INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA FALA ECOLÁLICA EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10116313


Marcela de Souza Cleto¹
Profª Esp. Jorciane Conçeição Costa Soares2


RESUMO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento manifestado na comunicação verbal e não verbal, podendo haver interesse social ausente ou reduzido, é definido também por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesse ou atividades. A presença de ecolalias é comum dentre as alterações em crianças autistas, entendida como um processo descontextualizado de repetição de palavras sem função comunicativa. O objetivo do estudo é identificar as intervenções fonoaudiológicas que contribuem para minimização da fala ecolálica. Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica com abordagem qualitativa e caráter exploratório, com o tipo de pesquisa descritiva, com a utilização de publicações entre os anos 2018 a 2023 nas bases de dados BVS, SCIELO – Scientific Eletronic Library e MEDLINE. A ecolalia é normalmente diferenciada em duas categorias: imediata ou tardia, caracterizada por pouco tempo após a emissão inicial e após maior tempo de produção pelo interlocutor, respectivamente. A atuação do fonoaudiólogo demonstra bons retornos quanto à evolução clínica, tanto sobre ecolalias, quanto estereotipias habilidades pragmáticas e no estado emocional.

Palavras-chave: autismo infantil, ecolalia, fonoaudiologia.

Abstract

Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder manifested in verbal and non-verbal communication, with absent or reduced social interest. It is also defined by restricted and repetitive patterns of behavior, interest or activities. The presence of echolalia is common among the changes in autistic children, understood as a decontextualized process of repeating words without a communicative function. The objective of the study is to identify speech therapy interventions that contribute to minimizing echolalic speech. This is a bibliographic review study with a qualitative approach and exploratory character, with the type of descriptive research, using publications between the years 2018 and 2023 in the VHL, SCIELO – Scientific Electronic Library and MEDLINE databases. Echolalia is normally differentiated into two categories: immediate or delayed, characterized by a short time after the initial emission and after a longer period of production by the interlocutor, respectively. The speech therapist’s performance demonstrates good feedback regarding clinical evolution, both regarding echolalias and stereotypies, pragmatic skills and emotional state.

Keywords: childhood autism, echolalia, speech therapy.

1 INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por uma deficiente interação de comunicação social, estereotipias, comportamento e desenvolvimento intelectual irregular, frequentemente com retardo metal. Esses distúrbios de neurodesenvolvimento surgem inicialmente durante a infância, geralmente antes da idade escolar, afetando o desenvolvimento pessoal, social, acadêmico e profissional (SULKES, 2022).

Além disso, Lima (2019) acrescenta ainda a presença de ecolalias dentre as alterações comuns em crianças autistas. Entendida por alguns pesquisadores como um processo descontextualizado de repetição de palavras sem função comunicativa, a ecolalia é também um sintoma na linguagem de algo que está desorganizado (BARROS et al., 2020).

De acordo com Organização Pan-Americana Da Saúde (OPAS), estima-se quem no mundo todo uma a cada 160 crianças tem TEA. Segundo o Ministério da Educação (2018) 70 milhões de pessoas no mundo vivem com autismo, sendo que 2 milhões estão no Brasil. Com o tempo o TEA sofreu algumas mudanças na classificação que pode englobar uma série de níveis leves, moderados ou severos.

De acordo com o Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) os fatores de risco para o desenvolvimento do autismo podem ser ambientais, genéticos e fisiológicos. Os fatores ambientais são inespecíficos, a idade parental avançada, baixo peso ao nascer, ou exposição fetal ao ácido valproico podem contribuir para o desenvolvimento do TEA, já em relação aos fatores genéticos, estima-se que a herdabilidade do TEA, variam de 37% a 90% na base de concordância entre gêmeos ou mesmo cerca de 15% dos casos estão associados a mutação genética (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA, 2014).

É de grande importância o diagnóstico precoce para o percurso de acompanhamento e tratamento de maneira eficaz. No entanto alguns fatores podem interferir no diagnóstico do TEA tardio, como o nível socioeconômico da família e os serviços oferecidos no contexto da saúde (VIANA et al., 2020).

A atuação precoce da equipe multidisciplinar é fundamental para detecção precoce do TEA bem como, o tratamento adequado com devidas intervenções para que junto a família possa ser realizado no intuito de garantir a qualidade de vida e

pela promoção e prevenção Biopsicossocial, como a felicidade, e a independência de pessoas com autismo (DOS SANTOS & VIEIRA, 2021). 

