PHYSIOTHERAPY INTERVENTION IN THE PREVENTION OF POST-TRAUMA IMMOBILISM SYNDROME IN THE ELDERLY
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10090883
Bianca Lenna da Silva Pereira1
Karolinne Serrão Alves1
Luana Ritta Santos Forte1
Esp. Klenda Pereira de Oliveira2
Esp. Gabriela Roberta Cerqueira Martins3
Resumo
Introdução: A senescência traz limitações que aumentam o risco de traumas, especialmente os relacionados a quedas e acidentes de trânsito que acarretam em hospitalizações que limitam a mobilidade e podem prejudicar a funcionalidade e autonomia dos idosos, essa circunstância tem o potencial de desencadear o desenvolvimento da síndrome do imobilismo. A síndrome do imobilismo é uma condição na qual a capacidade de mobilidade de um indivíduo é significativamente reduzida afetando o comprometimento do sistema locomotor, aumentando o risco de incapacidade, uma vez que as funções motoras estão em processo de degeneração. Objetivo: Prevenir a síndrome do imobilismo em idosos hospitalizados após um trauma. Materiais e métodos: Trata- se de uma revisão de literatura utilizando estudos randomizados e de metanálise, selecionados entre o ano de 2013 a 2023 que investigaram intervenções destinadas a prevenir a imobilidade do idoso, fizeram parte do estudo artigos encontrados nas bases de dados Scielo, BVS, Capes (periódicos) e PubMed. Resultados: Foram incluídos sete artigos. Os resultados desta revisão indicam que a mobilização precoce e a cinesioterapia combinada com eletroterapia desempenham um papel fundamental na restauração e preservação das funcionalidades dos idosos, atenuando os efeitos adversos causados por essa síndrome. Conclusão: As intervenções fisioterapêuticas desempenham um papel crucial na prevenção da síndrome do imobilismo em idosos após traumas. No entanto, há necessidade de mais pesquisas visando aprimorar as intervenções e melhorar a qualidade de vida dos idosos afetados por longos períodos de imobilização após traumas.
Palavras-chave: Fisioterapia. Prevenção. Imobilismo. Pós-traumas. Idosos.
Abstract
Background: Senescence brings limitations that increase the risk of injuries, especially those related to falls and traffic accidents that lead to hospitalizations, limiting mobility and potentially impairing the functionality and autonomy of the elderly. This circumstance has the potential to trigger the development of the immobility syndrome. The immobility syndrome is a condition in which an individual’s mobility capacity is significantly reduced, affecting the impairment of the locomotor system, and increasing the risk of disability, as motor functions are undergoing degeneration. Pourpose: Preventing immobility syndrome in hospitalized elderly individuals after a trauma. Methods: This is a literature review using randomized studies and meta-analyses, selected from the years 2013 to 2023, which investigated interventions aimed at preventing immobility in the elderly. The study included articles found in the Scielo, BVS, Capes (journals), and PubMed databases. Results: Seven articles were included. The results of this review indicate that early mobilization and kinesiotherapy combined with electrotherapy play a crucial role in restoring and preserving the functionality of elderly individuals, attenuating the adverse effects caused by this syndrome. Conclusion: Physiotherapeutic interventions play a crucial role in preventing immobility syndrome in elderly individuals after traumas. However, further research is needed to enhance interventions and improve the quality of life of elderly individuals affected by prolonged periods of immobilization after traumas.
Keywords: Physiotherapy. Prevention. Immobility. Post-trauma. Elderly.
1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é um fenômeno em crescimento constante, apresentando desafios de saúde devido ao aumento de comorbidades entre os idosos. Apesar das melhorias gerais na saúde dos idosos entre 1998 e 2019, persistem problemas como limitações funcionais e doenças crônicas. Notavelmente, a demanda por serviços de saúde aumenta após os 75 anos, com maior probabilidade de hospitalização ou necessidade de cuidados emergenciais em domicílio (Mrejen; Nunes; Giacomin, 2023).
