INTERVENÇÕES PSICOTERÁPICAS NO TRANSTORNO BIPOLAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10781767


Brenda Dandhara Lopes Carrilho Alves¹; Anne Karulline Ramos dos Santos²; Iara Pereira Canal Braga³; Ana Cláudia Onofre Barros⁴; Giulia Letícia Lopes de Souza Bastos⁵; Jordana Silveira Decarli⁶; Ínia Diniz Lima⁷; Letícia Felício Lima⁸; Karolliny Araújo Farias⁹; Tyburcyo Brenno Lopes Carrilho Alves¹⁰; Me. Rodrigo Dourado de Almeida¹¹.


RESUMO

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), também conhecido como Transtorno Bipolar (TB) ou Psicose Maníaco Depressiva é uma doença relacionada ao humor ou afeto, caracterizada pela alternância entre episódios de mania e depressão. Há um crescente número de pesquisas relacionadas ao TAB e neste estudo estarão em ênfase evidências que trazem a psicoterapia como uma trilha que pode modificar o curso da doença. Nesta revisão de literatura temos como objetivo o estudo geral quanto aos fatores relevantes acerca do Transtorno Bipolar. Em suma, este levantamento bibliográfico traz dados atualizados acerca dos temas relevantes ao transtorno bipolar e seu tratamento através da TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), buscando ajudar profissionais para um maior entendimento e aprofundamento no assunto, a fim de prevenir erros e oferecer um melhor prognóstico aos seus pacientes. A abordagem metodológica para realização deste estudo consiste em um levantamento de dados obtidos através de bancos de dados eletrônicos como BVS, PubMed, Scielo, além de textos em livros disponíveis em acervos biográficos e dissertações. Esta revisão bibliográfica acerca do transtorno bipolar evidencia que a doença se caracteriza como complexa e multifatorial, se trata de um transtorno que, mesmo após tantos estudos, não possui causas específicas ou mecanismos pontuais associados a um tratamento ou remissão dos sintomas. A psicoterapia é essencial no tratamento do transtorno bipolar e, por tratar-se de uma doença crônica, necessita de acompanhamento e controle contínuo, visto que sofre influência direta de fatores de estresse.

Palavras-chave: transtorno afetivo bipolar; terapia cognitivo-comportamental; mecanismos biológicos relacionados ao transtorno bipolar.

ABSTRACT

Bipolar Affective Disorder (BAD), also known as Bipolar Disorder (BD) or Manic-Depressive Psychosis, is a disease related to mood or affect, characterized by alternating episodes of mania and depression. There is a growing number of research related to BAD and this study will emphasize evidence that brings psychotherapy as a path that can modify the course of the disease. In this literature review, we aim to general study the relevant factors regarding Bipolar Disorder. In short, this bibliographical survey brings updated data on the topics relevant to bipolar disorder and its treatment through CBT (Cognitive-Behavioral Therapy), seeking to help professionals to gain greater understanding and deepen the subject, in order to prevent errors and offer a better prognosis for your patients. The methodological approach to carrying out this study consists of a survey of data obtained through electronic databases such as VHL, PubMed, Scielo, as well as texts in books available in biographical collections and dissertations. This bibliographic review about bipolar disorder shows that the disease is characterized as complex and multifactorial, it is a disorder that, even after so many studies, does not have specific causes or specific mechanisms associated with treatment or remission of symptoms. Psychotherapy is essential in the treatment of bipolar disorder and, as it is a chronic illness, it requires continuous monitoring and control, as it is directly influenced by stress factors.

Keywords: bipolar affective disorder; cognitive behavioral therapy; biological mechanisms related to bipolar disorder.

INTRODUÇÃO

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), também conhecido como Transtorno Bipolar (TB) ou Psicose Maníaco-Depressiva é uma doença relacionada ao humor, caracterizada pela alternância entre episódios de mania e depressão. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 2014), este transtorno mental crônico se manifesta em diferentes graus de intensidade, sendo diferenciados como Tipo I e Tipo II.