É de extrema importância no contexto da sociedade conhecer a relevância da intervenção precoce da fonoaudiologia, bem como o diagnóstico do TEA. Julga-se necessário descrever o impacto da ecolalia na vida dos pacientes, e os tipos de ecolalia presentes no TEA,  sendo assim quais são as intervenções fonoaudiológicas que contribuem para minimização da fala ecolálica?

2 OBJETIVOS
2.1 Geral
  • Identificar as intervenções fonoaudiológicas que contribuem para minimização da fala ecolálica.
2.2 Específicos
  • Relatar os tipos de ecolalia presentes no TEA;
  • Descrever o impacto da ecolalia na vida dos pacientes;
  • Ressaltar a importância da equipe multiprofissional e sua função na intervenção do tratamento autista.
3 METODOLOGIA

O estudo trata-se de um estudo de revisão bibliográfica com abordagem qualitativa e caráter exploratório, com o tipo de pesquisa descritiva, serão utilizadas publicações acadêmicas e científicas que apresentem uma análise sobre a temática abordada acerca das intervenções fonoaudiológicas que contribuem para minimização da fala ecolálica, com preferência as publicações com maior relevância de acordo com os indicadores buscados (DOS SANTOS BATISTA & KAMADA, 2021).

Foi feito um levantamento nas bases de dados BVS, SCIELO – Scientific Eletronic Library e MEDLINE. Realizado uma leitura dos artigos relevantes a pesquisa, seja por resumo, resultados e considerações finais, com acolhimento de artigos em português, inglês e espanhol. Dentre os critérios de inclusão, serão considerados: publicações disponíveis na íntegra online, artigos científicos, livros, tesse e dissertações, obras dentro do período estimado (2018 a 2023) e que esteja coerente com o tema disposto e atendendo os objetivos do trabalho. A busca foi realizada por meio da associação das seguintes palavras-chave: autismo infantil; ecolalia; fonoaudiologia. Ao todo foram encontrados 531 artigos nas bases de dados.

Aos critérios de exclusão: publicações que não foi possível identificar relação com a temática escolhida, através do título ou resumo, obras que contenha apenas o resumo.

4 REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 Autismo Infantil

O Transtorno do espectro autista é um transtorno do neurodesenvolvimento, sendo uma etiologia e um fenótipo genético, complexo e sobreposto a doenças genéticas monogênicas (LAVOR et al., 2021). Esse distúrbio se manifestado na comunicação verbal e não verbal, podendo haver interesse social ausente ou reduzido, é definido também por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesse ou atividades.

Figura 1 . Fluxograma dos padrões restritivos e repetitivos de comportamento e seus respectivos exemplos de acordo com a Associação Americana De Psicologia.

Fonte: ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA, 2014.

Crianças com TEA vivem uma trajetória de desenvolvimento diferentes do comum em áreas como cognição social, comunicação e padrões de interesses e comportamentos (BRASIL, 2022).

Segundo André et al., (201) a prevalência dos casos de autismo é maior em países de alta renda, ressaltando que a condição ainda não é relatada em países de baixa renda. Esse aumento pode ser por vários fatores, como mudanças de critério e diagnóstico, práticas de rastreio, políticas de educação especial, disponibilidade de serviços e conhecimento dos profissionais de saúde e da sociedade para o TEA.

O processo etiológico do TEA apresenta componente genético, estando sujeito a influência de fatores maternos ambientais. As evidências científicas atualmente sugerem que o acumulo fenômenos genéticos independentes resultam em uma disfunção sináptica que possam estar associada à patogenia do autismo. Além disso, a homeostasia dos neurotransmissores aponta a uma disfunção sináptica. Os avanços de estudos científicos no campo da genética permitiram na atualidade identificar alelos, genes e pequenas variações associadas ao TEA (ISAÍAS, 2019).

4.2 Fatores de risco

O autismo ainda é algo muito complexo, não há uma causa única para desenvolver o autismo, alguns autores sugerem a combinação de alguns fatores de risco (LAVOR et al., 2021). De acordo com Embert et al., (2019) os efeitos sinérgicos de fatores genéticos, epgenéticos e ambientais, podem levar a uma maior suscetibilidade o desenvolvimento do TEA.

