INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM NA DEPRESSÃO PÓS-PARTO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7821262


Leticia Nascimento Chagas1


RESUMO

O objetivo do presente trabalho é identificar quais são as principais intervenções e cuidados de Enfermagem na depressão pós-parto. Trata-se de uma revisão integrativa de caráter qualitativo; a busca teve como filtro de tempo publicações dos últimos 5 anos, de 2017-2022 e filtro de idioma: espanhol e português; dentre os critérios de inclusão: estudos completos publicados entre 2017 e 2022, no idioma português e espanhol, cujo objetivos sejam relacionados às intervenções, cuidados de enfermagem, na depressão pós-parto; dentre os critérios de exclusão: estudos incompletos; outros idiomas além do português e espanhol; com data de publicação maior que 5 anos; com objetivos que diferente do objeto de pesquisa do presente trabalho. Dentre os resultados, após busca, foram encontrados 20 estudos completos, os quais foram exportados e analisados no programa Zotero. Dos 20 estudos, 10 foram eliminados após leitura dos títulos e resumos e, após leitura na íntegra, restaram 6 estudos elegíveis. Concluiu-se que apesar da depressão pós-parto (DPP) ter incidência significativa nas mulheres ainda há despreparo por parte dos Enfermeiros na identificação e manejo adequado, de forma precoce. A Atenção Primária à Saúde exerce um grande papel na prevenção, identificação e abordagem da DPP, tendo em vista a possibilidade de educação popular, ações educativas das gestantes e puérperas, bem como rastreio e gestão de cuidado oportuno. Notou-se ainda necessidade de novos estudos abordando a temática, bem como ações de saúde voltadas especificamente para a conscientização, educação e capacitação profissional para melhor abordagem e cuidado para essas mulheres.

Palavras-chave: Enfermeiro. Enfermeira. Intervenções. Cuidados de Enfermagem. Depressão pós-parto.

1 INTRODUÇÃO 

Durante o período do pós-parto é comum alterações emocionais na parturiente, dentre as alterações emocionais possíveis, temos o baby blues e a depressão pós-parto (DPP). Tanto o Baby Blues quanto a DPP têm sinais e sintomas parecidos, divergem na intensidade e duração dos sinais e sintomas. O baby blues é uma condição que se manifesta na mãe após os primeiros dias pós-parto e tende a durar cerca de 2 a 3 semanas. Já a DPP tem duração mais longa e pode ter início meses, até anos após o parto (CAMPOS & CARNEIRO, 2021). 

Segundo relatório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a depressão pós-parto é identificada em 1 a cada 4 mães de recém-nascidos no país. Dentre os inúmeros sinais e sintomas, a DPP pode ocasionar irritabilidade, tristeza, choro frequente, falta de energia, desinteresse no filho e pode evoluir para suicídio (PEREIRA et al., 2021). 

Com relação aos fatores de risco para desenvolvimento de quadro depressivos, temos: diagnóstico de depressão precoce; rede de apoio ineficaz ou inexistente; gravidez indesejada; excesso de estresse e ansiedade; dependência de álcool e outras drogas; pobreza e histórico de violências doméstica (PEREIRA et al, 2021). 

A depressão pós-parto está associada à diminuição do bem estar geral e pode interferir na relação entre a mãe e o recém-nascido, como no desenvolvimento emocional, intelectual e cognitivo da criança (ARRAIAS, 2017).

Tendo em vista a alta incidência de DPP e de suas repercussões negativas na saúde geral da mulher e de seu filho, torna-se indispensável o diagnóstico e terapêutica precoce, a fim de minimizar seus impactos negativos. 

O Enfermeiro torna-se um profissional indispensável no processo de identificação de sinais e sintomas e grande aliado no acompanhamento de mulheres acometidas, por estar presente nos cuidados pós-parto. O presente estudo torna-se necessário levando em consideração a importância do Enfermeiro na identificação e intervenções de Enfermagem precoces, o que pode minimizar o sofrimento e repercussões negativas da DPP.

Objetivo: Identificar quais são as principais intervenções e cuidados de Enfermagem na depressão pós-parto.

2 METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão integrativa de caráter qualitativo. 

Utilizou-se o acrônimo PICo para auxiliar na formulação da pergunta de pesquisa. Foi realizada a busca dos descritos no vocabulário estruturado e trilíngue DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e utilizado termos livres. As buscas com os descritores foram realizadas no portal da BVS (Biblioteca Virtual em Saúde). A busca teve como filtro de tempo publicações dos últimos 5 anos, de 2017-2022 e filtro de idioma: espanhol e português. Os estudos foram exportados e analisados no programa Zotero. Dentre os critérios de inclusão estão: estudos completos publicados entre 2017 e 2022, no idioma português e espanhol, cujo objetivos sejam relacionados às intervenções, cuidados de enfermagem e depressão pós-parto. Critérios de exclusão: estudos incompletos; outros idiomas além do português e espanhol; com data de publicação maior que 5 anos; cuja temática e objetivo não sejam pertinentes com o objeto de pesquisa do presente trabalho.

3 RESULTADOS

Tabela 1. Produção científica acerca das intervenções de Enfermagem na depressão pós-parto nos de 2017-2022, extraídos do Portal da BVS. Rio de Janeiro, 2022.

Usando o filtro de busca de tempo e idioma, foram encontrados 20 estudos completos, os quais foram exportados e analisados no programa Zotero. Dos 20 estudos, 10 foram eliminados após leitura dos títulos e resumos e, após leitura na íntegra, restaram 6 estudos elegíveis. Dos estudos elegíveis, 3 são da BDENF (Banco de Dados em Enfermagem – Bibliografia Brasileira) e 3 da LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde).

Tabela 2. Título, autores, ano e base de dados dos estudos encontrados na BVS. Rio de Janeiro, 2022.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Sabe-se que a depressão pós parto é um problema de saúde pública (5). 

A DPP é condição de saúde de origem multifatorial, de difícil diagnóstico, devido aos seus sinais e sintomas serem confundidos com outros quadros de tristeza puerperal (4). 

A DPP carece de investigação na APS, que deve valorizar aspectos sociodemográficos e individuais para estabelecer um plano de cuidados integral, desde o pré-natal, visando prevenção da DPP (6). Os enfermeiros atuantes na APS prestam assistência às parturientes após alta da maternidade, prestando cuidado longitudinal. Sendo assim, são indispensáveis na identificação e manejo da DPP. Percebeu-se no estudo de Souza et al., 2018, que esses profissionais encontram dificuldades devido à escassez de agentes comunitários, o que dificulta visitas domiciliares e prejudica no contato mais de perto com essa população. Percebeu-se maior necessidade de investimentos em educação permanente para esses profissionais, sobre essa temática, a fim de que possibilite um olhar mais integral para essas mulheres (2). 

Com relação às possíveis intervenções de Enfermagem, a consulta de enfermagem humanizada e acolhedora e o grupo de gestante são ótimas estratégias para abordar a DPP (3). O Enfermeiro também pode estar atento durante a assistência nas consultas de pré-natal, em atividades de educação em saúde, pode incentivar o parto vaginal, e apoiar as condições psicológicas e acionar o serviço especializado quando necessário (4).  

Por fim, notou-se que os Enfermeiros atuantes tanto na Atenção Primária à Saúde (APS), bem como na atenção hospitalar possuem conhecimento superficial sobre o assunto, confundem baby blues com DPP, por exemplo (2). O Enfermeiro tem ciência de sua importância no contexto da DPP, mas falta por vezes experiência e habilidade necessárias, dificultando seu papel na prevenção dessa patologia, o que ocasiona falta de manejo adequado, podendo favorecer intervenções inadequadas (2;4). Percebe-se também uma atenção maior do Enfermeiro com o bebê e seus cuidados, e que sua assistência prestada ainda está muito voltada para necessidades biológicas e pouco centrada na questão psicológica (2). O Enfermeiro quando planejar a assistência voltada aos cuidados das mulheres com DPP, deve atentar-se à integralidade do cuidado (5) e devem buscar mais conhecimento, para estarem melhor habilitados, para proporcionar detecção e abordagem adequada precoce, favorecendo uma melhor recuperação dessas mulheres (1).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da depressão pós-parto ter incidência significativa nas mulheres, ainda há despreparo por parte dos Enfermeiros na identificação e manejo adequado, de forma precoce. A Atenção Primária à Saúde exerce um grande papel na prevenção, identificação e abordagem da DPP, tendo em vista a possibilidade de educação popular, ações educativas das gestantes e puérperas, bem como rastreio e gestão de cuidado oportuno. Notou-se ainda necessidade de novos estudos abordando a temática, bem como ações de saúde voltadas especificamente para a conscientização, educação e capacitação profissional para melhor abordagem e cuidado para essas mulheres.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ARRAIS, Alessandra da Rocha; ARAUJO, Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de. Depressão pós-parto: uma revisão sobre fatores de risco e de proteção. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa, v. 18, n. 3, p. 828-845, dez. 2017.

CAMPOS P. Z; CARNEIRO T.F. Sou mãe: e agora? Vivências do puerpério. Psicologia USP, 2021, volume 32, e200211. Disponível em < https://www.scielo.br/j/pusp/a/gRDZZ9sPmPNXKBBJnRtrxkQ/?format=pdf&lang=pt> acessado em 11 dez. 2022.

MOLL et al. RASTREANDO A DEPRESSÃO PÓS-PARTO EM MULHERES JOVENS. Rev enferm UFPE on line., Recife, 13(5):1338-44, maio., 2019

PEREIRA et al. Causas de depressão pós-parto em mulheres: fatores de risco. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.6, p.  27535-27542nov./dec. 2021 

SANTOS el al. Percepção de enfermeiros sobre diagnóstico e acompanhamento de mulheres com depressão pós-parto. Nursing (Säo Paulo) 10.36489/nursing.2020v23i271p4999-5012. 2020.

SILVA el al. INTERVENÇÕES DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO E PREVENÇÃO DA DEPRESSÃO PUERPERAL. Rev enferm UFPE on line. 2020;14:e245024.

SOUZA K.L.C et al. CONHECIMENTO DE ENFERMEIROS DA ATENÇÃO BÁSICA ACERCA DA DEPRESSÃO PUERPERAL. Rev enferm UFPE on line., Recife, 12(11):2933-43, nov., 2018 

Sousa TPP, Oliveira LP, Pereira JR, Carvalho RL, Barbosa T, Teixeira BT. Assistência de enfermagem na depressão pós-parto: Revisão Integrativa. REVISA. 2022; 11(1): 26-35. Doi: https://doi.org/10.36239/revisa.v11.n1.p26a35

Viana MDZS, Fettermann FA, Cesar MBN. Estratégias de enfermagem na prevenção da depressão pós-parto. 2020 jan/dez; 12:953-957. DOI:http://dx.doi.org/0.9789/2175-5361.rpcfo.v12.6981


¹Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
leticiaachagas2023@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-2699-6259