Segundo o DSM-V (2014) essas duas classificações são diferenciadas quanto à prevalência dos episódios onde ocorre alterações no humor, tipo a mania e a depressão. Onde no TB Tipo I, a maioria dos episódios são de mania e no TB Tipo II a maioria dos episódios são depressivos.

De acordo com Barlow (2016) o Transtorno Afetivo Bipolar é uma doença que causa mudanças na forma que o cérebro processa as substâncias químicas produzidas pelo corpo. Estudos trazem que o tratamento de TAB quando há a junção de tratamento psicológico e farmacológico nota-se uma diminuição nas recorrências dos episódios, uma significativa redução nos sintomas, diferente do que pode-se observar em pacientes que aderem a apenas uma das alternativas de tratamento, geralmente apenas o farmacológico, onde estes permanecem sintomáticos.

Há um crescente número de pesquisas relacionadas ao TAB e neste estudo estarão em ênfase evidências que trazem a psicoterapia como uma trilha que pode modificar o curso da doença. Nesta revisão de literatura temos como objetivo o estudo geral quanto aos fatores relevantes acerca do Transtorno Bipolar, com ênfase em seu tratamento através da Terapia Cognitiva-Comportamental. Como objetivos específicos temos a caracterização do transtorno bipolar, todos os conceitos, causas e sintomas, diagnóstico e o tratamento através da TCC.

A Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) é uma união de duas abordagens psicoterapêuticas e pode ser definida como um processo que engloba técnicas comportamentais específicas com o objetivo de influenciar a alteração de comportamentos particulares, o que representaria ao paciente uma inadaptação ao ambiente (SILVA,2014)

Em suma, este levantamento bibliográfico traz dados atualizados acerca dos temas relevantes ao transtorno bipolar e seu tratamento através da TCC, buscando ajudar profissionais para um maior entendimento e aprofundamento no assunto, a fim de prevenir erros e oferecer um melhor prognóstico aos seus pacientes.

MATERIAIS E MÉTODOS

A abordagem metodológica para realização deste estudo se baseia na síntese e na análise do conhecimento produzido acerca da temática em investigação. Dessa forma, utilizou-se um levantamento de dados obtidos através de bancos de dados eletrônicos como BVS, PubMed, Scielo, além de textos em livros disponíveis em acervos biográficos e dissertações. O critério para escolha dos artigos foi o enquadramento ao tema, a busca teve os seguintes descritores: transtorno afetivo bipolar; terapia cognitivo-comportamental; mecanismos biológicos relacionados ao transtorno bipolar.

Portanto, o estudo aqui exposto está composto por todos os artigos relevantes e selecionados de acordo com seu tema, totalizando 20 referências citadas ao longo da pesquisa, de onde foram extraídas as informações necessárias para a construção do artigo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

1. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

O Transtorno Bipolar é um dos mais graves tipos de doença mental devido a sua complexidade e a quantidade de fatores que a influenciam. De acordo com os estudos de Merikangas et al (2011) afeta cerca de 0,9% da população brasileira. Os sinais e sintomas que caracterizam o transtorno bipolar são complexos e podem causar incapacidades funcionais comparáveis à de muitas doenças crônicas. De acordo com o DSM V (2014), os pacientes apresentam baixa estabilidade no humor sendo persistente os quadros depressivos e a euforia anormal.

De acordo com Lopes (2012) cerca de 75% dos pacientes apresentavam alguma comorbidade, sendo comumente transtorno de ansiedade, abuso de substâncias psicoativas e transtorno de personalidade, como bordeline. Dessa forma, as manifestações iniciais da doença podem ser confundidas com um quadro de depressão unipolar; e a patologia só é diagnosticada posteriormente ao aparecimento do episódio maníaco, o que dificulta estudos populacionais com fiabilidade.

