REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202502222155
Ana Quezia Ferreira Evangelista1
Maria da Consolação André2
Resumo
A internação hospitalar para cirurgias cardíacas é uma experiência estressante que pode impactar negativamente a saúde mental dos pacientes. As intervenções psicológicas vêm sendo utilizadas para minimizar o estresse e melhorar a qualidade de vida dos pacientes cardiopatas cirúrgicos. Este estudo teve como objetivo geral identificar as intervenções psicológicas utilizadas para a redução do estresse em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas. Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL). A coleta de dados ocorreu entre Outubro de 2024 e Janeiro de 2025, utilizando as bases de dados, SciELO, PubMed, BVSPSI (Biblioteca Virtual de Psicologia), PePSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia) e BDTD (Biblioteca Digital de Teses e Dissertações). Os descritores e operadores booleanos utilizados foram: “intervenções psicológicas” AND “estresse” AND “pacientes cardíacos” AND “cirurgia”. Foram coletados 55 estudos inicialmente. Após leitura crítica dos títulos e resumos, 10 artigos foram selecionados para leitura integral, e 5 foram incluídos na amostra final. Os resultados mostraram que as principais intervenções foram a psicoeducação, o relaxamento muscular progressivo, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e o suporte emocional individual e em grupo. As intervenções proporcionaram redução significativa nos níveis de estresse e melhora do bem-estar psicológico. A análise dos artigos selecionados revelou que a TCC, a intervenção multiprofissional de educação em saúde e a abordagem biopsicossocial são estratégias eficazes. Além disso, a compreensão e validação das emoções dos pacientes durante os procedimentos são cruciais para um suporte psicológico adequado. Este estudo destaca a importância da implementação de abordagens psicológicas específicas para pacientes cardiopatas, ressaltando a necessidade de mais pesquisas com metodologias padronizadas e acompanhamento a longo prazo.
Palavras-chave: Estresse; Cirurgia cardíaca; Intervenções psicológicas; Saúde mental.
Abstract
Hospitalization for heart surgeries is a stressful experience that can negatively impact the mental health of patients. Psychological interventions have been used to minimize stress and improve the quality of life for surgical cardiac patients. The general objective of this study was to identify the psychological interventions used to reduce stress in patients undergoing heart surgeries. This is an Integrative Literature Review (ILR). Data collection took place between October 2024 and January 2025, using the databases SciELO, PubMed, BVSPSI (Virtual Library of Psychology), PePSIC (Electronic Journals in Psychology), and BDTD (Digital Library of Theses and Dissertations). The descriptors and boolean operators used were: “psychological interventions” AND “stress” AND “cardiac patients” AND “surgery.” Initially, 55 studies were collected. After a critical reading of titles and abstracts, 10 articles were selected for full reading, and 5 were included in the final sample. The results showed that the main interventions were psychoeducation, progressive muscle relaxation, cognitive-behavioral therapy (CBT), and individual and group emotional support. The interventions provided significant reductions in stress levels and improvements in psychological well-being. The analysis of the selected articles revealed that CBT, the multiprofessional health education intervention, and the biopsychosocial approach are effective strategies. Additionally, understanding and validating the emotions of patients during procedures are crucial for adequate psychological support. This study emphasizes the importance of implementing specific psychological approaches for cardiac patients, highlighting the need for further research with standardized methodologies and long-term follow-up.
Keywords: Stress; Heart surgery; Psychological interventions; Mental health.
