REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202408161542
Francisco Xavier Martins Bessa1
RESUMO
A intolerância à lactose é uma condição gastrointestinal denotada pela incapacidade do organismo de digerir adequadamente a lactose, um açúcar encontrado no leite e em produtos lácteos. Essa dificuldade é causada, sobretudo, pela deficiência ou ausência da enzima lactase, que é responsável pela quebra da lactose em glicose e galactose no intestino delgado. Quando a lactase está ausente ou presente em quantidades insuficientes, a lactose não é totalmente digerida e absorvida, levando à fermentação da lactose no cólon e ao surgimento de sintomas desconfortáveis. Objetivo: Averiguar os impactos da intolerância à lactose com enfoque na fase adulta. Metodologia: Revisão bibliográfica documental, observacional e exploratória em congruência com uma pesquisa de cunho qualitativo. Resultados: A promoção da qualidade de vida para pacientes com intolerância à lactose envolve um enfoque abrangente que considera os impactos psicossociais e emocionais da condição. O nutricionista dispõe de um papel primário na criação de um plano alimentar que não apenas atende às necessidades nutricionais e de saúde, como também é inclusivo e prazeroso. Técnicas para melhorar a adesão ao plano alimentar, combinadas com suporte contínuo e personalizado, são essenciais para garantir que o paciente possa manter uma dieta equilibrada e desfrutar de uma melhor qualidade de vida. Conclusão: Concluiu-se que a combinação de avaliação precisa, elaboração de planos alimentares personalizados e suporte contínuo é imprescindível para garantir a saúde e o bem-estar dos pacientes.
Palavras-chave: Intolerância à Lactose. Fisiopatologia. Diagnóstico. Tratamento. Nutrição.
Abstract
Lactose intolerance is a gastrointestinal condition denoted by the body’s inability to properly digest lactose, a sugar found in milk and dairy products. This difficulty is caused, above all, by the deficiency or absence of the lactase enzyme, which is responsible for the breakdown of lactose into glucose and galactose in the small intestine. When lactase is absent or present in insufficient quantities, lactose is not fully digested and absorbed, leading to lactose fermentation in the colon and uncomfortable symptoms. Objective: To investigate the impacts of lactose intolerance with a focus on adulthood. Methodology: Documentary, observational and exploratory bibliographic review in line with qualitative research. Results: Promoting quality of life for patients with lactose intolerance involves a comprehensive approach that considers the psychosocial and emotional impacts of the condition. The nutritionist has a primary role in creating a meal plan that not only meets nutritional and health needs, but is also inclusive and enjoyable. Techniques to improve adherence to the eating plan, combined with ongoing and personalized support, are essential to ensure that the patient can maintain a balanced diet and enjoy a better quality of life. Conclusion: It was concluded that the combination of accurate assessment, creation of personalized eating plans and continuous support is essential to guarantee the health and well-being of patients.
Keywords: Lactose Intolerance. Pathophysiology. Diagnosis. Treatment. Nutrition.
1 INTRODUÇÃO
A intolerância à lactose é uma condição gastrointestinal comum que afeta uma parcela robusta da população adulta em todo o mundo. Essa condição ocorre devido à incapacidade do organismo de digerir adequadamente a lactose, um dissacarídeo presente principalmente nos produtos lácteos.
Quando a lactose não é digerida devidamente, pode resultar em uma série de sintomas desconfortáveis, como distensão abdominal, flatulência, cólicas abdominais e diarreia. A gravidade dos sintomas pode variar de pessoa para pessoa e está relacionada à quantidade de lactose consumida e à capacidade do corpo de produzir a enzima lactase, responsável por quebrar a lactose em seus componentes, glicose e galactose (Feitosa; Habeck; Santos, 2022).
Quando os produtos lácteos são consumidos, a lactose presente neles precisa ser quebrada em seus açúcares componentes para que possa ser absorvida pelo intestino delgado. Esse processo de quebra é mediado pela enzima lactase, que é produzida pelas células da mucosa intestinal. A lactase quebra a lactose em glicose e galactose, que podem então ser absorvidas pelas células intestinais e utilizadas pelo organismo para energia (Ramalho; Ganeco, 2016).
Todavia, em indivíduos com intolerância à lactose, a produção de lactase é reduzida, ocasionando em uma digestão inadequada da lactose. Como resultado, a lactose não digerida permanece no intestino delgado, onde pode fermentar devido à ação das bactérias intestinais. Esse processo de fermentação pode levar à produção de gases e ácidos orgânicos, resultando nos sintomas característicos da intolerância à lactose (Morais, 2022).
É válido frisar que a intolerância à lactose não é uma condição de saúde grave, embora cause desconforto e impacte a qualidade de vida dos indivíduos afetados. Logo, entender os mecanismos subjacentes à intolerância à lactose é central para o manejo adequado dessa condição e para a promoção de uma dieta saudável e equilibrada para aqueles que sofrem com ela.
A escolha desta temática se fundamenta em sua significativa relevância tanto para a área da nutrição quanto para a sociedade em geral. A intolerância à lactose é uma condição cada vez mais prevalente, afetando uma parcela considerável da população mundial.
Em um contexto de aumento da conscientização sobre saúde e nutrição, compreender os desafios enfrentados por indivíduos intolerantes à lactose é elementar para profissionais de saúde, especialmente nutricionistas, que são centrais no manejo e orientação dietética desses pacientes.
Para a área da nutrição, a intolerância à lactose representa um desafio significativo. A lactose é uma fonte importante de cálcio na dieta, e a sua restrição pode levar a deficiências nutricionais, especialmente em cálcio, e potencialmente comprometer a saúde óssea dos indivíduos. Inclusive, a exclusão desnecessária de produtos lácteos da dieta pode impactar negativamente a variedade e a qualidade nutricional geral, afetando a ingestão de outros nutrientes essenciais, como proteínas, vitaminas do complexo B e potássio.
