INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM GESTANTES PORTADORAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) E DIABETES MELLITUS GESTACIONAL (DMG): UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

DRUG INTERACTIONS IN PREGNANT WOMEN WITH SYSTEMIC ARTERIAL HYPERTENSION (SAH) AND GESTATIONAL DIABETES MELLITUS (GDM): A BIBLIOGRAPHICAL REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202412120657


Bruna Lohanna Osório Benvindo1
Grasielle dos Santos Macêdo2
Lucas Rodrigues Cipriano3
Leonardo Luis Batista Cardoso4


RESUMO

O presente trabalho trata do período gestacional, caracterizado por alterações fisiológicas que podem causar problemas, como hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes mellitus gestacional (DMG) Essas condições requerem intervenções medicamentosas específicas, que podem causar reações adversas. O objetivo deste estudo foi analisar as interações medicamentosas em gestantes tratadas para HAS e DMG. Esta pesquisa qualitativa descritiva está fundamentada em uma revisão narrativa da literatura. Estudos foram identificados nas bases SciELO, PubMed e Google Acadêmico nos anos de 2019 a 2024. Os resultados demonstram que o excesso de ferro pode afetar a função pancreática e aumentar a resistência à insulina, enquanto a interação entre ferro e metildopa reduz sua absorção, podendo causar anemia e dificultar o controle da pressão arterial; além disso, o uso prolongado de metformina pode diminuir os níveis de vitamina B12, e a suplementação de folato (≥400 μg/dia) pode reduzir o risco de diabetes gestacional.

Ademais, o manejo adequado inclui ajustes nas doses, monitoramento de parâmetros clínicos e a priorização de alternativas terapêuticas seguras. Portanto, a atenção farmacêutica é fundamental para reduzir os riscos associados ao uso de medicamentos, especialmente na saúde materno-fetal, onde intervenções inadequadas podem trazer sérias consequências para a mãe e o bebê. Esse cuidado inclui o acompanhamento contínuo, garantindo segurança em todas as etapas do tratamento, desde a seleção das terapias até o monitoramento de interações e efeitos adversos. Além disso, envolve orientar as gestantes sobre o uso correto de medicamentos e suplementos, como o ácido fólico, essencial na prevenção de complicações gestacionais. Assim, o farmacêutico contribui para a saúde e o bem-estar materno-fetal, assegurando decisões terapêuticas fundamentadas em evidências.

Palavras-chave: gravidez; hipertensão; diabetes; manejo; interações medicamentosas; atenção farmacêutica.

ABSTRACT 

This study addresses the gestational period, characterized by physiological changes that can cause problems such as systemic arterial hypertension (SAH) and gestational diabetes mellitus (GDM). These conditions require specific drug interventions, which can cause adverse reactions. The aim of this study was to analyze drug interactions in pregnant women treated for SAH and GDM. This descriptive qualitative research is based on a narrative review of the literature. Studies were identified in the SciELO, PubMed, and Google Scholar databases from 2019 to 2024. The results demonstrate that excess iron can affect pancreatic function and increase insulin resistance, while the interaction between iron and methyldopa reduces its absorption, which can cause anemia and hinder blood pressure control; in addition, prolonged use of metformin can decrease vitamin B12 levels, and folate supplementation (≥400 μg/day) can reduce the risk of gestational diabetes. Furthermore, proper management includes dose adjustments, monitoring of clinical parameters, and prioritization of safe therapeutic alternatives. Therefore, pharmaceutical care is essential to reduce the risks associated with the use of medications, especially in maternal-fetal health, where inappropriate interventions can have serious consequences for the mother and baby. This care includes continuous monitoring, ensuring safety at all stages of treatment, from the selection of therapies to the monitoring of interactions and adverse effects. In addition, it involves guiding pregnant women on the correct use of medications and supplements, such as folic acid, which is essential in preventing gestational complications. Thus, the pharmacist contributes to maternal-fetal health and well-being, ensuring evidence-based therapeutic decisions.

Keywords: pregnancy; hypertension; diabetes; management; drug interactions; pharmaceutical care.

INTRODUÇÃO

O período gestacional é uma fase da vida da mulher marcada por uma variedade de transformações, tanto no corpo quanto no psicológico. Trata-se de uma etapa em que se espera, ao final, a chegada de uma criança saudável. No entanto, algumas dessas mudanças podem resultar em complicações, gerando consequências negativas para a mãe e/ou para o filho. (SOUSA; LINHARES; MORMINO, 2023).