Isaías (2019) acrescenta ainda que estudos epidemiológicos encontraram associação do TEA a alguns fatores ambientais como a exposição a valproato, níveis elevado de poluição ambiental, ou fatores de risco maternos, como idade dos pais avançada ou deficiência de nutrientes durante a gestação.

Em seu estudo Santos et al., (2022) os dados demonstraram que as infecções maternas, os distúrbios metabólicos, o sangramento e pré-eclampsia foram intercorrências pré-natais mais comuns nas mulheres. Além disso, o uso de medicamentos utilizados na gestação pode auxiliar para o desenvolvimento de alterações neurológicas, estabelecendo prováveis ligações com distúrbios de neurodesenvolvimento.

Já Maia et al., (2018) em seu estudo destacou como os fatores de maior evidência de relação com o TEA foram: sexo masculino, mostrando uma proporção de aproximadamente 4 meninos para uma menina; mãe fumante, passiva ou ativa; idade materna superior a 30 anos; ser primogênito; doenças psiquiátricas materna; desordem emocional materna; parto prematuro ou prematuridade; mulheres sem trabalho de parto ou com trabalho de parto prolongado; parto cesárea; índice Apgar menor que sete no 1º ou 5º minuto; idade gestacional inferior a 37 semanas de gestação; e nascer com peso inferior a 2500 gramas.

4.3 Características diagnósticas

De acordo com Ministério da Saúde os as alterações no neuro desenvolvimento podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo diagnosticado e estabelecido por volta dos 3 a 3 anos de idade, com prevalência maior no sexo masculino. A identificação precoce desses atrasos no desenvolvimento, desencadeando consequentemente, o diagnóstico do TEA e respectivamente o encaminhamento com intervenções comportamentais e apoio educacional auxiliam em resultados positivos a logo prazo (BRASIL, 2022).

Em seu estudo Costa et al., (2022) de acordo com a percepção dos pais ao investigar a ocorrência de hipersensibilidade auditiva em crianças com sinais clínicos de TEA, esteve presente em 63,6% das crianças. A manifestação mais comum está relacionada à irritabilidade, o que pode ter relação com o sistema límbico remetendo ao tipo de hipersensibilidade auditiva denominada misodonia.

De acordo com o DSM-5 as características principais do transtorno do espectro autista que estão descritas na tabela 1.

Tabela 1. Critérios das principais características do TEA.

Critério APrejuízo persistente na comunicação e na interação social;  
Critério BPadrões restritivos e repetitivos de comportamento, interesse ou atividade;
Critério C E DEsses sintomas estão presentes desde o inicio da infância e limitam e prejudicam o funcionamento diário;

Fonte: (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA, 2014).

Muitos indivíduos autistas também apresentam comprometimento da linguagem e/ou intelectual. Mesmo aqueles com inteligência média ou alta apresentando um perfil irregular de capacidades. A diferença entre habilidades funcionais adaptativas e intelectuais costuma ser notável (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA, 2014).

Dentre as causas que dificultam um diagnóstico precoce estão a falta de profissionais com domínio em relação sobre o autismo, insistência de um instrumento diagnóstico padrão-ouro e insegurança por parte dos profissionais. Existem muitos métodos diagnósticos que avaliam o paciente, porém é atribuição do profissional assimilar as características clínicas do paciente, os relatos da família e os resultados dos testes e questionários aplicados para enfim um diagnóstico mais fidedigno (REIS et al., 2020).

A identificação dos sinais de risco para ao TEA é essencial, bem como diagnóstico precoce, por poder permitir intervenção o quanto antes. No entanto é necessário ter precaução quanto ao diagnóstico, visto que este não pode ser determinado com base em apenas um instrumento de rastreio. O instrumento M-chat identifica alterações no desenvolvimento de crianças que apresentam sinais de autismo infantil (OLIVEIRA et al., 2019).

O processo de aceitação do diagnóstico do TEA por parte dos pais, tornou-se difícil devido ao desconhecimento a cerca da síndrome, o que fortalece a concepção da necessidade um apoio maior, com atenção e orientação por parte do profissional que noticiará a descoberta do autismo (PINTO et al., 2016).