A internação hospitalar para cirurgia cardíaca é uma experiência complexa e frequentemente traumática, capaz de desencadear estresse intenso. Fatores como a expectativa do procedimento, o medo de complicações e a recuperação prolongada contribuem para o aumento dos níveis de estresse e ansiedade nos pacientes cardiopatas (Silva et al., 2023). Estudos mostram que o estresse pode agravar as condições cardíacas e interferir no processo de recuperação pós-operatória (Freitas e Souza, 2022). O estresse relacionado a procedimentos cirúrgicos é uma questão crítica na medicina, especialmente no caso de pacientes cardiopatas. A cirurgia cardíaca é frequentemente associada a níveis elevados de estresse psicológico, devido à sua complexidade e ao risco inerente de complicações graves, incluindo mortalidade. Para pacientes cardiopatas, o estresse pode ter efeitos ainda mais severos, uma vez que a condição cardíaca em si já impõe um estado de fragilidade física e emocional. Além disso, o impacto psicológico pode comprometer o processo de recuperação, influenciando negativamente os desfechos clínicos. Esse cenário destaca a importância de abordar o estresse de maneira sistemática e eficaz no contexto cirúrgico. Estudos demonstram que o estresse pré-operatório pode elevar a pressão arterial e aumentar a frequência cardíaca, criando um ambiente fisiológico desfavorável para a cirurgia e recuperação. O aumento das respostas inflamatórias e a redução da função imunológica também são consequências frequentes do estresse crônico, o que pode prolongar o tempo de internação hospitalar e aumentar o risco de complicações pós-operatórias, como infecções e dificuldades respiratórias. Além dos impactos fisiológicos, o estresse psicológico prolongado pode desencadear transtornos emocionais como ansiedade, depressão e distúrbios do sono, o que dificulta ainda mais a recuperação e a reabilitação dos pacientes.
A psicologia hospitalar, área responsável por oferecer suporte emocional e psicoeducação, tem se consolidado como parte essencial das equipes multiprofissionais em saúde (Ramos et al., 2019). No contexto da cirurgia cardíaca, a atuação dos psicólogos pode envolver a preparação psicológica pré-operatória, intervenções durante a internação e acompanhamento pós-operatório. A preparação psicológica pré-operatória é um componente essencial no manejo do estresse em pacientes cirúrgicos. Essa fase pode envolver a psicoeducação, que visa informar o paciente sobre o procedimento, os riscos e benefícios, e as expectativas de recuperação. A psicoeducação ajuda a reduzir a incerteza e o medo, proporcionando um senso de controle e previsibilidade (Simonetti, 2006). Além disso, técnicas de relaxamento e mindfulness podem ser ensinadas para ajudar os pacientes a lidar com a ansiedade pré-operatória. Durante a internação, as intervenções psicológicas podem incluir o suporte emocional individual e em grupo, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e o relaxamento muscular progressivo. O suporte emocional visa oferecer um espaço seguro para que os pacientes expressem seus sentimentos e preocupações, promovendo o bem-estar psicológico e a resiliência. A TCC pode ajudar a identificar e modificar padrões de pensamento negativos e disfuncionais, reduzindo a ansiedade e o estresse. O relaxamento muscular progressivo pode ajudar a aliviar a tensão física e emocional, promovendo o relaxamento e o bem-estar. O acompanhamento pós-operatório é fundamental para garantir a continuidade do suporte psicológico e a adaptação do paciente à nova realidade. As intervenções podem incluir o acompanhamento psicológico individual e em grupo, a psicoeducação e o suporte emocional. O acompanhamento psicológico visa ajudar o paciente a lidar com as emoções e os desafios da recuperação, promovendo a adaptação e o bem-estar. Este estudo visa identificar as intervenções psicológicas que vêm sendo utilizadas para a redução do estresse em pacientes cardiopatas cirúrgicos, buscando evidenciar os benefícios e limitações dessas práticas.
Este estudo configura-se como uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), conforme proposto por Mendes, Siqueira e Galvão (2008), que sugerem as seguintes etapas: formulação da questão norteadora, busca na literatura, avaliação crítica dos estudos, coleta de dados, análise e interpretação dos dados e apresentação dos resultados. A pergunta norteadora deste estudo foi: “Quais são as intervenções psicológicas utilizadas para redução do estresse em pacientes cardiopatas submetidos a cirurgia?” A coleta de dados foi realizada entre Outubro de 2024 e Janeiro de 2025 nas bases Scielo, PubMed, BVSPSI, PePSIC e BDTD. Foram utilizados os seguintes descritores com operadores booleanos: “intervenções psicológicas” AND “estresse” AND “pacientes cardíacos” AND “cirurgia”. Os critérios de inclusão foram: estudos publicados nos últimos 10 anos 2015 e 2025, em língua portuguesa ou inglesa, relacionados ao tema e com metodologias claras. Estudos fora do período estipulado, não relacionados ao tema ou com informações incompletas foram excluídos.
