REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10395630
Marcela Jamile dos Reis Batista1
Vanessa Pereira Tolentino 2
Natália de Fátima Gonçalves Amâncio 2
Juliana Lilis da Silva 2
RESUMO: A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma das doenças crônicas não transmissíveis mais prevalentes no mundo. É caracterizada por elevações significativas da pressão arterial em diferentes ocasiões. Estes aumentos podem trazer diversos prejuízos para a saúde do portador, afetando órgãos e sistemas e podendo levar a óbito. Atualmente, a terapêutica alopática é consolidada no ramo de tratamento da HAS, porém os chamados tratamentos alternativos entram para auxilio e manutenção do controle da PA (pressão arterial). Plantas medicinais são utilizadas desde os primórdios da raça humana para tratamento de males, no senso comum diversas utilidades são descobertas de uma única espécie, e a ciência vem com o objetivo de comprovar esses potenciais farmacêuticos em busca de novas terapêuticas, levando sempre em consideração a segurança do paciente e a eficácia do tratamento. O presente estudo trata-se de uma revisão exploratória integrativa, com o objetivo de comprovação da eficiência do uso de plantas medicinais no tratamento da HAS, trazendo a ideia que tratamentos alternativos são eficientes e seguros. Foram selecionados 20 artigos através da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Concluiu-se que com a biodiversidade brasileira abrangente, diversas plantas têm sim potencial farmacêutico comprovado, algumas sendo até estudadas para a elaboração de novos fármacos para o mercado, além disso, se mostram como uma terapêutica segura e eficaz para a manutenção da HAS, além de ser economicamente mais acessível, levando em consideração que a maior parte da população que é portadora de HAS encontram-se em situação de vulnerabilidade social. Foi visto também que o SUS já possui reconhecimento de algumas espécies como plantas medicinais, e logo o uso e registro de medicamentos esta na legislação dos órgãos competentes.
PALAVRAS-CHAVE: Fitoterapia. Interação Medicamentosa. HAS.
ABSTRACT: Systemic Arterial Hypertension (SAH) is one of the most prevalent chronic non-communicable diseases in the world. It is characterized by significant elevations in blood pressure on different occasions. These increases can bring several damages to the health of the sufferer, affecting organs and systems and potentially leading to death. Currently, allopathic therapy is consolidated in the treatment of SAH, but so-called alternative treatments are used to help and maintain BP (blood pressure) control. Medicinal plants have been used since the beginning of the human race to treat illnesses, in common sense several uses are discovered from a single species, and science aims to prove these pharmaceutical potentials in search of new therapies, always taking into account the patient safety and treatment effectiveness. The present study is an integrative exploratory review, with the objective of proving the efficiency of using medicinal plants in the treatment of SAH, bringing the idea that alternative treatments are efficient and safe. 20 articles were selected using the PICO strategy (Acromion
for Patient, Intervention, Comparison and Outcome). It was concluded that with the comprehensive Brazilian biodiversity, several plants do have proven pharmaceutical potential, some even being studied for the development of new drugs for the market, in addition, they prove to be a safe and effective therapy for the maintenance of SAH, in addition to be more economically accessible, taking into account that the majority of the population that has hypertension is in a situation of social vulnerability. It was also seen that the SUS already recognizes some species as medicinal plants, and therefore the use and registration of medicines is in the legislation of the competent bodies.
KEYWORDS: Phytotherapy. Drug Interaction. HAS.
1 INTRODUÇÃO
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença crônica não transmissível, caracterizada por elevação contínua da pressão arterial (PA), ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, considerando que deve ser medida em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva (Barroso, et al. 2020). Segundo o Ministério da Saúde, o número de adultos com diagnóstico de HAS, em 2021, chegou a 26,3%, ligando assim um alarme para a saúde brasileira.
Os prejuízos da HAS para o corpo do portador podem ser variáveis, desde casos assintomáticos até danos em órgãos como coração, cérebro, rins, vasos sanguíneos, e é o principal fator de risco modificável com associação independente, linear e contínua para doenças cardiovasculares (DCV), doença renal crônica (DRC) e morte prematura. Além disso, associa-se a fatores de risco metabólicos para as doenças do sistema cardiocirculatório e renal, como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância há glicose e diabetes mellitus (DM) (Fugita, et al, 2021).
