INVESTIGAÇÃO DOS EFEITOS DOS EXERCÍCIOS PÉLVICOS NA VIDA SEXUAL NO CLIMATÉRIO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411150242


Daniele de Cássia Lúcio Roque1
Ingrid Aparecida Souza2
Ana Paula Bacha de Oliveira3


RESUMO

A vida sexual durante o climatério é relevante, uma vez que a sexualidade está presente em todas as fases da vida humana.

Conforme as pessoas envelhecem, é fundamental compreender e cuidar da saúde sexual. Estudos apontam melhorias no desempenho sexual em mulheres que foram submetidas a terapia de exercícios pélvicos. 

Os exercícios pélvicos são benéficos em mulheres fortalecendo os músculos do assoalho pélvico que desempenham um papel na resposta sexual, uma vez que fortalece os músculos e contribui para a saúde em longo prazo do assoalho pélvico. Metodologia: a amostra foi constituída por 20 participantes, na faixa etária de 60 a 80 anos de idade, com vida sexual ativa,  que concordaram em participar do estudo e atenderam aos critérios de inclusão. A função sexual feminina foi investigada com dois instrumentos: (a) Questionário de avaliação da qualidade de vida sexual feminina (Quociente Sexual – Versão Feminina: QS-F); (b) Questionário FSFI (Female Sexual Function Index). Após a aplicação dos questionários foram realizados exercícios perineais baseados em conscientização e fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico (MAP). Em seguida foi aplicado os questionários novamente a fim de verificar o efeito dos exercícios e a evolução da qualidade de vida sexual. Resultados: Pode-se observar o resultado desempenho/satisfação sexual, no qual a maioria das participantes mantém uma vida sexual “regular a boa”. Foi constatado neste estudo que a lubrificação prevaleceu sem diferenças estatísticas, entretanto, os demais itens obtiveram resultados de regular a bom e bom a excelente respectivamente. Conclusão: O processo de mudanças fisiológicas na resposta sexual nesta fase não determinam o fim da vida sexual das idosas. Portanto, é necessária a conscientização dos profissionais de saúde de que mulheres sexualmente ativas no climatério devem tornar a questão da sexualidade um assunto natural nos grupos e sensibilizá-las para realização de exercícios com ênfase no fortalecimento pélvico.

Palavras-chave: Fisioterapia Pélvica. Desempenho Sexual. Climatério

ABSTRACT

Sexual life during the climacteric is relevant since sexuality is present in all phases of human life. 

As people age, it is essential to understand and take care of sexual health. Studies indicate improvements in sexual performance in women who have undergone pelvic exercise therapy. 

Pelvic exercises are beneficial for women as they strengthen the pelvic floor muscles, which play a role in sexual response, by reinforcing the muscles and contributing to the long-term health of the pelvic floor. Methodology: the sample consisted of 20 participants, aged between 60 and 80, with an active sexual life, who agreed to participate in the study and met the inclusion criteria. Female sexual function was investigated using two instruments: (a) the Female Sexual Quality of Life Assessment Questionnaire (Sexual Quotient – Female Version: QS-F); (b) the Female Sexual Function Index (FSFI). After administering the questionnaires, perineal exercises focused on awareness and strengthening of the pelvic floor muscles (PFM) were conducted. Then, the questionnaires were applied again to assess the effect of the exercises and the progression in sexual quality of life. Results: It was observed that most participants reported sexual performance/satisfaction ranging from “regular to good.” It was found in this study that lubrication remained consistent without statistical differences, while other items showed results from regular to good and good to excellent, respectively. Conclusion: The physiological changes in sexual response at this stage do not determine the end of the sexual life of older women. Therefore, it is necessary to raise awareness among health professionals that sexually active women during the climacteric period should view sexuality as a natural topic within groups and encourage them to perform exercises focused on pelvic strengthening.