O Transtorno Bipolar pode ser entendido como uma desregulação aguda do humor. A pessoa em um episódio maníaco tem humor eufórico, expansivo ou irritável, um maior gasto de energias, comportamento de risco, fala mais acelerada, fuga de ideias e redução da necessidade de sono, assim como desempenho cognitivo alterado (distratibilidade, autoestima inflada), recorrendo por mais de uma semana (APA, 2014).

Um episódio maníaco deve ser diagnosticado a partir de manifestações significativas de prejuízos no funcionamento do indivíduo, afetando a vida profissional, social ou conjugal do mesmo. Já em episódio hipomaníaco, os sintomas apresentados são os mesmos, só que em intensidade menor, com duração mais curta (APA, 2014).

Os episódios depressivos também estão presentes no Transtorno Bipolar, através da manifestação de sintomas de humor deprimido/melancólico, perda de interesse ou prazer por todas atividades habituais, alteração no apetite, sono excessivo, retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimento de culpa ou inutilidade e pensamentos autodestrutivo, em um período de pelo menos duas semanas (APA, 2014).

O transtorno bipolar vai muito além do que as alterações de humor, o paciente possui episódios onde o pensamento, as emoções e o comportamento são alterados, tornando-se distorcidos e, consequentemente, acarretando em prejuízos na qualidade de vida de quem possui o transtorno e daqueles ao seu redor (BECK, 2021).

Tendo em vista a dimensão das consequências causadas pelo transtorno, é essencial para um melhor prognóstico que haja acompanhamento clínico psiquiátrico e psicológico. A Terapia Cognitivo-Comportamental contribui para que o paciente diminua os episódios depressivos, melhore o desempenho social e que possa aumentar a capacidade de lidar com recorrentes situações estressantes. Trata-se de uma abordagem estruturada, com um caráter psicoeducativo, buscando mostrar ao paciente com transtorno bipolar o funcionamento, conceitos e benefícios de uma terapia, conscientizando sobre o tratamento, desmistificando ideias distorcidas e preconceitos sobre o transtorno, melhorando assim a adesão ao tratamento farmacológico, proporcionando também a regulação emocional e o manejo do estresse, assim como, detecção precoce de novos episódios depressivos e maníacos (BERK, 2011).

Segundo Basco (2009), transtorno bipolar é definido como uma doença crônica e complexa, com evolução gradual afetando principalmente o cérebro e sendo prejudicial à saúde de 1,5% da população. Entretanto, no curso da doença o indivíduo em terapia cognitivo-comportamental |é capaz de desenvolver métodos que permitem a detecção prévia de episódios de mania e depressão.

2. FISIOPATOLOGIA DO TRANSTORNO BIPOLAR

Através de técnicas moleculares, os estudos a respeito do TB eram baseados em combinações de polimorfismos de nucleotídeos únicos, conhecido como SNP, o qual caracterizava uma variação em um único nucletídeo na fita de DNA. Quando observado o SNP em uma área regulatória da fita ou a presença deste em determinado gene, pode ser relacionado ao surgimento de alguma desordem e caracterizando marcador biológico de diversas doenças, sendo uma delas o transtorno bipolar. Estudos realizados pela Genome-wide Association Study (GWAS) definiram que apenas a presença dos SNP’s não eram capazes de diagnosticar o transtorno (KAPCZINSKI et al, 2008)

Considerando a genética das doenças psiquiátricas, atualmente o transtorno bipolar apresenta a maior porcentagem de herdabilidade, chegando até 90%. Desde os primeiros estudos acerca da doença já era uma hipótese aceita que se tratava de doença hereditária pois a frequência observada em indivíduos da mesma família com o transtorno era grande (SUDAK, 2012).

