REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8144367
Renata Dias Furtado Mendonça1; Clara Cecília Rodrigues Mendes1; Marianne Lacerda Barreto4; Ana Carolina Oliveira1; Maria Vitória Clemente de Araújo1; Maria Eduarda Ribeiro Leão Barroso1; Márcia Viviane Silveira Schedler2; Alessa Nunes Alves1; Karina Stephany Souza Lima1; Rafaella Alves Pereira1; Ana Clara Silva Ribeiro3; Brendha Ketlyn Andrade Silva4; Patrícia Gouveia Appollonio1; Júlia Lenza Goulart1; Giulia Amorim Pires Miranda1; Laisa Manoela Araujo Cordeiro1; Lara Cândida de Sousa Machado5
RESUMO:
INTRODUÇÃO: A embolia pulmonar (EP) acontece quando um trombo, que foi formado no sistema venoso profundo, se desprende e após atravessar as cavidades direitas do coração, obstrui a artéria pulmonar ou um de seus ramos. OBJETIVO: Descrever as mudanças na incidência dos pacientes internados por embolia pulmonar no Brasil entre 2018 e 2022. MÉTODOS: Trata-se de um estudo ecológico descritivo, com abordagem quantitativa sobre as internações hospitalares por embolia pulmonar no Brasil entre 2018 e 2022. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Observou-se que no ano de 2018 houve uma incidência de internações hospitalares por embolia pulmonar no Brasil de 4,40 a cada 100 mil habitantes, a menor quando comparada aos demais. No ano de 2019 ocorreu um aumento para 4,79 e em 2020 caiu para 4,56. Considerando 2021, houve uma evidente elevação para 5,23 casos por 100 mil habitantes, essa incidência precedeu uma leve queda em 2022 para 5,14. Dessa forma, constatou-se que comparando 2018 com 2022 houve um aumento considerável. CONCLUSÃO: Foi evidenciado um aumento na incidência de internações por embolia pulmonar ao comparar 2018 com 2022 nas categorias país, região, faixa etária e sexo, com exceção da faixa de idade entre 10 e 19 anos.
Palavras-chave: Embolia pulmonar; Epidemiologia; Incidência.
INTRODUÇÃO
O tromboembolismo venoso (TEV) abrange um espectro que compreende a trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar (EP). Assim, a doença tromboembólica é a terceira doença cardiovascular aguda mais comum após as síndromes isquêmicas cardíacas e o acidente vascular encefálico. Ademais, as manifestações clínicas podem acontecer desde uma doença silenciosa até uma embolia maciça, levando à morte. Cerca de dois terços dos casos de TEV são de TVP e grande parte acomete os membros inferiores, por outro lado, um terço dos casos são de TEP. Nesse sentido, é importante ressaltar que o TEV é uma doença grave, mas que pode ser prevenida (ALBRICKER, et al. 2022).
A embolia pulmonar acontece quando um trombo, que foi formado no sistema venoso profundo, se desprende e após atravessar as cavidades direitas do coração, obstrui a artéria pulmonar ou um de seus ramos. A existência de fatores de risco para o tromboembolismo venoso é um ponto inicial para que o médico aumente sua suspeita clínica e realize a adequada profilaxia. Visto que a EP possui uma apresentação clínica inespecífica, torna-se difícil o diagnóstico. A localização, tamanho do trombo e o estado cardiorrespiratório prévio do paciente influenciam diretamente nos sinais e sintomas. Essa doença pode ser classificada pelas síndromes clínicas: colapso circulatório, dispnéia não explicada e dor torácica do tipo pleurítica. Dentre os achados clínicos nas embolias pequenas, também chamadas de sub maciças, estão a dor torácica, dor pleurítica, dispnéia, taquipnéia, tosse, hemoptise, taquicardia, febre e cianose. Em se tratando das embolias grandes (maciças) os achados clínicos incluem síncope, hipotensão arterial/choque, taquicardia, dispnéia e cianose (CARAMELLI, et al. 2004).
Os scores de risco clínico de Wells ou de Genebra são habitualmente utilizados em casos suspeitos de TEP. As estratégias diagnósticas dependem da estabilidade hemodinâmica do paciente. Além do quadro clínico e do D-dímero, as técnicas complementares recomendadas para diagnóstico de TEP incluem a cintilografia com V/Q Spect, o ecocardiograma e a angiotomografia pulmonar (ALBRICKER, et al. 2022).
Diante da importância epidemiológica dessa doença, destacou-se a relevância da realização de um estudo com o objetivo de descrever as mudanças na incidência dos pacientes internados por embolia pulmonar no Brasil entre 2018 e 2022. Essa pesquisa irá contribuir para um maior número de evidências epidemiológicas que podem auxiliar no diagnóstico precoce.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo ecológico descritivo (MERCHÁN-HAMANN, et al. 2021), com abordagem quantitativa sobre as internações hospitalares por embolia pulmonar no Brasil entre 2018 e 2022. Incluiu-se na pesquisa dados sobre a morbidade hospitalar do SUS por local de residência contidos no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).
Foram considerados como critérios de elegibilidade, dados referentes às internações por embolia pulmonar no Brasil entre janeiro de 2018 e dezembro de 2022. Para a avaliação epidemiológica utilizou-se as variáveis: país, região, faixa etária e sexo. Dados classificados como ignorados ou em branco foram desconsiderados porque poderiam subestimar os resultados finais.
A análise de dados foi feita e organizada em tabelas, a partir do software Microsoft Excel®, contendo as quantidades de internações por embolia pulmonar. Calculou-se a incidência a partir da frequência absoluta e projeções populacionais para, em um segundo momento, descrever de forma discursiva uma comparação entre os principais indicadores em que ocorreram oscilações nos números de casos no território brasileiro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1.1 Incidência anual de internações por embolia pulmonar no Brasil entre 2018 e 2022.
Circunstâncias em que haja um ou mais dos componentes da tríade de Virchow (estase venosa, lesão endotelial e estado de hipercoagulabilidade) são favoráveis para o surgimento da trombose (CARAMELLI, et al. 2004). No Brasil, consoante registros do Ministério da Saúde coletados entre os anos de 2010 e 2021, o número de internações relacionadas ao tromboembolismo venoso ultrapassou 520 mil, com um total de mais de 67.000 óbitos entre 2010 e 2019. Ademais, sabe-se que um terço dos casos de TEV são casos de tromboembolismo pulmonar (ALBRICKER, et al. 2022).
Observou-se que no ano de 2018 houve uma incidência de internações hospitalares por embolia pulmonar no Brasil de 4,40 a cada 100 mil habitantes, a menor quando comparada aos demais. No ano de 2019 ocorreu um aumento para 4,79 e em 2020 caiu para 4,56. Considerando 2021, houve uma evidente elevação para 5,23 casos por 100 mil habitantes, essa incidência precedeu uma leve queda em 2022 para 5,14, conforme pode ser observado no gráfico 1. Dessa forma, constatou-se que comparando 2018 com 2022 houve um aumento considerável.
Conforme Briceño-Mayorga, et al. (2021) estudos demonstraram uma incidência mais elevada de embolia pulmonar em pacientes críticos com coronavírus do que naqueles admitidos em unidades de terapia intensiva por outras causas respiratórias. Paralelamente ao autor, no presente estudo observou-se um aumento considerável nas internações por embolia pulmonar especialmente no ano de 2021 em que a pandemia era uma realidade.
Gráfico 1: Incidência anual de internações por embolia pulmonar no Brasil entre 2018 e 2022 a cada 100.000 habitantes.
Fonte: DATASUS, 2023.
1.2 Incidência anual de internações por embolia pulmonar nas macrorregiões do Brasil entre 2018 e 2022.
Gráfico 2: Incidência anual de internações por embolia pulmonar nas macrorregiões do Brasil entre 2018 e 2022 a cada 100.000 habitantes.
Fonte: DATASUS, 2023.
A região Norte foi a com a minoria das incidências, sendo que em 2021 houve a mais singela, 0,76 a cada 100 mil habitantes, em comparação, a mais evidente ocorreu em 2022 e foi de 1,12. Em se tratando do Nordeste, essa região apresentou maiores incidências apenas com relação a região Norte, sendo assim, 2019 foi o ano de maior ocorrência com 2,47, enquanto 2020 foi o ano menos incidente com 2,14 por 100 mil habitantes.
O Centro-Oeste ocupou uma posição intermediária no presente estudo. Em 2018 apresentou uma incidência de 4,19 por 100 mil habitantes, que foi a menor dessa região, em contrapartida 2021 foi o ano de maior contraste com uma incidência de 5,42. O Sudeste foi o segundo maior em incidência, se por um lado 2018 obteve a menor, 5,65 por 100 mil habitantes, por outro lado, em 2021 foi o pico da região que atingiu 6,94.
A região de maior incidência de internações por embolia pulmonar foi a Sul, em que no ano de 2018 obteve uma incidência de 7,28 casos a cada 100 mil habitantes. Posteriormente, nos anos de 2019 e 2020 atingiu 7,41 e 7,47 respectivamente. Em seguida, houve uma incidência de 8,46 em 2021 e 8,18 em 2022, como foi ilustrado no gráfico 2.
Segundo a literatura, diversas pesquisas relacionam a presença de tromboembolismo venoso com variações no clima. Assim, Ohki, et al. (2017) atribuíram as maiores incidências de TEV do Sul às baixas temperaturas dessa região. No presente estudo, as maiores incidências também foram encontradas nas regiões que registram temperaturas mais baixas, enquanto as menores, foram observadas nas regiões mais próximas da linha do equador, logo, regiões com temperatura mais elevada.
1.3 Incidência anual de internações por embolia pulmonar por faixa etária no Brasil entre 2018 e 2022.
Tabela 1: Incidência anual de internações por embolia pulmonar segundo faixa etária no Brasil entre 2018 e 2022 a cada 100.000 habitantes.
Faixa Etária | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 |
0 a 9 anos | 0.04 | 0.04 | 0.06 | 0.10 | 0.10 |
10 a 19 anos | 0.37 | 0.32 | 0.30 | 0.35 | 0.32 |
20 a 29 anos | 1.93 | 2.01 | 1.85 | 1.86 | 1.97 |
30 a 39 anos | 3.28 | 3.47 | 3.30 | 3.56 | 3.42 |
40 a 49 anos | 4.75 | 5.68 | 5.12 | 5.34 | 5.06 |
50 a 59 anos | 6.33 | 6.62 | 6.19 | 7.56 | 6.86 |
60 a 69 anos | 11.63 | 11.83 | 11.54 | 12.60 | 11.95 |
70 a 79 anos | 19.16 | 20.70 | 18.80 | 21.91 | 21.89 |
80 anos e mais | 31.77 | 33.45 | 31.30 | 37.22 | 36.56 |
Fonte: DATASUS, 2023.
Considerando o cálculo da incidência de internações por embolia pulmonar multiplicado por 100 mil habitantes, os indivíduos de 0 a 19 anos obtiveram incidências muito baixas, sendo menores que 1 internação em todos os anos do estudo. A faixa etária entre 20 e 29 anos obteve valores próximos a 2, enquanto pessoas na faixa de 30 a 39 anos ficaram entre 3 e 4 internações. Ademais, a faixa de idade 40 a 49 oscilou entre 5 e 6 aproximadamente.
Com relação às pessoas entre 50 e 59 anos houve uma variação de 6 a 8 internações. Indivíduos de 60 a 69 ficaram próximos a 12 e 13. A partir de então, a incidência aumentou consideravelmente, visto que na faixa de idade de 70 a 79 anos houve cerca de 19 a 22. É importante destacar a faixa etária com maior incidência que foi a de 80 anos ou mais ficando entre 31 e 37 internações.
Estudos indicam que o TEV aumenta exponencialmente com a idade, mesmo com a aplicação de estratégias de prevenção (MAZZOLAI, et al. 2018). É válido relembrar que segundo Albricker, et al. (2022) a embolia pulmonar é um dos componentes do TEV e representa 1/3 do total. Sendo assim, o presente estudo observou que quanto maior a idade, maiores foram os números de internações por embolia pulmonar em todos os anos do estudo.
1.4 Incidência anual de internações por embolia pulmonar por sexo no Brasil entre 2018 e 2022 a cada 100.000 habitantes.
Gráfico 3: Incidência anual de internações por embolia pulmonar conforme sexo no Brasil entre 2018 e 2022 a cada 100.000 habitantes.
Fonte: DATASUS, 2023.
Se por um lado a incidência a cada 100 mil habitantes entre os homens foi de 3,31 (2018), 2,70 (2019), 3,59 (2020), 4,46 (2021) e 4,09 (2022), por outro lado, entre as mulheres foi de 5,47 (2018), 5,85 (2019), 5,51 (2020), 5,98 (2021) e 6,16 (2022). É válido ressaltar que ao comparar 2018 com 2022 houve um aumento da incidência em ambos os sexos.
De acordo com os autores Albricker et al. (2022) as mulheres são afetadas com maior frequência pelo TEV na juventude, especialmente no puerpério. Alguns fatores que aumentam o risco dessa patologia na gestação são o uso de tabaco, trombofilia e/ou história prévia de TEV. Além disso, outros contextos que podem colaborar para o surgimento da doença são a imobilidade prolongada, obesidade, neoplasias, cirurgias de grande porte com longo tempo anestésico, politraumatismos, varizes de membros inferiores, terapia de reposição hormonal e doenças cardiovasculares. Dessa forma, conforme os dados coletados e expostos no gráfico 3, constata-se que a incidência anual de internações por embolia pulmonar foi maior entre pessoas do sexo feminino em todos os anos, confirmando a afirmação do autor supracitado.
CONCLUSÃO
Mediante ao exposto, é possível compreender certas mudanças no panorama da incidência dos pacientes internados por embolia pulmonar. Sendo assim, observa-se que de 2018 para 2022 houve um aumento na incidência anual ao considerar todas as internações no território brasileiro. Essa tendência também foi notada quando as macrorregiões foram analisadas individualmente.
Outro importante achado foi que quanto maior a idade, maiores foram os números de internação por embolia pulmonar em todos os anos do estudo. Dessa maneira, com exceção da faixa etária entre 10 e 19 anos, todas apresentaram aumento na incidência ao comparar 2018 com 2022. Além disso, o sexo feminino foi o mais incidente em todos os anos do estudo. Também é válido ressaltar que ambos os sexos aumentaram em termos de incidência de 2018 para 2022.
REFERÊNCIAS
ALBRICKER, A. C. L. et al. Joint Guideline on Venous Thromboembolism – 2022. Arq. Bras. Cardiol. v.118, n.4, p.797-857, 2022.
BRASIL, Ministério da Saúde. Banco de dados do Sistema Único de Saúde-DATASUS. Morbidade Hospitalar do SUS. Disponível em: <https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/>. Acesso em: 23 de junho de 2023.
BRICEÑO-MAYORGA, G. P. et al. Fatores de risco para embolia pulmonar em pacientes com COVID-19 anticoagulados na unidade de terapia intensiva submetidos à angiografia por tomografia computadorizada. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v, 33, n, 3, p. 346-352, 2021.
CARAMELLI, B. et al. Diretriz de Embolia Pulmonar. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 83, p.1-8, 2004.
MAZZOLAI, L. et al. Diagnosis and management of acute deep vein thrombosis: a joint consensus document from the European Society of Cardiology working groups of aorta and peripheral vascular diseases and pulmonary circulation and right ventricular function. Eur. Heart J. v. 39, n. 47, 2018.
MERCHÁN-HAMANN, et al. Proposta de classificação dos diferentes tipos de estudos epidemiológicos descritivos. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 30, n. 1, 2021.
OHKI, A. V. et al. A incidência regional do trombembolismo venoso no Brasil. J. Vasc. Bras. v. 16, n. 3, p. 227-231, 2017.
1Graduanda em Medicina, Universidade de Rio Verde – GO
2Graduanda em Medicina, Universidade Federal da Bahia – BA
3Graduanda em Medicina, Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES) – GO
4Graduanda em Fisioterapia, Universidade de Rio Verde – GO
5Docente – Prof.a Ma. da Faculdade de Medicina pela Universidade de Rio Verde, GO.