Keywords: Pelvic Physiotherapy. Sexual Performance. Climacteric

1. INTRODUÇÃO

A atividade sexual no climatério  é um tópico importante, pois a sexualidade é uma parte integrante da vida humana, independentemente da idade. Embora exista diminuição natural na atividade sexual, à medida que as pessoas envelhecem devido a mudanças fisiológicas e hormonais, ainda é crucial entender e abordar a saúde sexual das mulheres com mais idade. Devido ao envelhecimento, ocorrem mudanças em seus corpos, como a diminuição da lubrificação vaginal e a redução da elasticidade dos tecidos. Essas mudanças podem tornar o sexo menos confortável, mas não interfere no desejo sexual ou a capacidade seja completamente ausente (NEVES, 2020; CATAPAN, 2014).

A satisfação sexual e a saúde pélvica em todas as fases da vida em geral das mulheres são um aspecto único de bem-estar, e na terceira idade torna-se ainda mais significativo devido às mudanças fisiológicas (THOMAS et al., 2016).

Segundo Paiva (2014), a resposta sexual das mulheres é causada pelo desejo (não comprometido pelos hormônios), excitação (sensações subjetivas desencadeadas), lubrificação-tumescência (resposta orgânica), orgasmo (contrações rítmicas dos músculos perianais e perineais que circundam a vagina).

A avaliação dos músculos do assoalho pélvico é importante para determinar sua função, a literatura tem mostrado que sua disfunção pode impactar a qualidade de vida das mulheres através de morbidades como: incontinência urinária e fecal, disfunção sexual e dor pélvica (FAIENA et al., 2015). Os músculos estudados, especialmente os músculos isquiocavernosos e bulbocavernosos, inserem-se nos corpos cavernosos do clitóris, portanto o fortalecimento desses músculos pode ajudar a mulher a atingir os estágios de excitação e orgasmo.

Existem também vários fatores que justificam uma melhoria da disfunção sexual após o treino deste músculo, como a resposta ao orgasmo feminino ser um reflexo sensório-motor que promove a contração dos músculos perineais durante o orgasmo, além disso, o treino destes músculos também leva à vascularização pélvica e ao aumento da sensibilidade clitoriana, otimizando assim a excitação e a lubrificação (ROSEMBAUM, 2007).

O aumento do fluxo sanguíneo e da mobilidade pélvica também aumenta a excitação genital e orgástica feminina. Estudos encontraram melhorias no desejo sexual, orgasmo e desempenho durante a relação sexual em mulheres que foram submetidas a terapia de exercícios (DELGADO et al., 2014). 

Os exercícios pélvicos, como os exercícios de Kegel, são frequentemente recomendados por profissionais de saúde para fortalecer os músculos do assoalho pélvico. Embora historicamente associados principalmente à prevenção de incontinência urinária, evidências recentes sugerem que esses exercícios podem ter um impacto positivo na vida sexual das mulheres durante o climatério (COSTA et al., 2013).

Nesse contexto, o objetivo deste estudo é investigar os efeitos dos exercícios pélvicos de Kegel na vida sexual de mulheres no climatério. 

2. REVISÃO DE LITERATURA

O assoalho pélvico feminino é dividido em três seções, a frente é delimitada pela bexiga e pela uretra, a parte posterior é delimitada pelo reto e a vagina está localizada entre essas duas seções. O assoalho pélvico (AP) consiste na fáscia pélvica (ligamento púbico, ligamento redondo uterino, fáscia uterina, ligamento transverso do pescoço), diafragma pélvico (músculo levantador do ânus), diafragma urogenital (músculo bulbocavernoso, ligamento transverso superficial e isquiocavernoso) (HADDAD et al., 2010). 

A disfunção sexual feminina inclui transtorno de desejo/interesse sexual e transtorno de excitação sexual, esses distúrbios podem ter causas psicológicas ou ambientais, outros comprometimentos funcionais estão associados à dor pélvica crônica, que também está associada à qualidade de vida da mulher, presença de dor genital durante relação sexual sem vaginismo e anorgasmia, ou seja, ausência de orgasmo, que pode ser causada por fatores físicos, ambientais e psicológicos (ANTONIOLI et al., 2010).

As causas da disfunção sexual são muitas vezes multifatoriais e requerem avaliação multidisciplinar que leva em consideração aspectos biológicos, psicológicos, socioculturais e interpessoais. Dados recentes indicam que a fisioterapia para MAP é uma intervenção promissora para o tratamento da dispareunia (MARQUES et al., 2010 ; BORTOLAMI, 2015).