Sabe-se que, no que se refere à saúde, ainda existe a predominância das terapêuticas tradicionais que são pautadas no uso de medicamentos alopáticos, porém, cada vez mais as chamadas terapias alternativas vêm ganhando espaço entre as pessoas (Medeiros et al., 2019). A procura por tratamentos não farmacológicos ou adicionais aos convencionais vem crescendo significativamente, e o uso de chás e plantas medicinais se torna cada vez mais frequente (Da Silva et al., 2021).
A atuação de algumas plantas medicinais sobre a pressão arterial é devido à presença dos princípios ativos em substâncias que a planta sintetiza e armazena durante seu desenvolvimento, e normalmente em uma mesma planta encontram-se vários componentes ativos, dos quais um ou um grupo determinam a ação principal ou atividade farmacológica (Faria, Alves, Franco, 2021). Os chamados princípios ativos são as substâncias que conferem a planta a ação farmacológica, podem ser estes: alcaloides, ácidos orgânicos, antraquinonas, compostos fenólicos, cumarinas, esteroides, flavonoides, glicosídeos cardioativos ou cardiotônicos, heterosídeos, mucilagens, óleos essenciais, taninos, saponinas e terpenos (Universidade Federal de Santa Maria, 2019).
No Brasil, políticas como a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) e a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) são utilizadas para ampliar o conhecimento e o acesso da população a essas opções de tratamento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). O uso e fitoterapia de plantas vem recebendo cada vez mais atenção no âmbito da Política Nacional de Saúde (PNS). Além disso, a implementação do tratamento por meio da fitoterapia, além de ampliar as possibilidades terapêuticas disponíveis aos profissionais de saúde, também representa um resgate de práticas tradicionais, em que o saber científico e popular e seus diferentes entendimentos sobre a doença e os métodos de tratamento. Em RDC 14/2010, é a legislação vigente em que se dispõe o registro de fitoterápicos no Brasil (Furtado, 2022).
Outrossim, justifica-se o mérito do trabalho pela prevalência da hipertensão arterial sistêmica na população brasileira, pela grande biodiversidade do país e consequente disponibilidade de plantas medicinais que podem ser usadas como terapêutica para essa condição. O tratamento complementar e alternativo coerente é eficaz se realizado sob a orientação de um profissional de saúde, é compatível com outros tratamentos, aborda o bem-estar geral, tem poucos efeitos colaterais e resultados significativos, apesar disso, é importante orientar a população acerca dos riscos do uso indiscriminado de fitoterápicos.
À vista disso, torna-se evidente a relevância deste estudo, cuja questão principal é contribuir para a conscientização acerca da problemática em questão. Como objetivo central, foi executado um estudo acerca da importância das interações entre medicamentos tradicionais e fitoterápicos no controle da hipertensão arterial sistêmica e também acerca do possível potencial farmacêutico de plantas medicinais no controle dessa doença crônica não transmissível, sua eficácia, seus potenciais benefícios e malefícios. Além disso, a pesquisa buscou incentivar o uso de plantas medicinais como tratamento complementar e alternativo, desde que comprovadas sua eficácia e segurança, já que elas têm baixo custo, efeitos colaterais reduzidos e são acessíveis.
2 METODOLOGIA
O presente estudo consiste de uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.
Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa utilizou-se da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte questão central que orientou o estudo: “Quais os efeitos da interação entre tratamentos fitoterápicos e medicamentos convencionais no controle da hipertensão arterial?” Nela, observa-se o P: Hipertensos; I: Fitoterapia e tratamento medicamentoso convencional; C: Não se aplica; O: Efeitos da interação medicamentosa.
Para responder a esta pergunta, foi realizada a busca de artigos envolvendo o desfecho pretendido utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medcine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram hipertensão, fitoterapia, medicamentos convencionais, interações medicamentosas. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se os operadores booleanos “and”, “or” “not”.
Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed), EbscoHost.