Tabela 1. Publicações disponíveis nas bases de dados entre 2015 e 2025.
| Base de dados | Estudos Encontrados | Estudos Selecionados |
| SciELO | 20 | 2 |
| PubMed | 8 | 1 |
| BVSPSI | 10 | 2 |
| PePSIC | 12 | 3 |
| BDTD | 5 | 2 |
Após a triagem inicial, 10 artigos foram lidos integralmente e 5 foram incluídos na amostra final. Os resultados demonstram diferentes abordagens para o manejo do estresse em pacientes cardiopatas cirúrgicos, destacando a importância da personalização das intervenções para as necessidades individuais.
Os estudos incluídos nesta revisão descreveram diferentes abordagens psicológicas, como mindfulness, terapia cognitivo-comportamental (TCC), relaxamento progressivo e terapia de apoio emocional. As intervenções foram realizadas em diferentes momentos, desde o período pré-operatório até o pós-operatório imediato e tardio. Os resultados mostraram uma redução significativa nos níveis de estresse e ansiedade em pacientes que participaram das intervenções, com melhoria também em parâmetros físicos, como frequência cardíaca e pressão arterial.
Tabela 2. Artigos Selecionados e Suas Referências
| Autor(es) | Ano | Título |
| Gomes, C. M., Capellari, C., Pereira, D. dos S. G., Volkart, P. R., Moraes, A. P., Jardim, V., & Bertuol, M. | 2016 | Estresse e risco cardiovascular: intervenção multiprofissional de educação em saúde |
| Gorayeb, R., Facchini, G. B., Almeida, P. de L. de ., Siguihura, A. L. M., Nakao, R. T., & Schmidt, A. | 2015 | Efeitos de Intervenção Cognitivo-Comportamental sobre Fatores de Risco Psicológicos em Cardiopatas |
| Martins, R. F. | 2018 | Estresse, qualidade de vida e enfrentamento em portadores de cardiopatias |
| Ventura, T. dos S., & Rodrigues, B. B. | 2018 | Traços de um coração doente: Psicologia em diálogo com a Cardiologia |
| Coelho de Oliveira, A. G. de S., Mäder, B. J., & Mäder, B. J. | 2021 | Emoções e sentimentos desenvolvidos nos procedimentos e intervenções em cardiopatas |
A Tabela 2 apresenta os cinco artigos selecionados para análise nesta revisão integrativa, oferecendo importantes insights sobre as intervenções psicológicas em pacientes cardiopatas cirúrgicos. Gomes et al. (2016) investigaram uma intervenção multiprofissional de educação em saúde voltada para pacientes com estresse e risco cardiovascular. Os resultados indicaram que a combinação de educação em saúde e suporte psicológico é eficaz para reduzir o estresse e melhorar os indicadores de saúde cardiovascular, com a abordagem multiprofissional assegurando um cuidado integral, desde a educação sobre a doença até o suporte emocional.
Gorayeb et al. (2015) exploraram os efeitos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) sobre os fatores de risco psicológicos em cardiopatas. O estudo demonstrou que a TCC ajuda a modificar padrões de pensamento negativos e comportamentos disfuncionais, o que resulta em uma diminuição significativa dos fatores de risco. Além disso, a TCC também favorece o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento eficazes, promovendo uma melhor adaptação à condição de saúde.