A disfunção do assoalho pélvico refere-se a doenças que não apresentam risco de vida, mas estão associadas à morbidade significativa. Estes podem prejudicar significativamente a qualidade de vida (QV) do paciente e levar a limitações físicas, sociais, ocupacionais e/ou sexuais (SILVA FILHO et al., 2013).

Os exercícios pélvicos, também conhecidos como exercícios do assoalho pélvico, são um conjunto de técnicas que visam fortalecer os músculos do assoalho pélvico. Os primeiros exercícios pélvicos foram desenvolvidos pelo médico ginecologista Arnold Kegel na década de 1940 e têm sido amplamente recomendados para tratar uma variedade de condições, incluindo incontinência urinária e disfunção sexual. De acordo com Kegel (1948), “Os exercícios de Kegel são uma ferramenta eficaz para fortalecer os músculos do assoalho pélvico e melhorar a função dos órgãos pélvicos”. A sua eficácia tem sido comprovada em numerosos estudos clínicos (SMITH et al., 2009; BROWN et al., 2015) e são frequentemente prescritos por profissionais de saúde em todo o mundo.

Além disso, eles também podem melhorar a função sexual em mulheres e homens, fortalecendo os músculos do assoalho pélvico que desempenham um papel crucial na resposta sexual (ROSEN et al., 2013). A prática regular desses exercícios é recomendada, uma vez que fortalece os músculos e contribui para a saúde em longo prazo do assoalho pélvico.

Em resumo, os exercícios pélvicos são uma estratégia eficaz para fortalecer os músculos do assoalho pélvico e têm demonstrado benefícios significativos na prevenção e tratamento da incontinência urinária, bem como na melhora da função sexual. A literatura científica respalda a eficácia desses exercícios, tornando-os uma ferramenta valiosa na promoção da saúde pélvica. Portanto, sua inclusão na rotina de cuidados de saúde é amplamente recomendada (KEGEL, 1948; SMITH et al., 2009; BROWN et al., 2015; JONES et al., 2017; ROSEN et al., 2013).

3. MATERIAL E MÉTODOS

O local da pesquisa de campo realizou-se no Centro Universitário do Sul de Minas, localizado na cidade de Varginha, MG.

Os critérios de inclusão foram: mulheres, com vida sexual ativa declarada; faixa etária acima de 55 anos e pós-menopausa; possuir capacidade para realizar exercícios pélvicos; tenham disponibilidade para participar do estudo; aceitem contribuir na pesquisa; dispostas a falar sobre sua vida sexual e que aceitassem assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 

Os critérios de exclusão decorreram não ser do sexo feminino; não ter condições médicas que possam afetar sua capacidade de realizar exercícios pélvicos ou sua vida sexual; cirurgias pélvicas recentes como histerectomia ou que estejam em tratamento médico intensivo que possam interferir nos resultados; com condições médicas graves ou crônicas que possam influenciar a resposta aos exercícios pélvicos ou a pesquisa em si; incapacidade de realizar exercícios pélvicos; não concordem em participar da pesquisa e não assinem o termo de consentimento livre e esclarecido.

Foram selecionadas 20 mulheres na faixa etária de 60 a 80 anos, com vida sexual ativa. 

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do instituto da fundação de ensino e pesquisa do sul de minas – FEPESMIG, protocolado pelo CAAE 79279924.4.0000.5111 e aprovado pelo parecer nº 6.817.658.

Para a produção de dados empíricos optamos pela entrevista semiestruturada, por meio de um roteiro com perguntas previamente elaboradas. As entrevistas agendadas realizaram-se de acordo com a disponibilidade das participantes, foram entregues questionários e as respostas marcadas pelas participantes. 

Para isso, decorreu à submissão ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecida (TCLE) seguindo a normatização lei 466/12 (APÊNDICE A), no qual consta que poderá ter alguns tipos de risco para a realização da pesquisa, tais como desconforto e dor, pois os exercícios pélvicos podem causar desconforto ou, em casos raros, dor para algumas mulheres, especialmente se não forem realizados corretamente; frustração ou ansiedade, pois algumas mulheres podem sentir frustração ou ansiedade se não experimentarem os benefícios esperado dos exercícios; possuírem preocupação com a divulgação de informações pessoais, especialmente relacionadas à sua vida sexual. Contudo, os pesquisadores encontram-se preparados para lidar com qualquer situação que venha ocorrer. 