Com o crescente interesse em dietas alternativas, como veganismo e vegetarianismo, e a popularidade de produtos lácteos sem lactose, é crucial aumentar a conscientização sobre as implicações da intolerância à lactose e promover opções alimentares acessíveis e adequadas para aqueles que sofrem com essa condição.
A compreensão dos sintomas, diagnóstico e manejo da intolerância à lactose não só pode melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados, mas também contribuir para uma maior inclusão e diversidade alimentar em nível societal.
Para tanto, ao abordar essa questão de forma abrangente e fundamentada, este trabalho busca fornecer considerações e imersões para profissionais de saúde e para o público em geral, corroborando para com uma compreensão mais ampla e informada da intolerância à lactose e suas implicações nutricionais e sociais.
O objetivo é averiguar os impactos da intolerância à lactose com enfoque na fase adulta. Os objetivos específicos, por sua parte, são caracterizar os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na intolerância à lactose na fase adulta, descrever os métodos diagnósticos disponíveis para identificar a intolerância à lactose e investigar as estratégias terapêuticas e dietéticas utilizadas no manejo da intolerância à lactose em adultos.
A seguinte problemática direciona esta pesquisa: Como manejar adequadamente a intolerância à lactose na fase adulta, considerando seus mecanismos fisiopatológicos, métodos diagnósticos e estratégias terapêuticas, para promover uma melhor qualidade de vida para os indivíduos afetados?
Deste modo, aplicou-se uma revisão bibliográfica documental, observacional e exploratória em congruência com uma pesquisa de cunho qualitativo. Para tanto, foram englobadas informações dos últimos dez anos (2014 até 2024) de bancos de dados como Scielo e Google Acadêmico, partindo das palavras palavras-chave “intolerância à lactose”, “fisiopatologia”, “diagnóstico”, “tratamento” e “nutrição”.
Os métodos de delineamento explanatório e observacional têm como intuito investigar e explicar coisas ou fatos com base em suas semelhanças e diferenças. O método observacional envolve a coleta sistemática de dados através da observação direta de fenômenos ou comportamentos, permitindo descrever, registrar e analisar eventos ou padrões observáveis sem intervenção direta do pesquisador. Essa abordagem fornece informações detalhadas sobre o objeto de estudo, contribuindo para a compreensão e explicação dos fenômenos observados (Lakatos; Marconi, 2017).
De maneira complementar, a abordagem qualitativa permite maior flexibilidade e criatividade na pesquisa, permitindo que os investigadores explorem novos enfoques e abordagens. A pesquisa documental é uma forma inovadora nesse contexto, oferecendo contribuições importantes no estudo de determinados temas (Heerdt; Leonel, 2022).
Por meio da avaliação de informações que ainda não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reexaminadas, a pesquisa documental pode fornecer uma base útil para estudos qualitativos adicionais e permitir que o pesquisador direcione a investigação por meio de enfoques diferenciados, incentivando a criatividade na pesquisa (Lakatos; Marconi, 2017).
Ademais, excluiu-se informações de artigos que não demonstraram correlação com o tema central desta pesquisa, que não abrangeram a definição prévia de período (última década) ou não demonstraram compatibilidade com a linguagem escolhida (português).
2 FISIOPATOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA DA INTOLERÂNCIA À LACTOSE
A lactose, um dissacarídeo composto por glicose e galactose, desempenha um papel vital como fonte de energia na dieta humana, especialmente durante a fase de crescimento e desenvolvimento. Sua presença em produtos lácteos como leite, queijo e iogurte fornece energia em conjunto com nutrientes essenciais como cálcio, vitaminas do complexo B e proteínas de alta qualidade (Morais, 2022).
Para muitas pessoas, a lactose é uma parte natural e benéfica da dieta, contribuindo para a saúde óssea, o desenvolvimento muscular e a função cognitiva. Porém, para aqueles que são intolerantes à lactose, a presença desse dissacarídeo na dieta pode representar um desafio amplo (Feitosa; Habeck; Santos, 2022).
A intolerância à lactose é caracterizada pela incapacidade do organismo de digerir adequadamente a lactose devido à deficiência ou ausência da enzima lactase, que é responsável por quebrar a lactose em seus componentes simples para absorção no intestino delgado (Morais, 2022).
Com isso, resulta-se em uma série de sintomas gastrointestinais desconfortáveis, como distensão abdominal, flatulência, cólicas e diarreia, após a ingestão de alimentos ou bebidas contendo lactose (Sampaio et al., 2022).
Conforme elencado por Ramalho e Ganeco (2016), a lactose também pode estar presente em alimentos processados, medicamentos e produtos de panificação, o que torna ainda mais importante a conscientização sobre as fontes ocultas de lactose na dieta. Para indivíduos intolerantes à lactose, a identificação e substituição desses alimentos pode ajudar a minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida (Palacios et al., 2014).
Logo, é essencial reconhecer que a exclusão completa de produtos lácteos da dieta pode levar a deficiências nutricionais, especialmente em cálcio e vitamina D, que são essenciais para a saúde óssea e o metabolismo mineral. Portanto, estratégias alternativas, como o uso de enzimas lactase, substitutos lácteos e fontes alternativas de cálcio, podem ser consideradas para garantir a adequação nutricional da dieta sem comprometer a saúde gastrointestinal (Pinto et al., 2015).
O processo de digestão da lactose começa na boca, onde a lactose presente nos alimentos é exposta à ação da saliva, que contém uma pequena quantidade da enzima lactase. No entanto, a quantidade de lactose que é digerida na boca é mínima em comparação com o que ocorre no intestino delgado, onde a maior parte da digestão da lactose ocorre (Pinto et al., 2015).
Quando a lactose chega ao intestino delgado, ela é exposta à enzima lactase, que é produzida pelas células da mucosa intestinal. A lactase catalisa a quebra da lactose em seus componentes simples, glicose e galactose, por meio de um processo conhecido como hidrólise. Esses monossacarídeos resultantes são então absorvidos pelas células intestinais, onde são transportados para a corrente sanguínea através de transportadores específicos localizados na membrana celular (Palacios et al., 2014).