Desde os anos de 1970 o transtorno bipolar tem sido alvo de estudos acerca de suas bases bioquímicas, genéticas e neuroendócrinas. Entretanto, mesmo considerando todos os estudos realizados avaliando diferentes aspectos neurobiológicos da doença, ainda não se pode determinar a causa, efeito e nem uma relação entre o surgimento dos sintomas e os achados bioquímicos. Dito isso, a fisiopatologia do transtorno bipolar pode ser dividida entre os estudos e os modelos utilizados para defini-la (OLIVEIRA, 2019).

Estudos acerca da epigenética mostram que fatores individuais de cada paciente, especialmente eventos traumáticos antes dos 10 anos, podem ter como consequência uma hiperativação do hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHA), o qual libera citocinas e substâncias pró-inflamatórias relacionadas a bloqueios na síntese do fator neurotrófico derivado do cérebro, que se trata de uma proteína ligada a sobrevivência neural e a neurogênese, ou seja, uma cadeia de eventos que pode gerar uma repercussão negativa na estrutura e funcionalidade cerebral. Uma outra causa fisiopatológica envolvendo o transtorno bipolar está em alteranções na plasticidade celular. A neuroplasticidade diz respeito à capacidade das células de adaptação a diferentes estímulos, uma das causas de alterações da neuroplasticidade é a alteração na sinalização intracelular pelo cálcio, íon muito relacionado ao TB (SOUZA, 2008).

No que diz respeito às alterações em sistemas de neurotransmissão relacionados à doença, destaca-se as alterações na regulação de aminas biogênicas. Estudos demonstram que há alteração na regulação dos sistemas noradrenérgico, serotonérgico, dopaminérgico e colérgico. As aminas biogênicas estão presentes e distribuídas por todo o sistema límbico, afetado diretamente na modulação do sono, apetite, irritabilidade e medo (SUDAK, 2012).

As teorias iniciais acerca do sistema de neurotransmissão das aminas biogênicas são a base para o estudo de outros neurotransmissores, como o ácido gama-aminobutírico (GABA), sendo este o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central e também está envolvido no TAB. O GABA, segundo Kapczinski (2004), regula a atividade de neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina.

O transtorno bipolar, como exibe a figura abaixo, envolve uma série de alterações nos sistemas de neurotransmissores, sendo os principais afetados o sistema dopaminérgico e glutamatérgico, como demonstra a figura a seguir:

Figura 1. Fisiopatologia do transtorno bipolar.

Fonte: Kapczinski, 2004.

Estudos trazem que a dopamina possui papel essencial no TB, visto que foi observado seu aumento em pacientes durante episódio de mania. Em indivíduos saudáveis, quando administrada a d-anfetamina, uma droga estimulante que causa aumento nos níveis de dopamina, induzindo sintomas semelhantes aos de crises maníacas em pacientes bipolares. Nesse contexto, a resolução dos sintomas pode ser associada a uma diminuição na neurotransmissão dopaminérgica (WRIGHT et al, 2008).

Além da dopamina, níveis aumentados de grutamato+glutamina sugerem aumento da neurotransmissão glutamatérgica no transtorno, este aumento está ligado à disfunção mitocondrial no TB. Dessa forma, medicamentos de ação antiglutamatérgica, como lamotrigina, são eficazes no tratamento do TB. Os sistemas glutamatérgico e dopaminérgico podem, em conjunto, interagir na regulação da neurotransmissão (BECK, 2021).

As neurotrofinas são a classe de proteínas em maior abundância no sistema nervoso, sendo a BDNF a neurotrofina em maior quantidade no cérebro de mamíferos, sendo essencial para os mecanismos de ação dos medicamentos utilizados no tratamento do transtorno bipolar. Dito isso, níveis baixíssimos de BDNF foram descritos em pacientes bipolares durante episódios de mania e depressão. Assim, temos que a progressão do TB está associada a uma deficiência nos mecanismos de neuroplasticidade, o que explica a menor resposta ao tratamento e maior prejuízo cognitivo observado em pacientes com episódios mais frequentes (BECK, 2021).

Segundo Silva et al 2022, é importante ressaltar que as caracteristicas neurobiologicas da patologia podem promover o aumento de marcadores inflamatórios estresse oxidativo e ativação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, o que acarreta em lesões e alterações do arranjo neural. Além disso, a liberação desorganizada de cortisol geram anormalidades no ciclo circadeano.

Por conseguinte, o aparecimento e a evolução da doença são possivelmente desencadeados pelo trauma precoce, por circunstâncias aversivas que causam impacto na vida do portador, principalmente no final da adolescência, sendo por estresse sofrido ou uso indevido de álcool e drogas. Apesar disso, os episódios iniciais de mania podem se manifestar no decorrer de toda a vida adulta (BOSAIPO et al 2017).

3. DIAGNÓSTICO

A identificação do transtorno bipolar ocorre na maioria das vezes de forma tardia, seja por desconhecimento por parte do portador e sua família ou até por um diagnóstico errado. Tais erros podem ocorrer devido ao fato de que o transtorno bipolar geralmente é acompanhado de outras comorbidades, como as epilepsias, o transtorno de personalidade borderline, transtornos de ansiedade, entre outros (CORDIOLI, 2008).

Os estudos de Wright et al (2008), um dos instrumentos de avaliação para o diagnóstico do transtorno bipolar é o MINI (Mini International Psychiatric Interview), que se trata de uma breve entrevista, com duração de 15 a 30 minutos, estabelecida de acordo com os critérios do DSM-IV e da CID-10, a qual apresenta diagnósticos positivos dos principais transtornos psicóticos, com ênfase no TAB.

Para o DSM-V, para um diagnóstico preciso deve-se observar o quadro de mania do paciente, que, segundo o manual, irá apresentar humor anormal e persistentemente elevado, expansivo e irritável, sintomas esses que duram no mínimo uma semana e são observáveis todos os dias. Para o CID-10, o que define o transtorno afetivo bipolar é a presença de dois ou mais episódios onde o paciente apresenta humor e nível de atividade exageradamente alterados. Ou seja, o humor, atividade e energia elevado em algumas ocasiões; humor rebaixado, pouca energia e atividade em outras ocasiões (LOPES, 2012).

O diagnóstico do transtorno bipolar basicamente é realizado pelas descrições feitas pelo paciente, o qual muitas vezes não está apto para explicar de forma concisa os detalhes e pontos relevantes de sua sintomatologia. Dito isso, fica enfatizada a importância de avanços relacionados ao conhecimento genético da doença, pois com o crescimento que as técnicas moleculares vêm sofrendo, uma definição mais precisa dos genes relacionados ao transtorno e seus respectivos mecanismos de ação, permitiriam um diagnóstico mais exato e consequentemente um tratamento mais adequado para cada indivíduo bipolar, visto que a doença possui diferentes etiologias e reações em cada um, sendo muito individual em cada vítima do transtorno (RANGÉ, 2011).

4. TRATAMENTO DO TRANSTORNO BIPOLAR

Normalmente, após o diagnóstico, a primeira escolha de tratamento para indivíduos com o transtorno costuma ser medicamentosa, entretanto, é comum os indivíduos terem que lidar com sintomas residuais da doença. Diante disso, estudos comprovam que apesar da terapia medicamentosa ser eficiente, quando combinada com tratamentos psicológicos os resultados são mais positivos (OLIVEIRA et al, 2019).

O tratamento de TAB pode ser dividido em três fases: aguda, continuação e manutenção. O objetivo do tratamento quando o paciente está em fase aguda é amenizar os sintomas de mania, sem causar depressão e/ou tratar a depressão, sem causar mania. Na fase de continuação o objetivo é estabilizar o paciente, reduzir a possibilidade de recaídas e aumentar o funcionamento global. Por fim, os objetivos no tratamento de manutenção são voltados para prevenção da mania ou depressão, manter o paciente em remissão e, consequentemente, maximizar a recuperação funcional do indivíduo (ARAUJO et al, 2015).