Para a coleta de dados foi utilizada uma ficha de anamnese (APÊNDICE B) contendo informações pessoais como nome, idade, endereço, estado civil, profissão e grau de escolaridade.

A avaliação da sexualidade decorreu através do questionário FSFI ou Índice da Função Sexual Feminina, conforme ANEXO A, dividido em domínios, e cada domínio representa uma área diferente, o domínio número 1 questiona sobre o desejo, o 2 sobre  excitação, o 3 sobre a lubrificação, o 4 sobre o orgasmo, o 5 sobre satisfação e o 6 a respeito de dor, podendo ser utilizado de maneira a avaliar cada quesito separadamente ou o seu resultado total.

Apresenta 19 questões que avaliam a função sexual nas últimas quatro semanas, no qual cada resposta recebe uma pontuação de zero a cinco. Um escore total é apresentado no final da aplicação, resultado da soma dos escores de cada domínio multiplicada por um fator numérico pré-determinado que equilibre  a influência de cada domínio no escore total. Ressalte-se que os valores dos escores de cada domínio variam de 0 a 6 (exceto desejo: mínimo 1,2 e satisfação: mínimo 0,8) e o escore total varia de 2 a 36. Quanto maior o escore final, melhor a função sexual (Pechoro et al., 2009).

O questionário QS-F, conforme ANEXO B, avalia a função sexual de mulheres e auxilia no diagnóstico da disfunção sexual feminina com questões abrangendo os diferentes elementos funcionais, emocionais e relacionais pertinentes ao desempenho e satisfação sexual da mulher. Tal instrumento avalia a função sexual através de cinco domínios diferentes (desejo e interesse sexual; preliminares; excitação pessoal e sintonia com o parceiro; conforto; orgasmo e satisfação) através de 10 questões, cada uma com uma pontuação pré-determinada, cada questão contém uma resposta gradual de 0 a 5, sendo que 0 indica “nunca” e 5 indica  “sempre”, com exceção da questão 7, que está no sentido reverso. O escore final será feito pela soma dos valores de cada questão, multiplicando o resultado por 2, quanto maiores os valores  do escore, melhor o desempenho ou satisfação sexual da mulher (Abdo, 2006).

Ao final dos questionários preenchidos e esclarecimento do conceito da pesquisa, inicialmente exercemos uma explicação e elaboração de um plano de pré-análise, realizando a fase de organização propriamente dita, tem por objetivo abordar exercícios em ênfase aos benefícios significativos na disfunção sexual em mulheres, no fortalecimento da musculatura pélvica. 

O tratamento teve duração de 12 semanas, com 2 sessões de 30 minutos por semana, totalizando 24 sessões. No início de cada sessão, sucedeu-se a explicação e os tipos de exercícios que foram aplicados nas sessões. A intervenção conteve os seguintes exercícios:

Exercícios para o Períneo 

 As participantes realizaram 10 repetições de contrações do períneo com 2 segundos de contração e 2 segundos de relaxamento. A cada semana foi aumentado 2 segundos no tempo de contração, na posição de decúbito dorsal com a perna flexionada, com o total de 2 séries de 10 repetições com 30 segundos de descanso para cada série. Podendo utilizar a bola entre as pernas para associar os exercícios, contraindo as pernas na bola e fazendo uma contração no períneo ao mesmo tempo, os exercícios foram trabalhados na posição deitada, sentada e em pé (MALCHER et al., 2023).

 Exercícios diafragmáticos

As participantes em posição de decúbito dorsal, com uma das mãos ficando sobre o externo e outra sobre o abdômen, fazendo a inspiração com elevação do abdômen e no retorno na posição natural realizando á expiração (Figura 1). O nível de progressão foi efetuado na posição sentada lateralmente na região das costelas com apoio homolateral por cima de uma bola suíça, como em um abraço, a mão do membro contralateral repousa sobre o outro lado na região lateral (Figura 2). Outra variação foi na bola suíça que proporcionou no modo como efetuar a inspiração de maneira que os pulmões inflam normais e a expiração com apoio da mão onde repousava sobre as costelas, exercendo leve pressão (ALMEIDA, 2017).

Figura 1 – Exercício diafragmático em decúbito dorsal.

Figura 2 – Progressão do exercício diafragmático, com apoio da bola suíça.

 Exercícios de Ponte

Orientou que fosse efetuado em decúbito dorsal e apoio bipodal sobre a maca, a participante é instruída a associar a respiração, no momento que ela inspira, eleva o quadril fazendo expiração, contraindo os músculos do assoalho pélvico (MAP), fazendo a inspiração novamente e com o retorno à posição onde iniciou expirando, posições de apoio bipodal na bola suíça (tornozelo e panturrilha), unipodal, e bipodal na bola suíça (tornozelo a 90°) (Figura 3) (PEREIRA et al., 2021).

Figura 3 – Exercício de ponte com apoio bipodal na maca.

 Exercícios abdominais

As participantes foram submetidas à execução da contração do transverso em decúbito dorsal e com o comando de “levar o umbigo às costas e para cima”, em conjunto com uma expiração forçada. A execução foi iniciada nas primeiras sessões à prancha ventral sobre o apoio dos joelhos e cotovelos (Figura 4). A paciente na primeira sessão fez a sustentação na posição durante 5 segundos e a cada atendimento seguinte acrescentou – se  5 segundos no tempo de sustentação. Importante ressaltar que a cada 5 segundos de prancha solicitada para contração dos MAP (ALMEIDA, 2017).

Figura 4 – Exercício de prancha sobre o apoio de joelhos e cotovelos.

Exercícios de mobilidade pélvica

Inicialmente a mobilidade pélvica, executada em sedestação na bola suíça, mobilizando no sentido antero e retroversão. A progressão inicia na terceira semana de atendimento, com a movimentação ortostática em conjunto de realização de quatro apoios (Figura 5). A contração sugerida dos MAP sempre na posição de retroversão, com exercícios de 2 séries de 8 repetições nas primeiras semanas, e nas semanas finais 3 séries de 8 repetições, exceto o da prancha (ALMEIDA, 2017).

Figura 5 – Exercício de mobilidade pélvica na bola suíça.

Os atendimentos executados individualmente foram indagados pelos pesquisadores sobre como o tratamento com a fisioterapia pélvica influenciou na qualidade da sua vida sexual e afetiva. As voluntárias receberam conteúdo educativo ao longo das sessões, com informações sobre a localização, função do assoalho pélvico, fatores de risco e disfunções sexuais. 

Os dados coletados foram inseridos em uma planilha do Excel® do Windows. Utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA). Para as variáveis descritivas, foram calculadas a média, o desvio padrão, a porcentagem e a frequência absoluta. Inicialmente, o teste de Shapiro-Wilk foi aplicado para verificar se os dados seguiam uma distribuição normal (MIOT, 2017; SHAPIRO; FRANCIA, 1972). Como não foi atendido o princípio de normalidade, para comparar as variáveis, foi realizado o teste t independente, com correção de bootstrapping. Foi realizada análise de intenção de tratar a 10% da amostra. 

O tamanho do efeito, calculado pelo de Cohen, também foi realizado de forma post-hoc, com intervalo de confiança (IC) de 95%. Os valores de referência para o efeito foram: 0,2 – 0,49 para efeito pequeno; 0,5 – 0,79 para efeito médio; e 0,8 – 1,29 para efeito grande (COHEN, 1988). Para esses cálculos, foi utilizado o software G*Power 3.1.9.2 (Franz Faul, Universidade de Kiel, Alemanha). O nível de significância considerado neste estudo foi de p<0,05.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente foram recrutadas 22 mulheres. No entanto, houve perda amostral de 2 participantes, por motivos pessoais: sendo as duas antes do início do tratamento. A tabela de caracterização da amostra aponta que a idade média das participantes foi de 65.40 anos e 100% apresentam vida sexual ativa. No que diz respeito à condição marital, verificou-se que 55% das participantes eram casadas, 20% viúvas, 15% solteiras e 10% divorciadas. Observou-se que 85% não passaram por aborto (Tabela 1).