Uma vez na corrente sanguínea, a glicose e a galactose são transportadas para as células de todo o corpo, onde são utilizadas como fonte de energia ou armazenadas para uso futuro. Em indivíduos com intolerância à lactose, a produção de lactase é reduzida, o que resulta em uma digestão inadequada da lactose. Como resultado, a lactose não digerida permanece no intestino delgado, onde pode ser fermentada por bactérias intestinais, resultando na produção de gases e ácidos orgânicos (Morais, 2022).
Outrossim, a presença de lactose não digerida no intestino delgado pode levar à osmose de água para o lúmen intestinal, resultando em distensão abdominal e diarreia. Portanto, a deficiência de lactase pode levar a uma série de sintomas desconfortáveis e impactar negativamente a qualidade de vida dos indivíduos afetados (Pinto et al., 2015).
A intolerância à lactose especificamente na vida adulta denota-se como uma condição complexa influenciada por uma variedade de mecanismos fisiopatológicos que podem levar à deficiência ou redução na atividade da enzima lactase (Morais, 2022).
A deficiência de lactase é a causa primária da intolerância à lactose e ocorre quando há uma redução na produção ou atividade dessa enzima pelo organismo. Entretanto, em algumas pessoas, a produção de lactase diminui com o tempo, resultando em uma deficiência enzimática que pode levar à intolerância à lactose na fase adulta (Palacios et al., 2014).
Existem várias causas subjacentes à deficiência de lactase, incluindo fatores genéticos, idade, etnia e condições de saúde subjacentes. A predisposição genética se mostra como basilar na determinação da capacidade de produção de lactase de um indivíduo. Além disso, a idade é um fator expressivo na determinação da atividade da lactase (Pinto et al., 2015).
A produção de lactase atinge o pico durante a infância e a adolescência e tende a diminuir gradualmente com o avanço da idade. Isso significa que muitas pessoas podem tolerar a lactose durante a infância e a adolescência, mas desenvolvem sintomas de intolerância à lactose na fase adulta à medida que a produção de lactase diminui (Sampaio et al., 2022).
Em exemplificação, danos à mucosa intestinal devido a condições como doença celíaca, doença de Crohn ou infecções gastrointestinais podem prejudicar a produção de lactase, levando à intolerância à lactose secundária (Palacios et al., 2014).
Do ponto de vista da prevalência, em algumas regiões, como na Ásia e na África, a intolerância à lactose é mais comum, afetando uma parcela significativa da população adulta. Isso ocorre devido à presença de uma alta frequência de genes que predispõem à deficiência de lactase nessas populações, resultando em uma prevalência mais elevada da condição (Morais, 2022).
Por outro prismas, em regiões onde o consumo de laticínios é tradicionalmente alto e há uma menor prevalência de genes associados à deficiência de lactase, a intolerância à lactose tende a ser menos comum. Isso é observado em países europeus, onde o consumo de leite e seus derivados é parte integrante da dieta e a intolerância à lactose é menos prevalente entre adultos (Feitosa; Habeck; Santos, 2022).
No Brasil, a prevalência da intolerância à lactose também varia em diferentes regiões do país. Em geral, valida-se que a intolerância à lactose é mais comum em regiões do Norte e Nordeste, onde há uma maior diversidade genética e uma menor tradição no consumo de laticínios. Em contraponto, em regiões do Sul e Sudeste, onde o consumo de laticínios é mais difundido, a prevalência da intolerância à lactose tende a ser menor entre a população local (Palacios et al., 2014).
Ainda, a prevalência da intolerância à lactose pode variar dentro de uma mesma região devido a diferenças individuais na capacidade de produção de lactase e no consumo de laticínios. Uma abordagem individualizada, considerando não apenas a prevalência regional, mas também fatores genéticos, alimentares e culturais, é adequada para o manejo eficaz da intolerância à lactose e a promoção de uma dieta saudável e equilibrada para todos (Pinto et al., 2015).
3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO: ABORDAGENS TERAPÊUTICAS E DIETÉTICAS
Entre os sintomas mais relatados pelos indivíduos intolerantes à lactose, destacam-se a distensão abdominal, flatulência, diarreia e desconforto abdominal geral (Sampaio et al., 2022). A Tabela 1 é adequada para identificar e acompanhar os sintomas da intolerância à lactose ao longo do tempo, ajudando no diagnóstico e manejo desta condição:
Tabela 1 – Sintomas da Intolerância à Lactose
Sintoma | Descrição |
Distensão abdominal | Sensação de aumento do volume abdominal, muitas vezes acompanhada de sensação de inchaço ou desconforto. |
Flatulência | Produção excessiva de gases intestinais, resultando em inchaço abdominal e expulsão de gases. |
Diarreia | Fezes líquidas e frequentes devido à osmose de água para o lúmen intestinal e à fermentação bacteriana da lactose não digerida. |
Desconforto abdominal | Sensação de desconforto ou dor na região abdominal, muitas vezes associada à ingestão de alimentos ou bebidas contendo lactose. |
Náuseas | Sensação de desconforto no estômago, muitas vezes acompanhada de uma vontade de vomitar. |
Cólicas abdominais | Dor abdominal aguda ou espasmódica, frequentemente associada à ingestão de alimentos ou bebidas contendo lactose. |
Sensação de plenitude | Sensação de estar cheio ou saciado após as refeições, mesmo quando se comeu apenas uma pequena quantidade de alimentos. |
Fadiga | Cansaço extremo ou falta de energia, por vezes associada à intolerância à lactose devido ao impacto nos padrões de alimentação e digestão. |
Dores de cabeça | Dor ou desconforto na região da cabeça, que pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo a ingestão de alimentos que desencadeiam a intolerância à lactose. |
Fonte: Adaptado de Sousa (2022).