4.4 Tratamento

É necessária a intervenção da equipe interprofissional, desde o diagnóstico até as fases de desenvolvimento, observando e minimizando os sintomas, por meio de estimulação das relações sociais, a linguagem, a coordenação motora, além disso, vale ressaltar o auxilio a família, observando a estrutura familiar da criança autista (SILVA et al., 2019).

Atualmente a intervenção terapêutica fonoaudiológica, em especial a direta na qual o atendimento é relacionado a habilidades e inabilidades de cada criança, tem sido demonstrada como um modo de adequação social do comportamento comunicativo. Tendo em vista que quando a intervenção indireta acompanha a intervenção direta, ou seja, quando o contexto e cenário terapêutico ampliam-se por meio de orientação à família e à escola, o processo evolutivo apresenta maior velocidade e extensão (TAMANAHA et al., 2015).

De acordo com Silva (2021) o profissional fonoaudiólogo precisa estar atento para interpretar e contextualizar os processos de intervenção para a sua aplicação seja ajustado à necessidade do paciente, necessitando de métodos como base de tratamento eficaz, sendo assim o profissional capacitado oferta um ambiente enriquecedor e aberto para presença e contribuição dos pais ou responsáveis no processo terapêutico.

4.2 Ecolalia: Tipos e impacto da ecolalia na vida dos pacientes

De acordo com Mergl & Azoni (2015) nas crianças com TEA a ecolalia é um fenômeno persistente manifestada um distúrbio de linguagem, definida como a repetição em eco da fala do outro. A ecolalia é normalmente diferenciada em duas categorias: imediata ou tardia, identificada por pouco tempo após a emissão inicial e após maior tempo de produção pelo interlocutor, respectivamente. Em seu estudo foi possível perceber que a maioria das crianças de sua amostra apresentou ecolalia do tipo imediata mais frequente que a tardia.

A comunicação é um fator essencial para o fortalecimento das relações sociais, e a melhor maneira de estabelecer a comunicação é por meio do desenvolvimento da linguagem. Os prejuízos comunicativos observados no TEA estão relacionados à semântica e pragmática, e são manifestadas através da repetição de palavras ou frases, que geralmente são as ultimas expressões ouvidas, assim como erros na conjugação dos verbos e a utilização dos adjetivos (MENESES, 2020).

A ecolalia é caracterizada como repetição de sons, palavras ou frases, a mesma ocorre também em crianças com sintomas autísticos (DIB, 2018). De acordo com Mangueira & Lima (2018) vale ressaltar que a ecolalia, muitas vezes, é encontrada no processo normal de aquisição da linguagem e o que diferencia das crianças com TEA é que se torna contínua e persistente.

Em seu estudo Mangueira & Lima (2018) ao analisar a fala ecolálica de uma criança autista do gênero masculino com idade de 5 anos, notou que a criança apresentava dificuldade de interação social, um vocabulário muito restritivo, possuindo dificuldade de concentração e atenção, possuía também quatro níveis linguísticos (semântico, pragmático, morfossintático e fonológico) inadequados para a sua idade, não conseguindo se expressar, apresentando ecolalias imediatas e com maior frequência além ecolalias tardias.

Para compreensão da linguagem ecolálica no autismo, a criança deve ser significada pelo seu interlocutor não somente por sua fala, mas por toda matriz multimodal da linguagem, ou seja, além da produção vocal o olhar os gestos, mesmo as repetições por apresentarem um sentido peculiar a partir do contexto enunciativo (BARROS, 2020).

4.3 A importância da equipe multiprofissional e sua função na intervenção do tratamento autista

De acordo com Savall (2018) o diagnóstico em uma equipe multiprofissional tem sucesso por meio de procedimentos padronizados, garantindo uma avaliação global e de qualidade, abordando todos os aspectos da criança ou do jovem em desenvolvimento com autismo. A equipe multiprofissional que acompanha o tratamento autista é composta pelos seguintes profissionais e suas respectivas atribuições na tabela 2.

Tabela 2. Equipe multiprofissional e sua atuação no contexto do TEA.

