INTERVENÇÕES SEGURAS PARA EXODONTIAS DE TERCEIROS MOLARES EM PACIENTES SISTÊMICOS: PREVENÇÃO DE RISCOS E COMPLICAÇÕES

SAFE INTERVENTIONS FOR THIRD MOLAR EXTRACTIONS IN SYSTEMIC PATIENTS: RISK AND COMPLICATION PREVENTION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502141604


Maria Josilaine das Neves de Carvalho¹
Amanda Beatriz Cavalcante Costa²
Amanda Elizabeth Monteiro da Silva³
Anne Rafaela Calixto Rodrigues⁴
Antonio João da Silva Neto⁵
Carollaynne Catarinne da Silva Almeida⁶
Djair Kainan de Lima⁷
Débora Maria Laurentino⁸
Elienai Tatiele Lacerda de Souza do Nascimento⁹
Gleycianne A. Maria Santos da Silva¹⁰
José Luciano Brainer de Farias Filho¹¹
Lucivania Nunes Pereira Silva¹²
Lucas Gabriel Duque Amancio¹³
Maria Hortência de Torres Almeida¹⁴
Wedja Maria da Silva Costa¹⁵


Resumo

A exodontia de terceiros molares é um procedimento comum na odontologia, mas em pacientes com condições sistêmicas, apresenta riscos adicionais, como sangramentos excessivos, infecções e demora na cicatrização. Comorbidades como doenças cardiovasculares, diabetes e o uso de anticoagulantes exigem uma avaliação pré-operatória cuidadosa para prevenir complicações. O uso de tecnologias avançadas, como a tomografia computadorizada, tem facilitado o planejamento cirúrgico, permitindo visualizações detalhadas das estruturas anatômicas e identificando potenciais riscos, como proximidade de nervos e vasos sanguíneos. A abordagem personalizada é essencial para cada paciente, com a escolha de técnicas minimamente invasivas e rigoroso controle da hemostasia. A administração profilática de antibióticos e a monitorização pós-operatória são fundamentais para evitar infecções e garantir uma recuperação eficaz. A orientação adequada sobre cuidados pós-operatórios, incluindo higiene oral e controle da dor, também é crucial para o sucesso do procedimento. Este estudo visa reunir práticas e protocolos atualizados para o manejo de pacientes sistêmicos durante a exodontia de terceiros molares, destacando a importância de um planejamento cirúrgico preciso e da colaboração interdisciplinar para minimizar riscos e complicações.

Palavras-chave: Pacientes Sistêmicos, Complicações Pós-operatórias, Tomografia, Cuidados Pós-operatórios, Antibioticoterapia.

1.  Introdução

A extração dos terceiros molares é um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns na prática odontológica, especialmente em pacientes com dentes impactados ou que apresentam complicações associadas ao crescimento desses dentes. No entanto, quando realizada em pacientes com condições sistêmicas, essa cirurgia se torna mais desafiadora e exige uma abordagem cuidadosa, considerando os riscos adicionais envolvidos. Esses riscos variam de complicações menores, como dor e inchaço, a problemas mais graves, como infecções, hemorragias, lesões nervosas e até fraturas mandibulares. Portanto, o planejamento pré- operatório detalhado e a execução habilidosa da cirurgia são cruciais para garantir a segurança do paciente e o sucesso do procedimento (Mendes et al., 2023).

O contexto sistêmico do paciente desempenha um papel fundamental na determinação dos riscos durante a cirurgia. Pacientes com doenças crônicas, como diabetes, hipertensão ou doenças cardíacas, podem enfrentar complicações adicionais no período pós-operatório devido a fatores como a cicatrização retardada, o aumento do risco de infecções ou a alteração na coagulação sanguínea. Além disso, pacientes imunocomprometidos ou com problemas relacionados à medicação, como anticoagulantes, devem ser monitorados de forma mais rigorosa, uma vez que a recuperação pode ser mais lenta e as complicações, como infecções e hemorragias, podem ser mais frequentes (Gunay Gojayeva et al., 2024).

As características do dente impactado, incluindo sua posição e grau de inclusão, também são fatores determinantes na complexidade da cirurgia. Dentes inclusos ou semi-inclusos frequentemente estão próximos a estruturas anatômicas vitais, como o nervo alveolar inferior, o que pode aumentar o risco de lesões nervosas, resultando em parestesias e perda de sensibilidade (Closs et al., 2023).

A posição angular do dente, seja ela de acordo com a classificação de Winter ou a classificação de Pell & Gregory, ajuda a prever o grau de dificuldade da extração, orientando a escolha da técnica mais adequada para cada caso (Sol et al., 2019). Dentes que se encontram em posições desfavoráveis, como impactados ou erupcionados parcialmente, exigem uma abordagem cirúrgica mais delicada e o uso de técnicas avançadas, como a osteotomia, para evitar danos a estruturas adjacentes (Laino et al., 2015).

Figura 1: Classificação de Pell e Gregory para avaliação da posição dos terceiros molares.

(Fonte: Adaptado de SANTOS, 2022).

Figura 2 Classificação da posição dos terceiros molares segundo Winter.

(Fonte: Adaptado de SANTOS, 2022).

Ademais, a avaliação clínica e radiográfica é essencial para garantir a abordagem correta durante a extração. A radiografia panorâmica é frequentemente a primeira escolha para a visualização da posição do dente, permitindo uma visão ampla das estruturas anatômicas envolvidas, como o nervo alveolar inferior e os dentes adjacentes. Quando a radiografia panorâmica não é suficiente para fornecer uma visão clara da relação entre o terceiro molar e o canal mandibular, a tomografia computadorizada pode ser necessária. Este exame tridimensional oferece uma visualização mais detalhada e precisa, permitindo uma análise mais cuidadosa da proximidade entre o dente e o nervo, assim como das estruturas ósseas, o que é fundamental para a segurança da cirurgia (Yiu yan Leung et al., 2023).

O planejamento pré-operatório em pacientes sistêmicos deve também considerar o histórico médico do paciente, incluindo o uso de medicamentos e a presença de condições que possam interferir na cicatrização ou no risco de complicações. Pacientes com doenças cardíacas, por exemplo, podem necessitar de antibióticos profiláticos para prevenir infecções endocárdicas, enquanto pacientes com hipertensão devem ter o controle rigoroso da pressão arterial antes e durante o procedimento. Para garantir a melhor resposta pós-operatória, é essencial que o cirurgião-dentista adote medidas de biossegurança adequadas, faça um acompanhamento rigoroso e ofereça orientações precisas sobre os cuidados pós-operatórios, minimizando os riscos de complicações como alveolite, infecções e sangramentos (Andrade et al., 2021).

Por fim, o processo pós-operatório em pacientes sistêmicos requer um cuidado contínuo e individualizado. A administração de medicamentos para controle da dor, o uso de antibióticos profiláticos e a orientação adequada sobre dieta e higiene oral são fundamentais para garantir uma recuperação tranquila e sem complicações. Além disso, o acompanhamento regular é importante para identificar e tratar precocemente quaisquer sinais de complicações, como infecção ou dificuldades na cicatrização (Seguro C Oliveira, 2014). As complicações mais comuns incluem a dor persistente, a infecção local, a hemorragia excessiva, a alveolite e, em casos mais graves, a lesão nervosa, que pode resultar em parestesias permanentes (Galinari, 2021).

Este trabalho se justifica pela necessidade de uma revisão integrativa que discuta as estratégias mais seguras e eficazes para a exodontia de terceiros molares em pacientes com condições sistêmicas, enfatizando a prevenção de riscos e complicações. O objetivo principal é fornecer diretrizes e orientações para os profissionais da odontologia, destacando a importância de um diagnóstico preciso, do planejamento adequado e dos cuidados cirúrgicos e pós-operatórios para garantir a segurança e o bem-estar dos pacientes durante todo o processo (Hupp, Ellis III, C Tucker, 2015).