A distensão abdominal é uma queixa comum entre os pacientes intolerantes à lactose e geralmente é descrita como uma sensação de aumento do volume abdominal, muitas vezes acompanhada de sensação de inchaço ou desconforto. Esse sintoma é resultado da produção excessiva de gases no intestino, devido à fermentação da lactose não digerida pelas bactérias intestinais (Cornélio et al., 2022).
A flatulência, ou produção excessiva de gases intestinais, é outro sintoma característico da intolerância à lactose. Os gases intestinais são produzidos como resultado da fermentação bacteriana da lactose não digerida no intestino grosso, o que pode levar a uma sensação de inchaço e desconforto abdominal, bem como à expulsão de gases (Morais, 2022).
A diarreia é um sintoma comum e perturbador da intolerância à lactose. A presença de lactose não digerida no intestino delgado pode levar à osmose de água para o lúmen intestinal, ocasionando em fezes líquidas e frequentes. Aliás, a fermentação bacteriana da lactose não digerida pode estimular movimentos intestinais aumentados, contribuindo para a diarreia (Sousa, 2022).
Demais sintomas menos específicos também podem estar presentes na intolerância à lactose, como náuseas, cólicas abdominais, sensação de plenitude após as refeições e até mesmo sintomas sistêmicos como fadiga e dores de cabeça. A gravidade e a frequência dos sintomas podem variar de pessoa para pessoa, dependendo da quantidade de lactose consumida, da capacidade individual de produzir lactase e de outros fatores (Palacios et al., 2014).
Quanto aos métodos diagnósticos para identificar a intolerância à lactose situa-se a medição da produção de hidrogênio no ar expirado após a ingestão de uma quantidade conhecida de lactose. Quando a lactose não é devidamente digerida e absorvida no intestino delgado, ela passa para o intestino grosso, onde é fermentada por bactérias intestinais, resultando na produção de hidrogênio como subproduto (Cornélio et al., 2022).
O hidrogênio produzido é então absorvido pela corrente sanguínea e exalado pelos pulmões, onde pode ser detectado e quantificado por meio de um dispositivo de medição de hidrogênio no ar expirado. A detecção de um aumento significativo nos níveis de hidrogênio após a ingestão de lactose é indicativa de intolerância à lactose (Pinto et al., 2015).
Quanto ao teste de tolerância à lactose, envolve-se a ingestão de uma quantidade conhecida de lactose, seguida pela medição dos sintomas e/ou alterações nos níveis de glicose no sangue ao longo do tempo. Durante o teste, o paciente ingere uma solução contendo uma quantidade específica de lactose, geralmente entre 25 e 50 gramas, e seus sintomas são monitorados durante um período de várias horas (Palacios et al., 2014).
Além disso, são realizadas medições dos níveis de glicose no sangue em intervalos regulares para avaliar a resposta do organismo à lactose. Um aumento menor do que o esperado nos níveis de glicose ou o desenvolvimento de sintomas gastrointestinais após a ingestão de lactose são indicativos de intolerância à lactose (Pinto et al., 2015).
Ambos os métodos diagnósticos possuem suas vantagens e limitações e podem ser utilizados de forma complementar, dependendo das necessidades individuais do paciente e da disponibilidade de recursos. Enquanto os testes de respiração são mais sensíveis e específicos, os testes de tolerância à lactose são mais próximos das condições naturais de ingestão de lactose e podem fornecer informações adicionais sobre a resposta do organismo à lactose em tempo real (Cornélio et al., 2022).
Assim, o manejo da intolerância à lactose revela uma variedade de abordagens que visam minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados por essa condição. Entre as estratégias mais comuns estão a restrição dietética, o uso de enzimas lactase e a substituição de produtos lácteos por alternativas sem lactose (Pinto et al., 2015).
A restrição dietética é uma das abordagens mais simples e eficazes para o manejo da intolerância à lactose, partindo da redução ou eliminação do consumo de alimentos e bebidas que contenham lactose, como leite, queijo, iogurte e sorvete (Palacios et al., 2014).
Embora essa abordagem possa ser assertiva na redução dos sintomas em muitos pacientes, pode ser desafiadora devido à necessidade de eliminar uma fonte importante de cálcio e outros nutrientes essenciais da dieta. Portanto, é importante garantir que os pacientes intolerantes à lactose recebam orientação adequada sobre como obter esses nutrientes de outras fontes alimentares (Sampaio et al., 2022).
O uso de enzimas lactase é outra estratégia positiva para o manejo da intolerância à lactose. Essas enzimas estão disponíveis em forma de suplementos e são tomadas antes ou durante a ingestão de alimentos ou bebidas que contenham lactose. A enzima lactase ajuda a quebrar a lactose em seus componentes simples, glicose e galactose, facilitando sua digestão e absorção pelo organismo (Palacios et al., 2014).
Esta abordagem pode ser útil para pacientes que desejam continuar consumindo produtos lácteos em sua dieta, pois permite uma maior flexibilidade na escolha dos alimentos. Não obstante, a substituição de produtos lácteos por alternativas sem lactose advém como uma estratégia cada vez mais popular para o manejo da intolerância à lactose (Cornélio et al., 2022).
Contemporaneamente, existem uma variedade de produtos disponíveis no mercado, como leites, queijos e sorvetes sem lactose, que são formulados para fornecer os mesmos nutrientes e sabor dos produtos lácteos convencionais, mas sem lactose. Essas alternativas podem ser uma excelente opção para pacientes que desejam continuar desfrutando dos alimentos que amam sem os sintomas associados à intolerância à lactose (Palacios et al., 2014).
4 Relevância do Nutricionista no Cuidado ao Indivíduo com Intolerância à Lactose
O diagnóstico preciso é basilar porque a intolerância à lactose pode ser facilmente confundida com outras desordens gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável ou a alergia à proteína do leite. Um diagnóstico incorreto pode levar a restrições dietéticas desnecessárias ou inadequadas, resultando em deficiências nutricionais, como a falta de cálcio e vitamina D, essenciais para a saúde óssea. Além disso, um diagnóstico assertivo permite a personalização das estratégias de manejo dietético, assegurando que o indivíduo receba orientações nutricionais adequadas e baseadas em evidências. Dessa forma, evita-se tanto a subestimativa da condição quanto o tratamento excessivo, que pode gerar desconfortos adicionais ao paciente (Carvalho et al., 2022).