Esses dados também foram identificados na pesquisa conduzida por Fonseca et al. (2020), na clínica voltada para a saúde da mulher em Caruaru/PE, onde a amostra foi composta por 99 mulheres com vida sexual ativa, com idades entre 40 e 65 anos. O perfil da amostra indicou uma média de idade de 47,8 anos e um desvio padrão de aproximadamente 5. Em relação à situação conjugal das participantes, notou-se que 65,65% eram casadas, 19,19% estavam em união estável e 10,10% eram solteiras; a pesquisa não incluiu questões sobre viúvas ou divorciadas. Verificou-se que 67,67% não realizaram abortos.

Tabela 1 – Características sociais, demográficas das mulheres participantes da pesquisa.

Fonte: Autores (2024). As variáveis descritivas foram dadas mediantes média, desvio padrão, frequência e porcentagem. Legenda: Grau de escolaridade: 1= Da 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental (antigo primário); 2= Da 5ª à 8ª série do Ensino Fundamental (antigo ginásio); 3= Ensino Médio (antigo 2º grau); 4= Ensino Superior.             

No que se refere à escala FSFI, o item lubrificação não possuiu diferença estatística. No entanto, todos os outros domínios apresentaram resultados significativos, com tamanho de efeito e poder de amostra considerável (tabela 2).

Cabral et al. (2012), realizou uma análise comparativa entre mulheres australianas e brasileiras, na qual se observou o impacto negativo da idade sobre a frequência, o interesse e a resposta sexual. Identificou-se uma presença significativa de disfunção sexual entre aquelas com 50 anos ou mais, sendo essa uma questão comum em mulheres de meia-idade, conforme os achados deste estudo. Contudo, a taxa encontrada foi inferior aos 65,8% registrados em outra pesquisa conduzida em Ijuí/RS por Martins et al. (2015),  envolveu 169 mulheres na faixa etária de 35 a 65 anos, um grupo etário que apresenta algumas semelhanças com o desta investigação e que utilizou o mesmo instrumento de coleta, o FSF.

Segundo Junqueira (2008), as respostas sexuais femininas são marcadas por uma grande complexidade, manifestada por meio da sedução e entrega, onde o desejo é o ápice da resposta sexual. Isso reflete a experiência de alcançar o orgasmo durante a relação, enquanto a falta de desejo pode levar à insatisfação sexual. Com base nessas informações, os resultados da pesquisa revelam dados significativos relacionados às variações no desejo, tanto em termos de frequência quanto de classificação, de acordo com Basson et al. (2004), uma mulher pode iniciar uma atividade sexual com ou sem a consciência do desejo, devido a uma resposta física conhecida como excitação.

Esse estímulo erótico pode, aos poucos, criar um ciclo de respostas que desperta desejos, levando a uma satisfação tanto física quanto emocional, tornando a mulher mais receptiva a futuras relações sexuais. É fundamental ressaltar que as mulheres podem sentir-se excitadas, mesmo que não alcancem o orgasmo em uma relação; elas podem se sentir plenamente satisfeitas. A excitação e os desejos, por si só, já são vistos como indicadores de satisfação.

 TABELA 2- Referente aos resultados encontrados no questionário FSFI

Fonte: Autores (2024). Os dados descritivos foram dados mediante média, desvio padrão e Intervalo de Confiança (IC). Para as análises de comparação foi aplicado o teste t pareado, com correção de bootstrapping. (p<0,05)*. 

Este estudo investigou em termos de escore total, avaliando a qualidade geral do desempenho e satisfação sexual em mulheres durante o climatério através do Questionário Quociente Sexual – Versão Feminina (QS-F), (tabela 3).

Referente a escala QS-F o item 5 não apresentou diferença estatística, contudo os outros domínios acompanharam-se com resultados significativos. O instrumento além de domínios correlatos, indica em quais aspectos dessa resposta situa-se as dificuldades de cada participante.

