REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410281028
Wilka Patrícia Viana Nogueira;
Orientadora: Profa. Dra. Karlinne Maria Martins Duarte.
Resumo
Introdução: O atendimento odontológico das pessoas com deficiência devem seguir aos preceitos da Política Nacional de Saúde Bucal e da Política Nacional de Saúde para Pessoas com Deficiência para garantir o atendimento de forma abrangente no contexto social e familiar. O objetivo do presente estudo foi discutir os aspectos relacionados à integralidade da atenção nos serviços odontológicos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para pacientes com deficiência. Material e Método: Tratasse de uma revisão narrativa da literatura com pesquisa nas bases de dados Scholar Google, SciELO, PubMed e Biblioteca Virtual da Saúde utilizando os descritores “Integralidade”, “Pessoas com Deficiência” e “Saúde Coletiva”. Resultados: Foram selecionados 22 artigos que atendessem aos critérios de inclusão selecionados. Conclusão: Os cuidados especiais para pessoas com deficiência, a humaniza no atendimento, são habilidade que deve ser desenvolvida pelo dentista, fortalecendo os princípios do SUS e a consolidação das diretrizes curriculares.
Palavras-chave: Integralidade. Saúde Coletiva. Pessoas com Deficiência.
Abstract
Introduction: Comprehensiveness in oral health care for people with disabilities. These are principles that seek to ensure comprehensive care in the social and family context. The objective of the present study was to discuss aspects related to comprehensive care in dental services offered by the Unified Health System (SUS) for patients with disabilities. Material and Method: This is a narrative review of the literature with research in the Scholar Google, SciELO, PubMed and Virtual Health Library databases, using the descriptors “Integrality”, “People with Disabilities” and “Collective Health”. Results: Articles that met the selected inclusion criteria were selected. Conclusion: Special care for people with disabilities is a skill that should be developed by dentists, strengthening the principles of the SUS and the consolidation of curricular guidelines and humanizing care.
Keywords: Comprehensiveness. Collective Health. People with Disabilities.
1. INTRODUÇÃO
Durante muito tempo a odontologia permaneceu dissociada das políticas públicas de saúde, sendo praticamente impossível o acesso da população brasileira aos serviços odontológicos. Com implementação dos programas, saúde da família e Brasil Sorridente. Nasceram novas formas de atendimento à sociedade, capacitando profissionais e assim concretizando as mudanças e integralizando a odontologia em formas de cuidados e ações multidisciplinares (Cardoso, 2017).
A integralidade é um princípio doutrinário do Sistema Único de Saúde (SUS). Deste modo, a conduta dos profissionais deve valorizar e priorizar o ser humano, respeitando suas limitações (Cardoso, 2017).
Considera-se na odontologia e em outras áreas, portadores de necessidades especiais, pacientes que tenham limitações temporárias ou permanentes, físicas ou mentais, sendo uma ou mais limitações, podendo ser hereditária, emocional, congênita, e que, porventura, necessitem de um atendimento odontológico especial (Cardoso, 2017).
Em todo o mundo estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas possuem algum tipo de deficiência, mental ou intelectual, auditiva, motora e visual. (Amorim; Liberali; Medeiros Neta, 2018). Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD): Pessoas com Deficiência 2022 no Brasil estima-se que essa população seja de 18,6 milhões de pessoas. O Nordeste foi a região com o maior percentual de população com deficiência registrada na pesquisa, com 5,8 milhões. (IBGE, 2023)
No ano de 2012 a (RCPD) foi criada para desenvolver o atendimento diferenciado e capacitado, organizando os três níveis de atenção: Atenção Básica (AB), secundária e Hospital, incluindo Urgência e Emergência. Pluralizando o atendimento de saúde a Pessoas com Deficiência (PcD). No entanto (RCPD) é nova no Brasil, e existem obstáculos na sua execução, ainda tendo que compreender e estruturar a rede e assim ampliar a atenção à saúde da população (Castro et al., 2021). Ressalta-se que a realização de políticas públicas depende da aplicação do Estado, sociedade e economia para que surta efeito no cotidiano das pessoas (Carneiro, 2023).
No intuito de melhorar a inclusão social, a Política de Saúde da Pessoa com Deficiência, criou a portaria 1.060/2002, validando o acolhimento a saúde das pessoas com deficiência, humanizando e estabelecendo a inclusão social (Krug et al., 2021).
Na prática, o atendimento integralizado ultrapassa de um atendimento a dimensão bucal. Os atendimentos em pacientes com deficiência são programados para que outros profissionais capacitados estejam aptos ao atendimento, profissionais trabalhando em conjunto para que não haja temor de nenhum profissional ao atender esses pacientes (Coêlho et al, 2022).
O paciente com deficiência tem direito ao respeito em seu atendimento especial e ser tratado por igual, considerando seus anseios e medos bem como a garantia ao atendimento integralizado e humanizado. Portanto, é necessária a gestão da saúde bucal na atenção primária para fortalecer a rede de atenção. (Calvasina, 2023).
