INTERNAÇÕES HOSPITALARES PARA RECONSTRUÇÃO DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR NO NORDESTE DE 2013 A 2022: UM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10035044


Leonardo Barros Monteiro Paulo Vieira1
Paulo Eduardo Moura Wehmuth Sampaio2
Aureliano Machado de Oliveira3


RESUMO

Este estudo investigou as variáveis epidemiológicas que interferem na internação para reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA) no Nordeste do Brasil no período de 2013 a 2022. Os dados foram obtidos a partir do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), do Ministério da Saúde. Houve 10.020 internações para reconstrução do LCA no Nordeste. A maioria foi eletiva (77,67%), com valor médio de R$2.375,93 é uma média de permanência de 1,8 dias. A Bahia foi o estado com o maior número de internações (38,81%), seguida pelo Maranhão (18,57%) e Ceará (12,69%). A maioria das internações foi eletiva, o que sugere que o procedimento é, na maioria das vezes, planejado com antecedência. A Bahia se destacou em relação ao número de internações, o que pode ser explicado pelo fato de ser o estado mais populoso da região. O Rio Grande do Norte registrou o menor número de internações, o que pode ser reflexo de diferenças nos determinantes de saúde e no acesso aos cuidados de saúde entre os estados. Não foi possível construir dados sobre a faixa etária, sexo e cor/raça dos pacientes, devido a ausência dos mesmos no item de produtividade do SIH. São necessários estudos adicionais para investigar as tendências e os fatores que influenciam essas internações.

ABSTRACT

This study investigated the epidemiological variables that interfere with hospitalization for anterior cruciate ligament (ACL) reconstruction in Northeast Brazil from 2013 to 2022. The data were obtained from the Hospital Information System (SIH), from the Ministry of Health. There were 10,020 hospitalizations for ACL reconstruction in the Northeast. The majority were elective (77.67%), with an average value of R$2,375.93 and an average stay of 1.8 days. Bahia was the state with the highest number of hospitalizations (38.81%), followed by Maranhão (18.57%) and Ceará (12.69%). The majority of hospitalizations were elective, which suggests that the procedure is, most of the time, planned in advance. Bahia stood out in relation to the number of hospitalizations, which can be explained by the fact that it is the most populous state in the region. Rio Grande do Norte recorded the lowest number of hospitalizations, which may reflect differences in health determinants and access to health care among states. It was not possible to construct data on age group, sex and color/race of patients, due to their absence in the SIH productivity item. Additional studies are needed to investigate trends and factors influencing these hospitalizations.

INTRODUÇÃO

A reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA), também conhecida como ligamentoplastia, é uma técnica realizada por artroscopia para reproduzir de forma anatómica o ligamento danificado (Lustosa; Fonseca; Andrade, 2007)5. Esta técnica tem uma aplicação significativa na área da saúde, especialmente no tratamento de lesões esportivas, onde a lesão do LCA é comum.

A cirurgia tem como objetivo criar uma réplica do ligamento original, e é necessário um programa de reabilitação para se obter as mesmas capacidades funcionais comparadas ao membro não operado. No entanto, existem limitações atuais nesse procedimento, como o tempo de recuperação e a necessidade de reabilitação. As perspectivas futuras promissoras incluem a melhoria das técnicas cirúrgicas e programas de reabilitação mais eficazes (Arliani et al., 2012)1.

A compreensão das variáveis epidemiológicas que interferem na necessidade de internação para reconstrução do LCA, tem um papel central no enfrentamento dos desafios atuais na saúde. Por exemplo, a lesão do LCA ocorre com mais frequência em jogadores de futebol e basquete, apresenta uma incidência proporcionalmente maior entre as mulheres, principalmente na fase pré-ovulatória (Costa; Drumond; Braga, 2023)4. Isso ocorre porque as mulheres geralmente apresentam respostas motoras mais lentas e abdutores do quadril fracos. Durante a ovulação, os tendões e ligamentos relaxam e esticam. Além disso, geralmente apresentam ligamentos menores e outras alterações anatômicas que as tornam propensas a lesões. Essas variáveis podem influenciar a necessidade de internação e o planejamento do tratamento.

Assim sendo, o objetivo deste trabalho é investigar as variáveis epidemiológicas que interferem na necessidade de internação para reconstrução do LCA no Nordeste e discutir suas implicações para o campo da saúde, buscando compreender quais são as principais variáveis epidemiológicas que influenciam a necessidade de internação para reconstrução do LCA na região, e como essas variáveis podem ser usadas para melhorar o planejamento do tratamento e enfrentar os desafios atuais na saúde.

MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa tem desenho ecológico, abordagem transversal e caráter documental, cujos dados são secundários e foram obtidos através da do banco de dados DATASUS, sitiado na plataforma Tabnet do Ministério da Saúde do Brasil, utilizando dentre seus indicadores epidemiológicos o item de Produção Hospitalar do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), no qual constam informações sobre procedimentos realizados em pacientes hospitalizados, e sobre sua mortalidade.

Em conformidade com o padrão metodológico preconizado por Pereira et al. (2018)6, a amostra foi composta por pacientes internados para realização do procedimento de reconstrução do ligamento cruzado anterior, atendidos em hospitais públicos e privados do estado do Nordeste no intervalo de tempo de janeiro de 2013 até dezembro de 2022, cujas autorizações de internação hospitalar foram organizadas em dados consolidados por local de internação. As variáveis utilizadas foram cor/raça, faixa etária e mortalidade anual por internação representada em percentual.

As variáveis utilizadas na extração e tabulação dos dados foram: o número de internações, sexo, e cruzadas com características como ano de processamento, região, faixa etária, etnia, média de permanência e taxa de mortalidade.

A estatística descritiva simples foi utilizada para examinar os dados, por meio de frequências absolutas e relativas, fornecendo uma visão geral das tendências e padrões observados nas internações. Os resultados do estudo foram apresentados em tabelas e gráficos, desenvolvidos com o software Google Planilhas, para facilitar a compreensão dos dados.

Este estudo foi conduzido de acordo com a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que estabelece que pesquisas que utilizem informações de domínio público não precisam ser registradas ou avaliadas pelo sistema Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), conforme a Lei nº 12.527/2011. Como o Sistema de Informações Hospitalares (SIH) já disponibiliza dados em conformidade com a resolução, não foi necessário submeter o estudo ao sistema CEP/CONEP (Brasil, 2016)3.

RESULTADOS e DISCUSSÃO

Os dados coletados de 2013 a 2022 indicam um total de 10.020 internações para reconstrução do ligamento cruzado anterior no Nordeste, com um valor médio de internação de R$2.375,93 e uma média de permanência de 1,8 dias.

Em relação às internações por ano, 2014 teve o maior número de internações com 1.053 (10,51% do total), enquanto 2020 teve o menor número com 779 (7,77% do total). O valor médio da internação variou, sendo o mais alto em 2022 com R$2.572,74 e o mais baixo em 2019 com R$2.212,10.

Gráfico 1 – Distribuição em colunas das internações para reconstrução do LCA ao longo dos anos. Nordeste, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Nordeste (datasus.gov.br).

Quanto ao caráter do atendimento, a maioria das internações foi eletiva com 7.785 (77,67% do total), enquanto as internações de urgência foram significativamente menores com 2.155 (21,51% do total).

Gráfico 2 – Distribuição em pizza das internações para reconstrução do LCA conforme caráter de atendimento. Nordeste, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Nordeste (datasus.gov.br).

No que diz respeito às internações por unidade da federação, a Bahia teve o maior número de internações com 3.889 (38,81% do total), seguida pelo Maranhão com 1.861 (18,57% do total) e Ceará com 1.272 (12,69% do total). O Rio Grande do Norte teve o menor número de internações com 49 (0,49% do total). O valor médio da internação foi mais alto em Alagoas com R$2.509,37 e mais baixo no Sergipe com R$2.063,30.

Gráfico 3 – Distribuição em colunas das internações para reconstrução do LCA segundo Unidade Da Federação. Nordeste, 2013 a 2022.

Fonte: TabNet Win32 3.0: Morbidade Hospitalar do SUS – por local de internação – Nordeste (datasus.gov.br).

Não foi possível construir dados sobre a faixa etária, sexo e cor/raça dos pacientes, devido a ausência dos mesmos no item de produtividade do SIH.

CONCLUSÃO

A partir dos dados apresentados, foi possível demonstrar que a maioria das internações foi eletiva, o que evidencia que esse procedimento é, na maioria das vezes, planejado com antecedência. Por outro lado, também houve uma quantidade significativa de internações em caráter de urgência.

Em relação às internações por unidade da federação, a Bahia se destacou, e ressalte-se que este é o estado mais populoso da região Nordeste, enquanto o Rio Grande do Norte registrou a menor quantidade. Isso reflete diferenças nos determinantes de saúde de cada população, e no acesso aos cuidados de saúde entre os estados, o que consequentemente interfere na incidência da lesão e no volume de procedimentos realizados.

Em síntese, esta pesquisa fornece uma visão ampla das internações para reconstrução do ligamento cruzado anterior no Nordeste ao longo de uma década. Os resultados demonstram a relevância e o impacto na saúde e custos público-privados deste procedimento na prática ortopédica e fornecem uma base para futuras pesquisas sobre as tendências e os fatores que influenciam essas internações.

REFERÊNCIAS

  1. ARLIANI, G. G. et al. Lesão do ligamento cruzado anterior: tratamento e reabilitação. Perspectivas e tendências atuais. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 47, n. 2, p. 191–196, mar. 2012.
  2. BRASIL. Banco de dados do Sistema Único de Saúde – DATASUS. Ministério da Saúde. Disponível em:http://www.datasus.gov.br. Acesso em: 14 out. 2023.
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Diário Oficial da União, n. 98, p. 44-46, 2016.
  4. COSTA, Laura; DRUMOND, Ana; BRAGA, Bruna. Influência do ciclo menstrual nas lesões de ligamento cruzado anterior (LCA) em atletas femininas. E-Scientia, 2023.
  5. LUSTOSA, L. P.; FONSECA, S. T. DA .; ANDRADE, M. A. P. DE . Reconstrução do ligamento cruzado anterior: impacto do desempenho muscular e funcional no retorno ao mesmo nível de atividade pré-lesão. Acta Ortopédica Brasileira, v. 15, n. 5, p. 280–284, 2007.
  6. PEREIRA, A. S. et al. Metodologia da pesquisa científica. UFSM, 2018. 119p.

1,2 Acadêmicos de Medicina do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina-PI;

3 Profissional em Educação Física pela Universidade Estadual do Nordeste, Teresina-PI; Docente do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina-PI;