INTERSECTIONALITY BETWEEN RACISM AND FEMINICIDE: THE DISPROPORTIONATE IMPACT OF VIOLENCE ON BLACK WOMEN
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412090811
Alexandre de Souza dos Santos 1
Luzieli Rodrigues Ferreira Silva 2
Maria Jozisnaide Portela Soares 3
Rafila Talissa Andrade Vasconcelos 4
Thiago Gabriel Souza Fernandes 5
Ailton Souza da Costa Júnior 6
Adriano Dos Santos Oliveira 7
Resumo
Este trabalho apresenta uma análise da interseccionalidade entre racismo e feminicídio no Brasil, com foco nas mulheres negras, grupo desproporcionalmente afetado pela violência de gênero. A pesquisa justifica-se pela crescente preocupação com o aumento dos casos de feminicídio, especialmente entre mulheres de minorias sociais, e a ineficácia das políticas públicas em lidar com esse problema. O objetivo principal é compreender os fatores estruturais que perpetuam essa violência e discutir a necessidade de políticas inclusivas que considerem as diferenças raciais. Para atingir esse objetivo, foi utilizada uma metodologia de pesquisa bibliográfica. Os dados qualitativos foram selecionados com base em sua atualidade e relevância, permitindo uma reflexão crítica sobre o tema. Os resultados indicam que a combinação de racismo e misoginia agrava a vulnerabilidade das mulheres negras ao feminicídio, evidenciando a urgência de abordagens políticas e sociais interseccionais. Conclui-se que é essencial a implementação de políticas públicas mais eficazes, que considerem as especificidades raciais e sociais, para combater de maneira abrangente essa forma de violência.
Palavras-chave: Feminicídio, Racismo, Interseccionalidade, Violência de Gênero, Mulheres Negras.
ABSTRACT: The analysis of femicide in Brazil reveals an alarming situation, with increasing genderbased violence disproportionately affecting Black women and other social minorities. This article aims to discuss the structural factors that perpetuate this violence, despite existing legislation. The methodology used was a bibliographic review, based on articles, books, and specialized websites, focusing on the intersectionality between racism and femicide. The qualitative data collected sought to provide a critical and reflective discussion on the topic. The findings show that racism, poverty, and lack of social equity intensify the vulnerability of Black women, making them more susceptible to violence. Furthermore, the study highlights the ineffectiveness of public policies in protecting these women and calls for the development of more inclusive solutions. The conclusion stresses the need for continuous efforts from civil society, feminist movements, and government institutions to combat femicide and promote racial and gender equity.
KEYWORDS: Femicide, Racism, Intersectionality, Gender-Based Violence, Black Women.
1 INTRODUÇÃO
As mulheres negras no Brasil são mais vulneráveis devido às profundas desigualdades raciais arraigadas na sociedade (Gonçalves, 2022). Elas enfrentam não apenas a violência de gênero, mas também o racismo, que as desumaniza e invisibiliza seus corpos (Yaredy; Andrade, 2022). Pina, Pereira e Silva (2020) afirmam que as mulheres negras são mais vulneráveis à violência extrema devido à exclusão social gerada pela discriminação interseccional.
A interseccionalidade mostra que racismo e machismo atuam juntos, causando efeitos mais graves para as mulheres negras (Garcia, 2020). Yaredy e Andrade (2022) enfatizam que o feminismo negro é uma perspectiva crucial para entender essas dinâmicas, pois une a luta contra o racismo e o patriarcado. Dados mostram que as mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio no Brasil, o que reforça a importância de um olhar interseccional sobre as opressões (Gonçalves, 2022).
Garcia (2020) afirma que o feminicídio de mulheres negras é um reflexo direto do racismo e da violência de gênero. Tanto a mídia quanto o sistema judicial frequentemente ignoram essas mortes, reforçando a invisibilidade de suas lutas (Pina, Pereira e Silva, 2020). Gonçalves (2022) explora o conceito de “vidas matáveis”, que sugere que a sociedade vê as vidas das mulheres negras como menos valiosas, facilitando sua eliminação.