A busca foi realizada no mês de setembro de 2023. Como critérios de inclusão, limitou-se a artigos escritos em todos os idiomas, publicados nos últimos 5 anos (2019 a 2023), que abordassem o tema pesquisado e que estivem disponíveis eletronicamente em seu formato integral, foram excluídos os artigos em que o título e resumo não estivessem relacionados ao tema de pesquisa e pesquisas que não tiverem metodologia bem clara.
Após a etapa de levantamento das publicações, encontrou 7903 artigos, dos quais foram realizados a leitura do título e resumo das publicações considerando o critério de inclusão e exclusão definidos. Em seguida, realizou a leitura na íntegra das publicações, atentando-se novamente aos critérios de inclusão e exclusão, sendo que 7883 artigos não foram utilizados devido aos critérios de exclusão. Foram selecionados 20 artigos para análise final e construção da revisão.
Posteriormente a seleção dos artigos, realizou um fichamento das obras selecionadas afim de selecionar a coleta e análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método.
3 RESULTADOS
A figura 1 demonstra o processo de seleção dos artigos por meio das palavras-chaves de busca e da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão citados na metodologia. O fluxograma leva em consideração os critérios elencados pela estratégia PRISMA (Page et al., 2021).
Figura 1 – Fluxograma da busca e inclusão dos artigos
Fonte: Adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic review and Meta-Analyses (PRISMA). Page et al., (2021).
A partir da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foi possível chegar na tabela a seguir, que contém as principais informações acerca da interação entre medicamentos convencionais e fitoterápicos para o controle da hipertensão arterial encontradas nos 20 estudos analisados. A tabela 1 sintetiza os principais artigos que foram utilizados na presente revisão de literatura, contendo informações relevantes sobre os mesmos, como os autores do estudo, o ano de publicação, o título e os achados relevantes.
Tabela 1. Efeitos da interação entre medicamentos convencionais e fitoterápicos no tratamento da HAS encontrados nas publicações do período de 2019 a 2023
Fonte: Autor, 2023.
4 DISCUSSÃO
A RDC 14/2010 é a legislação em vigor que dispõe sobre o registro de fitoterápicos, possui o objetivo de estabelecer os requisitos mínimos para o registro desses medicamentos e determinar sua comprovação científica, o § 1º do Capítulo 1, traz a definição de medicamentos fitoterápicos:
§ 1º São considerados medicamentos fitoterápicos os obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais, cuja eficácia e segurança são validadas por meio de levantamentos etnofarmacológicos, de utilização, documentações tecnocientíficas ou evidências clínicas (RDC 14/2010).
Segundo Elias, et al (2022) o alho possui a capacidade de provocar efeitos anti-hipertensivos através das Enzimas Conversoras de Angiotensina (ECA), minimizando a hipertensão. Da Silva, et al (2020) observou ainda que aumentar a ingestão do alho pode estar associada a redução de triglicerídeos e depuração de creatinina, o que proporciona uma melhoria da função renal e, consequentemente, diminuição da pressão arterial. Sendo assim, o alho se mostrou como uma alternativa eficaz para o controle da HAS, por apresentar efeitos similares aos fármacos sintéticos já utilizados pela população que enfrenta este problema de saúde.
De acordo com o estudo de Da Trindade, et al (2022) sobre plantas do Cerrado com presença de metabólitos secundários com potencial ação anti-hipertensiva, foram encontrados as seguintes plantas: Pau-paraíba (Simarouba versicolor), Pau-santo (Kielmeyera coriacea), Abiu do cerrado (Pouteria torta), Guarandi (Calophyllum brasiliense), Bacaba (Oenocarpus bacaba), Puçá-amarelo (Mouriri elliptica), Fava-de-anta (Dimorphandramollis), Murici (Byrsonima crassifolia) e Cereja-do-cerrado (Eugenia calycina). A descoberta se mostrou promissora para futuros estudos de isolamento de princípios ativos a serem aplicados como abordagens alternativas ao tratamento da HAS. Vários autores refletem o uso de diferentes plantas medicinais para o manejo da HAS, logo que se mostra uma alternativa eficaz e econômica. Já em relação às espécies mais conhecidas e utilizadas para o tratamento da hipertensão, as mais citadas foram: Sechium edule (chuchu), seguido pela Mentha pulegium (hortelã-da-folha- miúda), Lippia alba (erva cidreira), o Cymbopogon citratus (capim santo) e a Melissa officinalis (erva cidreira) (Medeiros et al., 2019).