O nutricionista se mostra como um pilar na identificação e no manejo da intolerância à lactose, atuando como um profissional capaz de correlacionar os sintomas relatados pelo paciente com a sua dieta e hábitos alimentares. Através de uma anamnese detalhada e da avaliação dos padrões alimentares, o nutricionista pode identificar possíveis fontes de lactose na dieta que estejam desencadeando sintomas. Aliás, o nutricionista é primário na interpretação de testes diagnósticos, como o teste de tolerância à lactose e o teste respiratório de hidrogênio, que são utilizados para confirmar a presença da intolerância (Lopes; Bastos, 2019).
No manejo da condição, este profissional auxilia na eliminação ou redução da lactose da dieta e, ainda, na substituição adequada dos nutrientes provenientes dos alimentos lácteos. A prescrição de uma dieta balanceada que inclua fontes alternativas de cálcio e vitamina D é essencial para prevenir deficiências nutricionais. Ademais, o nutricionista orienta sobre o uso de suplementos de lactase, que podem permitir o consumo de produtos lácteos sem sintomas adversos, ajustando as recomendações conforme a tolerância individual do paciente (Alves; Pereira, 2023).
O acompanhamento contínuo do paciente é outra dimensão primordial do papel do nutricionista. Este acompanhamento permite ajustes no plano alimentar à medida que a condição evolui e garante que o paciente mantenha uma boa qualidade de vida, evitando complicações a longo prazo. Além disso, o nutricionista educa o paciente sobre a leitura de rótulos e a identificação de lactose em alimentos processados, fortalecendo sua autonomia na gestão da condição (Lopes; Bastos, 2019).
A anamnese e a avaliação alimentar são etapas fundamentais no cuidado nutricional de indivíduos com intolerância à lactose. Essas ferramentas permitem ao nutricionista entender os hábitos alimentares do paciente além de identificar os padrões que podem estar contribuindo para o surgimento de sintomas gastrointestinais. A coleta de dados alimentares detalhados possibilita uma análise criteriosa das fontes de lactose na dieta e das possíveis correlações entre o consumo desses alimentos e os sintomas relatados, estabelecendo uma base sólida para a intervenção nutricional (Carvalho et al., 2022).
A importância da coleta de dados alimentares detalhados reside na capacidade de identificar com precisão os alimentos que podem estar desencadeando os sintomas da intolerância à lactose. Em muitos casos, os pacientes não estão plenamente conscientes das fontes ocultas de lactose presentes em alimentos processados ou em receitas comuns, o que pode levar a uma subestimação do consumo de lactose e à persistência dos sintomas. Ao registrar com exatidão as refeições e os lanches consumidos, incluindo ingredientes, modos de preparo e horários, o nutricionista pode mapear o perfil alimentar do paciente, fornecendo informações essenciais para a elaboração de um plano alimentar adequado (Carvalho et al., 2022).
Além de identificar os alimentos que contêm lactose, a coleta detalhada de dados alimentares permite ao nutricionista avaliar a frequência e a quantidade de ingestão, fatores críticos na manifestação dos sintomas. Em muitos casos, pequenas quantidades de lactose podem ser bem toleradas por alguns indivíduos, enquanto outros podem apresentar sintomas significativos após a ingestão de doses menores. A avaliação precisa da ingestão ajuda a determinar o limiar de tolerância individual, fundamental para a criação de estratégias dietéticas personalizadas (Alves; Pereira, 2023).
A identificação de sinais e sintomas relacionados ao consumo de lactose é outro aspecto positivo da anamnese e da avaliação alimentar. Sintomas como distensão abdominal, flatulência, diarreia e desconforto abdominal são comuns em indivíduos com intolerância à lactose, mas sua intensidade e frequência podem variar amplamente. Através de uma anamnese detalhada, o nutricionista pode correlacionar a ingestão de alimentos específicos com o surgimento desses sintomas, o que facilita a identificação dos padrões de intolerância (Palacios et al., 2014).
Analogamente, a anamnese é capaz de revelar sintomas menos comuns ou atípicos, que podem estar associados à intolerância à lactose, mas que frequentemente são ignorados ou atribuídos a outras causas. Sintomas como fadiga, dores de cabeça ou irritabilidade, por exemplo, podem estar relacionados a distúrbios gastrointestinais, mas são frequentemente subdiagnosticados. Com a inclusão de perguntas específicas sobre a presença e a frequência desses sintomas, o nutricionista pode obter uma visão mais holística do impacto da intolerância à lactose na saúde do paciente, o que permite uma intervenção mais abrangente (Carvalho et al., 2022).
O nutricionista, ao interpretar esses exames, desempenha uma função essencial na integração dos resultados laboratoriais com a avaliação clínica e dietética, o que possibilita a formulação de estratégias nutricionais mais precisas e individualizadas. A interpretação adequada dos exames, aliada à colaboração com outros profissionais de saúde, permite uma abordagem multidisciplinar eficaz, que garante um cuidado abrangente e centrado nas necessidades do paciente (Lopes; Bastos, 2019).
A interpretação dos exames de intolerância à lactose pelo nutricionista envolve a análise de testes específicos, como o teste respiratório de hidrogênio e o teste de tolerância à lactose. O teste respiratório de hidrogênio é um dos métodos mais utilizados e confiáveis para a detecção da intolerância, baseado na medição da quantidade de hidrogênio exalado após a ingestão de uma carga de lactose. Um aumento significativo nos níveis de hidrogênio sugere que a lactose não foi completamente digerida no intestino delgado e fermentou no cólon, indicando intolerância. O nutricionista, ao interpretar esses resultados, pode correlacioná-los com os sintomas relatados pelo paciente, permitindo uma compreensão precisa do grau de intolerância e da resposta fisiológica individual à lactose (Alves; Pereira, 2023).
O teste de tolerância à lactose, que mede os níveis de glicose no sangue após a ingestão de lactose, é um exame adicional realizado de modo frequente. Uma elevação inadequada nos níveis de glicose sugere má absorção da lactose, confirmando o diagnóstico de intolerância. O nutricionista, ao considerar os resultados desse teste, pode avaliar a capacidade do paciente de processar lactose e determinar o nível de restrição dietética necessário. Inclusive, a interpretação desses exames permite ao nutricionista identificar possíveis variações na tolerância individual à lactose, o que é fundamental para personalizar as recomendações alimentares (Carvalho et al., 2022).
A colaboração com outros profissionais de saúde, como médicos gastroenterologistas e endocrinologistas, é um mais componente central no processo diagnóstico da intolerância à lactose. Essa parceria interdisciplinar é requerida para garantir que o diagnóstico seja feito de maneira precisa e que todas as condições associadas sejam adequadamente abordadas. Como exemplo, em casos em que a intolerância à lactose é suspeita de estar associada a outras condições gastrointestinais, como a doença celíaca ou a síndrome do intestino irritável, a colaboração entre o nutricionista e o médico é crucial para um diagnóstico diferencial adequado. Essa interação permite uma abordagem robusta, na qual o nutricionista utiliza as informações fornecidas pelos testes laboratoriais e as complementa com sua expertise em avaliação dietética e planejamento nutricional (Cornélio et al., 2022).
Além disso, a comunicação eficaz entre os profissionais de saúde garante que o paciente receba orientações consistentes e coerentes, minimizando a possibilidade de informações conflitantes. O nutricionista pode, em exemplificação, trabalhar em conjunto com o médico para determinar a necessidade de exames adicionais ou para monitorar a resposta do paciente ao tratamento dietético. Essa colaboração também facilita a integração de cuidados, onde o manejo nutricional é complementado por intervenções médicas quando necessário, assegurando um cuidado completo e integrado (Lopes; Bastos, 2019).
No contexto singular das substituições e alternativas na dieta, é devido que o nutricionista esteja bem informado sobre as opções disponíveis no mercado e sobre como essas podem ser incorporadas de maneira eficaz ao cotidiano alimentar do paciente. Alimentos sem lactose, como leites e iogurtes específicos, são desenvolvidos para atender às necessidades daqueles que apresentam intolerância, fornecendo os mesmos benefícios nutricionais dos produtos lácteos tradicionais. Esses produtos são suplementados, majoritariamente, com cálcio e vitamina D, nutrientes importantes para a manutenção da saúde óssea, compensando as potenciais deficiências que poderiam ocorrer com a exclusão dos laticínios convencionais da dieta (Lopes; Bastos, 2019).
Para além dos produtos sem lactose, existem diversas alternativas vegetais que podem ser utilizadas na substituição dos laticínios, como os leites de amêndoa, soja, aveia e coco. Esses substitutos não só evitam os sintomas associados à intolerância, como também ofertam benefícios nutricionais próprios, como a presença de ácidos graxos insaturados, fibras e fitoquímicos, que contribuem para a saúde cardiovascular e digestiva. A seleção dessas alternativas deve considerar não apenas o valor nutricional, mas também a aceitação pelo paciente, pois a adesão ao plano alimentar depende, em grande medida, do prazer e da satisfação que o indivíduo encontra em suas refeições (Palacios et al., 2014).
A manutenção de uma dieta equilibrada é um desafio significativo para pessoas com intolerância à lactose, mas é de vital importância para prevenir carências nutricionais e promover a saúde em geral. O plano alimentar deve assegurar a ingestão adequada de macronutrientes, vitaminas e minerais, mesmo na ausência dos laticínios convencionais. O cálcio, por exemplo, é um nutriente crítico que deve ser monitorado, dado seu papel positivo na saúde óssea e na prevenção de doenças como a osteoporose. O nutricionista deve garantir que o paciente consuma quantidades adequadas de cálcio por meio de fontes alternativas, como vegetais verde-escuros, tofu, sementes de gergelim e alimentos fortificados (Carvalho et al., 2022).
Não obstante, é obrigatório que o plano alimentar inclua uma variedade de alimentos ricos em outros nutrientes essenciais, como proteínas, ferro e vitaminas do complexo B. A variedade na dieta não só garante uma nutrição completa, mas também evita a monotonia alimentar, que pode levar ao desinteresse e à falta de adesão ao plano proposto. O nutricionista, ao elaborar o plano, deve equilibrar as restrições impostas pela intolerância com a necessidade de uma alimentação diversificada e prazerosa, considerando as preferências culturais e individuais do paciente (Alves; Pereira, 2023).
Perante esta exposição, a educação nutricional advém com um sustentáculo no manejo da intolerância à lactose, capacitando os pacientes a tomar decisões informadas sobre sua alimentação e a gerir sua condição de maneira eficaz. Um dos aspectos cruciais desse processo educativo é ensinar o paciente a identificar a presença de lactose em alimentos industrializados, uma habilidade que depende da compreensão detalhada da leitura de rótulos e da composição dos alimentos. A orientação adequada sobre esses elementos permite que os indivíduos evitem a ingestão inadvertida de lactose, prevenindo o surgimento de sintomas e promovendo um maior controle sobre sua saúde (Sampaio et al., 2022).
A leitura e interpretação de rótulos de alimentos são competências que devem ser desenvolvidas no paciente. Muitos produtos industrializados contêm lactose, mesmo em pequenas quantidades, e podem ser fontes ocultas desse açúcar, como pães, bolos, biscoitos, embutidos e produtos processados. O nutricionista tem o papel de educar o paciente a identificar termos que indicam a presença de lactose, como “soro de leite”, “coalho”, “caseína”, “caseinato” e “lactose” propriamente dita. Aliás, é de suma importância orientar sobre os ingredientes que podem ser derivados do leite e que, embora não contenham lactose em si, indicam que o produto pode não ser adequado para pessoas com intolerância (Cornélio et al., 2022).
