REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10624917
Francisco Xavier Martins Bessa
RESUMO
A alimentação é um fator crucial para a sobrevivência e manutenção da saúde dos indivíduos, atendendo às suas necessidades nutricionais. A maioria das pessoas tolera alimentos diversificados, mas alguns podem causar reações adversas em indivíduos com sensibilidade. Nesses casos, esses indivíduos podem apresentar intolerâncias alimentares (IA). O objetivo deste trabalho é analisar a intolerância alimentar na qualidade de vida. A metodologia deste trabalho é uma revisão de literatura, de natureza descritiva e qualitativa. No entanto, as intolerâncias alimentares (IA) estão associadas a um maior impacto negativo na qualidade de vida das pessoas e os riscos ao bem-estar aumentam à medida que os alimentos consumidos pela população são cada vez mais processados e adicionados, podendo não apresentar a rotulagem informativa adequada.
PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Intolerâncias Alimentares. Qualidade De Vida.
ABSTRACT
Food is a crucial factor for the survival and maintenance of the health of individuals, meeting their nutritional needs. Most people tolerate a variety of foods, but some can cause adverse reactions in sensitive individuals. In these cases, these individuals may present food intolerance (AI). The objective of this work is to analyze food intolerance in quality of life. The methodology of this work is a literature review, of a descriptive and qualitative nature. However, food intolerance (FI) is associated with a greater negative impact on people’s quality of life and the risks to well-being increase as the foods consumed by the population are increasingly processed and added, and may not present adequate informative labeling.
KEYWORDS: Food. Food Intolerances. Quality of life.
1. INTRODUÇÃO
A qualidade de vida (QV) e a segurança alimentar e nutricional (SAN) são temas recentes na literatura científica, mas que mostram uma grande ligação entre eles. Hipócrates, considerado o pai da medicina, já alertava: “Que o seu alimento seja o seu medicamento”, reforçando a importância da relação entre uma alimentação adequada e saudável e aspectos medicinais, de saúde e bem-estar.
A restrição alimentar é quando uma pessoa, por conta de uma alergia ou intolerância, não pode comer determinados alimentos. Além disso, é possível que o indivíduo decida cortar um alimento de sua dieta de forma voluntária, como o vegetarianismo, em que a carne é eliminada da dieta.
Ainda, a Intolerância alimentar merece atenção. As pessoas que sofrem de intolerâncias podem necessitar de restrições na alimentação para remissão dos sintomas, portanto, deve-se assegurar a manutenção de uma dieta balanceada.
A alimentação é, sem dúvida, crucial para o progresso da humanidade. O ato de se alimentar é individual, mas o processo que envolve esse alimento é coletivo. Nesse contexto, as restrições alimentares tornam-se uma questão relevante na sociedade, sendo necessário despertar a consciência e a atenção de todos os indivíduos e instituições em relação a este tema. O alimento está relacionado a questões emocionais, saúde física e mental, social e econômica, entre outras.
A saúde não é apenas um bem-estar físico e mental completo. Da mesma forma, a ausência completa da doença não é o único tratamento para as restrições alimentares. É preciso assegurar a saúde do paciente com o acompanhamento médico adequado à sua condição, mas também é crucial investigar as causas do aumento de casos de intolerâncias e alergias alimentares, bem como da doença celíaca, que atualmente atinge aproximadamente 1% da população mundial, conforme os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Com base nessas informações, a questão problema do presente trabalho é: a intolerância alimentar interfere na qualidade de vida?
Portanto, o objetivo geral é analisar a intolerância alimentar na qualidade de vida. Os objetivos específicos são: discorrer sobre os tipos de Intolerância, descrever sobre a qualidade de vida, e analisar a importância do profissional de nutrição na qualidade de vida.
Este trabalho visa incentivar o desenvolvimento de novas pesquisas e estudos, aumentando, dessa forma, a bibliografia sobre o tema, uma vez que estudar pesquisas científicas é extremamente importante para aperfeiçoar o conhecimento de especialistas na área. Dessa forma, é claro que este estudo é relevante para os profissionais de nutrição e compreensão das intolerâncias alimentares.
