REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502251540
Amanda Cristina Pinheiro Carvalho
Antonio Rodrigo Sousa Lima
Blenda Vargas Rodrigues Barcellos
Camila Figueiró Dias Braun Mariano
Franciele Macedo Cataldo
Matheus Rangell Rodrigues de Souza
Nícolas Borges Marinho
Paulo Isaac Souza Alves
Singridy Ellen Freitas da Costa
INTRODUÇÃO
Os Transtornos do Espectro Autista (TEA) são condições do neurodesenvolvimento que emergem na primeira infância e afetam significativamente as interações sociais, os interesses e os comportamentos das crianças. Estima-se que os meninos sejam cinco vezes mais afetados do que as meninas (De Luca et al., 2021). As manifestações clínicas do TEA incluem dificuldades na comunicação e interação social, interesses restritos e padrões repetitivos de comportamento.
De acordo com dados de 2018, aproximadamente 1 em cada 59 crianças de 4 anos nos Estados Unidos é diagnosticada com TEA (Shaw et al., 2018). Em um estudo mais recente de 2023, foi identificado que 1 em cada 36 crianças de 8 anos apresenta o transtorno (Maenner et al., 2023), refletindo um aumento na prevalência ao longo dos anos.
Diversas abordagens terapêuticas, incluindo intervenções comportamentais, educacionais, de desenvolvimento e farmacológicas, foram desenvolvidas para melhorar a qualidade de vida de indivíduos com TEA. No entanto, a eficácia dessas intervenções na redução dos sintomas do transtorno ainda apresenta resultados variáveis, com evidências limitadas quanto à sua capacidade de atenuar significativamente a gravidade do autismo (Bieleninik et al., 2017). Além dessas abordagens tradicionais, novas técnicas inovadoras, como a utilização de realidade virtual e inteligência artificial, têm sido exploradas com o intuito de proporcionar ambientes terapêuticos mais interativos e adaptáveis, com resultados promissores (Lai et al., 2020).
O desafio de garantir uma qualidade de vida satisfatória para crianças com TEA exige uma abordagem terapêutica integrada, que considere a diversidade das necessidades individuais e promova a adaptação das crianças a diferentes metodologias. Nesse contexto, a presente pesquisa visa identificar as abordagens terapêuticas mais eficazes, avaliar a aceitação e o custo-benefício das mesmas, além de analisar o impacto das diferentes estratégias no processo de adaptação das crianças com TEA.
METODOLOGIA
Foi conduzida uma revisão bibliográfica abrangente utilizando as bases de dados PubMed, Scielo e Scopus. Foram incluídos na análise artigos originais, revisões sistemáticas e meta-análises publicadas entre os anos de 2017 e 2023. Os critérios de inclusão e exclusão foram rigorosamente definidos com base na relevância temática e na qualidade metodológica dos estudos, assegurando a seleção de trabalhos que contribuam de forma significativa para o entendimento do tema em questão.
RESULTADOS E DISCUSSÕES MUSICOTERAPIA
Em um estudo conduzido com 364 participantes, com idades entre 4 e 7 anos, os quais foram divididos em dois grupos (182 crianças receberam apenas terapia padrão, enquanto 182 crianças receberam terapia associada à musicoterapia), os resultados foram avaliados ao longo de um período de cinco meses. No grupo de musicoterapia, 90 crianças foram submetidas à intervenção de alta intensidade, enquanto 92 receberam a versão de baixa intensidade. A análise dos dados não revelou diferenças estatisticamente significativas entre a musicoterapia de alta ou baixa intensidade e o tratamento padrão. No entanto, a musicoterapia de alta intensidade foi associada a melhorias mais substanciais nos maneirismos autistas e a impactos mais positivos na qualidade de vida dos participantes quando comparado ao tratamento padrão (Bieleninik et al., 2017).
Além disso, na análise de sensibilidade, nenhuma diferença significativa foi observada entre os grupos de musicoterapia e tratamento padrão. No entanto, foi registrado que 95 dos 182 participantes (52%) do grupo que recebeu musicoterapia apresentaram melhorias no afeto social, em comparação com 76 participantes (42%) do grupo que passou pela terapia padrão, indicando que a musicoterapia teve um efeito mais pronunciado no desenvolvimento dessa área (Bieleninik et al., 2017).
De forma complementar, outro estudo destacou que a musicoterapia exerce uma contribuição significativa para o desenvolvimento cognitivo, a expressão emocional e a socialização de indivíduos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ao estimular a autoestima, o autorreconhecimento e a desinibição nas interações sociais, a musicoterapia não só potencializa a aprendizagem como também favorece a inclusão escolar e social. As autoras enfatizam que a música serve como um mediador terapêutico eficaz, facilitando a comunicação e a interação social, aspectos frequentemente solicitados para indivíduos com TEA (Reis et al., 2021).
TECNOLOGIA DE REALIDADE VIRTUAL
Neste estudo, foram comprovadas 44 crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), divididas em dois grupos: 22 no grupo de controle e 22 no grupo de intervenção. A avaliação ocorreu antes e após três meses de intervenção com tecnologia de realidade virtual, utilizando seis áreas de desenvolvimento no subteste de desenvolvimento comportamental: cognição, linguagem, cooperação motora cruzada, mimetismo, interação social e expressão emocional. Antes da intervenção, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos.
Após três meses de reabilitação, as pontuações de capacidade de desenvolvimento no grupo de intervenção apresentaram melhorias evidentes nas áreas de cognição e interação social. A maior diferença foi observada no quesito cognitivo, em que a pontuação média dos participantes no grupo de intervenção aumentou de 29 para 33,56 pontos, enquanto no grupo de controle o aumento foi menor, de 20 para 21 pontos.
Entretanto, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos nas demais áreas comprovadas. No quesito expressão emocional, por exemplo, a classificação no grupo de intervenção aumentou de 9,95 para 10,95, enquanto no grupo de controle passou de 7,95 para 8,50, indicando que a intervenção com realidade virtual não teve impacto relevante nesse aspecto (Zhao et al.).
Em um segundo estudo, foi realizada uma intervenção com um adolescente de 16 anos, o que passou por dois ciclos de treinamento: primeiro, um mês de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), seguida por uma abordagem combinada envolvendo tanto a TCC quanto o uso de realidade virtual. Os resultados indicaram que uma abordagem combinada promoveu melhorias significativas nos processos de atenção e nas habilidades de cognição espacial (De Luca et al.).
ATIVIDADE FÍSICA E HABILIDADES COGNITIVAS
Uma investigação detalhada com 22 participantes do sexo masculino, com idades entre 9 e 11 anos e diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), evidenciou melhorias significativas no desenvolvimento das habilidades motoras em ambos os grupos submetidos a instruções específicas. Os achados sugerem que atividades físicas estruturadas, como o treinamento de tênis de mesa, podem representar uma abordagem terapêutica viável para crianças com TEA.
Os resultados obtidos revelam o potencial dessas atividades físicas especializadas na promoção do desenvolvimento motor, destacando sua relevância como estratégia complementar no manejo do transtorno. Além disso, tais evidências reforçam a necessidade de investigações futuras para aprofundar a compreensão sobre os benefícios dessas práticas no contexto terapêutico de crianças no espectro autista. (Pan, Chien-Yu et al.)
Outro estudo analisou os efeitos de um programa estruturado de exercícios físicos em 20 crianças com idades entre 4 e 7 anos, distribuídas em dois grupos. O grupo experimental (n = 10) participou de sessões de 60 minutos, realizadas três vezes por semana ao longo de oito semanas, enquanto o grupo controle (n = 10) recebeu apenas fisioterapia convencional. Após a intervenção, comentamos que a prática de exercícios ao longo das 24 sessões promoveu melhorias significativas no desenvolvimento das habilidades motoras grossas em crianças com TEA. (CASTAÑO et al., 2023).
TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL
Um estudo avaliou os efeitos da Terapia de Integração Sensorial (SIT) em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), comparando um grupo de intervenção, composto por 16 crianças, com um grupo controle, formado por 15 participantes, todos com idades entre 3 e 8 anos. (Kashefimehr, Babak et al.)
Os resultados indicaram que o grupo inscrito no SIT apresentou melhorias significativamente superiores em todos os domínios avaliados pelo SCOPE (Perfil Ocupacional Infantil Curto),
evidenciando a eficácia da intervenção na ampliação das habilidades funcionais. Além disso, observou-se progresso em quase todos os domínios do Perfil Sensorial (SP), com exceção das áreas relacionadas a “reações emocionais” e “respostas emocionais/sociais”. (Kashefimehr, Babak et al.)
Esses achados reforçam a relevância da Terapia de Integração Sensorial como abordagem terapêutica para crianças com TEA, promovendo avanços significativos em diversas esferas do funcionamento ocupacional e sensorial. Embora os efeitos sobre as respostas emocionais e sociais tenham sido limitados, os resultados globais sugerem que um SIT pode desempenhar um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida dessa população, destacando a importância da personalização das intervenções terapêuticas.
Um estudo investigou os efeitos da Terapia de Integração Sensorial de Ayres em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), comparando um grupo de intervenção com um grupo controle. O grupo de intervenção foi composto por nove crianças que receberam terapia ocupacional baseada na Integração Sensorial de Ayres, enquanto o grupo controle, com oito participantes, manteve apenas os serviços terapêuticos e educativos
Entre os participantes do grupo de intervenção, quatro crianças receberam terapia da fala com duração de 60 a 120 minutos por semana, três sessões de aconselhamento psicológico entre 40 e 60 minutos semanais, e uma criança foi submetida à musicoterapia durante 60 minutos por semana. No grupo controle, todos os participantes se organizam em seu programa educacional regular, sem acesso a serviços de
Para a análise dos dados, foram utilizados testes não paramétricos de Wilcoxon, comparando as medidas pré e pós-intervenção. Os resultados indicaram uma melhoria significativa na subescala de autocuidado das habilidades funcionais no grupo de intervenção. Além disso, experimentou-se uma melhoria menos expressiva, porém relevante, nos domínios de mobilidade funcional e interação social. (Omari et al, 2022)
Análise do Comportamento Aplicada (ABA)
A Análise Comportamental Aplicada (ABA) evoluiu significativamente ao longo dos últimos 60 anos, com base nos princípios fundamentais estabelecidos no modelo inicial de Lovaas e no subsequente UCLA Young Autism Project. Esse desenvolvimento resultou na criação de diversos modelos de tratamento abrangentes e intervenções focadas, além de métodos e estratégias de ensino, todos voltados para a abordagem de déficits em crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em todos os níveis de funcionamento. Tais intervenções visam melhorar aspectos como cognição, linguagem, habilidades sociais, comportamento problemático e habilidades de vida diária (Reichow et al., 2018).
Em um manuscrito revisado, foi apresentada uma visão geral abrangente sobre o impacto da ABA, com foco nos resultados terapêuticos observados. A análise dos efeitos do método ABA demonstrou uma melhora crescente nos domínios da linguagem, cognição, socialização/comunicação e comportamento adaptativo, além de uma redução significativa no comportamento problemático. Ao considerar as medidas de resultado por faixa etária, os estudos que envolveram participantes entre 0 e 5 anos mostraram que os resultados mais frequentemente avaliados foram: cognição (22%), linguagem (23%) e socialização/comunicação (23%). Desses estudos, 66%, 68% e 57% relataram melhorias nesses respectivos domínios.
Nos estudos que envolveram participantes de ambos os sexos, as áreas de melhoria mais comuns foram linguagem (65%), cognição (71%) e socialização/comunicação (67%) (Gitimoghaddam, et al 2022)
CONCLUSÃO
Em síntese, a pesquisa sobre intervenções terapêuticas para o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ressalta a importância de uma abordagem integrada e multifacetada, capaz de atender às diversas necessidades dessa população. Os resultados revelam que diferentes intervenções, como a musicoterapia, a tecnologia de realidade virtual, os programas de exercícios estruturados e a Análise Comportamental Aplicada (ABA), oferecem benefícios específicos em áreas como cognição, habilidades sociais, motoras e comportamentais.
A musicoterapia, especialmente em sua versão de alta intensidade, demonstrou ser eficaz na melhoria de maneirismos autistas e no aumento da interação social, enquanto a tecnologia de realidade virtual, embora com resultados mistos, mostrou avanços significativos nas áreas de cognição e interação social, sugerindo um grande potencial para o uso de tecnologias inovadoras em ambientes terapêuticos adaptáveis. Os programas de exercício físico estruturado, por sua vez, não só promoveram melhorias no desenvolvimento motor, como também influenciaram positivamente o comportamento social e a saúde metabólica das crianças com TEA.
Em relação à Análise Comportamental Aplicada (ABA), os estudos revisados indicaram que essa abordagem continua a ser uma das mais eficazes no tratamento de TEA. A aplicação da ABA demonstrou progressos significativos nos domínios de cognição, linguagem, socialização/comunicação e comportamento adaptativo, além de uma redução substancial no comportamento problemático.
Apesar dos avanços observados, a pesquisa também aponta para lacunas significativas, principalmente no que diz respeito à saúde mental de indivíduos com TEA, especialmente aqueles com deficiência intelectual. A escassez de estudos que abordem esses aspectos específicos coloca um desafio importante para a comunidade científica, destacando a necessidade de novas abordagens terapêuticas que integrem tanto os aspectos comportamentais quanto os psicológicos.
Portanto, é essencial que futuras pesquisas priorizem a identificação de intervenções personalizadas e eficazes, que considerem as diversas dimensões do TEA. Além disso, deve-se investir no desenvolvimento de estratégias que não só atenham os sintomas principais do transtorno, mas também promovam a saúde mental e a qualidade de vida de forma abrangente, para proporcionar um cuidado mais completo e adaptado às necessidades específicas de cada indivíduo com TEA.