Uma das principais causas de hospitalização em idosos é o trauma, sendo que as mulheres entre 65 e 100 anos representam a maioria, com 63,3% dos casos. Uma análise detalhada dos mecanismos de trauma revelou que dentre as diversas causas de lesões as mais comuns em idosos é a queda, frequentemente ocorrendo de sua própria altura. Em seguida, vêm os acidentes de trânsito e traumas resultantes de agressões (Gurgose et al., 2022).
Além dos eventos traumáticos, fatores de risco fisiológicos inerentes ao processo de envelhecimento, como a redução na capacidade de manter o equilíbrio, a diminuição da força e potência muscular, juntamente com a progressão do declínio cognitivo associado à idade, podem significativamente comprometer a capacidade de desempenho físico em idosos. Essa condição também aumenta a suscetibilidade a eventos traumáticos, como quedas, que, por sua vez, podem resultar em hospitalização prolongada (Gschwind et al., 2013).
A hospitalização de idosos pode desencadear a síndrome do imobilismo, que se manifesta por um prolongado repouso no leito, esta situação pode dar origem a complicações progressivas em diversos sistemas do organismo, com destaque para o sistema tegumentar, muscular, esquelético e respiratório, culminando em consequências adversas para a saúde dos idosos (Cerqueira; Grilo, 2019). A síndrome do imobilismo é uma condição na qual a capacidade de mobilidade de um indivíduo é significativamente reduzida afetando o comprometimento do sistema locomotor, aumentando o risco de incapacidade, uma vez que as funções motoras estão em processo de degeneração (Ishibashi, 2018).
A fisioterapia desempenha um papel fundamental na prevenção da síndrome do imobilismo. Deficiências musculares que podem surgir devido ao repouso no leito em idosos podem ser restauradas por meio de um período intensivo de reabilitação através de exercícios (Tanner et al. 2015). Além disso, a utilização da eletroestimulação transcutânea associada a esses exercícios pode resultar em aumentos significativos na força muscular e na massa muscular, como demonstrado por estudos anteriores (Tajima et al., 2021).
Com base em evidências, a senescência traz limitações que aumentam o risco de traumas. Estudos apresentam o aumento na taxa de mortalidade por quedas, que passou de 1,25 em 1996, para 3,75, em 2012 (aumento de 200% no período, e 15% ao ano). Já a taxa de internação saltou de 2,58 para 41,37 (Abreu et at., 2018). Por esse motivo é fundamental investigar as causas, especialmente as relacionadas a quedas e acidentes de trânsito que acarretam em hospitalizações que limitam a mobilidade e podem prejudicar a funcionalidade e autonomia dos idosos, potencialmente levando à síndrome do imobilismo. A fisioterapia, com evidências, é fundamental para restaurar e preservar funcionalidades, atenuando os efeitos causados por esta síndrome.
Portanto, o objetivo principal deste estudo é analisar as pesquisas mais recentes que investigam as intervenções fisioterapêuticas na prevenção da síndrome do imobilismo após traumas em idosos. Este estudo também visa explorar os fatores fisiológicos que aumentam o risco de traumas em idosos e examinar as alterações sistêmicas que contribuem para o desenvolvimento dessa síndrome em pacientes que passam por um período prolongado de repouso no leito. Esse trabalho busca contribuir para uma compreensão mais abrangente e aprimorada das abordagens terapêuticas necessárias para lidar com os desafios associados à saúde dos idosos em situações de traumas e imobilização.
2. MATERIAIS E MÉTODO
Este estudo atual constitui uma revisão de literatura que adota descritores específicos em sua estratégia de busca, adaptando-os para cada base de dados durante o processo de seleção. Esses descritores compreendem “traumas em idosos (trauma and elderly)”, “síndrome do imobilismo (immobilism syndrome)”, ‘’early ambulation and trauma and elderly’’, ‘’physiotherapy and early rehabilitation and trauma and elderly’’, ‘’prevent and immobility and elderly’’, ‘’physiotherapy intervention and hospitalization and elderly and trauma’’, os quais foram empregados de maneira combinada. A coleta de dados ocorreu no período compreendido entre julho e setembro de 2023, e as buscas foram conduzidas em diversas bases de dados, tais como Scielo (Scientific Electronic Library Online), BVS, Capes (periódicos) e PubMed.
Foram selecionados estudos do tipo metanálise e ensaios clínicos randomizados que abordaram idosos como a população de interesse. Essa seleção englobou idosos que sofreram traumas e estavam hospitalizados, além de estudos que ofereceram orientações aos cuidadores de idosos que enfrentam traumas. Foram incluídas pesquisas publicadas no intervalo de tempo entre os anos de 2013 e 2023, em língua portuguesa e inglesa. Foram excluídos artigos que não se alinhavam com o propósito da pesquisa estipulada, bem como artigos de revisão ou duplicados.
3. RESULTADOS
Foram identificados 1.637 artigos nas bases de dados, através dos filtros de seleção. Dentre estes 1.178 foram encontrados na base de dados: PubMed, 320 na base BVS, 124 na base Periódico Capes e 15 na base SciElo. Sendo excluídos 52 artigos por estarem duplicados. Após excluir os que estavam em duplicidade, foram selecionados 1.585 para leitura do título e resumo. Foram descartados 1.569 seguindo os critérios de exclusão: Não condiz com o título (N=857), por se tratar de artigo de revisão (N=436), indivíduos saudáveis (N=276). Posteriormente foram lidos 16 artigos na íntegra, sendo que 9 foram excluídos por não se encaixarem com o propósito da pesquisa. Após isso obteve-se um total de 7 artigos.
Figura 1: Fluxograma do estudo.
O quadro 1 apresenta a síntese dos artigos incluídos nesta revisão, contendo o autor, tipo de estudo, título, objetivo, metodologia e resultados.
Quadro 1: Quadro do estudo.
AUTOR/ANO | TIPO DE ESTUDO | TÍTULO | OBJETIVO | METODOLOGIA | RESULTADOS |
Ståhl; Westerdah l (2020) | Estudo quase experimental | Fisioterapia pós operatória para prevenir pneumonia adquirida em hospital em pacientes com mais de 80 anos submetidos à cirurgia de fratura de quadril – um estudo quase experimental | Explorar se um regime intensificado de fisioterapia pode prevenir PAH e reduzir o tempo de internação hospitalar em pacientes com 80 anos ou mais, após cirurgia de fratura de quadril. | Pacientes com 80 anos ou mais submetidos à cirurgia de fratura de quadril no Hospital Universitário de Örebro, na Suécia, durante o período de oito meses em 2015-2016, foram divididos em dois grupos para um estudo. O “grupo de fisioterapia” (n = 69) recebeu um tratamento fisioterapêutico pós operatório intensificado, que incluiu mobilização precoce supervisionada diariamente e exercícios de respiração profunda com pressão expiratória positiva (PEP). Eles foram instruídos a realizar esses exercícios várias vezes ao dia. O “grupo controle histórico” (n = 64) recebeu tratamento fisioterapêutico de rotina. O estudo teve um desenho quase experimental para avaliar os efeitos do tratamento intensificado em comparação com o tratamento padrão em pacientes idosos após cirurgia de fratura de quadril. | O tratamento fisioterapêutico intensificado após cirurgia de fratura de quadril pode ser benéfico para reduzir a incidência de PAH em pacientes com mais de 80 anos |
Kuru; Olçar (2020) | Análise retrospectiva | Efeitos da mobilização precoce e descarga de peso na capacidade de deambulação pós operatória e na dor em pacientes geriátricos operados por fratura de quadril: uma análise retrospectiva. | O objetivo deste estudo foi avaliar pacientes geriátricos submetidos à cirurgia de prótese parcial após fratura de quadril e os efeitos da mobilização precoce e descarga de peso na capacidade de locomoção e dor pós-operatória. | Foram incluídos no estudo 52 pacientes geriátricos com fraturas intertrocantéricas e do colo do fêmur. Arquivos de serviço dos pacientes, registros do sistema, radiografias pré e pós operatórias foram revisados retrospectivamente. | Os resultados do nosso estudo indicaram que a mobilização precoce e a sustentação total do peso em pacientes geriátricos após cirurgia de fratura de quadril diminuíram o tempo de internação hospitalar, reduziram a dor pós-operatória e aumentaram a capacidade de locomoção. |
McCullag h et al. (2020) | Ensaio controlado randomizado | Exercício aumentado no hospital melhora o desempenho físico e reduz eventos negativos pós hospitalização: um ensaio clínico randomizado | Para medir os efeitos de um programa aumentado de exercícios prescritos versus cuidados habituais, no desempenho físico, qualidade de vida e utilização de cuidados de saúde para pacientes médicos idosos frágeis em ambiente agudo. | Foi conduzido um ensaio clínico randomizado, cego, paralelo e controlado com pacientes médicos mais velhos que necessitavam de ajuda para caminhar e tinham um tempo de internação prevista de pelo menos 3 dias. Esses pacientes foram alocados aleatoriamente em dois grupos: um de intervenção e um de controle. Ambos os grupos receberam exercícios assistidos duas vezes ao dia, de segunda a sexta-feira, até a alta, sob a orientação de um fisioterapeuta. O grupo de intervenção realizou exercícios personalizados de fortalecimento e equilíbrio, enquanto o grupo de controle fez exercícios de alongamento e relaxamento. O principal resultado avaliado foi o tempo de internação, com medidas secundárias que incluíram readmissões dentro de 3 meses e avaliações de desempenho físico e qualidade de vida na alta e aos 3 meses. | Melhorias no desempenho físico, qualidade de vida e menos eventos negativos sugerem que esta intervenção é valiosa para pacientes médicos frágeis internados. Seu efeito no tempo de permanência permanece obscuro. |
Elboim Gabyzon et al. (2020) | Estudo randomizado, duplo cego | Efeitos da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) na intensidade da dor aguda pós operatória e na mobilidade após fratura de quadril: um estudo duplo-cego e randomizado | O objetivo do presente estudo foi examinar o efeito da incorporação do tratamento TENS na intensidade da dor e na mobilidade, com cuidados de reabilitação padrão durante a fase pós operatória aguda após fixação cirúrgica com haste gama de fraturas extracapsulares de quadril. | Quarenta e um pacientes foram aleatoriamente designados para receber um suplemento de 30 minutos de TENS ativa ou TENS simulado. O tratamento de reabilitação padrão incluiu cinco tratamentos de fisioterapia diários de 30 minutos, começando 24 horas após a cirurgia. As medidas de desfecho foram: intensidade da dor em repouso, à noite e durante a deambulação (avaliada com a Escala de Avaliação Numérica; instrumento de Classificação de Deambulação Funcional; tempo para completar cinco testes de sentar e levantar; e teste de caminhada de dois minutos). Os dados foram analisados com testes de pontuação de Wilcoxon. A significância foi estabelecida em p ≤0,05. | Os efeitos positivos do TENS na dor durante a caminhada e o aumento da distância a pé determinada no presente estudo apoia a integração do TENS com o tratamento padrão de pacientes idosos após a fixação cirúrgica das unhas Gamma de fraturas extracapsulares do quadril. Pesquisas adicionais são necessárias para explorar o efeito do TENS nos resultados funcionais de longo prazo, após vários tipos de intervenções cirúrgicas para fratura de quadril. |
Moreno et al. (2019) | Ensaio randomizado | Aconselhamento do fisioterapeuta a pacientes idosos internados sobre a importância de permanecer fisicamente ativo durante a hospitalização reduz o tempo sedentário, aumenta os passos diários e preserva a mobilidade: um ensaio randomizado. | Analisar se os conselhos de um fisioterapeuta sobre a importância de permanecer fisicamente ativo durante a hospitalização melhoram a atividade, mobilidade, força, duração da estadia e complicações em pacientes internados mais velhos e quais as barreiras à atividade física durante a hospitalização os pacientes internados mais velhos percebem. | Estudo controlado randomizado com alocação oculta, análise de intenção de tratar e avaliação cega. Sessenta e oito pessoas com idade > 60 anos e internadas em uma enfermaria de um hospital universitário. Além dos cuidados hospitalares habituais, o grupo experimental recebeu um livreto com conteúdo sobre os efeitos deletérios da hospitalização e a importância de permanecer ativo durante a hospitalização. O grupo controle recebeu apenas atendimento hospitalar habitual. | Em pacientes idosos internados, o aconselhamento do fisioterapeuta sobre a manutenção da atividade durante a internação aumenta o nível de atividade física e evita a perda de mobilidade. |
Kronborg et al. (2017) | Estudo controlado randomizado | Eficácia da fisioterapia hospitalar aguda com treinamento de força de extensão de joelho na redução de déficits de força em pacientes com fratura de quadril: um ensaio clínico randomizado | Analisar se a fisioterapia hospitalar aguda com treinamento de força de extensão de joelho (TF) progressivo adicional do membro fraturado é mais eficaz na redução do déficit de força de extensão de joelho no acompanhamento em comparação à fisioterapia sem treinamento de força em pacientes com fratura de quadril | Ensaio cego, randomizado e controlado com avaliador com análise de intenção de tratar. 90 pacientes com fratura de quadril internados em uma Unidade de Fratura Ortopédica Aguda de Quadril de um hospital universitário entre outubro de 2013 e maio de 2015. Fisioterapia diária com ou sem treinamento progressivo de força de extensão de joelho (10RM), 3 x 10 repetições, do membro fraturado com manguito de tornozelo realizado por fisioterapeutas da enfermaria durante a internação hospitalar. | A adição de cinco sessões de treinamento de força à fisioterapia não resultou em melhorias adicionais na redução do déficit de força de extensão do joelho em pacientes com fratura de quadril em acompanhamento. As melhorias observadas foram limitadas a 8- 10%, e isso pode ser devido ao baixo número de sessões de exercício concluídas. No entanto, em pacientes frágeis com fratura de quadril na fase aguda, onde a capacidade de participar de exercícios funcionais está comprometida, o treinamento de força precoce ainda é considerado uma possibilidade de melhoria em desfechos clínicos importantes, de acordo com a análise por protocolo. Esses dados são relevantes e indicam a necessidade de futuras pesquisas, incluindo intervenções a longo prazo. |
Liu et al. (2017) | Estudo quase experimental | Resultados da Mobilização de Idosos Vulneráveis em Ontário (MOVE ON): uma avaliação de série temporal interrompida em vários locais de uma intervenção de implementação para aumentar a mobilização de pacientes | Este é um estudo em larga escala que avalia uma estratégia de implementação para mobilização precoce em pacientes idosos internados em medicina geral. | A intervenção de implementação da mobilização precoce para o pessoal foi multicomponente e adaptada ao contexto local em 14 hospitais académicos em Ontário, Canadá. O desfecho primário foi a mobilização do paciente. Os desfechos secundários incluíram tempo de internação (TP), destino da alta, quedas e estado funcional. Os pacientes-alvo tinham idade ≥ 65 anos e foram admitidos entre janeiro de 2012 e dezembro de 2013. A intervenção foi avaliada em três períodos de tempo – pré-intervenção, durante e pós-intervenção, utilizando um desenho de série temporal interrompida. | O resultado positivo desta simples intervenção num importante objetivo funcional de tirar mais pacientes da cama é um sucesso impressionante para melhorar o atendimento a pacientes idosos hospitalizados. |
Fonte: pesquisa dos autores
A partir da leitura minuciosa das publicações, foram selecionados 07 artigos entre os anos de 2013 a 2023, para compor uma tabela comparativa de dados das pesquisas sobre a relevância dos métodos de intervenções fisioterapêuticas na prevenção da síndrome do imobilismo pós-trauma em idosos, sendo eles, estudo randomizado (N=4), quase experimental (N=2) e análise retrospectiva (N=1). Com dados de 12.490 indivíduos em apenas um estudo e 626 indivíduos distribuídos nos demais artigos de ambos os sexos e com mais de 65 anos. Nos sete artigos foram utilizados diferentes métodos de intervenção, sendo a mobilização precoce a que prevalece em alguns deles. McCullagh et al. (2020) realizaram no grupo de intervenção, exercícios de fortalecimento e equilíbrio, e no grupo controle alongamento e relaxamento ambos para melhorias no desempenho físico, qualidade de vida e menos eventos negativos, Elboim-Gabyzon et al. (2020) utilizaram estimulação elétrica transcutânea no controle de dor durante a caminhada e recuperação funcional da marcha. Kornberg et al. (2017) tiveram foco principal no treino de força precoce em extensão de joelho após cirurgia de quadril. Moreno et al. (2019) enfatizaram o aconselhamento através de uma cartilha de informações para a manutenção da atividade durante a internação a fim de que aumente o nível de atividade física e evite a perda de mobilidade. Ståhl e Westerdahl (2020), Liu et al. (2017), Kuru e Olçar (2020), concordaram que a mobilização precoce é eficaz no intuito de reduzir o tempo de internação. Sendo que Ståhl e Westerdahl (2020), analisaram também exercícios de respiração profunda treinados com pressão expiratória positiva (PEEP) para prevenir pneumonia adquirida em hospital. Já Kuru e Olçar (2020) relacionaram a mobilização precoce com a descarga de peso a fim de reduzir o tempo de internação, dor e aumentar a capacidade de locomoção.
4. DISCUSSÃO
Em seu estudo, Ståhl e Westerdahl (2020) compararam um grupo de pacientes que realizaram as intervenções convencionais de fisioterapia a beira leito como exercícios passivos e ativos na cama, exercícios de movimento nas pernas e sedestação, com um grupo que além de realizarem a fisioterapia padrão, intensificaram utilizando a mobilização precoce e os exercícios de respiração profunda. A fisioterapia intensificada se mostrou mais eficaz em prevenir a pneumonia adquirida em hospital e reduzir a duração da internação hospitalar.
Liu et al. (2020) também avaliaram a mobilização precoce, no entanto, buscavam uma boa estratégia para implementá-la. Utilizaram três períodos de tempo nessa avaliação: pré-intervenção, durante e pós-intervenção. A realização da intervenção em vários hospitais resultou em 10% mais pacientes fora da cama no final do estudo e uma diminuição significativa na duração da estadia e as taxas de mobilização do paciente melhoraram durante e após a implementação da intervenção.
Por outro lado, Kuru e Olçar (2020) avaliaram a mobilização precoce com a descarga de peso de forma prévia e tardia. De todos os pacientes, 80,8% apresentaram sustentação de peso total e tiveram a alta mais cedo em comparação com os 19,2% que apresentavam sustentação parcial de peso. Foi verificado que os pacientes que foram mobilizados nas primeiras 24 horas tiveram alta mais cedo, apresentaram suporte de peso precoce e apresentavam um quadro reduzido de dor.
A mobilização precoce foi a intervenção terapêutica utilizada em Ståhl e Westerdahl (2020), Liu et al. (2020), Kuru e Olçar (2020), que implementaram diferentes formas de estudos e ambos chegaram à conclusão de que reduz o tempo de internação do idoso, e sendo associada a outras intervenções, de forma prévia pode trazer ainda mais benefícios.
Moreno et al. (2019) utilizaram como estratégia para reduzir a perda da mobilidade, além dos cuidados habituais, o aconselhamento sobre a importância de se manter ativo durante a hospitalização. A intervenção apesar de não ter se mostrado eficaz no ganho de força, aumentou a atividade física de intensidade moderada e reduziu o tempo sedentário entre os idosos, ainda que uma das barreiras para realizar as atividades fosse o medo, foram encorajados a dar mais passos diários, após serem informados das consequências de permanecerem imóveis.
Diferente de Kronborg et al. (2017) que em seu estudo obteve resultado eficaz no déficit de força do quadríceps após a cirurgia em 10% para aqueles que completam a dose planejada como parte do treinamento de força precoce, na frágil população de pacientes com fratura de quadril em fase aguda. Sendo que a dor durante o exercício limitou o treinamento e influenciaram negativamente em alguns resultados.
Da mesma forma que Elboim-Gabyzon et al. (2019) concluíram que a mobilidade é limitada pela dor durante as atividades e, portanto, em seu estudo descobriram que a adição de TENS ao tratamento padrão em pacientes idosos, reduz a dor durante a deambulação no pós operatório imediato e consequentemente aumenta a distância percorrida e melhora a classificação de deambulação funcional do idoso fazendo com que ele retorne mais cedo as suas atividades e não sofra as consequências da imobilização.
Por fim, McCullagh et al. (2020) conduziram um estudo no qual implementaram um programa de exercícios à beira do leito, utilizando unicamente o peso corporal como resistência, englobando exercícios de equilíbrio e caminhada. Esse programa resultou em uma redução de 30% no tempo de internação e demonstrou uma melhora significativa no desempenho físico dos pacientes, refletindo-se em um maior desempenho físico fora das sessões e em uma melhor qualidade de vida na alta hospitalar. Contudo, é importante ressaltar que essa melhoria não se manteve durante o período de acompanhamento.
5. CONCLUSÃO
Com base nos artigos analisados nesta revisão, foi possível observar que as intervenções fisioterapêuticas desempenham um papel fundamental na prevenção da síndrome do imobilismo em idosos que sofrem traumas e enfrentam longos períodos de imobilização. Os estudos examinados sugerem que abordagens como a estimulação elétrica transcutânea após cirurgias de fratura de quadril podem resultar em benefícios significativos, promovendo uma recuperação mais rápida e ampliando a capacidade de locomoção dos idosos afetados.
Além disso, os resultados também indicam que a mobilização precoce, a deambulação, a descarga de peso e exercícios assistidos por fisioterapeutas, como aqueles focados em equilíbrio, fortalecimento e alongamento, desempenham um papel crucial durante o período de internação. É igualmente importante fornecer orientações e aconselhamentos aos idosos para que permaneçam ativos durante o período de internação, por meio de livretos explicativos que abordem os efeitos deletérios da imobilização.
No entanto, é importante ressaltar a necessidade de conduzir mais estudos contemporâneos sobre a prevenção da síndrome do imobilismo em idosos que sofreram traumas. A falta de intervenções adequadas pode resultar em sérias alterações funcionais nessa população vulnerável. Portanto, é fundamental que a pesquisa continue a explorar e aprimorar abordagens fisioterapêuticas para melhorar a saúde e o bem-estar dos idosos que enfrentam o desafio da imobilidade após traumas.
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1 Discentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.
2Especialista em Fisioterapia Neurofuncional, Docente do Curso de Fisioterapia – UNINORTE.
3Fisioterapeuta do Centro Universitário do norte – UNINORTE Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1232, Centro | Manaus | AM | CEP: 69020-030 | (92) 3212-5000.