O entendimento sobre a legislação vigente também é importante. No Brasil, por exemplo, os produtos que contêm lactose em quantidade significativa são obrigados a incluir essa informação no rótulo, o que facilita a identificação pelos consumidores. Entretanto, pequenas quantidades de lactose podem não ser claramente indicadas, especialmente em produtos que utilizam ingredientes lácteos em quantidades mínimas. Nesses casos, é pertinente que o paciente aprenda a interpretar a lista de ingredientes e a compreender as possíveis implicações do consumo desses produtos em sua condição de intolerância (Palacios et al., 2014).
Além da leitura de rótulos, a educação nutricional deve englobar estratégias práticas para o controle dos sintomas associados à ingestão de lactose. Ensinar o paciente a monitorar e a identificar precocemente os sinais de intolerância permite uma resposta mais rápida e eficaz, minimizando o desconforto e prevenindo complicações. O uso de diários alimentares, onde o paciente registra os alimentos consumidos e os sintomas subsequentes, é uma ferramenta eficaz que pode ser empregada para identificar padrões de ingestão que desencadeiam sintomas. Essa prática não só ajuda na autogestão da intolerância, mas também fornece ao nutricionista dados valiosos para ajustar o plano alimentar e recomendar mudanças necessárias (Alves; Pereira, 2023).
Outra estratégia essencial se trata da instrução sobre o uso de produtos e suplementos que ajudam a controlar os sintomas, como enzimas lactase. Esses suplementos podem ser utilizados antes da ingestão de alimentos que contenham lactose, ajudando na digestão desse açúcar e prevenindo o aparecimento de sintomas. O nutricionista deve educar o paciente sobre como e quando usar esses produtos, enfatizando a importância de seguir as instruções de uso e de monitorar sua eficácia, para que o paciente possa decidir com confiança quando optar pelo uso de tais suplementos (Sampaio et al., 2022).
Consequentemente, a educação nutricional deve promover a conscientização sobre a importância de uma dieta equilibrada, mesmo com as restrições impostas pela intolerância à lactose. O paciente deve ser encorajado a explorar e incorporar alimentos que são naturalmente isentos de lactose ou que podem ser utilizados como substitutos adequados, garantindo que sua dieta permaneça diversificada e nutricionalmente completa. Neste sentido, o nutricionista deve abordar o papel da alimentação no bem-estar geral, destacando como escolhas alimentares informadas podem contribuir para a prevenção de deficiências nutricionais e para a melhoria da qualidade de vida (Morais, 2022).
O nutricionista, com a orientação do paciente sobre o uso adequado de suplementos, precisa considerar diversos fatores, como a gravidade da intolerância, os hábitos alimentares e as necessidades nutricionais individuais. A recomendação de suplementos de lactase e de outros nutrientes, como cálcio e vitamina D, deve ser feita de maneira criteriosa, com base em uma avaliação abrangente do estado nutricional e das preferências do paciente (Morais, 2022).
O suplemento de lactase é comumente indicado para indivíduos que, apesar de apresentarem intolerância à lactose, desejam consumir produtos lácteos de maneira ocasional ou regular. A lactase, enzima responsável pela quebra da lactose em glicose e galactose, pode ser utilizada para prevenir os sintomas típicos da intolerância, como desconforto abdominal, diarreia e flatulência, que ocorrem devido à má digestão desse açúcar. A indicação do suplemento deve ser feita com base na intensidade dos sintomas e na quantidade de lactose a ser consumida, permitindo ao paciente manter uma certa flexibilidade em sua dieta sem comprometer o bem-estar (Lopes; Bastos, 2019).
No que tange à recomendação do suplemento de lactase, é essencial que o nutricionista instrua o paciente sobre a dosagem e o momento adequado para a ingestão. Em geral, a lactase deve ser administrada imediatamente antes do consumo de alimentos contendo lactose, embora a dose específica possa variar conforme a quantidade de lactose presente na refeição e a tolerância individual do paciente. Neste prisma, o nutricionista tem a obrigação de alertar sobre a necessidade de testar o suplemento em pequenas quantidades inicialmente, a fim de ajustar a dose conforme a resposta individual, garantindo a eficácia na prevenção dos sintomas (Carvalho et al., 2022).
Além da suplementação com lactase, a restrição de laticínios na dieta pode exigir a recomendação de outros suplementos, particularmente de cálcio e vitamina D. Esses nutrientes são fundamentais para a manutenção da saúde óssea e desempenham um papel crítico na prevenção de doenças como a osteoporose. O cálcio, presente em grande quantidade nos produtos lácteos, pode ser inadequadamente consumido por pacientes que evitam esses alimentos devido à intolerância, resultando em deficiência ao longo do tempo. Nesses casos, a suplementação de cálcio pode ser indicada, especialmente quando a ingestão dietética não atinge os níveis recomendados (Alves; Pereira, 2023).
A vitamina D, que facilita a absorção do cálcio pelo organismo, também pode necessitar de suplementação, particularmente em pacientes que não consomem alimentos fortificados ou que têm baixa exposição ao sol. A vitamina D é essencial para a mineralização óssea e para o funcionamento adequado do sistema imunológico, e sua deficiência, assim como a do cálcio, pode ter consequências graves para a saúde a longo prazo. O nutricionista precisa avaliar ceutelosamente o status de vitamina D do paciente, utilizando exames laboratoriais quando necessário, e recomendar a suplementação em doses adequadas para corrigir ou prevenir a deficiência (Sampaio et al., 2022).
Além do cálcio e da vitamina D, outros suplementos podem ser considerados, dependendo das necessidades individuais e das restrições dietéticas do paciente. Por exemplo, a vitamina B12, encontrada em produtos de origem animal, pode ser uma preocupação em dietas que excluem laticínios e carnes. Embora menos comum, a suplementação de magnésio e fósforo também pode ser indicada, dependendo do equilíbrio geral da dieta e do risco de deficiências múltiplas. O nutricionista deve personalizar as recomendações de suplementação com base em uma avaliação abrangente do estado de saúde do paciente e em sua capacidade de manter uma dieta equilibrada, mesmo com as restrições impostas pela intolerância à lactose (Carvalho et al., 2022).
A indicação desses suplementos precisa ser feita de maneira personalizada, considerando as particularidades de cada paciente e buscando sempre o equilíbrio entre a necessidade de evitar sintomas desconfortáveis e a garantia de um aporte nutricional adequado. O papel do nutricionista é central nesse processo, fornecendo orientações claras e fundamentadas que capacitam o paciente a gerir sua condição de forma assertiva e a manter sua saúde em ótimas condições (Lopes; Bastos, 2019).
O monitoramento e as adaptações contínuas são elementares para a eficácia do manejo da intolerância à lactose, garantindo que a abordagem nutricional permaneça alinhada com as necessidades do paciente e com a evolução de sua condição. Esse processo envolve a avaliação constante da eficácia da suplementação, bem como a realização de ajustes no plano alimentar com base nas mudanças observadas e nas respostas do paciente. A abordagem dinâmica e adaptativa é crucial para promover um controle eficaz dos sintomas e para assegurar uma nutrição equilibrada ao longo do tempo (Cornélio et al., 2022).
O acompanhamento da eficácia da suplementação, especialmente no uso de enzimas lactase, requer uma monitorização sistemática dos sintomas e uma avaliação regular da resposta do paciente ao tratamento. O nutricionista deve implementar um sistema de acompanhamento que inclua consultas periódicas para revisar a frequência e a intensidade dos sintomas relatados pelo paciente. A análise dessas informações permitirá determinar se a dosagem do suplemento é adequada ou se ajustes são necessários. Paralelamente, o uso de diários alimentares e relatórios de sintomas pode fornecer dados valiosos para avaliar a eficácia da suplementação, possibilitando uma abordagem mais precisa e personalizada (Lopes; Bastos, 2019).
Em caso de sintomas persistentes ou novos problemas correlatos à intolerância à lactose, o nutricionista deve estar preparado para revisar e adaptar a estratégia de suplementação. Isso pode incluir a alteração da dose do suplemento de lactase, a mudança para um produto diferente ou a introdução de novas abordagens para o manejo dos sintomas. A avaliação contínua da eficácia da suplementação permite que o plano de tratamento seja ajustado conforme a necessidade, promovendo uma abordagem mais responsiva e ajustada às particularidades individuais do paciente (Carvalho et al., 2022).
Além do monitoramento da suplementação, o ajuste do plano alimentar deve ser realizado com base na evolução da condição do paciente. O plano alimentar inicial pode precisar de modificações conforme o paciente apresenta melhorias ou mudanças em seus sintomas. A reavaliação periódica do estado nutricional e dos hábitos alimentares é essencial para garantir que o plano continue atendendo às necessidades do paciente e que seja adaptado às suas condições atuais. Por exemplo, se o paciente conseguir tolerar quantidades maiores de lactose sem apresentar sintomas significativos, o plano alimentar pode ser ajustado para incorporar uma maior variedade de alimentos (Sampaio et al., 2022).
A personalização do plano alimentar deve considerar fatores como mudanças na tolerância à lactose, variações na qualidade de vida e a resposta a novas estratégias dietéticas. O nutricionista deve estar atento a qualquer sinal de deficiência nutricional que possa surgir devido às mudanças na dieta e deve adaptar as recomendações para garantir um equilíbrio nutricional adequado. A inclusão de novos alimentos, a substituição de opções não toleradas e a modificação de porções são todas medidas que podem ser necessárias para manter uma dieta equilibrada e satisfatória (Lopes; Bastos, 2019).
Com isso, o monitoramento contínuo envolve a colaboração com outros profissionais de saúde, quando necessário. Caso surjam complicações associadas à intolerância à lactose ou outras condições comorbidades, a equipe de saúde deve ser envolvida para assegurar uma abordagem integrada e eficaz. A comunicação entre o nutricionista e outros profissionais, como médicos e especialistas, é fundamental para a coordenação do cuidado e para a implementação de ajustes no plano alimentar e na suplementação (Alves; Pereira, 2023).
5 CONCLUSÃO
A atuação do nutricionista no manejo da intolerância à lactose é de suma importância para assegurar uma abordagem eficaz na gestão desta condição. A relevância do nutricionista se manifesta de várias maneiras, começando pela avaliação precisa da condição do paciente e a elaboração de um plano alimentar personalizado. O nutricionista é primário na identificação e manejo da intolerância à lactose, oferecendo orientações especializadas sobre substituições alimentares e estratégias de tratamento para mitigar os sintomas. A coleta de dados alimentares detalhados e a interpretação de exames diagnósticos são essenciais para a criação de planos alimentares eficazes e adaptados às necessidades individuais.
O acompanhamento contínuo e a adaptação do plano alimentar são demandados para garantir que a dieta permaneça adequada e equilibrada, mesmo diante das mudanças na condição do paciente. Dessa forma, contribui-se tanto para o manejo físico dos sintomas quanto para a melhoria da qualidade de vida do paciente, considerando aspectos psicossociais e emocionais relacionados à condição.
Com base na análise apresentada, a promoção de uma alimentação prazerosa e inclusiva, aliada ao suporte contínuo e à personalização do tratamento, deve ser uma prioridade na prática clínica.
Os objetivos deste estudo foram alcançados conforme o esperado, evidenciando a importância da atuação do nutricionista no manejo da intolerância à lactose, tendo em vista os impactos ocasionados por esta condição na vida dos pacientes. Através da análise detalhada dos diversos aspectos envolvidos, ficou claro que a atuação especializada do nutricionista melhora o controle dos sintomas ao passo que também promove uma melhor qualidade de vida para o paciente.
REFERÊNCIAS
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1Formação acadêmica mais alta com a área: Mestrado em Nutrição
Instituição de formação: Uniasselvi
Endereço: Ananindeua, Pará, Brasil
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