No tratamento de pessoas bipolares é importante considerar cada detalhe individual de cada paciente, pois enquanto uma terapia pode se mostrar mais eficiente no tratamento de sintomas depressivos, uma outra pode ser mais apropriada para sintomas em episódios maníacos (LOPES, 2012).

O tratamento farmacológico de indivíduos com TB deve ser alinhado com a polaridade predominante, sendo a mania ou a hipomania. Ou seja, essa polaridade é definida conforme o paciente apresenta episódios com mais frequência de um polo do que do outro, para então definir a melhor terapia que se encaixa ao quadro, visto que terá grande valor para o prognóstico e as medidas terapêuticas a serem tomadas para cada um (ALCANTARA et al, 2003).

O TAB possui uma ampla classe de tratamentos medicamentosos, podendo ser utilizado lítio, anti-convulsivantes, antipsicóticos, antidepressivos e mesmo a eletroconvulsoterapia. Entretanto, observa-se em pacientes que utilizam apenas medicações para tratamento que há frequentemente sintomas crônicos, alto índice de recaídas e internações. Além disso, mesmo com a remissão dos episódios de humor, ainda podem persistir sintomas subsindrômicos substanciais, principalmente sintomas depressivos, em grande parte dos pacientes (BARLOW, 2016).

5. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma terapia breve e estruturada, orientada para a solução de problemas, que envolve a colaboração ativa entre o paciente e o terapeuta para atingir objetivos estabelecidos (KNAPP, 2005).

O primeiro estudo abordando a terapia cognitivo-comportamental foi realizado por Cochran em 1984, a partir de seus estudos diversos outros autores basearam suas pesquisas nos resultados obtidos por Cochran. Ou seja, segundo a literatura científica pesquisada, os estudos trazem a eficácia da TCC no tratamento do transtorno bipolar, tanto na configuração individual quanto grupal (LOPES, 2012).

De acordo com BECK (2021) a Terapia Cognitivo-Comportamental trata-se de uma abordagem estruturada, com princípio psicoeducativo, orientada de forma que haja colaboração e participação do paciente a fim de alcançar objetivos específicos. Assim, a TCC atua ensinando ao paciente sobre o funcionamento do transtorno e os conceitos que baseiam a terapia, informando sobre o tratamento, de forma que a adesão ao tratamento psicológico e farmacológico seja eficaz, evitando novos episódios depressivos e maníacos.

O tratamento através da Terapia Cognitivo-Comportamental tem demonstrado bons resultados quando associada a terapia medicamentosa, uma vez que, no processo psicoterápico o foco é aumentar a adesão ao tratamento, identificar e reduzir sintomas residuais de mania ou depressão, bem como evitar o acontecimento de recaídas (BARLOW, 2016).

A abordagem da TCC é definida em: monitoramento de humor, registro de pensamentos disfuncionais, questionamento socrático, resolução de problemas, treinamento de habilidades sociais, psicoeducação, reestruturação cognitiva e prevenção de recaídas aos episódios (BECK, 2021).

Apesar de ser uma doença conhecida há décadas, não há um tratamento que seja de fato 100%, tornando-se um campo aberto para o tratamento psicoterápico. A TCC, em portadores de transtorno bipolar, tem a finalidade de educar seus pacientes e familiares sobre como age a doença, como seu tratamento ocorre e as dificuldades associadas; sua metodologia é por meio de transmissão de conhecimentos, onde o paciente terá um papel ativo em seu tratamento. Trata- se de uma técnica que, apesar de atuar juntamente a terapia medicamentosa, oferece ao paciente métodos não farmacológicos para lidar com pensamentos, emoções e comportamentos problemáticos (BASCO, 2009).

No âmbito da Terapia Cognitivo-Comportamental há técnicas que auxiliam na identificação precoce do início de uma fase, outras atuam modificando comportamentos, prevenindo recaídas, desenvolvendo atividades e etc (KNAPP et al, 2005).