Diante do exposto, o objetivo desse artigo é apresentar, de forma sistematizada, as ações de saúde bucal para pessoas com deficiência de acordo com a Política Nacional de Saúde Bucal.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura narrativa, abrangendo o período de 2017 a 2024. foram usados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “integralidade”, “pessoas com deficiência”, “saúde coletiva”, com associação dos operados AND e OR nas bases de dados Scholar Google, SciELO, PubMed e Biblioteca Virtual da Saúde. Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram publicados em português, inglês, artigos e resumos que retratam a temática referente à saúde da pessoa com deficiência e os critérios de exclusão foram artigos que não se correlacionavam aos três níveis de atenção.
Foram encontrados 87 artigos, e após aplicarmos os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 22 artigos, abordando os temas da integralidade na atenção em saúde bucal para pessoas com deficiência.
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1. CONCEITO
Classificam- se pessoas com deficiência, o paciente que tenha uma ou mais limitações, temporárias ou permanentes mental, físico, emocional ou sensorial. , algumas das doenças mais prevalentes no Brasil incluem Alzheimer, Parkinson e Demência. A doença de Alzheimer (DA) é a principal responsável por esses diagnósticos, sendo a forma mais prevalente de demência neurodegenerativa em idosos. Embora a causa exata permaneça desconhecida, acredita-se que fatores genéticos desempenhem um papel importante (DA de Abreu, 2021 e Carneiro et al., 2023).
3.2 POLITICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL E A POLITICA NACIONAL DE SAÚDE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
A Política Nacional de Saúde para Pessoas com Deficiência, define em várias leis os direitos das PCDs em diversos setores, inclusive no atendimento odontológico, devendo ser efetuado no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) e, caso não seja possível nos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO). A fim de prestar o cuidado adequado e melhorar acesso ao atendimento odontológico (Coêlho et al, 2022). Dentre essas leis podemos destacar: Lei nº 13.146/2015, Estatuto da Pessoa com Deficiência, que visa promover a inclusão social e a cidadania; Lei nº 10.098/2000, quemEstabelece normas e critérios para a acessibilidade de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e o Decreto nº 3.298/1999, que Regulamenta a Lei nº 7.853/1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
As Unidades Básicas de Saúde, e os CEOS devem estar preparadas com rampas de acesso, para receber os usuários com limitações de locomoção, banheiros acessíveis e outras modificações no ambiente, com profissionais capacitados para o acolhimento, esclarecidos quanto a forma de comunicação com os pacientes com deficiência auditiva ou de mobilidade dos pacientes com deficiência visual e física, capacitados para o uso de técnicas de estabilização para segurança e conforto do paciente com distúrbio neuromotor (DA de Abreu, 2021).
A Unidade de Referência deve desenvolver procedimentos básicos com abordagem multiprofissional para estabelecimento de assistência integrada e fazer os encaminhamentos necessários para recondução na Unidade Básica ou se necessário, para tratamento sob anestesia geral. Os cuidados especiais na odontologia são conhecidos como uma escolha alternativa para favorecer o atendimento aos pacientes com necessidades especiais que não colaboram e que precisam de intervenções odontológicas específicas (Marinho et al., 2023).
As pessoas com deficiência têm uma ou outra limitação que podem dificultar a execução da higiene bucal de maneira adequada. O auxílio dos familiares ou de uma pessoa responsável reduz a fragilidade dessas pessoas, diminuindo os riscos para a evolução de doenças bucais (DA de Abreu, 2021).
O atendimento ao paciente com deficiência abrange um conjunto de áreas afins: enfermagem, neurologia, psicologia, fonoaudiologia, odontologia, fisioterapia, terapia ocupacional, com o objetivo de acrescentar estímulos e recursos para que o trabalho aconteça de maneira adaptada, tendo como objetivo final o bem-estar do paciente. O contexto da pessoa com deficiência deve ser compreendido e explorado, não somente como uma atribuição do Estado, mas também de toda comunidade, que deve estar ciente desta problemática e sensível a ela, de modo a se envolver dinamicamente e colaborar para a solução dos inúmeros problemas enfrentados por essas pessoas (Marta et al, 2021).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa com Deficiência foi revisada pela Portaria GM/MS nº 1.526, em 11 de outubro de 2023. O objetivo central dessa nova PNAISPD é promover e proteger a saúde das pessoas com deficiência, aumentando o acesso ao cuidado integral no SUS. Isso ocorrerá em parceria com outras políticas e ações intersetoriais, buscando garantir autonomia, qualidade de vida e inclusão social, além de prevenir diferentes problemas de saúde em todas as etapas da vida (Ministério da saúde, 2024).