O uso de terapia medicamentosa durante a gestação, embora seja essencial para o manejo de condições clínicas como a hipertensão e diabetes, exige cuidados especiais devido aos possíveis riscos ao desenvolvimento fetal. (JUSTINA et al., 2018). A administração inadequada de semelhante terapia pode elevar os riscos para mãe e feto, exigindo rigoroso acompanhamento médico. Qualquer gestação que apresente a mencionada problemática é considerada de alto risco, pois algum fator interfere no curso normal do processo (SOUSA; LINHARES; MORMINO, 2023).

Na intenção de instruir tanto os profissionais quanto às gestantes, a Food and Drug Administration (FDA) classifica os medicamentos em cinco categorias de risco: categoria A, quando não representa risco ao feto; categoria B, quando não demonstra risco ao feto nos estudos em animais, mas carece de estudos confirmados em gestantes; categoria C, quando apresenta efeitos adversos ao feto de animais, porém sem estudos confirmados em gestantes; categoria D, quando implica risco fetal, sendo indicada apenas quando os benefícios para a gestante superam os potenciais riscos; e, categoria X, quando tem o uso proibido durante o período gestacional. As mesmas categorias também são aplicadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (JUSTINA et al., 2018).

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são condições de saúde não infecciosas que se desenvolvem ao longo do tempo e podem levar a incapacidades funcionais (FIGUEIREDO; CECCON & FIGUEIREDO, 2021).

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição crônica caracterizada por pressão sanguínea persistentemente elevada, definida como 140/90 mmHg ou superior. Tal condição afeta entre 4% e 8% das mulheres grávidas e pode se manifestar apenas durante a gestação (hipertensão gestacional) ou ser uma complicação de hipertensão pré-existente que se agrava durante a gravidez (ARAÚJO; TESCAROLLO & ANTÔNIO, 2019; MENDONÇA et al., 2021). Por sua vez, o Diabetes Mellitus Gestacional (DMG), que afeta entre 2% e 10% das gestantes, também é uma condição que se desenvolve durante a gravidez e pode afetar a saúde da mãe após o parto. Isso evidencia a necessidade de um monitoramento rigoroso de ambas as doenças para garantir a saúde materno-infantil (ASENJO CE e CAMAC LA, 2020).

A farmacoterapia para Diabetes e Hipertensão durante a gestação é uma prática comum devido à diversidade de opções disponíveis. No entanto, a referida combinação pode aumentar o risco de efeitos colaterais, uma vez que as interações podem alterar a eficácia dos tratamentos e, em alguns casos, causar efeitos tóxicos (SOUSA, 2023).

Diante dos fatos mencionados, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) são desafios importantes na saúde pública durante a gestação, devido ao risco de interações medicamentosas que podem afetar mãe e feto. Este trabalho tem por objetivo examinar as interações medicamentosas relacionadas em gestantes que utilizam medicamentos para a hipertensão e DMG, identificar as interações mais comuns e significativas, discutir as principais estratégias utilizadas no manejo, e abordar estratégias para mitigar esses riscos e enfatizar o papel dos farmacêuticos no acompanhamento clínico, com a finalidade de garantir a segurança da farmacoterapia e promover a saúde materno-infantil.

METODOLOGIA

A presente pesquisa, quanto à metodologia, é de caráter descritiva e qualitativa, faz uso da técnica da revisão de literatura na modalidade narrativa. Para GIL (2008), a pesquisa descritiva tem como objetivo descrever as características de determinadas populações ou fenômenos, ou, então, estabelecimento de relações entre variáveis, sendo incluídas nesse grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. Segundo SOARES; FONSECA (2019), a pesquisa qualitativa tem como objetivo compreender e interpretar dados, explorando ideias, fatos e opiniões de forma profunda e indutiva, com foco no entendimento dos significados atribuídos pelos participantes ao contexto investigado.

A busca de estudos foi realizada a partir de um buscador, “Google Acadêmico” e de duas base de dados, “Scielo” (Scientific Electronic Library Online) e PubMed (Public/Publisher Medline), tendo como palavras-chave: “gravidez”; “hipertensão”, “diabetes”, “manejo”, “interações medicamentosas” e “atenção farmacêutica”. Foi adotada a expressão “AND” no cruzamento das palavras. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados de maneira integral em português e inglês disponibilizados online, artigos publicados de 5 anos até o ano atual, portanto a partir do ano de 2019. Os critérios de exclusão foram: qualquer elemento que não atendesse aos critérios de inclusão, como repetição e fuga da temática principal.

RESULTADO E DISCUSSÕES 

A partir dos objetivos que foram definidos no trabalho, apresentamos na tabela 1 os seguintes resultados sobre interações medicamentosas frequentes em gestantes com hipertensão arterial e diabetes gestacional, riscos à saúde materno e fetal, estratégias de manejo e a importância do acompanhamento farmacêutico. As colunas incluirão Ano, Autores, Métodos e Resultados. 

N.AnoAutoresMétodoResultados
12022Almeida et al. ¹Revisão bibliográficaA abordagem inclui tratamento medicamentoso adequado, mudanças no estilo de vida e acompanhamento rigoroso para minimizar os riscos. A atuação de profissionais de saúde é crucial no aconselhamento, controle de sintomas e prevenção de complicações.
22021Júnior; Trevisan 2Revisão bibliográfica baseado em levantamento de dados científicosO estudo enfatiza o papel fundamental do farmacêutico no manejo da diabetes mellitus gestacional (DMG), promovendo o uso adequado de medicamentos e educando gestantes. O tratamento combina intervenções farmacológicas, como insulina e metformina, e abordagens não farmacológicas, visando reduzir complicações e assegurar a saúde da mãe e do bebê.
32022Petry 3Revisão bibliográficaEstudos sobre suplementação de ferro na gravidez apontam resultados divergentes em relação ao risco de DMG: alguns estudos e uma meta-análise identificaram uma possível associação, enquanto outros não encontraram uma ligação significativa. O excesso de ferro pode aumentar os níveis de resistência à insulina e afetar negativamente a função pancreática, aumentando o risco de DMG em gestantes com altos estoques de ferro.
42019Li et al. 4Revisão bibliográfica com abordagem em estudo de coorte prospectivoO estudo verificou que a suplementação de folato (≥400 μg/dia) reduziu o risco de diabetes gestacional (DMG), com um risco relativo de 0,83. A associação foi mais forte em doses suplementares mais altas e continuou significativa mesmo após ajustes para outros nutrientes.
52021Correia 5Estudo de Caso ClínicoEstudos indicam que medicamentos como IECA e ARA II são reprovados durante toda a gestação devido ao risco de malformação fetal. 
62021Mendonça et al. 6Revisão BibliográficaO estudo destaca que o tratamento da pré-eclâmpsia e eclâmpsia frequentemente envolve o uso de medicamentos como sulfato de magnésio, para prevenção e controle de convulsões, e hidralazina, para o manejo da hipertensão.
72022Bezerra 7Estudo de Coorte prospectivoEstudos indicam sobre Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM), atribuído a inefetividade terapêutica, tratamento não otimizado e eventos adversos devido ao uso de insulina e de metildopa.
82019Tarry-Adkins; Aiken; Ozanne 8Revisão sistemática emeta-análiseO estudo apontou que as gestantes tratadas com metformina para diabetes mellitus gestacional apresentaram neonatos com pesos de nascimento significativamente mais baixos em comparação às que utilizaram insulina.
92021Santos et al. 9Revisão bibliográfica do tipo descritiva, narrativa e de abordagem qualitativaOs estudos apontam que o uso prolongado de metformina pode reduzir os níveis de vitamina B12 devido à competição com o fator intrínseco, essencial para sua absorção.
102023Bezerra et al. 10Estudo observacional de coorte prospectivoOs estudos apontam que a interação farmacocinética entre ferro e metildopa reduz a absorção de ferro, podendo causar anemia e afetar o controle da pressão arterial em pacientes gestantes que utilizam ambos, com frequência de 43,7%.
112024Silva; Souza; Couto 11Revisão Bibliográfica com abordagem em pesquisa descritiva, quantitativa e qualitativa.Os estudos apontam que a atuação do farmacêutico na gestação é crucial para garantir a adesão ao tratamento, prevenir riscos teratogênicos e fornecer educação à gestante.

TABELA 1
Fonte: Autoria própria (2024)

A tabela 2 apresenta a relação entre os objetivos específicos e os artigos correspondentes, organizando os artigos de forma a associá-los claramente a cada objetivo. Cada objetivo está vinculado a um conjunto de artigos, facilitando a identificação das publicações que fundamentam os temas abordados nesta revisão bibliográfica. A numeração dos artigos é estruturada de maneira clara, evidenciando as conexões entre os objetivos e as fontes relevantes. Além disso, cada resultado foi analisado conforme seu atendimento a um ou mais objetivos, garantindo a consistência e a relevância dos artigos selecionados.

DomíniosPublicações
Identificar as interações medicamentosas mais frequentes e clinicamente relevantes em gestantes portadoras de hipertensão arterial e diabetes mellitus gestacional, considerando os potenciais riscos e impactos à saúde materna e fetal;2, 6, 7, 9 e 10
Discutir as principais estratégias utilizadas no manejo como forma de minimização dos riscos, correlacionando os medicamentos de uso contínuo em gestantes hipertensas e diabéticas com os administrados durante a gravidez;2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8
Demonstrar a importância do acompanhamento clínico do profissional farmacêutico na identificação de interações medicamentosas e no benefício para saúde e redução dos riscos associados à farmacoterapia em gestantes.1, 2, 5, 6, 10 e 11

TABELA 2
Fonte: Autoria própria (2024)

As interações medicamentosas potenciais (IMP) ocorrem quando uma substância altera o efeito de outra ao serem administradas juntas. Em gestantes de alto risco, como as hipertensas e diabéticas, essas interações são preocupantes devido à gravidade dos casos e à falta de informações sobre os perigos associados à gravidez (BEZERRA et al.10, 2023). 

Segundo JÚNIOR; TREVISAN2 (2021), o tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional combina intervenções farmacológicas, como o uso de insulina e metformina, com abordagens não farmacológicas, visando diminuir complicações e garantir a saúde tanto da mãe quanto do bebê.

Em gestantes com pré-eclâmpsia grave e crise hipertensiva, o sulfato de magnésio é prescrito para uso profilático. No entanto, o seu uso associado com o nifedipino exige cautela, pois existe a possibilidade de hipotensão grave e depressão miocárdica, complicando ainda mais o quadro clínico. Além disso, o nifedipino pode potencializar os efeitos do sulfato de magnésio ou prolongar seu efeito de bloqueio neuromuscular. A pré-eclâmpsia é mais comum em gestantes jovens, o que torna o acompanhamento especializado essencial para melhorar os resultados clínicos, embora a adesão ao tratamento com sulfato de magnésio seja baixa (MENDONÇA et al. 6, 2021).

De acordo com BEZERRA7 (2022), de setembro de 2019 a julho de 2022, 5.607 gestantes de alto risco foram atendidas, com 571 selecionadas para análise.  A maioria tinha síndromes hipertensivas (69,7%) e DMG (57,1%).  As gestantes hipertensivas e diabéticas são mais propícias a Problemas Relacionados ao Medicamento (PRM) predominando a inefetividade terapêutica e a ocorrência de eventos adversos. Os medicamentos mais envolvidos com PRMs em gestantes foram insulinas e metildopa. A seleção de dose inadequada da insulina e reações adversas da metildopa são as principais causas de PRMs nas primeiras 48h de tratamento, com tendência a decréscimo até o 5ª dia.

Conforme SANTOS et al.9 (2021), a combinação de ácido fólico e ferro na suplementação durante a gestação tem um efeito sinérgico, aumentando os benefícios de cada nutriente de forma conjunta. O ácido fólico, indispensável para o desenvolvimento adequado do tubo neural do feto, e o ferro, essencial para a produção de hemoglobina, auxiliam na prevenção da anemia materna e favorecem a saúde tanto da mãe quanto do feto. Quando administrados em conjunto, esses nutrientes não somente garantem níveis adequados de hemoglobina, como também auxiliam no crescimento saudável do feto, reduzindo o risco de complicações relacionadas à deficiência desses nutrientes. Essa interação é crucial para uma gestação sadia e segura.

De acordo com BEZERRA10 (2023), para as gestantes que fazem uso da metildopa para tratamento da hipertensão, concomitantemente com o ferro na gestação, causa interação medicamentosa, de acordo com o estudo de 55 pacientes avaliadas onde 43,7% apresentaram as Interações Medicamentosas Potenciais (IMP) graves e obtiveram menor absorção do ferro induzida pela metildopa, medicamento este que interage formando complexos, causando desfechos clínicos significantes para as pacientes, como a anemia.

Ademais, o segundo objetivo é discutir as principais estratégias utilizadas no manejo das gestantes hipertensas e diabéticas, com foco na redução dos riscos. 

O cuidado com gestantes que apresentam diabetes gestacional exige uma abordagem multidisciplinar, em que o controle da glicemia e a estabilização da pressão arterial são essenciais para minimizar os riscos à saúde materno-fetal. Para isso, as estratégias terapêuticas incluem o uso de insulina e metformina, com ênfase na escolha de medicamentos que sejam seguros durante a gestação. As combinações dessas intervenções farmacológicas com mudanças nos hábitos de vida visam manter a glicemia em níveis adequados, enquanto o acompanhamento constante permite ajustes nas doses e prevenção de complicações, proporcionando uma evolução mais segura para a gestante e o bebê (JÚNIOR; TREVISAN2, 2021).

Além disso, conforme o estudo de PETRY3 (2022), a suplementação de ferro durante a gravidez pode aumentar o risco de diabetes gestacional, especialmente em mulheres com níveis elevados de ferro, o que pode ocorrer devido ao aumento do estresse oxidativo, prejudicando a secreção e a sensibilidade à insulina. Isso reforça a necessidade de monitorar adequadamente os níveis de ferro durante a gestação para evitar riscos adicionais.

Por outro lado, a ingestão de folato tem se mostrado associada a um menor risco de diabetes mellitus gestacional, como evidenciado no estudo de LI et al.4 (2019). A pesquisa sugere que a suplementação de folato pode ser uma estratégia eficaz no manejo nutricional para prevenir o DMG, destacando a importância de considerar fatores modificáveis, como a dieta, para promover a saúde materno-fetal, especialmente em gestantes com hipertensão e diabetes.

No que tange à hipertensão gestacional, CORREIA5 (2021) alerta que o uso de diuréticos deve ser restrito a casos de hipertensão severa, pois esses medicamentos podem comprometer a perfusão placentária e afetar negativamente o feto. As tiazidas, por exemplo, podem levar à trombocitopenia e distúrbios eletrolíticos, principalmente perto do parto. O uso de ácido acetilsalicílico, embora seguro em doses baixas, deve ser evitado em altas doses no primeiro trimestre e não ultrapassar 48 horas após a 32ª semana de gestação devido ao risco de complicações graves, como o fechamento prematuro do canal arterial e hemorragias neonatais. Dessa forma, o manejo cuidadoso na prescrição de medicamentos para gestantes com hipertensão e diabetes é fundamental para reduzir os riscos à mãe e ao bebê.

Ademais, MENDONÇA et al.6 (2021), relata que o manejo da hipertensão em gestantes com pré-eclâmpsia envolve o uso de medicamentos como hidralazina e metildopa, que ajudam a controlar a pressão arterial e prevenir complicações. O acompanhamento constante da pressão arterial e a orientação sobre a administração adequada dos medicamentos são essenciais para minimizar os riscos dessa condição durante a gestação 

Além disso, BEZERRA7 (2022) destaca a importância de adotar estratégias adequadas para reduzir os riscos associados ao uso contínuo de medicamentos em mulheres hipertensivas e diabéticas durante a gravidez. A abordagem deve ser cuidadosamente individualizada, com revisão constante das prescrições, ajuste das doses, educação sobre o uso correto e monitoramento das reações adversas.

Por fim, a pesquisa analisou 28 estudos com 3.976 mães para comparar os tratamentos de diabetes gestacional com metformina e insulina. No contexto do manejo de gestantes com diabetes gestacional, é crucial avaliar cuidadosamente a escolha entre esses medicamentos, uma vez que cada um pode ter efeitos distintos sobre o desenvolvimento fetal e infantil. A adoção de estratégias que minimizem os riscos associados ao tratamento é de suma importância (TARRY-ADKINS; AIKEN; OZANNE8, 2019).

Dessa forma, o terceiro objetivo demonstrar a relevância do acompanhamento clínico do farmacêutico, especialmente na identificação de interações farmacológicas.

A atenção farmacêutica desempenha um papel fundamental na promoção da saúde materno-infantil, especialmente em gestantes com condições de risco, como a hipertensão e o diabetes mellitus gestacional (DMG). ALMEIDA et al.1 (2021) demonstram que a monitorização da saúde de gestantes hipertensas, por meio da atenção farmacêutica, é essencial para identificar interações medicamentosas e gerenciar a farmacoterapia de forma segura, contribuindo para o bem-estar da mãe e do bebê.

Da mesma forma, JÚNIOR E TREVISAN2 (2021) enfatizam a importância do cuidado farmacêutico em gestantes com DMG, destacando que a orientação adequada pode melhorar a saúde materno-fetal, principalmente ao considerar o uso de medicamentos como a metformina e os fatores de risco associados à condição. Se comparado à insulina, o tratamento com metformina também se mostra eficaz, sendo uma alternativa no manejo do diabetes gestacional. Outro estudo mostrou que o farmacêutico contribuiu para resolver 62,7% dos problemas de terapia medicamentosa em 142 casos, e teve uma ajuda significativa de 90% no manejo de pacientes diabéticos, destacando a importância das etapas como: avaliação do paciente, planejamento do tratamento, administração de medicamentos, monitoração e revisão regular.

Quanto ao risco, CORREIA 5 (2021) alerta que a escolha de medicamentos durante a gravidez deve levar em conta os riscos e benefícios para a mãe e o feto, recomendando que intervenções farmacológicas sejam feitas apenas quando estritamente necessárias.

MENDONÇA et al.6 (2021) aponta que é indispensável a atuação do farmacêutico para detectar interações medicamentosas e assegurar que a farmacoterapia seja conduzida de maneira segura, minimizando os riscos associados ao uso de medicamentos durante a gestação.

Além disso, BEZERRA10 (2023) discute a alta incidência de interações medicamentosas potenciais em gestantes hospitalizadas e reforça a importância da monitorização terapêutica. O estudo evidencia como a intervenção farmacêutica pode identificar interações e, assim, reduzir os riscos à saúde das gestantes, especialmente em situações de alto risco. Esse enfoque é ainda mais relevante quando se considera a complexidade dos tratamentos necessários para essas mulheres.

Por fim, BASTOS DA SILVA; DE OLIVEIRA DUARTE SOUZA; FERRACIOLLI DO COUTO 11 (2024) concluem que a atuação do farmacêutico na gestação é essencial, não só para garantir o uso seguro de medicamentos, mas também para estimular a adesão ao tratamento, o que contribui diretamente para a saúde tanto da mãe quanto do feto. A assistência farmacêutica, portanto, emerge como um fator crucial para mitigar riscos e assegurar uma gestação saudável, principalmente em um contexto em que a falta de informações sobre medicamentos seguros pode ser uma preocupação significativa.

CONCLUSÃO

Diante do trabalho apresentado, a gravidez é um período de grande expectativa e preparação, mas, para mulheres com doenças crônicas, como hipertensão arterial e diabetes mellitus gestacional, a gestação requer cuidados ainda mais específicos. Quando não controladas, essas condições podem resultar em complicações graves tanto para a mãe quanto para o feto, o que torna o manejo terapêutico um desafio. As interações medicamentosas têm um papel crucial neste contexto, pois podem agravar ou prejudicar o desenvolvimento fetal.

O manejo dessas gestantes requer técnicas que amenizem os riscos, como a escolha atenta de medicamentos, posologia correta, ajuste do horário de administração e o acompanhamento constante dos níveis glicêmicos e pressóricos. Além disso, a participação ativa do farmacêutico é indispensável para identificar interações medicamentosas e assegurar que os tratamentos sejam seguros e eficazes. A atenção farmacêutica não apenas identifica riscos, como também aumenta a adesão ao tratamento, o que favorece a saúde materno-fetal.

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1Graduanda do curso de Bacharelado em Farmácia pelo Centro Universitário FAESF – UNIFAESF
2Graduanda do curso de Bacharelado em Farmácia pelo Centro Universitário FAESF – UNIFAESF
3Graduando do curso de Bacharelado em Farmácia pelo Centro Universitário FAESF – UNIFAESF
4Orientador e professor do Centro Universitário FAESF – UNIFAESF