos psiquiátricos. Os jovens correspondem a um grupo de maior vulnerabilidade para o consumo de substâncias e as causas que induzem esses indivíduos a usarem ou não álcool e outras drogas são múltiplas, envolvendo aspectos individuais, familiares e coletivos. Há dessincronização no ritmo circadiano quando nos dias não letivos dos estudantes, no qual se pode atribuir ao fato de que há a tendência de se buscar o tempo de sono perdido durante os dias letivos. Tal atitude pode afetar a saúde, propiciando o desenvolvimento de doenças e comportamentos impulsivos.
LIMITAÇÕES
O desenho transversal do estudo não permite inferência causal, além disso destaca-se o fenômeno da desejabilidade social, seleção dos indivíduos por conveniência, população com perfil homogêneo e as barreiras institucionais que a pandemia da Covid-19 ocasionou. Por isso, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas, de preferência longitudinal, com maior número de participantes, e entre os diversos cursos de graduação. Por fim, é importante evidenciar que os achados dessa pesquisa demonstram a importância da inclusão de conteúdos relacionados ao consumo de álcool e qualidade sono da população discentes promovidas no contexto acadêmico
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1 Centro Universitário Cesmac, Maceió-AL.
2 Universidade de São Paulo (USP), São Paulo -SP