A técnica do mapeamento da vida é muito utilizada na TCC, uma vez que auxilia a obter uma visão mais ampla do curso da doença. Essa técnica tem como objetivo a identificação de desencadeadores de recaídas, fatores que geram estresse e estratégias que definem a eficácia ou ineficácia no controle de sintomas e prevenção de recaídas. Nessa técnica o paciente coloca em uma linha do tempo eventos que possam ser relacionados a doença, acontecimentos traumáticos ou importantes, histórico de outras doenças, a fim de identificar e compreender interações (KAPCZINSKI, 2004).

A técnica do gráfico de humor e afetivograma tem o objetivo de monitorar os sintomas, identificando o início de aparecimento de forma que sejam controlados antes que agravem. Nos estudos de Neto (2004), o autor ressalta que durante a fase de mania há aparecimento de sintomas como insônia, hipersensibilidade à rejeição e a crítica, irritabilidade, agressividade, e que através dessa técnica pode detectar o início da fase antes que ela saia de controle, por meio de uma agenda de atividades em que se cria uma rotina para manter o equilíbrio (KAPCZINSKI, 2004).

A técnica da reestruturação cognitiva é uma estratégia que busca identificar pensamentos automáticos e esquemas nas sessões, ensinando habilidades ao paciente para que saiba como reagir em situações que fogem do seu cotidiano. A técnica de reestruturação cognitiva sendo utilizada no tratamento do TB poder ter aplicabilidade em casos de pacientes com hipomania, uma vez que nessa fase o paciente possa estar com as cognições distorcidas.

Assim, o paciente irá avaliar os pensamentos distorcidos e modificá-los adequadamente. Outras técnicas como: Registro de pensamentos disfuncionais; resolução de problemas e treinamento de habilidades; questionamento socrático; seta descendente; prevenção de recaídas e psicoeducação também são amplamente utilizadas durante a terapia cognitivo-comportamental, dependendo do estado em que o paciente se encontra, o médico responsável irá definir qual estratégia utilizar, considerando a individualidade do caso (WRIGHT et al, 2008).

6. CONCLUSÃO

Diante do exposto, evidencia que a doença se caracteriza como complexa e multifatorial, se trata de um transtorno que, mesmo após tantos estudos, não possui causas específicas ou mecanismos pontuais associados a um tratamento ou remissão dos sintomas. A psicoterapia é essencial no tratamento do transtorno bipolar e, por tratar-se de uma doença crônica, necessita de acompanhamento e controle contínuo, visto que sofre influência direta de fatores de estresse.

A farmacoterapia é a principal escolha para o tratamento sintomatológico dos pacientes bipolares, entretanto, a psicoeducação mostrou-se mais efetiva no manejo dos pacientes. O tratamento farmacológico apesar de ser essencial, grande parte dos pacientes permanecem com os sintomas quando não é aplicada outra terapia em conjunto.

A aplicação da terapia cognitivo-comportamental possui resultados positivos comprovados, uma vez que inclui a família no tratamento do paciente e o educa para uma melhor adesão ao tratamento medicamentoso.

Em última análise, a combinação sinérgica desses elementos reflete a importância de uma abordagem integrada e personalizada no tratamento, visando não apenas controlar os sintomas, mas também capacitar os indivíduos a gerenciar efetivamente os desafios inerentes à condição, promovendo assim um melhor prognóstico e bem-estar gera.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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¹Graduanda do Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte;
²Graduanda do Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte;
³Graduanda no Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte;
⁴Graduanda do Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte;
⁵Graduanda do Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte;
⁶Graduanda do Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte;
⁷Graduanda do Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte;
⁸Graduanda do Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte;
⁹Graduada no curso de Medicina da Universidade de Rio Verde
¹⁰Graduado no Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte
¹¹Professor mestre orientador do Curso de Medicina do Centro Universitário UniNorte Rio