ProfissionalAtuação
Assistente Social Identificar e apresentar a realidade social das famílias e os fatores sociais, econômicos e culturais que perpassam o contexto familiar, assim como conhecer as preocupações e perspectivas das famílias em ralação à pessoa com TEA.
PedagogiaInvestigação dos fatores biopsicossociais que interferem na aprendizagem, identificando no processo educativo os níveis de desenvolvimento cognitivo, as modalidades de aprendizagem, as potencialidades e dificuldades relacionadas à inclusão escolar e a participação da família e da escola no processo de ensino-aprendizagem.
Neuropsicologia clínicaAvaliação das funções cognitivas e de aspectos do comportamento, de modo que englobe muitos domínios como: atenção, memória, a linguagem e as funções executivas.
FonoaudiologiaCompreender as patologias de base que mais ocorrem na fase de desenvolvimento infantojuvenil e os transtornos do neurodesenvolvimento de acordo com os critérios de diagnóstico do DSM-5, ter conhecimento do desenvolvimento da criança e do adolescente típico e atípico, bem como ter domínio do uso e a da interpretação dos protocolos, testes e escalas a serem utilizados durante a avaliação fonoaudiológica.
FisioterapiaAvaliar o desenvolvimento neuropsicomotor, coordenação motora grossa e fina, controle postural, tônus muscular, estereotipias, motoras, imitação e praxia (planejamento motor).
Terapia ocupacionalAvaliação terapêutica ocupacional em pessoas com TEA a se incluir: análise do desempenho e do comportamento neuropsicomotor, assim como a capacidade funcional e/ou de desempenho ocupacional nas atividades de vida diária.
Profissional da área médicaPodendo ser da área clínica, psiquiátrica, pediátrica, genética ou neurológica. O diagnóstico médico é clínico, feito por meio de anamnese com pais e cuidadores e observação clínica dos comportamentos. Testes neurológicos e imagem são utilizados como auxiliares na avaliação, assim como exames físicos e laboratoriais para a identificação e registros de comorbidades.

Fonte: (SAVALL, 2018).

O autismo trata-se de um transtorno que afeta diferentes áreas do desenvolvimento humano, sendo assim é indispensável à assistência de uma equipe multidisciplinar, como melhor forma de realizar a intervenção de crianças com autismo, oferecendo o melhor apoio durante aprendizagem escolar além de melhorar a relação com a família (ALMEIDA & GROBE 2021).

Já Meneses (2020) ressalta que os sinais e sintomas do TEA são manifestados logo nos primeiro anos de desenvolvimento, precisamente até os primeiro três anos, visto que os pais são fundamentais na identificação, tendo e consideração que eles são os primeiros a se relacionarem com a criança. Os professores são importantes por acompanhar o desenvolvimento das capacidades/habilidades de acordo com a faixa etária e julgar se estão de acordo ou não. O diagnóstico precoce faz toda a diferença, pois aumenta as chances de viabilizar a comunicação mais efetiva, aproveitando ao máximo assa capacidades, potencialidades e habilidades das crianças.

5 RESULTADOS DE DISCUSSÃO

A busca nas bases de dados apresentou um total de 531 documentos científicos. O processo de seleção consistiu na exclusão de estudos que não atendiam aos critérios de inclusão (ano de publicação, disponíveis na integra), ficando para triagem 213 artigos científicos. Desses 183 foram excluídos através dos critérios de exclusão (não apresentavam metodologia concisa, artigos que não atendiam aos objetivos deste estudo, notas científicas). Ao final foram incluídos 30 artigos que apresentavam dados relevantes para este estudo (Figura 1).

Figura 2. Fluxograma de processo metodológico da revisão integrativa.

Fonte: O autor, 2022.

Diante os resultados encontrados após os critérios de exclusão e inclusão, se desenvolve um quadro de elegibilidade com as principais características das publicações selecionada autor, título, periódico, volume, ano, metodologia e resumo com seus principais resultados que descritas na tabela 3.  

Tabela 3: Características dos documentos analisados.