O chuchu (Sechium edule) possui ação anti-hipertensiva. Em testes pré-clínicos realizados em Minas Gerais, a polpa e a casca dos frutos levaram a uma diminuição significativa da pressão arterial e fornecem evidências que podem explicar sua utilização popular com esta finalidade, cujo efeito hipotensor parece estar associado ao efeito vasorrelaxante obtido do extrato hidroalcóolico da raiz desta planta (Melo; Lima; Batista, 2019).
Estudos in vivo confirmaram que as saponinas de Tribulus terrestres L. possuíam atividade anti-hipertensiva significativa em ratos espontaneamente hipertensos (Sun, et al, 2023). Já a pesquisa de Saeed, et al (2022) demostrou que o extrato da planta Melia azedarach causou uma diminuição significativa na PAM (pressão arterial média) em ratos hipertensos comparados aos ratos normotensos.
É de grande importância a disseminação de informações confiáveis, a fim de ensinar e auxiliar a população acerca do tratamento alternativo para doenças crônicas, assim como sobre os perigos da automedicação (Zago et al., 2020). Os idosos com HAS no Brasil, em sua grande maioria de baixa renda, têm a fitoterapia como opção viável ao seu orçamento (Da Costa et al., 2019). A utilização correta das plantas medicinais pode contribuir com a farmacoterapia, reduzindo o número e a quantidade de medicamentos prescritos, evitando assim o risco de intoxicação medicamentosa (Ferreira et al., 2022).
As relações entre a fitoterapia e a atenção básica na Estratégia Saúde da Família são instrumentos de fortalecimento mútuo que beneficiam os usuários, os profissionais, os serviços e a qualidade do cuidado em saúde (Ruppelt, 2022). As interações medicamentosas podem ser farmacodinâmicas ou farmacocinéticas. As interações farmacodinâmicas ocorrem quando dois medicamentos tomados concomitantemente têm efeitos aditivos ou canceladores no corpo. As interações farmacocinéticas ocorrem quando um medicamento afeta as características de absorção, distribuição, metabolismo ou excreção de outro medicamento (Carpenter et al. 2019). Segundo Adeniyi, et al (2021) a percepção sobre o uso de tratamentos alternativos, tendo o profissional de saúde o cuidado em saber sobre os prós e contras da utilização da fitoterapia, pode auxiliar no desenvolvimento de intervenções apropriadas para incentivar o uso adequado de medicamentos prescritos e alternativos, resultando num manejo mais eficaz e seguro das doenças crônicas. Saberes populares, que ao se unir com o científico, crie uma ressignificação de conhecimento, o qual será replicado, concomitantemente trazendo melhores condições de saúde (Lima et al., 2023).
5 CONCLUSÃO
Plantas medicinais sempre foram aliadas da raça humana para o combate de seus males. A biodiversidade brasileira trás para a indústria farmacêutica e para os profissionais da saúde as vastas opções de tratamentos que podem auxiliar na manutenção de doenças crônicas que atingem uma grande porcentagem da população. A descoberta da presença de substâncias na flora que auxiliam na normalização da PA, foi um achado significativo para a medicina. Logo, plantas de conhecimento popular, como o Chuchu, foi citado como um importante hipotensor, abrindo assim o leque de opções para novas terapêuticas que visem pela não toxicidade e pela segurança do paciente. Conclui-se que o objetivo da presente pesquisa foi alcançando, visto que tratamentos alternativos se mostram como aliados no controle da HAS, e que são potencialmente eficazes, porém devem ser usados com cuidado e sempre com a orientação correta de um profissional da saúde capacitado, que consiga fazer o manejo eficiente deste paciente e que consiga auxiliá-lo no seu tratamento.
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[1] Discente do Curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM
[2] Docente do Curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM