INTERVENÇÕES DO ENFERMEIRO ÀS VÍTIMAS DE LESÕES POR ARMAS DE FOGO: REVISITANDO A TEORIA PARA FORTALECIMENTO DA PRÁTICA

NURSING INTERVENTIONS FOR VICTIMS OF FIREARM INJURIES: REVISITING THEORY TO STRENGTHEN PRACTICE

INTERVENCIONES DE ENFERMERÍA PARA VÍCTIMAS DE LESIONES POR ARMAS DE FUEGO: REVISANDO LA TEORÍA PARA FORTALECER LA PRÁCTICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202508041211


Ílary Samara Nunes de Medeiros1
Aurilene Josefa Cartaxo de Arruda Cavalcanti2
Sônia Maria Josino dos Santos3
Ana Paula Marques Andrade de Souza4
Márcia Janiele Nunes da Cunha Lima5
João Victor dos Santos Batista6


RESUMO

O presente estudo aborda as intervenções do Enfermeiro às vítimas de lesões por armas de fogo no contexto pré e intra-hospitalar. O objetivo da investigação é reverberar informações sobre as intervenções do enfermeiro no atendimento pré e intra-hospitalar, vítimas de lesões por armas de fogo. O método é a Revisão Narrativa da literatura, que busca analisar e descrever um corpo de conhecimentos já produzidos sobre o tema. O objeto deste estudo, qual seja, as intervenções do enfermeiro às vítimas de armas de fogo, tendo como pano de fundo, as ações propostas no pré e intra-hospitalar. O material foi submetido a análise fundamentada nas bases teórico-metodológicas da Teoria da Investigação Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva. Resultados: Observou-se que, as intervenções do Enfermeiro às vítimas de violência, envolvendo armas de fogo, tanto no contexto Intra-hospitalar quanto no Pré-hospitalar, são regidas por Políticas Públicas, respeitadas as características da violência e suas especificidades clínicas. Observou-se ainda, que o papel do enfermeiro, é semelhante à dos demais profissionais de saúde, respeitadas as especificidades de cada profissão. Conclusão: Constatou-se que, as ações dos enfermeiros às vítimas de violência e, particularmente, de armas de fogo seguem padrões estabelecidos a priori e que a eficácia das Políticas Públicas adotadas pelo Ministério da Saúde para mitigar os efeitos deletérios da violência, em termos gerais, não tem surtido os efeitos desejados devido ao aumento exponencial do número de vítimas, em território nacional.

Palavras-Chave: Intervenções de Enfermagem; Vítimas de armas de fogo; Enfermeiro.

ABSTRACT

This study addresses the interventions of nurses to victims of firearm injuries in the pre- and intra-hospital context. The objective of the investigation is to reverberate information about the interventions of nurses in pre- and intra-hospital care, victims of firearm injuries. The method used is a narrative review of the literature, which seeks to analyze and describe a body of knowledge already produced on the subject. The object of this study is the interventions of nurses with victims of firearms, having as a backdrop the actions proposed in the pre- and intra-hospital setting. The material was subjected to analysis based on the theoretical-methodological bases of the Theory of Practical Research in Nursing in Public Health Results: It was observed that the interventions of nurses to victims of violence involving firearms, both in the intra-hospital and pre-hospital context, are governed by public policies, respecting the characteristics of violence and its clinical specificities. It was also observed that the role of the nurse is similar to that of other health professionals, respecting the specificities of each profession. Conclusion: It was found that the actions of nurses to victims of violence and, particularly, of firearms follow standards established a priori and that the effectiveness of the public policies adopted by the Ministry of Health to mitigate the deleterious effects of violence, in general terms, has not had the desired effects due to the exponential increase in the number of victims, in national territory.

KeywordS: Nursing Interventions; Victims of firearms; Nurse.

RESUMEN

Este estudio aborda las intervenciones de enfermeras con víctimas de lesiones por armas de fuego en el contexto pre e intrahospitalario. El objetivo de la investigación es recabar información sobre las intervenciones de enfermería en la atención pre e intrahospitalaria a víctimas de lesiones por armas de fuego. El método es la Revisión Narrativa de la literatura, que busca analizar y describir un cuerpo de conocimiento ya producido sobre el tema. El objeto de este estudio son las intervenciones de enfermeras con víctimas de armas de fuego, teniendo como telón de fondo las acciones propuestas en el ámbito pre e intrahospitalario. El material fue sometido a análisis con base en las bases teórico-metodológicas de la Teoría de la Investigación Práctica en Enfermería en Salud Pública. Resultados: Se observó que las intervenciones del Enfermero junto a las víctimas de violencia involucrando armas de fuego, tanto en el contexto Intrahospitalario como Prehospitalario, son regidas por Políticas Públicas, respetando las características de la violencia y sus especificidades clínicas. También se observó que el papel del enfermero es similar al de los demás profesionales de la salud, respetando las especificidades de cada profesión. Conclusión: Se encontró que las acciones de las enfermeras hacia las víctimas de violencia y, particularmente, de armas de fuego siguen patrones establecidos a priori y que la efectividad de las Políticas Públicas adoptadas por el Ministerio de Salud para mitigar los efectos nocivos de la violencia, en términos generales, no ha tenido los efectos deseados debido al aumento exponencial del número de víctimas, en el territorio nacional.

Palabras clave: Intervenciones de enfermería; Víctimas de armas de fuego; Enfermero.

INTRODUÇÃO

A literatura acadêmica aborda o tema das vítimas de lesões por armas de fogo utilizando duas terminologias. Lesões por Projétil de Arma de Fogo (PAF) e Lesões por Arma de Fogo (LAF). Via de regra, a utilização da primeira terminologia aborda, obrigatoriamente, questões relativas ao Projétil (tipo, calibre, extensão do dano, características, etc.) enquanto a segunda, limita-se a tratar das lesões e seus efeitos deletérios no corpo das vítimas.

Segundo Zandomenighi (2021), o uso das armas de fogo se destaca como geradoras de grande morbimortalidade. Evidencia que, na primeira década do ano 2000, a taxa brasileira de mortes por armas de fogo foi de 19,3 óbitos em 100 mil habitantes, ocupando lugar de destaque no contexto internacional, se comparado com outras realidades.

De acordo com Correia e Fachin (2022) a violência por arma de fogo é um problema que afeta fortemente a saúde da população, sendo essa causadora de óbitos e consequentemente compromete a qualidade de vida dos indivíduos, deixando sequelas individuais e sociais. Essa situação ocasiona impactos nas instituições de saúde, aumentando os gastos na realização de procedimentos cirúrgicos e necessidade de um quantitativo maior de profissionais de saúde na promoção de cuidados essenciais e especializados de forma integral e humanizado.

Atualmente os traumas geram grande repercussão na vida das pessoas, altos índices de mortalidade e um impacto financeiro gigantesco para os sistemas de saúde. De acordo com   a National Association of Emergency Medical Technicians, cerca de 1,2 milhões de pessoas morrem por ano no mundo por trauma, 3.442 por dia e duas pessoas a cada minuto. Nos Estados Unidos da América (EUA) ocorrem 60 milhões de lesões por ano, onde 2,5 milhões vão precisar de hospitalização, 8,7 milhões ficarão inativos temporariamente e 300 mil permanecem inativos. No Brasil, o trauma é um problema de saúde pública, uma realidade preocupante, principalmente quando se pensa em acidentes de trânsitos, que possui uma média de um milhão de registros, matando cerca de 40 mil pessoas e deixando mais 370 mil feridos (Batista, 2021).

Segundo Cerqueira (2024) a incidência das lesões por projéteis de armas de fogo está diretamente relacionada à acessibilidade de armas de fogo à população. No Brasil, nos últimos anos, houve uma desburocratização e aumento da liberação de porte de armas estabelecida pelos Decretos  9.845/2019; 9.846/2019; 9.847/2019 e o 10.030/2019, sendo editados no ano de 2019. Esses Decretos, permitiram que profissionais de segurança com porte de armas tivessem acesso a até seis armas de uso restrito, que atiradores pudessem adquirir até 60 armas e caçadores até 30, fato que elevou a quantidade de munições de 2 mil para 5 mil, entre outros detalhes, e, esses aspectos contribuíram para o aumento das ocorrências de eventos causados por este mecanismo traumático (Brasil, 2021).

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) do Brasil, aponta no relatório Homicide Statistics a necessidade de um olhar mais atento à violência e suas diferentes formas de manifestação. O documento assevera que, vários fatores precisam ser avaliados para a garantia de um país mais saudável, dentre estes, a violência e, particularmente, os efeitos deletérios das armas de fogo. Aponta, ainda, que 41% dos homicídios e lesões crônicas dele derivadas, são provenientes dessa forma de agressão. Além disso, essas lesões possuem um curso mais fatal do que as lesões provocadas por explosivos e bombas (UNODC, 2014).

Dentre as emergências traumáticas, o ferimento por arma de fogo, caracteriza-se por   trauma físico ocasionado por projéteis de armas de fogo que são disparados e caracterizados como um evento nocivo, em que ocorre uma considerável liberação de energia. As armas de fogo se classificam como armas de média e alta energia e seus traumas mais comuns derivam de armas usadas em conflitos armados, esportes civis, atividades recreativas, atividades criminosas e tem um alto poder destrutivo. Os ferimentos por armas de fogo, podem ser intencionais ou não intencionais, fatais ou não fatais, e, quando não fatais frequentemente deixam sequelas nas vítimas atingidas (PHTLS, 2023).

No que concerne às condutas às vítimas de lesões por arma de fogo, sabe-se que o enfermeiro é um dos responsáveis pelo atendimento primário, tanto no suporte básico de vida quanto no suporte avançado, seja no atendimento pré-hospitalar (APH) ou no intra-hospitalar, e deve estar preparado para prestar um atendimento rápido, eficiente e de qualidade a essas vítimas (PHTLS, 2023).

A maior parte das lesões ocasionadas por esses acidentes são graves e precisam de intervenções e de cuidado qualificado para não ocorrer uma possível complicação ou um aumento iminente do risco de óbito do paciente. Diante disso, o papel dos enfermeiros, no contexto da assistência às emergências traumáticas às vítimas de acidentes por projéteis de armas de fogo, carece de constantes aprimoramentos e muita divulgação de sua importância entre os profissionais de saúde, particularmente, enfermeiros.

O atendimento de vítimas de lesões por armas de fogo exige uma estratégia definida e clara, das ações profissionais. Essas ações se dão desde o início do evento, perpassando pela remoção e transporte até o seu desfecho final no intra-hospitalar. Nem sempre, o deslocamento da vítima é feito por profissionais da saúde, o que pode agravar ainda mais o estado que elas chegam à unidade de atendimento.

À face do exposto e partindo da necessidade de investigar a produção e disseminação do conhecimento científico disponível sobre as intervenções realizadas pelo enfermeiro às vítimas de lesões por arma de fogo, objetivou-se com esse trabalho reverberar informações sobre as ações dos enfermeiros no atendimento pré e intra-hospitalar, vítimas de lesões por armas de fogo.

MÉTODO

A presente pesquisa, é do tipo Revisão Narrativa da Literatura com abordagem qualitativa. Foi utilizado como referencial teórico-metodológico a orientação da Teoria da Intervenção Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva (TIPESC), que propõe captar e interpretar um fenômeno articulado aos processos de produção e reprodução social de uma dada coletividade.

Os procedimentos para a realização da pesquisa incluíram dois momentos: 1- fase exploratória da investigação com a coleta do material e 2 – Análise do material empírico. A fase exploratória constou de um levantamento do material disponível, de acessibilidade gratuita, sobre as intervenções da Enfermagem às vítimas de lesões por armas de fogo. Foram avaliados em média vinte referências, incluindo dados sobre violência de um modo geral, além de armas de fogo.

Para tal, utilizou-se como critérios de inclusão: estudos publicados até o ano de 2024, texto completo disponível, em português e gratuito, em busca nas bases de dados SciELO, MEDLINE via PubMed, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foram utilizados os descritores DeCS: Intervenções de Enfermagem; Vítimas de armas de fogo; Enfermeiro. Foi utilizado o operador booleano AND a fim de ampliar a busca e selecionar o maior número de artigos disponíveis. O período do levantamento da busca nas bases de dados ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro de 2025.

A análise dos materiais coletados foi realizada mediante os seguintes procedimentos: 1 – Organização dos materiais coletados e revisão dos objetivos do estudo em função dos achados. 2 – Extração dos pontos essenciais para análise e posterior transcrição. 3 – Identificação dos principais subtemas existentes no material coletado, reagrupamento das informações para extração da categoria empírica do estudo. Esse movimento metodológico resultou na extração da seguinte Categoria Empírica: Intervenções do enfermeiro nas lesões por armas de fogo.

Enquanto critério de exclusão, as informações em duplicidade foram excluídas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Intervenções do enfermeiro nas lesões por armas de fogo

As lesões às vítimas, provenientes por disparos de arma de fogo, constituem uma das mais incidentes formas de violência. Esse fato representa um dos principais problemas de saúde pública enfrentados no país, pela frequência com que ocorrem e pelo impacto negativo que causam em inúmeros setores da economia nacional.

Frente a um quadro tão preocupante, a qualidade da assistência prestada às vítimas por armas de fogo, constitui-se uma grande preocupação para os profissionais de saúde nos serviços pré e intra-hospitalares, destaca-se o enfermeiro. Segundo Ávila, et al (2012) um dos profissionais de maior presença na assistência nesses dois momentos (pré e intra-hospitalares) é o enfermeiro, que via de regra, tem o primeiro contato com as vítimas de violência e esse fato colabora para que haja o aumento do vínculo da relação, enfermeiro – vítima, sobretudo, como facilitador da obtenção de informações que outros membros da equipe de saúde não tem acesso por não ficarem tão próximos e por tanto tempo.

Stefanelli (2009) salienta a importância do enfermeiro e defende que, as competências desse profissional sejam melhores utilizadas nos locais das ocorrências, seja numa rápida e eficiente avaliação de suas condições, prestando socorro imediato e/ou preservando a vida da vítima até que receba atendimento hospitalar, local onde a presença do enfermeiro também é insubstituível.

A necessidade de organização nos serviços de urgência prestados à população, sobretudo, frente ao problema da violência às vítimas de armas de fogo, fez com que o Ministério da Saúde desenvolvesse e implementasse Políticas Públicas para apoiar o combate a esse problema, estabelecendo medidas e padrões para atendimento das ocorrências, tanto do pré-hospitalar, quanto no intra-hospitalar.

O atendimento pré-hospitalar é aquele, cuja assistência é realizada fora do ambiente hospitalar, utilizando recursos disponíveis para adequar-se ao tipo de ocorrência. Já o atendimento intra-hospitalar segue a mesma lógica, porém, no interior das instituições de assistência à saúde. A estratégia de apoio a esses dois tipos de atendimento no Brasil foi a instituição de Políticas Públicas para seu desenvolvimento e consecução.

Para o atendimento Pré-hospitalar foram instituídas, a Política Nacional de Redução da Morbidade por Acidentes e Violência (Portaria GM/MS nº 737 de 16 de maio de 2001) e a Política Nacional de Atenção às Urgências (Portaria GM/MS 1863 de 29 de setembro de 2003) no bojo da qual, instituiu o componente pré-hospitalar móvel por meio da implantação de Serviços de Atendimento Móvel  de Urgência (SAMU).

Para o atendimento Intra-hospitalar foi instituída a Política Nacional de Humanização ou Humaniza SUS. Essa Política se constituiu a partir do documento base que dispõe sobre seus métodos, princípios, diretrizes e dispositivos, potencializando as experiências positivas para o Sistema Único de Saúde, bem como, enfrentando os seus principais limites e desafios.

A Política que ficou mais conhecida por “humaniza SUS” não possui Portarias que regulamentem ou normatizem sua existência, porém seu caráter transversal permite que tais princípios, diretrizes e dispositivos se encontrem presentes nas legislações das demais políticas, áreas técnicas e departamentos. O Humaniza SUS possui três princípios: o protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos coletivos. (Brasil, 2003)

O Sistema Único de Saúde (SUS) institui uma política pública de saúde que visa à integralidade, à universalidade, à busca da equidade e à incorporação de novas tecnologias, saberes e práticas. Entre os avanços e conquistas, pode-se facilmente destacar que há um SUS que dá certo, pois:  

  • A rede de atenção pública de saúde está presente em todo o território nacional, em todos os estados e municípios;
  • Muitos serviços de saúde têm experimentado, em todo território nacional, inovações na organização e oferta das práticas de saúde, permitido a articulação de ações de promoção e de prevenção, com ações de cura e reabilitação;
  • O SUS vem reorganizando a rede de atenção à saúde, produzindo impacto na qualidade de vida do brasileiro;
  • O SUS tem propiciado a produção de cidadania, envolvendo e corresponsabilizando a sociedade na condução da política de saúde, criando um sistema de gestão colegiada com forte presença e atuação de conferências e conselhos de saúde;
  • O SUS construiu novos arranjos e instrumentos de gestão, que ampliaram a capacidade de gestão e de corresponsabilização, servindo inclusive de referência para a organização de outras políticas públicas no Brasil;
  • O SUS vem fortalecendo o processo de descentralização, ampliando a presença, a autonomia e a responsabilização sanitária de municípios na organização das redes de atenção à saúde;
  • Tem havido uma ampliação da articulação regional, melhorando a oferta de recursos assistenciais e a relação custo-efetividade, ampliando o acesso da população ao conjunto dos serviços de saúde. 

Há quatro legislações que sustentam legalmente as ações do Humaniza SUS: Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010; Decreto nº 7508 de 28/06/2011 (federal); Portaria/GM nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011 e Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011(publicada no dou nº, de 27 de junho de 2011, seção 1, página 109) (Brasil, 2011)

Diante do exposto, torna-se quase lógico, detectar uma tendência para as intervenções do enfermeiro às vítimas de lesões por armas de fogo. Dentre as tendências, para manutenção ou superação dessas intervenções, diríamos que a primeira opção reúne mais condições de ser a verdadeira, pois, as intervenções seguem padrões estabelecidos por Políticas Públicas, somente variando em termos da circunstancialidade das ocorrências.

Mesmo com as circunstancialidade das ocorrências,   o enfermeiro no pré-hospitalar adota de uma forma geral intervenções como: controlar o sangramento, limpar a superfície da lesão e proteger com gaze estéril, utilizar condutas para ferimento aberto, proteger os orifícios de entrada e saída do projétil, estabilizar a área afetada o mais rápido possível, transportar a vítima o mais rápido possível para o serviço de urgência, imobilizar o doente com dispositivos de imobilização, instalar acesso intravenoso para administrar solução, implementar oxigenioterapia por máscara de oxigênio, comprimir e cobrir com compressa o local da lesão, Administrar medicamentos por via intravenosa, monitorar status cardíaco utilizando o monitor cardíaco, aspirar vias aéreas, promover a termo regulação adequada com coberta, restabelecer sistema cardiovascular e respiratórios com manobras de ressuscitação, intubar o doente, além de outra atividades que julgar necessária.

No intra-hospitalar, o enfermeiro necessita de forma geral, controlar o sangramento, inspecionar  e proteger os pontos de entrada e saída do projétil quanto a limpeza da lesão e proteção com gaze estéril no pré-hospitalar, avaliar a necessidade de reanimação, manter as vias aéreas pérvias, prevenir ou tratar estado de choque, imobilizar a coluna se o ferimento for na cabeça, pescoço, tórax ou abdômen, além de outras intervenções situacionais que julgue necessário.

Dito de outra forma, não há uma lista de afazeres, desenhados a priori, para execução dos profissionais da saúde e, particularmente, dos enfermeiros, as intervenções dependem das necessidades da ocorrência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca pelo suporte teórico das intervenções do enfermeiro às vítimas de lesões por armas de fogo, fortalecem a prática e esta possui respaldo no arcabouço legal, amparado por Portarias Ministeriais, no bojo da qual, instituiu o componente pré-hospitalar móvel por meio da implantação de Serviços de Atendimento Móvel de Urgência.

No que se refere às intervenções do enfermeiro voltada para a temática, ratificamos que não há uma lista de afazeres, desenhados a priori  as intervenções irão depender das necessidades da ocorrência, no entanto nos acostamos as citações apresentadas, considera-se a verificação dos sinais vitais, observação e controle de sangramentos, avaliação e proteção das vias aéreas, estabilidade da  coluna cervical, manutenção da ventilação e oxigenação adequadas, avaliação e controle do sangramento para manter a perfusão orgânica,  realização de exame neurológico básico, exposição de todo o corpo e procura de outras lesões, pontos de entrada e pontos de saída manter a temperatura corporal, além de outras ações que o Enfermeiro julgue necessário.

Ainda chamamos a atenção para a contradição elucidada apresentada nesse estudo, onde esta, vincula-se a utilização de Políticas Públicas para mitigar os efeitos deletérios da violência, que já atingiu todo território nacional, como se fosse possível cessar efeitos sem o tratamento responsável das causas. O aumento exponencial dessa chaga social, tem revelado a pouca efetividade das Políticas Públicas.

Sobre as perguntas formuladas, e que se constituíram as perguntas norteadoras do estudo, julgamos tê-las respondido, pois, as intervenções do enfermeiro frente à vítima de lesão por armas de fogo que estão disponíveis na literatura, encontram-se diluídas em Portarias Ministeriais, respeitadas as especificidades de cada caso. Sobre a importância de reverberar informações sobre ações e condutas, já catalogadas e publicadas, deixamos a critério dos leitores o veredicto final dessa questão.

Consciente de que, apenas tangenciamos um problema de grandeza internacional, sugerimos novas pesquisas e aprofundamento acadêmico sobre o tema.

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1Graduanda do Bacharelado e Licenciatura de Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB
ilary.samara@academico.ufpb.br

2Doutora em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz – ENSP – Fiocruz/RJ

3Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará – UFC

4Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB

5Graduação em Enfermagem pela FASER; Mestre em Sistemas Agroindustriais pela UFCG; Doutora em Engenharia de Processos na UFCG

6Estudante de Enfermagem pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG