HIPPOTHERAPY INTERVENTION IN INDIVIDUALS WITH PARKINSON’S DISEASE: BALANCE ANALYSIS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202507311315
Victor Edgar Pitzer Neto¹
Carolina da Silva Pernas²
Katsue Ishikame Machado²
Maria Eduarda Cardoso Pinto²
Alessandra Megiato Dutra da Silva³
Daniela Marinho Sousa⁴
RESUMO
Doença de Parkinson é uma enfermidade neurodegenerativa progressiva que compromete o controle motor e postural, exigindo intervenções terapêuticas que favoreçam a manutenção da funcionalidade. A equoterapia tem sido reconhecida como uma abordagem sensório-motora capaz de contribuir para a reabilitação neurológica de indivíduos com distúrbios do movimento. Este estudo teve como objetivo analisar os efeitos de um protocolo de intervenção equoterápica sobre o equilíbrio dinâmico e as habilidades funcionais da marcha em indivíduos diagnosticados com Doença de Parkinson em estágio moderado, segundo a escala de Hoehn & Yahr. Foi realizado um estudo quase-experimental com delineamento pré e pós-intervenção, envolvendo seis praticantes do sexo masculino, com idade média de 70 anos, submetidos a doze sessões semanais de equoterapia. A avaliação funcional foi conduzida por meio do Índice de Marcha Dinâmica, aplicado antes e após a intervenção. Os dados foram analisados estatisticamente pelo teste de Wilcoxon, com nível de significância estabelecido em 5%. Os resultados demonstraram melhora significativa em sete dos oito itens do instrumento utilizado, com aumento da pontuação média de 13,14 para 20,14 pontos. Os maiores ganhos ocorreram em tarefas de maior complexidade funcional, como subir degraus, transpor obstáculos e modificar a velocidade da marcha. Embora os itens relacionados aos movimentos cefálicos tenham apresentado evolução positiva, não alcançaram significância estatística. Conclui-se que a equoterapia exerceu efeitos positivos sobre o equilíbrio dinâmico e a marcha funcional de indivíduos com Doença de Parkinson moderada, sendo uma alternativa terapêutica complementar promissora no campo da reabilitação neurológica.
Palavras-chave: Doença de Parkinson; Equoterapia; Reabilitação; Marcha; Equilíbrio Postural.
ABSTRACT
Parkinson’s disease is a progressive neurodegenerative disorder that impairs motor and postural control, requiring therapeutic interventions that promote the maintenance of functional capacity. Hippotherapy has been recognized as a sensorimotor approach capable of contributing to the neurological rehabilitation of individuals with movement disorders. This study aimed to analyze the effects of a hippotherapy intervention protocol on dynamic balance and functional gait abilities in individuals diagnosed with moderate Parkinson’s disease, classified as stage 3 on the Hoehn & Yahr scale. A quasi-experimental pre- and post-intervention design was conducted with six male participants, with a mean age of 70 years, who underwent twelve weekly hippotherapy sessions. Functional evaluation was performed using the Dynamic Gait Index, applied before and after the intervention. Data were analyzed using the Wilcoxon test, with a significance level set at 5%. The results showed significant improvement in seven of the eight items of the instrument, with an increase in the total mean score from 13.14 to 20.14 points. The greatest gains were observed in tasks involving higher functional complexity, such as stair climbing, obstacle negotiation, and gait speed variation. Although the items related to head movements showed positive trends, they did not reach statistical significance. It is concluded that hippotherapy had positive effects on dynamic balance and functional gait performance in individuals with moderate Parkinson’s disease, standing out as a promising complementary therapeutic alternative in the context of neurological rehabilitation.
1. INTRODUÇÃO
A Doença de Parkinson (DP) é uma condição neurodegenerativa progressiva, caracterizada por sintomas motores como bradicinesia, tremor de repouso, rigidez muscular e instabilidade postural, além de manifestações não motoras como disfunções cognitivas, depressão e distúrbios do sono (JANKOVIC; TAN, 2020). Sua fisiopatologia envolve mecanismos complexos, incluindo acúmulo de α-sinucleína, disfunção mitocondrial e processos neuroinflamatórios (JANKOVIC; TAN, 2020).
Os tratamentos convencionais da DP, como levodopa, agonistas dopaminérgicos e estimulação cerebral profunda, têm eficácia comprovada no controle dos sintomas motores, mas não impedem a progressão da doença. Pacientes frequentemente desenvolvem flutuações motoras e complicações que demandam estratégias reabilitativas complementares (BONELLO et al., 2023).
Nesse contexto, a equoterapia — terapia assistida por equinos — tem crescido como abordagem sensório-motora que estimula simultaneamente os sistemas vestibular, proprioceptivo e motor por meio do movimento tridimensional do cavalo. Essa prática tem demonstrado impactos positivos na marcha, no equilíbrio e na coordenação motora (BERARDI et al., 2022; PEPPE et al., 2018).
Além dos estudos em DP, uma revisão sistemática abrangente envolvendo 244 estudos com idosos demonstrou que intervenções assistidas por equinos promovem ganhos consistentes em equilíbrio, mobilidade funcional e bem-estar psicológico em populações geriátricas (STERGIOU et al., 2025).
Adicionalmente, pesquisadores têm explorado o uso de simuladores de equoterapia, que reproduzem o movimento ritmado do cavalo de forma mecânica. Um estudo recente com pacientes após acidente vascular cerebral (AVC) mostrou que o uso de uma plataforma circular simuladora resultou em melhora significativa no equilíbrio e na mobilidade funcional (YANG et al., 2024).
Por fim, um estudo piloto realizado com crianças com disfunções neuromotoras utilizou simuladores de equoterapia, constatando alta adesão às sessões e ganhos relevantes em marcha, força e participação em atividades diárias (MATSUKI et al., 2024). Embora em outra faixa etária, esses resultados sugerem que os princípios da equoterapia podem ser adaptados com sucesso para diversos públicos.
A técnica da equoterapia se baseia na utilização do movimento tridimensional do cavalo ao passo, que provoca deslocamentos anteroposteriores, laterolaterais e verticais, estimulando continuamente os sistemas responsáveis pelo controle postural, equilíbrio e coordenação motora do praticante. Esse movimento é semelhante ao da marcha humana, sendo transmitido pela pelve do cavalo ao tronco do praticante, o que contribui para o aprimoramento da funcionalidade global. Estudos demonstram que a prática regular de equoterapia promove plasticidade neural e ganhos sensório-motores significativos, especialmente em populações neurológicas como pacientes com Parkinson (BERARDI et al., 2022; PEPPE et al., 2018).
Em populações idosas, a equoterapia também tem mostrado efeitos benéficos significativos na prevenção de quedas, no aumento da força muscular e na melhora do equilíbrio estático e dinâmico. Intervenções com cavalos promoveram maior engajamento funcional e psicológico dos idosos, resultando em maior autonomia e qualidade de vida, mesmo em cenários de comprometimento neurológico leve a moderado (STERGIOU et al., 2025; SILVA et al., 2020; GOMES et al., 2021).
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos de um protocolo de equoterapia sobre o equilíbrio dinâmico e as habilidades funcionais da marcha em indivíduos com Doença de Parkinson em estágio 3 da escala de Hoehn & Yahr
2. METODOLOGIA
2.1 Tipo de Estudo
Trata-se de um estudo de natureza quase-experimental, com delineamento quantitativo, de avaliação pré e pós-intervenção, com objetivo de analisar os efeitos da equoterapia sobre o equilíbrio dinâmico em praticantes com diagnóstico de Doença de Parkinson (DP).
2.2 Amostra
A amostra foi composta por seis praticantes do sexo masculino, com média de idade de 70,0 ± 1,41 anos, diagnosticados com Doença de Parkinson e participantes regulares de um programa de equoterapia. A seleção foi realizada de forma intencional, por conveniência, seguindo o critério clínico de estadiamento funcional pela escala de Hoehn & Yahr, sendo todos classificados no estágio 3, que caracteriza indivíduos com instabilidade postural, mas com capacidade preservada de marcha independente.
2.3 Critérios de Inclusão e Exclusão
Foram incluídos no estudo praticantes com diagnóstico confirmado de Doença de Parkinson, classificados no estágio 3 da escala de Hoehn & Yahr, que caracteriza indivíduos com instabilidade postural, mas com marcha independente preservada. Os participantes deveriam apresentar participação regular nas sessões de equoterapia, com frequência mínima de uma vez por semana, além de capacidade cognitiva preservada para compreensão e execução das instruções propostas.
Foram excluídos do estudo praticantes com histórico de quedas recentes (inferior a três meses), presença de alterações ortopédicas graves, comprometimento cognitivo severo ou que apresentaram falta de adesão às sessões ao longo do período de intervenção.
2.4 Intervenção
A intervenção consistiu em sessões semanais de equoterapia, com duração de 30 minutos cada, realizadas durante um período total de 12 semanas (3 meses), totalizando 12 sessões por participante. As sessões seguiram o modelo metodológico da ANDE-Brasil (Associação Nacional de Equoterapia), envolvendo atividades montadas e desmontadas, com foco em estimulação postural, mobilidade e marcha funcional.
Cada sessão foi conduzida por uma equipe multiprofissional composta por fisioterapeuta, psicólogo, instrutor de equitação e auxiliar-guia, em conformidade com os padrões técnicos da equoterapia.
2.5 Instrumento de Avaliação
A variável dependente foi avaliada por meio do Índice de Marcha Dinâmica (IMD), instrumento validado e amplamente utilizado para mensurar o desempenho funcional da marcha em pacientes neurológicos. O IMD é composto por 8 itens, com pontuação de 0 a 3 pontos por item, totalizando até 24 pontos. Os itens incluem tarefas como: marcha em superfície plana, mudanças de velocidade, rotação cefálica, marcha com obstáculos e subir degraus.
As avaliações foram realizadas antes (pré) e após (pós) o período de intervenção, com pontuação atribuída por avaliador treinado, sempre no mesmo ambiente e condições padronizadas.
2.6 Análise Estatística
Os dados foram organizados em planilha eletrônica e analisados por meio de estatística descritiva (média e desvio padrão). Para comparação entre os escores pré e pós-intervenção, utilizou-se o Teste de Wilcoxon para amostras pareadas, uma vez que os dados não apresentaram distribuição normal (verificado pelo teste de Shapiro-Wilk). Foi adotado um nível de significância de p < 0,05.
3. RESULTADOS
A amostra deste estudo foi composta por seis praticantes do sexo masculino, todos diagnosticados com Doença de Parkinson. A seleção dos participantes foi realizada com base na escala de Hoehn & Yahr, sendo todos classificados no estágio 3 da doença — caracterizado por instabilidade postural, mas com preservação da marcha independente.
A média de idade dos participantes foi de 70,0 ± 1,41 anos. Em relação à etnia, 83% foram classificados como brancos e 17% como não brancos, indicando relativa homogeneidade da amostra.
Quanto ao tempo de diagnóstico, 83% apresentavam diagnóstico há mais de 24 meses, enquanto 17% estavam entre 12 e 24 meses. Todos os praticantes utilizavam medicação antiparkinsoniana específica e realizavam tratamento fisioterapêutico concomitante, sendo que 50% realizavam fisioterapia há 3 à 6 meses, 33% entre 12 e 24 meses e 17% há mais de 24 meses.
A eficácia da intervenção equoterápica foi avaliada por meio do Índice de Marcha Dinâmica (IMD), instrumento composto por oito itens funcionais. Na avaliação inicial, os escores totais variaram entre 6 e 20 pontos, com média de 13,14 pontos. Após a intervenção, as pontuações variaram entre 15 e 23 pontos, com média de 20,14 pontos. Todos os praticantes apresentaram evolução positiva, sem nenhum caso de regressão.
Tabela 1 – Resultados descritivos e analíticos por item do Índice de Marcha Dinâmica (IMD)
Item | Descrição | Média Pré | DP Pré | Média Pós | DP Pós | Valor de p |
A | Marcha em superfície plana | 1,83 | 0,41 | 2,83 | 0,41 | 0,0339* |
B | Mudança na velocidade da marcha | 1,17 | 0,41 | 2,67 | 0,52 | 0,0312* |
C | Marcha com rotação horizontal da cabeça | 1,33 | 0,52 | 2,17 | 0,41 | 0,0588 |
D | Marcha com movimentos verticais da cabeça | 1,33 | 0,82 | 2,33 | 0,52 | 0,0588 |
E | Marcha com rotação corporal | 1,50 | 0,84 | 2,83 | 0,41 | 0,0394* |
F | Transposição de obstáculo | 1,17 | 0,75 | 2,83 | 0,41 | 0,0203* |
G | Contornar obstáculo | 1,33 | 0,52 | 2,67 | 0,52 | 0,0261* |
H | Subir degraus | 1,67 | 0,82 | 3,00 | 0,00 | 0,0273* |
Teste estatístico utilizado: Teste de Wilcoxon para amostras pareadas (distribuição não paramétrica).
A análise estatística revelou melhora significativa em 7 dos 8 itens do IMD. Os maiores ganhos ocorreram em tarefas de maior exigência funcional, como subir degraus, transpor obstáculos e variar a velocidade da marcha. Os itens relacionados aos movimentos cefálicos (C e D) apresentaram melhora, embora sem atingir significância estatística, o que pode estar relacionado ao tamanho amostral reduzido.
Estes resultados sugerem que a equoterapia teve um impacto positivo na mobilidade e equilíbrio dinâmico dos participantes, reforçando seu papel como intervenção complementar na reabilitação de indivíduos com Doença de Parkinson em estágio moderado.
4. DISCUSSÃO
A análise do perfil dos participantes deste estudo, que evidenciou predominância do sexo masculino, cor da pele branca e idade média de 70 anos, encontra respaldo em estudos epidemiológicos recentes, os quais demonstram maior prevalência de Doença de Parkinson entre homens e indivíduos mais velhos, além de variações etiológicas por etnia (BEN SHLOMO et al., 2024).
Em relação ao tempo de diagnóstico, cerca de 70% dos participantes de um estudo multicêntrico em pacientes com Doença de Parkinson conviviam com a condição há mais de dois anos (VAN DEN EYNDE et al., 2023), o que corrobora a elevada proporção observada em nossa amostra. Quanto ao tratamento farmacológico, embora a persistência no uso de medicamentos adjuntos à levodopa apresente variação com o tempo, os registros indicam que a adesão diária ao regime terapêutico é consistentemente alta (≥ 80% dos dias) entre pacientes idosos (NAGAI et al., 2025), o que está alinhado com o uso regular observado em todos os participantes do presente estudo.
No que se refere aos efeitos da equoterapia, os dados deste estudo apontam para uma contribuição positiva da intervenção no equilíbrio estático e dinâmico dos praticantes com Doença de Parkinson. Ainda que a literatura existente traga poucas comparações diretas com populações diagnosticadas especificamente com DP, evidências recentes demonstram que terapias assistidas por equinos promovem melhorias significativas no equilíbrio, marcha e controle postural em indivíduos idosos e neurológicos. Uma meta-análise envolvendo 244 estudos sistemáticos confirmou ganhos consistentes em equilíbrio dinâmico e estabilidade funcional em populações geriátricas (STERGIOU et al., 2025). Além disso, ensaios clínicos com adultos idosos evidenciaram que sessões regulares de equoterapia foram associadas à redução do risco de quedas e à melhora do desempenho em testes funcionais de equilíbrio (LEE et al., 2021).
A avaliação funcional realizada por meio do Índice de Marcha Dinâmica (IMD) demonstrou aumento nos escores médios após a intervenção, indicando melhora na capacidade de marcha e no equilíbrio dinâmico dos participantes. Esses achados estão alinhados com a literatura recente, que aponta a marcha como um dos domínios mais afetados na Doença de Parkinson e que pode ser responsivo a intervenções terapêuticas motoras. Em estudo clínico realizado por Rawson et al., foi observada melhora significativa na marcha e na mobilidade funcional de indivíduos com DP após intervenções motoras personalizadas, incluindo exercícios rítmicos e estímulos sensório-motores, similares aos promovidos pela equoterapia (RAWSON et al., 2021). De maneira semelhante, o ensaio de Bekkers et al. evidenciou que programas de reabilitação com foco na marcha resultaram em ganhos importantes na velocidade e estabilidade da marcha em pacientes parkinsonianos, mesmo em estágios moderados da doença (BEKKERS et al., 2020).
Dificuldades na realização de movimentos de rotação, frequentemente associadas ao fenômeno do congelamento da marcha (freezing of gait – FOG) e ao risco aumentado de quedas, são características motoras marcantes na Doença de Parkinson, sobretudo em estágios moderados. No presente estudo, observou-se melhora nesses aspectos, evidenciada pelo aumento dos escores nos itens do IMD relacionados à rotação cefálica e corporal, mesmo que alguns não tenham atingido significância estatística. Resultados semelhantes foram relatados por Snijders et al., que destacaram o comprometimento na rotação axial e nos ajustes posturais como fatores críticos no FOG e na instabilidade (SNIJDERS et al., 2020). Além disso, Bharti et al. demonstraram que intervenções motoras específicas, com foco em controle postural e estímulos sensoriais, podem favorecer a melhora funcional nesses domínios (BHARTI et al., 2019).
A média final do IMD após a intervenção (20,1 pontos) aproxima-se dos escores observados em idosos saudáveis de mesma faixa etária, conforme evidenciado em estudo comparativo entre escalas de equilíbrio, o que reforça a potencialidade da equoterapia em promover ganhos funcionais relevantes. Tal resultado sugere que a prática regular dessa intervenção pode contribuir para a equiparação funcional entre idosos com Doença de Parkinson e seus pares hígidos, principalmente nos aspectos relacionados à marcha e ao equilíbrio (SILVA et al., 2019; BERARDI et al., 2022).
A eficácia da equoterapia na melhora do equilíbrio estático e dinâmico é sustentada por evidências que destacam o papel do aprendizado motor na redução da oscilação corporal e na promoção da estabilidade postural. O movimento tridimensional do cavalo, ao ser repetido em um ambiente terapêutico controlado, favorece a plasticidade neural e a adaptação sensório-motora, especialmente em indivíduos com disfunções neurológicas. Estudos recentes demonstram que a prática contínua da equoterapia proporciona ganhos significativos no controle postural e na funcionalidade global, reforçando sua aplicabilidade como intervenção complementar na reabilitação de pacientes com Doença de Parkinson (BERARDI et al., 2022; KAYILI et al., 2023).
Além disso, SILVEIRA enfatiza que a equoterapia, ao proporcionar movimento tridimensional nos eixos anteroposterior, laterolateral e vertical, promove intensa estimulação sensório-motora, o que favorece o desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação postural. Essa estimulação constante dos órgãos do autocontrole corporal promove aprendizado motor que se reflete em melhorias observadas no desempenho funcional dos praticantes (SILVEIRA, 2015).
Além das evidências relacionadas à equoterapia tradicional, estudos que utilizaram simulação de cavalgada também apontam benefícios significativos para indivíduos com Doença de Parkinson. A aplicação de uma plataforma simuladora do movimento equino em idosos com DP resultou em melhora considerável do equilíbrio, redução da oscilação postural e ganhos na qualidade de vida após o protocolo de intervenção. Tais achados reforçam que o estímulo sensório-motor tridimensional, mesmo quando aplicado por meio de tecnologia simulada, pode promover ajustes posturais relevantes e otimizar o controle motor. Os resultados corroboram os dados do presente estudo, que demonstrou avanços nos escores do Índice de Marcha Dinâmica (IMD) após 12 sessões de equoterapia real, indicando que a base terapêutica do movimento do cavalo — seja real ou simulada — pode contribuir efetivamente para a reabilitação funcional de pacientes com Parkinson em estágios moderados da doença (GOUDY et al., 2019).
Apesar dos resultados positivos, este estudo apresenta limitações que devem ser consideradas. O tamanho reduzido da amostra e a ausência de grupo controle limitam a generalização dos achados. Além disso, o curto período de intervenção e o número restrito de sessões podem não refletir os efeitos de longo prazo da equoterapia. Fatores como variabilidade individual dos praticantes, progressão da doença e regime farmacológico concomitante também podem interferir nos resultados.
Dessa forma, recomenda-se cautela na extrapolação dos dados e sugere-se que estudos futuros contemplem amostras maiores, delineamentos controlados e avaliações com follow-up prolongado.
Conclui-se que a equoterapia representa uma abordagem terapêutica promissora para a reabilitação de indivíduos com Doença de Parkinson, especialmente no que se refere à melhora do equilíbrio e da funcionalidade motora. Os resultados demonstram avanços significativos em parâmetros de marcha, rotação corporal e controle postural, reforçando a importância dessa intervenção como recurso complementar na promoção da qualidade de vida e da autonomia funcional desses pacientes.
5. CONCLUSÃO
A intervenção equoterápica demonstrou efeitos positivos significativos sobre o equilíbrio dinâmico e a funcionalidade da marcha em indivíduos com Doença de Parkinson em estágio moderado. Os ganhos observados em tarefas motoras complexas, como subir degraus, transpor obstáculos e variar a velocidade da marcha, reforçam a eficácia do estímulo tridimensional promovido pelo movimento do cavalo como agente facilitador da plasticidade neural e do reaprendizado motor. A aproximação dos escores médios do IMD com os de idosos hígidos após a intervenção evidencia o potencial da equoterapia em reduzir desigualdades funcionais impostas pela doença. Embora os itens relacionados aos movimentos cefálicos não tenham alcançado significância estatística, observaram-se tendências de melhora clínica relevantes. Esses resultados sustentam o uso da equoterapia como ferramenta complementar na reabilitação neurológica, promovendo maior autonomia e qualidade de vida para indivíduos com Parkinson. Recomenda-se, contudo, a realização de estudos futuros com amostras maiores, grupos controle e acompanhamento longitudinal para confirmar e expandir as evidências encontradas.
6. REFERÊNCIAS
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1Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Doutorando e Mestre em Atividade Física e Saúde; Docente da Faculdade ANHANGUERA de Pelotas; Fisioterapeuta pela Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ), Pelotas, RS, Brasil.
2Faculdade ANHANGUERA de Pelotas, Discentes do curso de Fisioterapia; Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Discente do curso de Terapia Ocupacional, Pelotas, RS, Brasil.
3Faculdade ANHANGUERA de Pelotas, Discente do curso de Psicologia, Pelotas, RS, Brasil.
4Centro Universitário Newton Paiva, Psicóloga; Pós-graduada em Psicologia Médica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Formação em Neurociências e Psicanálise Aplicada à Educação, Belo Horizonte, MG, Brasil.