Em relação ao domínio desejo e interesse sexual QS-F, a maior parte das participantes da pesquisa têm desejo e interesse por sexo, o mesmo foi analisado por Polizer et al. (2009).

Foi observado por meio de um  estudo feito por Viana et al. (2008), que as mulheres têm o impulso de continuar a relação sexual quando seu parceiro as estimulam com carícias e  preliminares. Quando as mulheres confiam no seu parceiro e nelas mesmas, tornam a relação sexual mais prazerosa.

Segundo Vaz et al. (2005), o corpo feminino passa por mudanças fisiológicas durante o envelhecimento,  como diminuição da lubrificação vaginal, perda da elasticidade e redução de tamanho da vagina. Contudo neste estudo observamos que a maioria das participantes, relataram que ficam lubrificadas sempre e conseguem relaxar a vagina para facilitar a penetração do penis.

As mulheres no climatério mantém uma atividade sexual e apresentam-se satisfeitas, o que é constatado neste estudo onde a maioria obtiveram resultados excelentes respectivamente (Silva et al 2003). 

A relevância de uma educação sexual mais eficiente para as mulheres de idade mais avançada, que pode auxiliar de maneira significativa no tratamento antecipado dos sintomas, potencializando suas possibilidades de recuperação.

TABELA 3- Referente aos resultados do questionário Quociente Sexual – Versão Feminina (QS-F).

Fonte: Autores (2024). Os dados descritivos foram dados mediante média, desvio padrão e Intervalo de Confiança (IC). Para as análises de comparação foi aplicado o teste t pareado, com correção de bootstrapping. (p<0,05)*. 

A incidência de disfunções sexuais durante o climatério apresenta um crescimento considerável em relação a outras etapas da vida feminina, provavelmente devido às mudanças fisiológicas e hormonais comuns nesse período. Essa disfunção se torna um problema de saúde pública, já que muitas mulheres evitam discutir o assunto por receio e até mesmo por constrangimento. Malcher et al. (2023), conduziram uma pesquisa para identificar as técnicas de fisioterapia empregadas em pacientes climatéricos com disfunções sexuais, semelhante ao presente estudo.

Através dessa pesquisa, foi possível verificar  a relevância dos exercícios para os músculos do assoalho pélvico, uma vez que contribui para uma melhor percepção muscular, alívio das dores e coordenação muscular, levando a um aprimoramento físico e mental.

Assim, ficou evidente a conexão direta entre o climatério e os músculos do assoalho pélvico e como o enfraquecimento desses grupos musculares influencia a atividade sexual feminina. Apesar de existirem poucos estudos sobre o impacto da fisioterapia no desejo sexual de mulheres climatéricas, seus métodos podem ser empregados como métodos sem risco, podendo ser eficazes no tratamento de problemas sexuais em mulheres de maneira geral.

5. CONCLUSÕES

A partir desta investigação a respeito dos efeitos dos  exercícios pélvicos nas mulheres em fase de climatério, notou-se que várias delas mantêm um parceiro estável e uma vida sexual ativa, mesmo após atingirem a meia-idade. As reclamações relacionadas à sexualidade foram diversas, além do desconforto causado pelos sintomas, porém uma parte significativa dessas queixas foi aliviada através da utilização de técnicas fisioterapêuticas, como a cinesioterapia. Portanto, é fundamental a contribuição da fisioterapia para esse problema de saúde, pois pode elevar a qualidade de vida das mulheres, promovendo um aumento na excitação e no desempenho sexual.

Chegou-se à conclusão de que é fundamental oferecer uma educação sexual mais abrangente para mulheres mais velhas, o que pode facilitar a identificação precoce de sintomas e, consequentemente, melhorar suas perspectivas de recuperação. 

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

APÊNDICE B – ANAMNESE

ANEXO A – ÍNDICE DA FUNÇÃO SEXUAL FEMININA

Fonte: Pechoro et al., 2009.

ANEXO B – QS-F


1Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG. E-mail: daniele.roque@alunos.unis.edu.br
2Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG. E-mail: ingrid.sousa@alunos.unis.edu.br
3Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG. E-mail: anapaulabacha@gmail.com