Este trabalho é um estudo de revisão bibliográfica qualitativa, com base em artigos, monografias, teses e dissertações encontradas nas plataformas Google Acadêmico e Scielo. Na busca foram encontrados os seguintes autores: Anvisa, 2015; Alves, 2018; Bakanovas, 2020; Batista, 2018; Berzuino, 2017; Biesiekierski, 2017; Braly et al. 2017; Branco et al. 2017; Buss, 2020; Cardoso et al. 2021; Chagas et al. 2020; Corrêa, 2017; Diestel, Santos, Romi, 2012; Drub, 2019; Fenacelbra, 2021; Ferreira, 2021; Ferreira, 2016; Gasparini, 2018; Gil, Fernandes, 2019; Guimarães et al. 2021; Hanmer, 2021; Leonard et al. 2017; Mathiús et al. 2016; Misselwitz, 2014; MOREIRA, 2022; OLIVEIRA et al. 2017; Oliveira 2012; Pereira et al. 2017; Ramalho, Ganeco, 2016; Santos, 2021; Sebastion, 2020; Singh et al. 2018; Venito, Santos, Ferraz, 2022; Vernia et al. 2014; Zhu, 2018.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Intolerância a lactose
A lactose é o principal carboidrato encontrado no leite. É um dissacarídeo composto por dois monossacarídeos (glicose e galactose). A intolerância à lactose refere-se a sintomas gastrointestinais resultantes da má digestão ou má absorção da lactose devido à redução da atividade da lactase na mucosa do intestino delgado (BATISTA et al., 2018).
Em condições normais, a β-galactosidase (chamada lactase) hidrolisa a lactose, liberando moléculas de glicose e galactose absorvidas pelas células epiteliais intestinais da mucosa intestinal. A intolerância à lactose ocorre quando o intestino tem dificuldade para digerir essa molécula. Essa indigestão pode ser causada por uma deficiência ou redução da enzima lactase, criando uma condição chamada hipolactasia.
A tolerância à lactose em diferentes populações parece estar relacionada à domesticação das vacas-leiteiras e ao hábito de beber leite após o desmame. O número de casos é menor entre pessoas que culturalmente consomem abundantemente laticínios. Portanto, a prevalência da intolerância à lactose varia conforme a região geográfica e os hábitos da população.
Aqueles que não estão culturalmente acostumados a consumir leite e derivados tendem a experimentar essa intolerância em maior número. Devido ao grande número de pessoas com esse problema, a redução da lactase pode ser considerada uma condição natural do organismo (BRANCO et al., 2017).
Nos homens, a atividade máxima desta enzima ocorre após o nascimento, durante a amamentação, e diminui após o desmame. Na idade adulta, os níveis diminuem, atingindo menos de 10% das taxas de atividade infantil.
Contudo, em alguns grupos étnicos, como os da Europa Ocidental e seus descendentes, a atividade da lactase permanece elevada mesmo na idade adulta, permitindo a digestão de excesso de lactose (RAMALHO; GANECO, 2016). A intolerância à lactose pode ser dividida em três tipos: congênita, primária e secundária.
O defeito congênito é causado por um defeito genético que resulta em uma deficiência completa e permanente da enzima lactase no jejuno e pode ser detectado quando a criança é amamentada pela primeira vez ao nascer. A deficiência primária, ou deficiência de lactose, é a forma mais comum em adultos e ocorre quando a concentração de lactase no organismo diminui com a idade, dificultando a hidrólise da lactose.
Deficiências secundárias ou adquiridas podem resultar de alterações no trato gastrointestinal causadas por lesões, ou doenças intestinais e são temporárias e reversíveis. Quando a lactase tem deficiência ou insuficiente, a lactose não será hidrolisada e absorvida, resultando em aumento da pressão osmótica do lúmen intestinal, resultando em retenção hídrica e aumento do trânsito intestinal (MATHIÚS et al., 2016).
A lactose então entra rapidamente no cólon, onde sofre fermentação e posterior produção de ácidos graxos de cadeia curta e formação de gases (dióxido de carbono, hidrogênio e metano) pela ação da microbiota. O gás produzido pode causar desconforto e causar inchaço e gases.
O ácido láctico produzido pelos microrganismos é osmoticamente ativo e atrai água e lactose não digerida para o intestino, causando fezes moles e até diarreia. Portanto, os sintomas frequentemente observados em pacientes com intolerância à lactose incluem: gases, dor abdominal e distensão abdominal, diarreia, borborigmo e náusea após ingestão de leite ou seus derivados.
A gravidade dos sintomas depende de fatores como a quantidade de lactase produzida pelo organismo, a quantidade de lactose consumida na dieta, como o alimento é consumido e a sensibilidade e percepção do indivíduo (MISSELWITZ, 2014).
Para o aparecimento dos sintomas causados pela deficiência de lactose, a atividade enzimática deve ser reduzida em pelo menos 50%, o que explica as diferenças no grau em que os indivíduos que apresentam esta patologia toleram a ingestão de pequenas doses de lactose.
A maioria dos pacientes com intolerância necessita normalmente de 12 gramas de lactose (240 ml de leite) de uma só vez para causar desconforto. No entanto, algumas pessoas conseguem consumir pequenas quantidades de lactose sem apresentar problemas. Os sintomas tendem a aparecer 30 minutos a 2 horas após o consumo.
Após o diagnóstico, a ingestão de lactose na dieta deve ser cuidadosamente eliminada. A exclusão completa do consumo de leite e derivados pode levar a deficiências nutricionais de cálcio, fósforo e vitaminas, prejudicando a saúde (PEREIRA et al., 2017).
Para Chagas (2020), para evitar essas perdas, após a exclusão inicial das medidas de lactose, recomenda-se uma reintrodução gradual com base no limiar de sintomas de cada indivíduo. Algumas estratégias podem ajudar nesse processo, como comê-lo com outros alimentos e distribuí-lo ao longo do dia. Outra estratégia é consumir laticínios com teor reduzido de lactose por fermentação, como iogurte, coalhada e queijos envelhecidos, ou por processos industriais.
Se estas medidas forem insuficientes para reduzir os sintomas de intolerância à lactose, podem ser utilizadas medidas farmacêuticas. A substituição da enzima por lactase exógena (+β-galactosidase) e alimentos contendo lactose pode reduzir os sintomas causados. No entanto, estas medidas não garantem que toda a lactose ingerida seja completamente decomposta e os resultados variam de pessoa para pessoa.
3.2 Intolerância a APLV
Ao se falar em caseína, não se pode deixar de mencionar a alergia à proteína do leite de vaca – APLV. É considerada um dos tipos mais comuns de alergia alimentar e é definida como uma reação anormal do sistema de defesa contra os componentes protéicos do leite. Geralmente é prevalente em crianças menores de dois anos (PETRIZ, 2017).
No Brasil as informações são escassas, mas estudos sugerem que a prevalência (casos existentes) de APLV é de 5,4% e a incidência (surgimento de novos casos) é de 2,2%. Globalmente, a condição é mais comum na população pediátrica, com prevalência de 6%. Nos adultos esse número cai para 3,5% (GUIMARÃES et al., 2021).
Segundo Guimarães et al., 2021, quando se trata de fatores que levam à APLV, o mais relevante é a introdução precoce do leite na dieta de bebês menores de 6 meses, uma vez que o organismo ainda não possui um sistema imunológico totalmente eficaz. Há outro fator que também tem sido implicado na causa da APLV, nomeadamente a predisposição genética.
Como a APLV é uma anomalia imunológica, pode ocorrer por causas mais complexas e generalizadas, uma vez que outras proteínas estão presentes no leite. Os sintomas podem ser mediados por IgE, não mediados e mistos, dependendo da especificidade de cada organismo, componentes proteicos e mecanismos fisiopatológicos (BAKANOVAS, 2020).
A APLV mediada é caracterizada pelo rápido início de sintomas alérgicos dentro de duas horas após a exposição às proteínas. Esses sintomas podem ser sintomas cutâneos, gastrointestinais, respiratórios e alérgicos. A APLV não mediada é caracterizada por uma reação alérgica que demora mais para se manifestar.
Normalmente, essas manifestações são gastrointestinais, como refluxo, vômito, prisão de ventre, diarréia, etc. APLV mista é uma mistura de APLV mediada e não mediada, e os sintomas de ambos podem ocorrer, mas de forma crônica. Ou seja, os sintomas de alergia são mais graves (BERZUINO, 2020)
3.3 Intolerância a glúten
O glúten é definido como uma rede proteica insolúvel presente no endosperma dos cereais e de grande importância técnica, responsável por conferir viscoelasticidade e propriedades hidratantes aos alimentos (CARDOSO et al., 2021).
É constituído principalmente por dois componentes proteicos, que dependem do seu comportamento em soluções de etanol: um pertence ao grupo das prolaminas e é solúvel, e o outro pertence ao grupo das gluteninas e é insolúvel. (ALVES, 2018). Ambos os componentes são cruciais na produção do pão: o glúten fornece extensibilidade e viscosidade, e a glúten é responsável pela elasticidade e dureza (DRUB, 2019).
As proteínas de armazenamento de glúten ocorrem espontaneamente nos grãos de muitos cereais de estirpes da família Poaceae (comumente conhecidas como Poaceae) e estão divididas em doze subfamílias monofiléticas, principalmente espécies Triticeae correspondentes aos cereais, em particular, por exemplo: trigo, cevada, centeio e triticale. As prolaminas são as principais proteínas de armazenamento no endosperma dos cereais.
Portanto, diferem segundo o tipo de cereal, no trigo (Triticum spp.) são chamadas de gliadinas, enquanto na cevada (Hordeum vulgare L.) são chamadas de hordeínas (BIESIEKIERSK, 2017). O cereal de centeio (Secale Cereale L.) contém até 16% de glúten em sua composição, sendo que apenas a gliadina está presente, portanto, a glutenina não está presente.
Triticale (x Triticosecale Wittmack) é uma variedade artificial de cereal obtida através do cruzamento genético de trigo e centeio visando mesclar os atributos dominantes dessas culturas (ZHU, 2018). Assim como o trigo, a composição deste grão contém principalmente a fração gliadina.
Segundo Biesiekiersk (2017), as propriedades reológicas e funcionais relacionadas ao teor de glúten em cada cereal dependem principalmente da proporção de proteínas (prolaminas para gluteninas) e da relação de suas estruturas.
Portanto, cada ingrediente tem uma função diferente para determinar a viscosidade, as propriedades sensoriais e a qualidade do produto final. Além desses aspectos técnicos, as proteínas presentes no glúten podem causar efeitos tóxicos no organismo, incluindo inflamação em pessoas com doença celíaca (DC), tornando totalmente restrita a ingestão de trigo, cevada e centeio.
Embora ser completamente isento de glúten seja o ideal, a tecnologia para produzir alimentos sem glúten ainda é limitada, por isso, em 2008, a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas e a Comissão do Codex Alimentarius da Organização Mundial de Saúde determinaram que os alimentos naturalmente isentos de glúten podem conter O teor de glúten não deve exceder 20 mg, mas 26 alimentos processados sem glúten não devem exceder 10 mg/100 g de alimento.
3.3.1 Glúten e a doença celíaca
Os grãos são uma parte importante de uma dieta saudável e estão entre os alimentos mais consumidos em todo o mundo. Como mencionado acima, a maioria dos grãos é composta de prolaminas e gluteninas (proteínas de armazenamento de grãos). Porém, sua ingestão tem sido associada a diversas doenças clínicas (SINGH et al., 2018).
Segundo Drub (2019), estas doenças são gradualmente detectadas em muitas partes do mundo, especialmente na América do Norte, Europa, África e alguns países asiáticos. Aparentemente, aproximadamente 1,4% da população mundial é diagnosticada com alergia ao glúten.
Porém, no Brasil, estima-se que cerca de 2 milhões de residentes tenham a doença, segundo a Federação Nacional das Associações de Celíacos (Fenacelbra). Porém, essa taxa provavelmente é maior porque o estudo analisou apenas aqueles que já haviam sido diagnosticados (FENACELBRA, 2021).
A doença celíaca (DC) ou sensibilidade ao glúten é uma enteropatia imunomediada desencadeada pela ingestão de glúten que causa inflamação crônica da mucosa intestinal, levando à atrofia das vilosidades intestinais e, em última análise, limitando a absorção de nutrientes do trato intestinal para o corpo. Portanto, a DC pode ser considerada uma doença sistêmica, ou seja, pode acometer qualquer órgão, não apenas o trato gastrointestinal (LEONARD et al., 2017).
Os sintomas da DC podem ocorrer no nível intestinal, como diarreia, distensão abdominal, náuseas, vômitos, dor e constipação; em níveis adicionais, podem ocorrer com dermatite herpetiforme, artrite, sintomas neurológicos, anemia, perda de peso e até mesmo infertilidade feminina.
Portanto, a única maneira de controlar a doença celíaca é limitar completamente os alimentos que contenham glúten, reduzindo assim a inflamação no corpo. Portanto, com uma dieta isenta de glúten, as pessoas com doença celíaca devem aprender constantemente e ler os alimentos com rigor para poderem compreender sua composição completa (FERREIRA, 2021).
No Brasil, desde 2015, a rotulagem de diversos alimentos que contêm glúten é regulamentada pela RDC n.º 26 da ANVISA, tornando obrigatória a inclusão da frase “sem glúten” ou “contém glúten”, pois isso é crucial. Com doença de Crohn ou reações alérgicas a proteínas devem evitar determinados alimentos, pois vestígios dessa substância podem ser prejudiciais à saúde (ANVISA, 2015).
3.4 Qualidade de vida
O termo qualidade de vida (QV) tem sido amplamente utilizado na mídia e nas conversas cotidianas como sinônimo de felicidade, saúde e bem-estar. Pela literatura científica, a qualidade de vida parece estar relacionada não apenas com aspectos biológicos, pessoais e comportamentais, mas também com fatores sociodemográficos, culturais e coletivos (HANMER, 2021).
Na década de 1990, a Organização Mundial da Saúde criou um grupo de pesquisa para ampliar o debate sobre esse tema. Por ele, qualidade de vida é definida como a percepção que um indivíduo tem de si como integrado à vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores em que vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.
O conceito é complexo dada a subjetividade que representa para cada pessoa ou grupo social. Estima-se que a primeira utilização do termo QV tenha sido em 1964, quando o então presidente dos EUA, Lyndon Johnson, declarou que “As metas não podem ser medidas pelos balanços dos bancos. Só podem ser medidas pela qualidade de vida que proporcionam às pessoas” (MOREIRA, 2022).
Com o passar dos anos, a palavra passou a ser utilizada com o conceito de sucesso relacionado a bens materiais, como obtenção de casa própria, salário, carro e itens adquiridos. Nessa altura, a qualidade de vida tornou-se um indicador do grau de desenvolvimento social e econômico.
À medida que os debates e a investigação relacionada continuam a aumentar, este conceito continua a expandir-se e começa a referir-se não só ao conceito de crescimento econômico, mas também ao desenvolvimento social e ao bem-estar das pessoas, incluindo educação, cultura, lazer, segurança, saúde, bem como realização pessoal e relacionamento interpessoal, qualidade, satisfação, liberdade e fatores relacionados (BUSS, 2020).
Os chamados elementos básicos da qualidade de vida são: ser, pertencer e devir. “Ser” refere-se à nutrição, inteligência, qualidades físicas, valores, habilidades e experiências pessoais de uma pessoa. “Pertencer” refere-se às ligações que uma pessoa tem no seu ambiente, família, comunidade, trabalho, participação em grupo, serviços sociais.
No domínio da saúde, cada vez mais pessoas começam a concentrar-se em questões mais amplas do que apenas controlar os sintomas, reduzir a mortalidade e prolongar a esperança de vida. Ao longo da história, a medicina convencional baseou-se nos princípios da cura e sobrevivência dos pacientes, muitas vezes sem considerar se as intervenções e tratamentos causariam efeitos secundários desagradáveis ou sofrimento aos cidadãos.
Dessa forma, a qualidade de vida na literatura médica é utilizada para promover maior autonomia individual, maior intimidade e envolvimento familiar, além de reduzir internações desnecessárias. Também vale a pena destacar que as condições de vida e de saúde em muitos países melhoraram significativamente devido à redução da pobreza extrema, ao acesso generalizado ao saneamento e à água purificada, à redução das más condições de trabalho e ao aumento do acesso à alimentação para a população mundial (COREIA, 2017).
Chadwick já tinha alertado em meados do século XIX que a saúde era afetada por circunstâncias sociais e físicas e que a pobreza era muitas vezes o resultado de doenças pelas quais os indivíduos eram incapazes de assumir responsabilidades. Torna-se, portanto, cada vez mais claro que a qualidade de vida é fundamental para uma boa saúde, e não o contrário.
Tendo em vista que, para alcançar qualidade de vida é preciso primeiro ter saúde, e um dos fatores que tem grande impacto é a alimentação. O comportamento alimentar não é apenas uma necessidade fisiológica básica, mas também um direito garantido pelo Artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pelas Nações Unidas em dezembro de 1948.
Além disso, a alimentação envolve todo um contexto social, influenciado por questões culturais, crenças e diferenças em níveis étnicos, regionais, religiosos e sociais. Da mesma forma, considerando que para ter qualidade de vida o indivíduo deve estar alinhado aos domínios social, físico, emocional e satisfação, o poder e a SAN são importantes para atingir esse conceito.
Nesse contexto, fica evidente a importância dos profissionais nutricionistas como agentes da saúde, além de seu papel nas ações de promoção de hábitos saudáveis, prevenção de fatores de risco, também prestam bons conselhos sobre alimentação adequada e, o mais importante, SIM: Alimentação e nutrição acessíveis estratégias de educação (EAN) que fornecem informações de alta qualidade, são baseadas na ciência e usam uma linguagem fácil de entender (SEBASTIÃO, 2020).
3.5 O nutricionista e sua importância na qualidade de vida
A dieta tradicional das gerações anteriores era diferente da dieta atual, quando a prevalência de doenças inflamatórias intestinais era bastante baixa. A dieta ocidental é caracterizada pelo alto consumo de açúcares refinados, gorduras poliinsaturadas, ômega-6, fast food e baixo consumo de frutas, vegetais e fibras (GASPARINE, 2018).
No passado, os alimentos produzidos localmente eram consumidos imediatamente após a colheita, mas hoje os alimentos são processados, melhorados, armazenados e transportados por longas distâncias até chegarem ao consumidor final.
Acredita-se que esta mudança na dieta possa aumentar essas citocinas pró inflamatórias, levando a uma inflamação crônica de baixo grau no intestino. O nutricionista é um profissional que descreve bem o foco cada vez maior na qualidade de vida no mundo atual. Desempenha um papel fundamental na prevenção e tratamento de muitas doenças.
Como o conhecimento nutricional varia e alguns são leigos, é necessário um acompanhamento multidisciplinar, principalmente com médicos e nutricionistas trabalhando juntos para obter uma compreensão abrangente do paciente e abordar temas como ingestão e estado nutricional em crianças. É preciso ressaltar que a dietoterapia merece atenção no trabalho multidisciplinar (BRALY, 2017).
Diante disso, o nutricionista desempenha um papel muito importante dentro da equipe multidisciplinar e deve ser considerado um importante aliado no tratamento de pacientes internados e ambulatoriais com DII (VERNIA, 2014).
A DII tem um enorme impacto nutricional, principalmente devido aos seus sintomas. Portanto, a terapia nutricional é essencial para melhorar os sintomas, corrigir ou restabelecer o estado nutricional e auxiliar no tratamento (FERREIRA, 2016).
O diagnóstico nutricional dietético por um nutricionista é de extrema importância, pois confirma a relação entre ingestão adequada de calorias e nutrientes x deficiências nutricionais/metabólicas e/ou declínio do estado geral do paciente. Pessoas com DII precisam prestar atenção a uma boa nutrição para manter a saúde, especialmente porque podem perder peso durante as recaídas ou podem ter deficiência de nutrientes como ferro, vitamina D e cálcio (SANTOS, 2021).
A DII tem um enorme impacto nutricional nos indivíduos afetados devido a uma série de fatores: a parte do corpo afetada, ou seja, o trato gastrointestinal, os efeitos colaterais dos medicamentos e os próprios sintomas que impedem a ingestão de alimentos e, ao longo do tempo, levam a uma quantidade significativa de nutrientes.
O acompanhamento com nutricionista é considerado parte integrante do tratamento de pacientes com DII, e a terapia dietética deve ser individualizada conforme as necessidades de cada paciente, pois, além das necessidades nutricionais que variam de pessoa para pessoa, as necessidades nutricionais também variam de pessoa para pessoa. O estágio da doença, assim como todos possuem intolerâncias, devem ser levados em consideração no cálculo da dieta (OLIVEIRA, 2017).
Como o conhecimento nutricional varia entre os pacientes, médicos e nutricionistas devem trabalhar juntos para estudar não apenas a atividade da doença, mas também a nutrição e a ingestão e o estado da criança, e é necessária uma abordagem multidisciplinar para tratar a DII, especialmente quando combinada com dieta durante o tratamento.
As orientações alimentares para DIIs devem ser específicas para cada fase da doença. Durante a fase ativa, é recomendado restringir alguns alimentos. A lactose, a sacarose, as fibras, os alimentos flatulentos, os excessos de gordura e os condimentos fortes podem agravar os sintomas da doença, como a diarreia e a dor.
Alguns desses medicamentos podem também exercer a função de alergênicos no organismo de alguns pacientes, como a lactose. No entanto, as particularidades e a tolerância de cada paciente devem ser respeitadas (DIESTEL, SANTOS; ROMI, 2012).
Os pacientes com DIIs, geralmente, apresentam inadequações alimentares, tanto na fase ativa quanto na remissão da doença. O consumo inadequado de alimentos pode ser consequência das limitações inerentes ao tratamento dietoterápico, ou ainda pelo receio do paciente em ingerir determinados alimentos, o que pode agravar os sintomas (VENITO et al., 2022)
A nutrição procura restaurar e/ou manter o estado nutricional, fornecendo o suficiente de nutrientes, aliviar os sintomas, diminuir as indicações cirúrgicas, diminuir a atividade da doença e diminuir as complicações pós-operatórias. A nutrição enteral e a parenteral podem ser usadas na DC, segundo a fase em que a patologia se encontra. Porém, sendo possível efetuar uma ingestão nutricional adequada por via oral, esta torna-se a via de eleição (OLIVEIRA, 2012).
A equipe multidisciplinar que lida com pacientes com doença crônica deve considerar não somente os aspectos biológicos e físicos, mas também as consequências psicossociais desta patologia. A pessoa com DII é um grupo com necessidades específicas, e carece de acompanhamento, sendo necessário assegurar cuidados de saúde eficazes (GIL, FERNANDEZ, 2019).
Sendo assim, o nutricionista deve levar em consideração a fase da doença em que o paciente se encontra, assegurando que as necessidades nutricionais serão atendidas e que há melhorias nos sintomas e no progresso da cicatrização da mucosa, evitando alimentos que agravam o estado inflamatório.
4. CONCLUSÕES
É importante salientar que, quanto antes a intervenção nutricional for iniciada, menores serão os danos à saúde do paciente, bem como ao bem-estar do indivíduo e da família. Ela é a principal responsável pelo diagnóstico precoce através da identificação de características sociais no convívio familiar. É importante salientar que o processo de evolução do paciente pode levar algum tempo, mas é notado diariamente através da alteração nos sinais e sintomas clínicos pela família.
É crucial serem realizados mais estudos para esclarecer se a intervenção da dieta SGSC (Dieta Sem Glúten e Sem Caseína) e a suplementação de vitaminas, minerais e ácidos graxos poli-insaturados são adequadas. É crucial dar prioridade ao bem-estar e às condições socioeconômicas de cada paciente, sem deixar de proporcionar segurança ao tratamento realizado pelo profissional nutricionista e responder às expectativas do paciente.
Novas pesquisas são necessárias para confirmar ou aperfeiçoar as pesquisas que envolvem até mesmo a dependência ou deficiência de algumas vitaminas e minerais. Estes estudos permitirão maiores esclarecimentos e aperfeiçoamentos nos tratamentos multifatoriais, envolvendo a nutrição e os fatores ambientais.
Além disso, a pesquisa contribuiu para preencher uma lacuna existente em termos de estudos de comparação entre derivados lácteos com e sem lactose no mercado, tendo em vista o aumento significativo de itens dessa categoria, bem como o interesse da população em esses produtos. Portanto, torna-se indispensável a realização de mais estudos sobre o conteúdo nutricional desses alimentos, bem como seus efeitos sobre a saúde dos indivíduos.
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