O objetivo geral deste estudo é analisar como o racismo estrutural e o feminicídio se entrelaçam. Como objetivos específicos, busca-se analisar dados estatísticos e pesquisas sobre o feminicídio de mulheres negras. Além disso, pretende-se examinar a interseccionalidade entre racismo e feminicídio, destacando como esses sistemas de opressão afetam de maneira singular as mulheres negras no Brasil. Identificar as 4 Revista Contemporânea, v. X, n. X, 2024. ISSN 2447-0961 políticas públicas e iniciativas existentes voltadas para o enfrentamento do feminicídio e violência contra mulheres negras.
2. Referencial Teórico
2.1 Conceito de Interseccionalidade
A interseccionalidade surge das discussões feministas para entender como formas de opressão se entrelaçam e afetam indivíduos com identidades sociais múltiplas. Crenshaw foi o primeiro a desenvolver a ideia, destacando que as experiências das mulheres negras não podem ser compreendidas ao se analisar apenas gênero ou raça isoladamente (Freitas, 2020). Essa compreensão é crucial para examinar a realidade das mulheres negras, que enfrentam tanto o machismo quanto o racismo estrutural, criando um cenário de exclusão e vulnerabilidade social.
Freitas (2020) aponta que, além de serem protagonistas de suas histórias, as mulheres negras enfrentam obstáculos que as impedem de ocupar esse papel plenamente. Assim, a interseccionalidade é uma ferramenta essencial para compreender as complexidades das suas vivências. A partir dessa perspectiva, são reveladas não só as desigualdades de gênero, mas também as de classe e raça, o que intensifica a resistência e luta por reconhecimento e direitos.
Soares et al. (2020) abordam a interseccionalidade de gênero e raça, destacando a invisibilidade das mulheres negras no ensino superior e como a falta de representatividade afeta seu acesso a posições de liderança. A pesquisa também evidencia a perseverança dessas mulheres, que resistem às normas sociais e buscam visibilidade e afirmação, mesmo em meio a dificuldades estruturais significativas.
Ruzza (2023) examina a violência contra mulheres no Rio de Janeiro, enfatizando como a interseccionalidade contribui para entender a maior vulnerabilidade das mulheres negras à violência. A autora destaca que essa violência, especialmente em ambientes de desigualdade social, faz parte de um sistema maior que marginaliza e desumaniza essas mulheres, intensificando a probabilidade de feminicídio.
Soares (2023) analisa o feminicídio no Brasil sob a perspectiva do direito penal, destacando a necessidade de incorporar a interseccionalidade ao desenvolver políticas preventivas. Reconhecer as realidades específicas de violência vividas por mulheres negras é fundamental para criar estratégias eficazes que atendam suas necessidades e combatam as opressões estruturais que enfrentam.
A pesquisa de Souza (2023) sobre racismo estrutural e Serviço Social mostra como as práticas profissionais podem contribuir para a valorização das mulheres negras. Ao utilizar a interseccionalidade, os profissionais podem compreender melhor as interações complexas entre raça, gênero e classe, permitindo intervenções mais inclusivas e eficazes, promovendo uma atuação antirracista e equitativa.
Trindade (2022) discute a importância da representação política das mulheres negras, ressaltando como sua participação pode alterar dinâmicas de poder e influenciar políticas mais justas. A falta de representatividade política perpetua a marginalização dessas mulheres, tornando sua presença nas instituições uma ferramenta crucial para combater a discriminação e a violência.
Bernardes (2020) examina o papel da raça na luta contra a violência de gênero, analisando os mecanismos de subalternização na Lei Maria da Penha. A interseccionalidade é fundamental para entender como as políticas de proteção à mulher falham em atender plenamente as necessidades das mulheres negras, que enfrentam obstáculos adicionais na busca por justiça.
Wermuth e Nielsson (2020) exploram a necrobiopolítica para investigar o feminicídio, mostrando como a violência de gênero está inserida em contextos amplos de controle social. A interseccionalidade permite entender as dinâmicas de poder que transformam as mulheres em vítimas de violência sistêmica. Neves (2022), em sua dissertação, analisa a escrevivência de mulheres negras, revelando a arte e a escrita como ferramentas de resistência contra a opressão.
Autores como Oliveira (2021) e Silva (2022) discutem a interseccionalidade, relacionando as lutas feministas às lutas antirracistas. Oliveira enfatiza a importância da solidariedade entre mulheres de diferentes etnias, enquanto Silva destaca como a opressão racial e de gênero estão intrinsecamente ligadas, exigindo uma abordagem integrada para combater essas formas de opressão.
2.2 Racismo Estrutural no Brasil
O racismo estrutural no Brasil está profundamente enraizado na sociedade e se manifesta em várias áreas, como a econômica, política e social. Ele se refere a costumes e valores que perpetuam a desigualdade racial e marginalizam os negros.
Essa opressão vem desde o período colonial, quando milhões de africanos foram escravizados. Silva (2019) ressalta que a herança do passado escravocrata ainda afeta as oportunidades e condições de vida das populações negras, refletindo-se nas desigualdades atuais.
A invisibilidade do racismo estrutural é uma de suas principais características. A discriminação racial está presente nas instituições e na cultura brasileira, não apenas em ações individuais. Por exemplo, estudantes negros enfrentam mais dificuldades para acessar o ensino superior, o que reflete desigualdades econômicas e culturais (Nogueira, 2021). A ausência de políticas públicas eficazes perpetua esse ciclo de desigualdade, tornando difícil sua interrupção (Lima, 2022).
O racismo estrutural também é evidente no mercado de trabalho. Dados do IBGE mostram que as taxas de desemprego entre negros, especialmente mulheres, são mais altas que entre brancos. Os negros, em sua maioria, ocupam cargos com salários mais baixos e poucas oportunidades de ascensão (Barbosa, 2020).
Fernandes (2021) destaca que essa desigualdade salarial não é apenas resultado de discriminação direta, mas também de barreiras estruturais que limitam o acesso a melhores oportunidades.
Outro elemento preocupante do racismo estrutural no Brasil é a violência. Estudos mostram que crimes violentos, como o feminicídio, afetam desproporcionalmente a população negra. As mulheres negras estão entre as principais vítimas dessa violência, resultado de uma cultura que as marginaliza (Almeida, 2022). A falta de respostas adequadas do Estado reflete o racismo institucional, que trata a vida dessas mulheres como menos valiosa, perpetuando a violência.
No campo cultural e midiático, o racismo estrutural se manifesta na falta de representações adequadas. A narrativa dominante frequentemente distorce ou ignora as experiências dos negros, reforçando estereótipos que promovem a discriminação (Pereira,2020).
Ribeiro (2021) observa que a sub-representação de negros na mídia e na política resulta na desvalorização de suas vozes, contribuindo para a marginalização social. Isso alimenta um ciclo de invisibilidade, perpetuando as desigualdades raciais.
A luta contra o racismo estrutural exige um compromisso coletivo para transformar as estruturas institucionais e sociais. Isso inclui políticas públicas de promoção da equidade racial, como ações afirmativas na educação e no mercado de trabalho, além de medidas eficazes para combater a violência (Santos, 2022). A mobilização social das comunidades negras é essencial para valorizar suas narrativas e garantir que suas experiências sejam reconhecidas (Cardoso, 2023).
O conceito de interseccionalidade, proposto por Crenshaw, é uma ferramenta teórica fundamental para entender as diversas camadas de opressão enfrentadas pelas mulheres negras. A interseccionalidade permite analisar como o racismo, o sexismo e outras formas de discriminação se entrelaçam, criando experiências únicas de resistência e vulnerabilidade (Melo, 2024). Para enfrentar as desigualdades raciais e de gênero, a análise interseccional é crucial na formulação de estratégias eficazes.
O racismo estrutural no Brasil é uma questão complexa que exige uma abordagem ampla e coordenada. A promoção da equidade racial, a valorização das vozes da população negra e a desconstrução de narrativas que perpetuam a desigualdade são passos essenciais. Somente por meio de ações coletivas conscientes será possível combater o racismo e construir uma sociedade mais justa e igualitária.
2.3 Feminicídio, Conceito e Panorama no Brasil
O termo “feminicídio” refere-se ao assassinato de mulheres em razão de seu gênero. Esse crime é caracterizado por uma violência extrema, resultante de relações de poder desiguais, sendo considerado a expressão máxima da violência de gênero. Nas últimas décadas, o feminicídio foi reconhecido como um problema social e jurídico, principalmente após a criação de leis que protegem os direitos das mulheres. A Lei do Feminicídio (Lei nº 13.104/2015) incluiu esse crime no Código Penal brasileiro, impondo punições mais rigorosas (Nogueira, 2020).
O cenário do feminicídio no Brasil é alarmante, com altas taxas de homicídios de mulheres, especialmente de grupos marginalizados, como as mulheres negras. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FSSP), cerca de 1.350 mulheres foram assassinadas em 2020, representando uma média de 4,5 feminicídios por dia (FSSP, 2021). Esses números exigem uma análise profunda dos fatores estruturais que alimentam essa violência, como o racismo, a misoginia e as desigualdades socioeconômicas.
A interseccionalidade é uma ferramenta importante para entender a complexidade do feminicídio no Brasil. As mulheres negras, em particular, sofrem uma violência agravada pela combinação de racismo e machismo. Portanto, o feminicídio não pode ser analisado de forma isolada; ele faz parte de um conjunto mais amplo de opressões que afetam as mulheres em diversos âmbitos (Carvalho, 2022). O racismo estrutural aumenta a vulnerabilidade dessas mulheres, tornando-as mais suscetíveis a homicídios e agressões.
O feminicídio também reflete as falhas do sistema de justiça brasileiro. Denúncias de violência contra mulheres muitas vezes são negligenciadas pelas autoridades, permitindo que os agressores permaneçam impunes. Isso se deve, em parte, a uma cultura que silencia e desvaloriza a vida das mulheres, especialmente aquelas que não pertencem a grupos raciais ou sociais privilegiados (Pereira, 2021). A falta de políticas públicas eficazes para combater a violência de gênero perpetua esse ciclo de marginalização e violência.
Organizações de direitos humanos e movimentos feministas têm desempenhado um papel crucial na luta contra o feminicídio, promovendo políticas que protejam as mulheres. Essas iniciativas buscam pressionar o Estado a adotar medidas mais eficazes e conscientizar a sociedade sobre a gravidade da violência de gênero (Souza, 2023). Além disso, é essencial educar e sensibilizar a população para transformar a cultura de preconceito e violência que permeia as relações sociais.
Uma abordagem multidisciplinar é necessária para enfrentar o feminicídio de forma eficaz. A prevenção desse crime deve envolver áreas como saúde, educação, segurança pública e assistência social. A criação de redes de apoio e serviços integrados para atender vítimas de violência é fundamental para garantir a proteção e os direitos das mulheres (Mendes, 2022).
O feminicídio é um problema social grave que reflete a violência sistêmica e a desigualdade de gênero enfrentada pelas mulheres no Brasil. A luta contra o feminicídio requer a mobilização de toda a sociedade, o fortalecimento das políticas públicas, e a promoção da educação e conscientização sobre os direitos das mulheres. Somente com um esforço coletivo será possível combater essa realidade e assegurar a proteção e a dignidade de todas as mulheres.
3 METODOLOGIA
Filho (2015) afirma que a metodologia é imprescindível, já que nesta é possível responder as várias questões do como, onde, por que e como, vamos abordar determinada pesquisa, determinando a partir de diversos métodos e técnicas de coleta de dados.
A metodologia usada para a construção do presente artigo foi baseada em pesquisa bibliográfica, que Prestes (2008) afirma como sendo “a que se efetiva tentando-se resolver um problema ou adquirir conhecimento a partir do emprego predominante de informações de material gráfico, sonoro e informatizado”. Com o intuito de aprofundar definições e estudos sobre o que tange Interseccionalidade entre Racismo e Feminicídio. Buscou-se a consulta em artigos científicos, livros e sites especializados, a fim de uma melhor interpretação sobre o tema.
O procedimento de coleta de dados, objetivou-se obter dados de natureza qualitativa, a fim de trazer ao leitor uma visão de discussão, baseando-se em leituras selecionadas foram baseadas conforme o critério de seleção de algo mais atual, de modo que fosse possível uma leitura crítica e reflexiva afim de determinar as principais ideias e objetivos dos autores.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise do feminicídio no Brasil evidencia um cenário alarmante, com crescente violência de gênero, especialmente contra mulheres negras. Dados oficiais, como o Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, indicam que, apesar das leis, as políticas públicas ainda não conseguem conter os altos índices de feminicídio. Essa questão será discutida a seguir, destacando os fatores que perpetuam essa violência.
Segundo a Lei 13.104/2015, o feminicídio é o assassinato de mulheres em função de seu gênero, sendo uma forma de violência estrutural. Andrade (2021) aponta que, em 2020, 1.350 feminicídios foram registrados, com uma média de 4,5 mortes por dia. O problema se intensifica em regiões com alta desigualdade social, onde a violência é agravada pela falta de recursos e oportunidades.
As vítimas enfrentam frequentemente descrédito e revitimização ao denunciarem agressões, o que reforça um ciclo de violência. Para interromper essa dinâmica, uma mudança cultural é necessária, conforme Lima (2022), que argumenta que a sociedade precisa valorizar a vida das mulheres de forma mais ampla e justa.
O feminicídio afeta desigualmente diferentes grupos de mulheres. Almeida (2022) destaca que as mulheres negras, devido ao racismo e à misoginia, estão mais expostas à violência. Políticas públicas devem reconhecer essas disparidades e incluir medidas específicas para enfrentar essas realidades.
Estudos mostram que o sistema de justiça muitas vezes falha em proteger as mulheres e punir os agressores. Pereira (2021) observa que muitos casos de feminicídio não são investigados de forma adequada, exacerbando a impunidade. Isso reflete uma cultura que desvaloriza a vida das mulheres e perpetua a violência.
A pobreza e a falta de acesso a serviços básicos também contribuem para a vulnerabilidade das mulheres negras. O IBGE (2021) relata que elas enfrentam maiores taxas de pobreza e desemprego, fatores que aumentam o risco de violência. Portanto, políticas de proteção devem incluir medidas para promover a equidade social e econômica.
As políticas públicas ainda carecem de infraestrutura adequada para abrigar e apoiar mulheres em situação de violência. Souza (2022) aponta que muitas mulheres se sentem desprotegidas ao tentarem escapar de relacionamentos abusivos, devido à falta de apoio institucional. Por isso, é crucial criar uma rede de proteção eficiente para essas vítimas.
Os movimentos sociais e feministas desempenham um papel essencial na luta contra o feminicídio, promovendo campanhas e pressionando por mudanças políticas. Nogueira (2020) afirma que essas organizações ajudam a criar redes de apoio fundamentais para a proteção das mulheres, muitas vezes ignoradas pelos sistemas formais.
Por fim, esses movimentos também destacam as experiências de mulheres negras e outras minorias, frequentemente invisibilizadas. A mobilização dessas redes é fundamental para aumentar a conscientização e promover políticas públicas mais inclusivas e eficazes.
É crucial enfatizar a intersecção entre gênero e raça ao tratar do feminicídio no Brasil. Conforme Ribeiro (2018), a violência contra as mulheres negras resulta de um histórico sistema de opressão racial e de gênero que mantém a marginalização dessas mulheres. O escritor destaca que a taxa de feminicídio contra mulheres negras é duas vezes superior à de mulheres brancas, demonstrando um tipo de violência que surge da marginalização social e da ausência de políticas públicas específicas que levem em conta essas intersecções.
A revitimização feminina também contribui para intensificar a condição de vulnerabilidade. Silva (2017) ressalta que as mulheres que procuram auxílio em delegacias e outras instituições encontram obstáculos para serem ouvidas e reconhecidas, o que as desencoraja a denunciar seus agressores. A escritora destaca que o despreparo dos profissionais de segurança pública, juntamente com uma cultura patriarcal, favorece a continuidade da violência, destacando a demanda por uma formação mais aprofundada e humanizada nessas entidades.
Ademais, a implementação eficaz das políticas públicas voltadas para a prevenção do feminicídio ainda é um desafio. De acordo com Santos (2019), mesmo com a existência de leis que visam penalizar os agressores, tais como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, o Brasil continua a enfrentar problemas de infraestrutura para prestar assistência às vítimas. O escritor propõe que a ampliação da oferta de abrigos e o desenvolvimento de programas de suporte psicológico e financeiro para as vítimas são fundamentais para interromper o ciclo de violência.
De acordo com Costa (2020), a pandemia de COVID-19 intensificou a violência doméstica e o feminicídio, pois o confinamento social obrigou muitas mulheres a permanecerem mais tempo com seus agressores. O escritor menciona um crescimento expressivo nas queixas de violência doméstica nesse intervalo, demonstrando como crises sociais e econômicas podem aumentar os perigos para as mulheres. Neste cenário, ele advoga pela implementação de canais de denúncia mais fáceis e seguros, especialmente durante períodos de crise.
Por fim, Ferreira (2023) indica que a resposta ao feminicídio deve envolver uma estratégia educacional, focada em programas que incentivem a igualdade de gênero e desmantelem a cultura machista desde a infância. O escritor destaca a relevância de uma educação que inculque respeito e igualdade, evitando a continuidade de atitudes violentas. Segundo ele, o caminho para diminuir os altos índices de feminicídio no Brasil passa pela combinação de educação, políticas públicas eficientes e uma justiça mais rápida.
4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil, a relação entre racismo e feminicídio é complexa e preocupante, afetando de maneira significativa as mulheres negras. A análise das interseções entre gênero, raça e classe social revela que essas mulheres enfrentam não apenas a violência de gênero, mas também um contexto mais amplo de opressão e discriminação, o que aumenta seu risco de serem vítimas de feminicídio.
As políticas públicas devem tratar a violência contra as mulheres de maneira integrada, considerando as diferentes realidades presentes na sociedade brasileira. A criação de serviços que ofereçam assistência e proteção às vítimas, aliada à promoção de campanhas educativas que desconstruam estereótipos e promovam a igualdade de gênero, é essencial. A atuação conjunta entre áreas como saúde, direito e assistência social é fundamental para desenvolver estratégias eficazes de combate ao feminicídio.
A conscientização da sociedade e a mobilização dos movimentos sociais são cruciais para fortalecer a luta contra a violência de gênero e racial. A academia tem um papel vital ao fornecer conhecimento que pode embasar políticas públicas e aumentar a compreensão sobre a gravidade do feminicídio. A pesquisa e a coleta de dados são necessárias para identificar padrões de violência e elaborar intervenções direcionadas às mulheres em situações de vulnerabilidade.
Para que o Brasil se torne um lugar mais seguro e igualitário para todas as mulheres, é necessário um compromisso coletivo e uma visão de longo prazo que enfrente os fatores estruturais que contribuem para o feminicídio. Somente por meio de uma abordagem multidimensional, que considere as diversas realidades das mulheres, será possível avançar na luta contra a violência de gênero e garantir que as mulheres negras sejam protagonistas de suas histórias, livres de opressão e violência.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. D. Racismo estrutural e suas implicações no feminicídio: uma análise crítica. Revista de Direitos Humanos, v. 14, n. 1, p. 50-68, 2022.
BARBOSA, T. D. O impacto do racismo estrutural na saúde da população negra. Revista Brasileira de Saúde Pública, v. 23, n. 3, p. 213-230, 2020.
BERNARDES, M. N. Questões de raça na luta contra a violência de gênero: processos de subalternização em torno da Lei Maria da Penha. Revista Direito GV, v. 16, p. e1968, 2020.
BRASIL. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 2021. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.FORUMSEGURANCA.ORG.BR/PUBLICACOES/ANUARIOBRASILEIR O-DE-SEGURANCA-PUBLICA-2021. ACESSO EM: 22 SET. 2023.
BRASIL. LEI Nº 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015. DEFINE FEMINICÍDIO COMO CRIME HEDIONDO. BRASÍLIA, 2015. DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.PLANALTO.GOV.BR/CCIVIL_03/_ATO2015- 2018/2015/LEI/L13104.HTM. ACESSO EM: 22 SET. 2023.
CARDOSO, R. P. A interseccionalidade como ferramenta na luta contra a violência de gênero. Cadernos de Gênero e Sexualidade, v. 5, n. 2, p. 100-115, 2023.
CARVALHO, J. P. FEMINICÍDIO E RACISMO: A VULNERABILIDADE DAS MULHERES NEGRAS. REVISTA DE ESTUDOS DE GÊNERO, V. 12, N. 3, P. 150-167, 2022.
CARVALHO, J. R. A. FEMINICÍDIO: UMA ANÁLISE DA INTERSECCIONALIDADE E DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO BRASIL. REVISTA DE ESTUDOS FEMINISTAS, V. 30, N. 2, P. 345-366, 2022.
COSTA, JOÃO. FEMINICÍDIO E ISOLAMENTO SOCIAL: UM IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19. SÃO PAULO: NOVA ÉPOCA, 2020.
DE MENDONÇA, CARLA PEDROSO; DE CARVALHO, LUCIANI COIMBRA.
INTERSECCIONALIDADE NO CASO BARBOSA DE SOUZA E OUTROS VS. BRASIL: A NECESSIDADE DE UM OLHAR PARA ALÉM DA PERSPECTIVA DE GÊNERO. DIREITO PÚBLICO, V. 20, N. 106, 2023.
FERNANDES, I. M. Racismo e desigualdade no mercado de trabalho brasileiro: uma análise crítica. Revista de Ciências Sociais, v. 31, n. 4, p. 55-78, 2021.
FERREIRA, ANA. EDUCAÇÃO E FEMINICÍDIO: PREVENINDO A VIOLÊNCIA DESDE A INFÂNCIA. RIO DE JANEIRO: REVISTAS ACADÊMICAS, 2023.
FREITAS, V. G. Feminismos e interseccionalidade: Mulheres negras, protagonistas de suas histórias. Paco e Lettera, 2020.
GARCIA, DANLER. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NEGRA NO BRASIL: PONDERAÇÕES DESDE UMA CRIMINOLOGIA INTERSECCIONAL. REVISTA BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA DO DIREITO, V. 7, N. 2, P. 97-120, 2020.
GONÇALVES, M. S. MULHERES NEGRAS E FEMINICÍDIO: UMA ANÁLISE INTERSECCIONAL. CADERNOS PAGU, N. 66, P. 87-104, 2021.
GONÇALVES, SUELEN AIRES. “VIDAS MATÁVEIS”: FEMINICÍDIO DE MULHERES NEGRAS E INTERSECCIONALIDADES DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE. 2022.
IBGE. SÍNTESE DE INDICADORES SOCIAIS: UMA ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA. 2021. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.IBGE.GOV.BR. ACESSO EM: 24 SET. 2023.
LIMA, S. A. Desigualdade racial na educação: desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Educação, v. 27, n. 78, p. 45-67, 2022.
MELO, J. C. Interseccionalidade e feminismo: as lutas das mulheres negras no Brasil. Revista de Estudos Feministas, v. 32, n. 1, p. 85-102, 2024.
MENDES, L. A. POLÍTICAS PÚBLICAS E FEMINICÍDIO: AVANÇOS E DESAFIOS.
CADERNOS DE GÊNERO E DIREITOS HUMANOS, V. 9, N. 1, P. 45-60, 2022. MOURA, L. G. Feminicídio e raça: uma análise do papel do Estado. Revista Brasileira de Sociologia do Direito, v. 8, n. 2, p. 120-135, 2023.
NEVES, J. B. As artes de ser nas escrevi vencias de mulheres negras. 2022. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pelotas.
NOGUEIRA, L. S. O PAPEL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA LUTA CONTRA O FEMINICÍDIO NO BRASIL. REVISTA BRASILEIRA DE POLÍTICA E SOCIOLOGIA, V. 18, N. 1, P. 50-69, 2020.
NOGUEIRA, R. F. A influência do racismo estrutural na saúde mental da população negra. Revista Brasileira de Psicologia Social, v. 9, n. 3, p. 75-89, 2021.
NOGUEIRA, T. A. O FEMINICÍDIO NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA LEI Nº 13.104/2015. REVISTA BRASILEIRA DE DIREITO PENAL, V. 8, N. 2, P. 99-116, 2020.
OLIVEIRA, T. L. Feminismo e racismo: diálogos necessários na luta por direitos. 2021.
PEREIRA, A. C. A IMPUNIDADE NO FEMINICÍDIO: UM DESAFIO PARA A JUSTIÇA BRASILEIRA. REVISTA BRASILEIRA DE SEGURANÇA PÚBLICA, V. 15, N. 3, P. 112-128, 2021.
PEREIRA, F. M. FEMINICÍDIO: ENTRE A LEGISLAÇÃO E A REALIDADE. REVISTA BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA DO DIREITO, V. 9, N. 2, P. 75-90, 2021.
PEREIRA, F. M. Racismo na mídia: representações da população negra na publicidade brasileira. Revista Brasileira de Comunicação e Sociedade, v. 15, n. 1, p. 92-110, 2020.
PINA, SELMA CRISTINA TOMÉ; DA SILVA PEREIRA, FERNANDA MORATO; SILVA, JUVÊNCIO BORGES. DISCRIMINAÇÃO INTERSECCIONAL-RACIAL E DE
GÊNERO: UMA ABORDAGEM SÓCIOJURÍDICA DA SITUAÇÃO DA MULHER NEGRA NO BRASIL. REVISTA PARADIGMA, V. 29, N. 3, P. 263-294, 2020.
RIBEIRO, L. P. Racismo e gênero: a intersecção de opressões na sociedade contemporânea. Revista de Estudos de Gênero, v. 10, n. 2, p. 150-167, 2021.
RIBEIRO, MARIANA. RACISMO, GÊNERO E FEMINICÍDIO: O IMPACTO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NEGRAS NO BRASIL. BRASÍLIA: EDITORA ACADÊMICA, 2018.
RUZZA, S. Violência Feminicida no Rio de Janeiro: A Realidade Interseccional da Mulher Carioca. Enepcp, 2023.
SANTOS, PEDRO. POLÍTICAS PÚBLICAS E FEMINICÍDIO: A FALHA NA PREVENÇÃO E PROTEÇÃO ÀS VÍTIMAS NO BRASIL. BELO HORIZONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2019.
SILVA, LUANA. A REVITIMIZAÇÃO NAS DELEGACIAS: DESAFIOS ENFRENTADOS POR MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA NO BRASIL. SALVADOR: EDITORA LEGAL, 2017.
SILVA, R. A. A interseccionalidade nas políticas públicas: uma análise crítica. 2022. SOARES, C. B. et al. Interseccionalidade de gênero e raça na docência do ensino superior: representatividade, visibilidade e resistência. 2020.
SOARES, G. M. Feminicídio no Brasil: uma reflexão do direito penal em seus aspectos preventivos e reeducativos. 2023.
SOUZA, A. R. MOVIMENTOS FEMINISTAS E A LUTA CONTRA O FEMINICÍDIO. REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS DE GÊNERO, V. 10, N. 4, P. 200-215, 2023.
SOUZA, F. R. POLÍTICAS PÚBLICAS E A PROTEÇÃO DAS MULHERES: UMA ANÁLISE DO ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE FEMINICÍDIO. REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS DE GÊNERO, V. 22, N. 1, P. 73-91, 2022.
SOUZA, J. B. O racismo estrutural e mulheres negras: a atuação do Serviço Social em defesa das lutas antirracistas. 2023.
Trabalho de Conclusão de Curso. TRINDADE, V. de M. O impacto da representação política de mulheres negras: um estudo de caso sobre a Câmara dos Deputados. 2022.
WERMUTH, M. Â. D.; NIELSSON, J. G. Necrobiopolítica de gênero no Brasil contemporâneo: o feminicídio em tempos de fascismo social. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 10, n. 2, 2020.
YAREDY, THAYNA JESUINA FRANÇA; ANDRADE, ANDRÉ LOZANO. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: FEMINISMO NEGRO E INTERSECCIONALIDADES. REVISTA BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA DO DIREITO, V. 7, N. 2, P. 97-120, 2020.
1 Discente de Enfermagem CEUNI-FAMETRO
Endereço: Rua Das Palmeiras,512 – Manaus/AM CEP:69086590
E-mail: xandsouza15@gmail.com
ORCID:0009-0009-5226-7886
2 Discente de Enfermagem CEUNI-FAMETRO
Endereço: Rua Cassia dos Coqueiros,334 – Manaus/AM CEP:69087707
E-mail: rodriguesluzieli@gmail.com
ORCID:0009-0008-1595-5199
3 Discente de Enfermagem CEUNI-FAMETRO
Endereço: Rua Paracanã,40 – Manaus/AM CEP:69088504
E-mail:josinha.portela@gmail.com
ORCIR:0009-0002-1499-7318
4 Discente de Enfermagem CEUNI-FAMETRO
Rua Primavera,81- Manaus/AM CEP:69006540
E-mail: rafilatalissaa@gmail.com
ORCID:0009-0003-1410-146X
5 Discente de Enfermagem CEUNI-FAMETRO
Rua Cacique Ângelo Cretã,16 – Manaus/AM CEP:69084540
E-mail: thiagoogabriell02@gmail.com
ORCID: 0009-0000-85540601
6 Docente e Orientador-CEUNI-FAMETRO
Rua Antônia Alves,25 Manaus/AM CEP:69093-023
E-mail:ailton.uti@gmail.com
ORCID:0009-0004-0798-525
7 Docente e coo-Orientador-CEUNI-FAMETRO
Rua Nossa Senhora de Fatima,590 blocos 15 Manaus/AM-CEP:69059420
E-mail:adriano.oliveira@fametro.edu.br
ORCID:0009-0000-7020