AutorTítuloPeriódico, Volume e ano MetodologiaResumo
01ALMEIDA, Cárita Rayane Alves de et al.Possibilidades comunicativas da criança com TEA.2021Estudo de pesquisa bibliográfica qualitativasEm seus principais resultados os autores ressaltam bons resultados das intervenções fonoaudiológicas nas ecolalias, estereotipias, habilidades pragmáticas e estado emocional.
02ALMEIDA, Eliane de; GROBE, Luana Fernanda Martins OliveiraA importância da equipe multidisciplinar na inclusão do autista  2021Revisão sistemáticaO artigo aborda a inclusão social de autistas bem como a importância da equipe multidisplinar. É indispensável à assistência de uma equipe multidisciplinar, como melhor forma de realizar a intervenção de crianças com autismo, oferecendo o melhor apoio durante aprendizagem escolar além de melhorar a relação com a família.
03BARBOSA DO RÊGO BARROS, Isabela; FONSECA LIMA DA FONTE,Renata; RODRIGUES DE SOUZA, Ana FabríciaEcolalia e gestos no autismo: reflexões em torno da metáfora enunciativaForma y Función, v. 33, n. 1, p. 173-189, 2020.Pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso.Os dados mostraram no artigo o funcionamento multimodal da ecolalia percebida como metáfora por uma transferência analógica de denominação produzida no discurso, a partir de gestos estereotipados associados a ela.
04COSTA, KrisiaThayná Lima da et al.Percepção dos pais sobre hipersensibilidade auditiva de crianças com sinais clínicos de risco para o Transtorno do Espectro do Autismo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v. 30, 2022.Estudo transversal e descritivo, composto por pais de 11 crianças com sinais clínicos de risco para o Transtorno do Espectro do Autismo.Em seus resultados 63,6% das crianças apresentam resultados indicativo de hipersensibilidade e 54,5% obtiveram pontuação máxima nas questões relacionadas a irritabilidade a sons específicos.
05DIB, Mônica Camasmie               A procura de uma intenção comunicativa na ecolalia: estudo de um caso.Jornal de psicanálise, v. 51, n. 94, p. 213-222, 2018.  Estudo de casoA pesquisa buscou não extinguir a ecolalia de forma indiscriminada, mas especialmente o de transformar esse modo estereotipado e repetitivo de comunicação num processo dialógico.
06DOS SANTOS, Mariana Fernandes Ramos & VIEIRA, Fernando Andrade Souza.  Transtorno do espectro autista: Significativas contribuições da intervenção precoce multidisciplinarBrazilianJournalofDevelopment, v. 7, n. 9, p. 89539-89554, 2021.Estudo qualitativo, por meio de uma pesquisa bibliográfica.É importante estar atento aos sinais de alerta para a realização de um diagnóstico precoce para que ocorra uma intervenção correta e intensiva para a melhor adaptação da pessoa, com intuito de uma redução de comportamentos detectados como desajustados e no aumento de comportamentos mais adaptativos e funcionais.
07SILVA, Shaiane Àvila et al.  Conhecimento equipe interprofissional acerca do autismo infantildaResearch, Society and Development, v. 8, n. 9, p. 01-18, 2019.Estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa; utilizou-se como procedimento técnico o levantamento de dados e estudo de campo de forma transversaLOs resultados do estudo apontam que a maioria dos profissionais considera o autismo como um distúrbio de ordem neurológica, com prejuízo na comunicação e interação social; 90% dos participantes já realizaram cuidado ao autista, sendo destacada a falta de preparo para a assistência, falta de interação interprofissional e o despreparo dos pais para o cuidado. A estimulação da criança para o seu desenvolvimento foi salientada como fator importante.
08SILVA, Lucrecya Cena; DE LIRA, Kamila Lopes; DE FARIAS, Ruth Raquel Soares. AbordagemFonoaudiológica na intervenção precoce em crianças com transtorno do espectro autista: revisão integrativa. Research, Society and Development, v. 10, n. 15, p. e583101523353-e583101523353, 2021Pesquisa do tipo revisão integrativa da literatura, de abordagem quantitativa, qualitativa e descritiva.A intervenção  precoce  no  TEA  é  o  que  de  melhor  pode  ser  feito  ao  paciente  e  o  quanto  antes  for  iniciado  maior  é  a chance  de  um  controle  sobre  o  desenvolvimento  social  e  de  comunicação  da  criança.  O profissional fonoaudiólogo deve ser capaz de desenvolver na criança autista habilidades comunicativas, pois elas contribuem para a promoção da aprendizagem.  
09MERGL, Marina; AZONI, Cíntia Alves Salgado   Tipo de ecolalia em crianças com Transtorno do Espectro Autista.Revista Cefac, v. 17, p. 2072-2080, 2015.  Estudo do tipo relato de caso clinicoA repetição das palavras na linguagem, podem manifestar-se pelo aparecimento da ecolalia, fenômeno persistente caracterizado como um distúrbio de linguagem, com repetição da fala do outro, dividida em imediata ou tardia. Em seus resultados as crianças com TEA no estudo apresentaram habilidades comunicativas e aspectos do desenvolvimento cognitivos comprometidos e maior número de ecolalias imediatas.
10MANGUEIRA, Kyonara Rayana Jacobino; LIMA, Ivonaldo Leidson Barbosa.  Intervenção fonoaudiológica na fala ecolálica de criança com transtorno do espectro autista.In: LIMA, Ivonaldo Leidson Barbosa; ALVES, Giorvan Ânderson dos Santos; DELGADO, Isabelle Cahino (org.). Atualidades em linguagem e fala. [S.l.]: IESP, Cap. 03. p. 1-186. 2018.Estudo de  revisão bibliográfica integrativa da literaturaÉ possível notar de acordo como estudo que as intervenções fonoaudiológicas nas terapias diretas envolvendo recursos manuais e digitais, podem ser eficazes no desenvolvimento da criança com TEA e sua associação com a intervenção indireta possibilita uma evolução no desenvolvimento das mesmas. Além das relações vantajosas com a terapia lúdica.
11PINTO, Rayssa Naftaly Muniz et al.Autismo infantil: impacto do diagnóstico e repercussões nas relações familiares. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 37, 2016.Estudo qualitativo, realizado com 10 familiares de crianças autistas.Em seus resultados o estudo destacou a identificação de Unidade Temática Central com respectivas categorias: o impacto da revelação do diagnóstico de autismo para a família; características da revelação do diagnóstico: o local, o tempo e a relação dialógica entre o profissional e a família; alteração nas relações familiares e a sobrecarga materna no cuidado à criança autista
12TAMANAHA, Ana Carina; CHIARI, Brasilia M.; PERISSINOTO, Jacy.A eficácia da intervenção terapêutica fonoaudiológica nos distúrbios do espectro do autismo.Revista Cefac, v. 17, p. 552-558, 2015. VIANA, Ana Clara Vieira et al. Autismo. Saúde Dinâmica, v. 2, n. 3, p. 1-18, 2020.  Estudo do tipo ensaio clínico piloto.O estudo buscou avaliar a eficácia da intervenção terapêutica fonoaudiológica para crianças com Distúrbios do Espectro Autismo.  Com a intervenção fonoaudiológica tanto mães quanto a fonoaudióloga perceberam mudanças comportamentais
13REIS, Sabrina T.; LENZA, Nariman.A Importância de um diagnóstico precoce do autismo para um tratamento mais eficaz: uma revisão da literatura. Revista Atenas Higeia, v. 2, n. 1, p. 1-7, 2020Revisão da literaturaDe acordo com o autor o estudo pode inferir que o diagnóstico precoce é de extrema relevância para um tratamento eficaz, uma vez que quanto antes for diagnosticado e o tratamento feito adequadamente, maiores serão as chances do indivíduo com TEA se desenvolver e relacionar com os demais membros da sociedade.
14SAVALL, A. C. R.. M. DiasTranstorno do Espectro Autista: do conceito ao processo terapêutico(Org), v. 20, n. 1, 2018.   Material voltado o à atualização dos conhecimentos no âmbito da educação especial. Neste sentido, este livro é o resultado do envolvimento de um grupo de profissionais da Fundação Catarinense de Educação Especial que durante dois anos estudou e discutiu sobre o tema e posteriormente redigiu este livro, baseado em literatura nacional e internacional atualizada.

Fonte: O autor, 2023.

Dos 30 artigos incluídos na construção do estudo 14 artigos foram analisados de acordo com seus principais resultados. A partir da leitura dos dados identificaram-se algumas intervenções fonoaudiológicas para ecolalia em crianças autistas.

Em seu estudo Mangueira & Lima (2018) ao observar o tratamento de uma criança com TEA que apresentava ecolalia imediata e tardia, durantes a oito sessões terapêuticas apresentando ecolalias, tais repetições foram contextualizadas oferecendo aplicações às falas sem funções, tornando-as úteis, dando sentido a fala do sujeito, ampliando e proporcionando o modelo para a sua linguagem expressiva. Dessa forma as ecolalias foram diminuindo de acordo com a estimulação da linguagem como é possível notar no quadro abaixo.

Tabela 4. Sessões terapêuticas no tratamento de ecolalia de uma criança autista.

SessãoESTRATÉGIA DA ESTIMULAÇAO DA LINGUAGEMECOLALIA IMEDIATAECOLALIA TARDIA
IInterpretação de texto215
IIInterpretação de texto e a pragmática através de um livro de adivinhações, estimulação das funções dos objetos010
IISemântica, ampliação de vocabulário e pragmática011
IVComunicação alternativa com figuras para ampliar o vocabulário do sujeito e estimulação da pragmática através do jogo “o que é o que é”01
VAmpliação de vocabulário e as categorias semânticas de meios de transportes, vestuário, partes do corpo e animais.04
VIConcentração, atenção e interpretação de texto através livro lúdico03
VIIInterpretação de texto, ampliação do vocabulário e estimulação da pragmática01
VIICognição, atenção, concentração através de jogo de dominó e bingo e interpretação de texto com leitura de um livro.01

Fonte: (MANGUEIRA & LIMA, 2018).

O quadro mostra que de acordo com o autor ao intervir de forma correta as falas ecolálicas da criança, o paciente apresenta uma melhora progressivamente ao retorno de cada consulta e consequentemente no seu cotidiano.

A maneira certa de trabalhar a ecolalia é evitar fazer perguntas com apenas uma opção, como por exemplo, se a criança deseja beber suco, porém na frente dela tem suco e água, desse modo deve perguntar-se: você quer suco ou água? Caso a resposta seja água, deve ser oferecida a água para que ela relacione o que escolheu como objeto, assim ela recusa e fala suco, na próxima tentativa. Pois quando se dá apenas a uma opção: você quer suco? E a criança responde; “suco” ocorre um reforço para que ela continue com a utilização da ecolalia. Desse modo ao oferecer duas opções é estimulado o desenvolvimento do pensamento crítico da criança (MENESES, 2020).

Almeida (2021) corrobora nos resultados de sua pesquisa que atuação do fonoaudiólogo demonstra bons retornos quanto à evolução clínica, tanto sobre ecolalias, quanto estereotipias habilidades pragmáticas e no estado emocional. Destaca a importância de o fonoaudiólogo acolher a linguagem da criança autista, validando o que o individuo expressa de modo a considerar suas potencialidades comunicativas para resultados melhores.

Vale ressaltar a consideração da família durante o processo terapêutico para contribuição do sucesso terapêutico (OLIVVEIRA et al., 2018).

Sendo assim para finalizar essa discussão o fonoaudiólogo deve considerar a ecolalia como finalidade comunicativa, estimulando o desenvolvimento da linguagem de forma que a criança desenvolva habilidades pragmáticas e pensamento crítico por meio de jogos, leitura, interpretação de texto e brincadeiras.

CONCLUSÃO

O TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento que pode afetar a linguagem, as falas ecolálicas são uma das manifestações clínicas presente nas crianças autistas, se trata da repetição das palavras podendo ser classificada em duas categorias a imediata ou tardia, visto que a imediata é mais comum conforme observado nos estudos. O autismo interfere no desenvolvimento da linguagem da criança prejudicando assim a comunicação, tendo em vista que a comunicação é um fator essencial para o fortalecimento das relações sociais.

A pesquisa buscou identificar as intervenções fonoaudiológicas que contribuem para minimização da fala ecolálica, bem como sua importância. As principais intervenções encontradas foram considerar a ecolalia como finalidade comunicativa, estimulando o desenvolvimento da linguagem de forma que a criança desenvolva habilidades pragmáticas e pensamento crítico por meio de jogos, leitura, interpretação de texto, livros lúdicos e brincadeiras.

Os resultados mostraram a eficácia do tratamento fonoaudiológico e quão importante é a intervenção precoce para o desenvolvimento da linguagem nas crianças autistas. Vale ressaltar que não só o fonoaudiólogo é importante para o tratamento autista, mas a equipe multiprofissional, a escola e principalmente a família.

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1 Graduanda em Fonoaudiologia Universidade Nilton Lins (UNL)
2 Profª Esp. Universidade Nilton Lins (UNL)