2.  Metodologia

Este estudo é uma revisão integrativa da literatura, realizada por meio da busca em bases de dados científicas, como PubMed, SCOPUS e SCIELO. A pesquisa foi conduzida com foco em protocolos de manejo de pacientes com condições sistêmicas durante a exodontia de terceiros molares. Para tanto, foram selecionados artigos publicados entre 2015 e 2025. Utilizou-se os seguintes descritores: “Third Molar”, “Third Molar Extraction”, “Wisdom Teeth”, interligados por meio dos conectores booleanos “and” e “or”. A busca foi restrita a publicações em inglês e português, e critérios de seleção foram aplicados para garantir a relevância e a qualidade dos estudos, excluindo-se aqueles com amostras pequenas ou sem dados robustos sobre complicações pós-operatórias.

3.  Resultados e Discussão

A exodontia dos terceiros molares em pacientes com condições sistêmicas apresenta desafios específicos, que variam de acordo com o estado de saúde do paciente, a complexidade do procedimento cirúrgico e a abordagem adotada pelo cirurgião-dentista. A análise dos estudos revisados demonstrou que o planejamento pré-operatório adequado e a individualização do atendimento são fatores determinantes para minimizar riscos e complicações.

Nos pacientes diabéticos, por exemplo, observou-se que a cicatrização retardada e o maior risco de infecção exigem um controle rigoroso da glicemia antes e após o procedimento (Silva et al., 2022). O uso de antibióticos profiláticos e um protocolo de acompanhamento mais frequente são recomendados para prevenir complicações. Da mesma forma, pacientes hipertensos apresentam um risco aumentado de sangramento intra e pós-operatório, sendo essencial o controle da pressão arterial antes do procedimento e a escolha de agentes anestésicos adequados para evitar crises hipertensivas (Mendes et al., 2023).

Outro fator analisado foi a relação entre a posição do terceiro molar e a incidência de complicações cirúrgicas. Dentes impactados classificados como Pell e Gregory Classe III e Winter Horizontal foram associados a um maior grau de dificuldade cirúrgica e maior tempo operatório, o que pode aumentar o risco de edema, trismo e parestesia do nervo alveolar inferior (Laino et al., 2019). O uso da tomografia computadorizada mostrou-se essencial para a avaliação da proximidade do dente ao canal mandibular, reduzindo a incidência de lesões iatrogênicas (Yiu Yan Leung et al., 2023).

No pós-operatório, as principais complicações relatadas foram alveolite seca, dor prolongada e infecção local. A literatura destaca que pacientes imunossuprimidos ou em uso de medicamentos como bisfosfonatos devem ser monitorados rigorosamente, pois apresentam maior risco de osteonecrose dos maxilares (Gunay Gojayeva et al., 2024). Estratégias como a irrigação abundante durante a cirurgia, a prescrição de anti-inflamatórios e orientações rigorosas sobre higiene oral contribuíram para a redução das complicações.

Portanto, os resultados da revisão demonstram que o sucesso na extração dos terceiros molares em pacientes sistêmicos depende de uma abordagem multidisciplinar, envolvendo planejamento cuidadoso, escolha de técnicas minimamente invasivas e um protocolo pós- operatório rigoroso.

Figura 3 –     FENELON. Tomografia para Avaliação dos Terceiros Molares. Disponível em:<[www.bing.com/images/search.

4.  Conclusão

A exodontia dos terceiros molares em pacientes com condições sistêmicas requer um protocolo diferenciado para minimizar riscos e garantir a segurança do paciente. O controle pré- operatório das condições sistêmicas, a escolha adequada da técnica cirúrgica e o monitoramento rigoroso no pós-operatório são fundamentais para evitar complicações como infecção, sangramento excessivo e lesões nervosas.

Os achados desta revisão reforçam a importância do planejamento cirúrgico baseado na avaliação clínica e radiográfica detalhada, especialmente em casos de dentes impactados em posições desfavoráveis. O uso de exames de imagem avançados, como a tomografia computadorizada, demonstrou-se essencial na prevenção de lesões ao nervo alveolar inferior. Além disso, o manejo adequado da dor e a prevenção de infecções pós-operatórias devem ser prioridades, especialmente em pacientes imunossuprimidos ou com doenças crônicas.

Dessa forma, conclui-se que a individualização do atendimento, a adoção de medidas preventivas e a integração entre odontologia e outras especialidades médicas são essenciais para garantir a segurança e o sucesso do procedimento cirúrgico em pacientes com condições sistêmicas.

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