INTERFERÊNCIAS DA ANSIEDADE SOCIAL NA COMUNICAÇÃO E COGNIÇÃO: UM RELATO DE CASO CLÍNICO

INTERFERENCES OF SOCIAL ANXIETY IN COMMUNICATION AND COGNITION: A CLINICAL CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202509221537


Marina Brandão da Rocha Rodrigues¹


Resumo 

A ansiedade social (AS) é um transtorno caracterizado pelo medo intenso de avaliação negativa em contextos sociais, afetando comunicação e funções cognitivas. Este relato descreve um caso clínico de um paciente adulto com AS, detalhando interferências observadas na fala, prosódia, atenção e memória de operacional. Foram registradas pausas frequentes, hesitação, ruminação e atenção seletiva para sinais de avaliação externa. 

Intervenções baseadas em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapia Comportamental Dialética (DBT) mostraram potencial para reduzir impactos na comunicação e na cognição. O estudo evidencia a importância de avaliação individualizada e estratégias terapêuticas integradas para promover melhor adaptação social e profissional. 

Palavras chaves: Ansiedade social; comunicação; relato de caso. 

Abstract 

Social anxiety (SA) is a disorder characterized by intense fear of negative evaluation in social situations, affecting communication and cognitive functions. This case report describes an adult patient with SA, detailing observed interferences in speech, prosody, attention, and working memory. Frequent pauses, hesitation, rumination, and selective attention to external evaluation cues were recorded. Interventions based on Cognitive Behavioral Therapy (CBT) and Dialectical Behavior Therapy (DBT) showed potential to reduce impacts on communication and cognition. The study highlights the importance of individualized assessment and integrated therapeutic strategies to promote better social and professional adaptation. 

Keywords: Social anxiety; communication; case report. 

Introdução 

A ansiedade social (AS) é um transtorno comum, caracterizado por medo intenso de avaliação negativa em situações sociais ou de desempenho. Além de repercutir no âmbito emocional, a AS pode afetar significativamente a comunicação verbal e não verbal, a atenção, a memória e outras funções cognitivas. Pacientes com AS frequentemente apresentam hesitação na fala, pausas frequentes, alterações prosódicas e dificuldades de articulação, fatores que comprometem a efetividade da comunicação e impactam diretamente no contexto social e profissional. 

A literatura tem apontado que a AS está associada a padrões cognitivos específicos, como atenção seletiva para estímulos ameaçadores, baixa autoeficácia e ruminação. Estudos recentes indicam que a AS em adultos pode se manifestar de forma heterogênea, afetando diferentes domínios cognitivos, incluindo funções executivas, memória de operacional e atenção sustentada (1,2). Entretanto, há escassez de relatos clínicos detalhados que explorem a interseção entre ansiedade social, comunicação e cognição, especialmente em adultos. Relatos de caso têm papel importante para a prática clínica, permitindo compreender nuances individuais que podem orientar intervenções terapêuticas personalizadas. O presente estudo descreve o caso de um paciente adulto com diagnóstico de AS, destacando as interferências observadas na comunicação oral e nas funções cognitivas, com base em avaliações clínicas e observações em contexto terapêutico. Este relato visa contribuir para a compreensão clínica da AS e oferecer insights sobre estratégias de intervenção integradas à prática psicológica. 

Apresentação do Caso 

O paciente, identificado como “D”, é um homem de 33 anos, graduado em engenharia, que buscou atendimento psicológico por apresentar medo intenso de se expor em situações de desempenho, principalmente em apresentações profissionais e reuniões de trabalho. Relatou histórico de evitação social desde a adolescência, associada a baixa autoestima e autocrítica excessiva. 

Durante a anamnese, D descreveu sintomas típicos de AS, como sudorese, taquicardia, tensão muscular e sensação de “travamento” da fala diante de avaliadores ou grupos de pessoas. Referiu episódios de esquiva de situações sociais relevantes, interferindo em seu desempenho acadêmico e profissional, o que corroborou o diagnóstico clínico de AS de intensidade moderada a grave (3). 

As avaliações cognitivas incluíram observações clínicas, análise da prosódia da fala, testes de atenção e memória de curto prazo, além de registro de estratégias compensatórias, como leitura prévia exaustiva e ensaios de apresentações. Durante as sessões, foram registradas pausas prolongadas, uso excessivo de muletas linguísticas (“é…”, “hum…”) e hesitação perceptível, especialmente ao expressar opiniões ou responder a questionamentos inesperados. 

Resultados/Observações Clínicas 

A análise qualitativa evidenciou interferências significativas da AS na comunicação e cognição do paciente. No âmbito verbal, observou-se: 

  • Redução da velocidade de fala em situações de exposição, associada a aumento da frequência de pausas; 
  • Alterações prosódicas, incluindo variações abruptas de intensidade e ritmo, comprometendo a clareza da mensagem; 
  • Uso frequente de termos vagos ou repetitivos, refletindo dificuldades na formulação de pensamentos complexos sob pressão (4). 

Quanto às funções cognitivas, D apresentou: 

  • Atenção seletiva voltada para sinais de avaliação externa, com tendência a desviar do conteúdo central das tarefas cognitivas; 
  • Dificuldade em manter a memória operacional durante apresentações, necessitando recorrer a anotações e ensaios prévios; 
  • Ruminação excessiva antes e após situações sociais, prolongando o tempo de preparação e aumentando o nível de ansiedade (5). 

Além disso, o paciente relatou impacto em sua rotina social, evitando eventos profissionais e acadêmicos, o que reforça a influência da AS na qualidade de vida. O acompanhamento clínico revelou que estratégias de regulação emocional, treino de habilidades sociais e práticas de mindfulness puderam reduzir parcialmente a ansiedade, promovendo melhor desempenho comunicativo (6,7). 

Discussão 

O caso clínico de D ilustra como a AS pode gerar impacto profundo sobre a comunicação e funções cognitivas. Os achados corroboram estudos brasileiros recentes, que destacam a relação entre AS, comunicação e cognição, especialmente no contexto de indivíduos jovens adultos (1,2,3). A hesitação, pausas e alterações prosódicas observadas reforçam a importância de considerar a comunicação como indicador clínico sensível ao nível de ansiedade em contextos sociais. 

Intervenções baseadas em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapia Comportamental Dialética (DBT) têm demonstrado eficácia na modulação da AS e na promoção de habilidades sociais (5,6,8). Técnicas de exposição gradual, treino de assertividade e estratégias de regulação emocional podem reduzir o impacto da AS na comunicação e cognição, potencializando a performance funcional do indivíduo. 

Este relato também evidencia a relevância da avaliação individualizada, considerando não apenas sintomas gerais de ansiedade, mas a interferência concreta nas habilidades comunicativas e cognitivas. O acompanhamento clínico contínuo permite identificar padrões específicos de comprometimento e direcionar intervenções personalizadas, promovendo melhor adaptação social e profissional (9,10). 

Considerações Finais 

A AS exerce influência direta sobre a comunicação verbal e não verbal e sobre funções cognitivas essenciais para desempenho acadêmico, profissional e social. O presente relato de caso clínico demonstra que estratégias terapêuticas integradas, focadas em habilidades sociais e regulação emocional, são essenciais para minimizar interferências e favorecer o potencial comunicativo do paciente. 

Estudos futuros devem explorar amostras maiores e intervenções controladas, visando consolidar evidências sobre os mecanismos cognitivo-comunicativos afetados pela AS e o impacto de intervenções psicológicas direcionadas. 

Referências 

  1. Vasconcellos SJL. Personalidade, Ansiedade Social e Adaptação às Medidas de Distanciamento Social durante a Pandemia: um estudo com universitários brasileiros. Psicol Teor Pesq. 2022;38(4):e3833. doi:10.1590/1678-7153.202238433 
  2. Caetano KAS, et al. Efeitos de uma intervenção em Terapia Cognitiva Comportamental para Transtorno de Ansiedade Social sobre sintomas de ansiedade, sofrimento psíquico e viés atencional: ensaio clínico randomizado. Rev Bras Terap Cogn. 2023;19(10):82–95. doi:10.5935/1808-5687.20230010 
  3. Barros AB, Galdino MKC. A Terapia cognitivo-comportamental e mindfulness no tratamento do transtorno de ansiedade social: um estudo de caso. Rev Bras Terap Cogn. 2020;16(2):122–129. doi:10.5935/1808-5687.20200018 
  4. Almeida BTL, Faria ACD. Possíveis impactos do transtorno de ansiedade social no processo de envelhecimento: uma revisão integrativa e qualitativa. Rev Eletr Ciênc Saúde. 2024;14(1):1–15. doi:10.5935/1679-1234.20240001 
  5. Gadelha MJN, et al. Terapia Cognitivo-Comportamental pela Internet para o Transtorno de Ansiedade Social: uma revisão sistemática. Rev Bras Terap Cogn. 2021;17(2):1–10. doi:10.5935/1808-5687.20210014 
  6. Silva PGN. Ansiedade cognitiva de provas em universitários do Brasil: o papel das variáveis sociodemográficas e traços de personalidade. Rev Psicol Teor Pesq. 2022;38(1):246–255. doi:10.31211/rpics.2022.8.1.246 
  7. Frota JM da. Tratamento de fobia social através da terapia cognitivo-comportamental: uma revisão sistemática. Psicol Saúde Debate. 2025;10(1):1–12. doi:10.25118/2236-918X-10-1-1 
  8. Knijnik DZ, Trachtenberg E. Terapia cognitivo-comportamental no transtorno de ansiedade social – uma proposta de exercício sistemático: ciclo da ansiedade social e ciclo alternativo da ansiedade social. Debates Psiquiatr. 2015;5(5):16–20. doi:10.25118/2236-918X-5-5-3 
  9. Matias BS. Os transtornos de ansiedade durante a pandemia no Brasil: uma revisão crítica. Rev Bras Saúde Mental. 2022;44(3):1–10. doi:10.5935/2236-918X.20220003 
  10. Lopes KP. Terapia cognitivo-comportamental e sintomas de ansiedade social no retorno às atividades presenciais: uma análise qualitativa. Rev Bras Psicologia Saúde. 2022;10(2):45–58. doi:10.25118/2236-918X-10-2-45

¹Psicóloga. Especialista em Perícia Psicológica. Formação em Terapia Cognitivo-Comportamental. Aluna especial do Mestrado da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL – E-mail: marina.rodrigues@academico.uncisal.edu.br