No estudo de Martins (2018), o foco foi o estresse, a qualidade de vida e o enfrentamento em pacientes com cardiopatias. Os achados evidenciaram que o estresse está significativamente associado a uma diminuição da qualidade de vida nesses pacientes, mas o uso de estratégias eficazes, como o suporte social e a ressignificação cognitiva, pode mitigar os efeitos negativos e promover melhorias na qualidade de vida.
Ventura e Rodrigues (2018) destacaram a relação entre psicologia e cardiologia, enfatizando a importância de uma abordagem biopsicossocial no tratamento de cardiopatas. Os autores argumentaram que a integração de aspectos biológicos, psicológicos e sociais proporciona um cuidado mais abrangente e eficaz, resultando em melhores desfechos para os pacientes.
Por fim, Coelho de Oliveira et al. (2021) analisaram as emoções e sentimentos experimentados durante os procedimentos e intervenções em cardiopatas. Os resultados mostraram que os pacientes vivenciam uma ampla gama de emoções, que vão do medo e ansiedade à esperança e alívio. Compreender e validar essas emoções é essencial para oferecer suporte psicológico adequado e facilitar a adaptação dos pacientes ao tratamento.
Os resultados consolidados desses estudos mostram que as intervenções psicológicas podem promover diversos benefícios para os pacientes cardiopatas cirúrgicos. Técnicas como relaxamento, mindfulness e TCC mostraram-se eficazes para reduzir os níveis de estresse e ansiedade, tanto no período pré-operatório quanto no pós-operatório. Além disso, o suporte emocional e a psicoeducação contribuem para uma melhor qualidade de vida, auxiliando os pacientes no enfrentamento das demandas da doença e do tratamento. Alguns estudos também relataram melhorias em parâmetros fisiológicos, como frequência cardíaca e pressão arterial, após a participação em intervenções psicológicas. Ademais, essas intervenções são cruciais para promover adaptação e resiliência, ajudando os pacientes a desenvolver estratégias eficazes para lidar com os desafios da cirurgia e do período de recuperação.
A revisão integrativa da literatura reforça, portanto, a relevância das intervenções psicológicas no cuidado a pacientes cardiopatas cirúrgicos. As evidências indicam que a implementação de abordagens como psicoeducação, relaxamento muscular progressivo, TCC e suporte emocional em grupo ou individualmente tem um impacto positivo na redução do estresse, na melhora da qualidade de vida e no fortalecimento da resiliência desses pacientes. Contudo, a literatura existente apresenta limitações, como a heterogeneidade metodológica entre os estudos, o que dificulta a comparação direta dos resultados e a generalização das conclusões. A maioria dos estudos concentra-se em intervenções de curto prazo, sendo necessária a realização de pesquisas que investiguem os efeitos a longo prazo dessas intervenções.
Em suma, a integração de intervenções psicológicas no tratamento de pacientes cardiopatas cirúrgicos é fundamental para garantir um cuidado abrangente e humanizado. Os resultados desta revisão oferecem um ponto de partida valioso para o desenvolvimento de protocolos de intervenção eficazes, que possam melhorar os desfechos clínicos e o bem-estar emocional desses pacientes. Estudos futuros devem ser conduzidos com amostras maiores e metodologias padronizadas, além de avaliar os efeitos a longo prazo das intervenções e explorar novas tecnologias, como aplicativos e teleconsultas, para ampliar o acesso ao suporte psicológico.
REFERÊNCIAS
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GOMES, C. M. et al. Estresse e risco cardiovascular: intervenção multiprofissional de educação em saúde. 2016.
GORAYEB, R. et al. Efeitos de intervenção cognitivo-comportamental sobre fatores de risco psicológicos em cardiopatas. 2015.
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1Ana Quezia Ferreira Evangelista
Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências de Saúde – Escola de Superior de Ciência da Saúde, DF, Brasil E-mail: anaqueziaferreira@gmail.com
2Maria da Consolação André
Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciência da Saúde – Escola Superior de Ciência da Saúde, DF, Brasil E-mail: mcandre@gmail.com