3.3 CLASSIFICAÇÕES DAS DEFICIÊNCIAS E PRINCIPAIS CARACTERISTICAS BUCAIS
3.3.1. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
Segundo a American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (2010), a Deficiência Intelectual (DI) é caracterizada por “limitações significativas no desempenho intelectual e no comportamento adaptativo, manifestadas em habilidades práticas, sociais e conceituais, ocorrendo antes dos 18 anos”. A DI é geralmente consequência de alterações na estrutura cerebral, que podem ser causadas por diversos fatores, incluindo metabólicos, genéticos, infecciosos ou traumáticos, e podem se manifestar antes, durante ou após o nascimento (Ministério da Saúde, 2019).
Período Pré-Natal: As causas podem envolver fatores genéticos, como a Síndrome de Down, como radiações, raios X, calor e traumas.
Período Pós-Natal: As causas incluem exposição a radiações, deficiências nutricionais e produtos químicos (como chumbo e mercúrio) podem afetar o desenvolvimento intelectual (Ministério da Saúde,2019).
As características bucais que ocorrem em pessoas com DI mudam de acordo com o envolvimento neuropsicomotor e estão associadas à informação e à conduta da própria pessoa com deficiência ou dos cuidadores ou responsáveis pela higiene bucal. Cárie dentária, gengivite e periodontite são as doenças mais prevalentes e estão estreitamente relacionadas à má higiene bucal. Alterações bucais e sistêmicas dificultam o tratamento odontológico ambulatorial, por isso os cuidados com a saúde bucal devem ser cauteloso e frequente, uma vez que interfere na saúde geral e comportamental das pessoas com deficiência (Ministério da Saúde, 2019).
Os programas de saúde bucal para essa população precisam observar o incentivo para a supervisão da remoção mecânica efetiva do biofilme dentário pelos indivíduos e/ou por seus cuidadores ou responsáveis (Ministério da Saúde, 2019).
Dependendo do nível de deficiência intelectual são necessários cuidados especiais. tais como, uso de ansiolíticos, anticonvulsivantes e sedativos. Os pacientes com DI requerem estratégicas de manejo de comportamento, integrando profissional, paciente e família. De forma colaborar com o sucesso do tratamento odontológico. Em pacientes com deficiência intelectual grave e moderada pode-se usar as técnicas de estabilidade protetora, abordagens de manejo comportamental como a estratégia de “dizer-mostrar-fazer”, para os pacientes que não oferecem resistência empregasse a técnica de reforço positivo (Ministério da Saúde, 2019).
3.3.1.1 PESSOAS COM DEMÊNCIA
A demência se descreve como uma desordem que atinge comando cognitivo, como a maneira de falar, de aprender e de memorizar. Por isso a importância de o cirurgião dentista compreender essas limitações, uma vez que uma pessoa portadora de demência requer atenção, pelo impacto em suas funções diárias (Ministério da saúde, 2019).
3.3.1.2 ATENÇÃO ODONTOLÓGICA À PESSOAS COM ALZHEIMER
Entre as demências mais comuns está a doença de Alzheimer (DA) Dentre os principais problemas apresentados na cavidade oral destaca-se o uso contínuo de próteses de qualidade questionável, sem interrupção durante o sono, aumenta a prevalência de candidose bucal. Dificuldade mastigatória, originada também pela deficiência de controle neurológico, além do edentulismo e da reabilitação protética inadequada também são observados bem como hipossalivação de origem medicamentosa e aumento da prevalência de cárie dentárias, gengivite e periodontite (Ministério da Saúde, 2019) e (Silva et al., 2021).
Na anamnese é primordial reconhecer todos os problemas de saúde que percorrem junto a demência. A atuação em odontologia precisa acontecer de acordo com as etapas de progressão da demência (fase inicial, moderada e avançada) e ocorrer de maneira singular para cada usuário. Na constância da demência, o paciente vai adquirindo mais obstáculos para relatar a dor. Rejeição de alimentos frios e duros, inquietação, sono conturbado e não colaboração em fazer atividades sendo assim a higiene bucal negligenciada pelos cuidadores e responsáveis pela atividade que os sobrecarregam (Silva, et al, 2021).
3.3.2 ATENÇÃO ODONTOLÓGICA À PESSOA COM DOENÇA DE PARKINSON
A Doença de Parkinson (DP) é considerada uma enfermidade resultante de um distúrbio patológico que ocasiona a degeneração do paciente tornando- se uma doença irremediável, a DP é de origem desconhecida Sua maior prevalência está entre o sexo masculino, com faixa etária superior a 65 anos (DE Aquino et al, 2020).
Dentre as características bucais, encontram-se: dificuldade de abertura bucal, devido à rigidez da musculação orofacia,l tremores nas línguas e lábios e ainda, movimentos mandibulares involuntários. Há alta prevalência de doença periodontal e cárie dentária, dificuldades ao mastigar. A permanências de restos de alimentos na cavidade oral e acúmulo de saliva por conta da dificuldade da deglutição contribuem para as patologias bucais (Ministério da Saúde,2019).
A atenção odontológica às pessoas com Doença de Parkinson quando elaborada e programada de maneira interdisciplinar, em sintonia com outros profissionais e a família, com técnicas adequadas à saúde bucal, eliminam os prováveis focos de infecção e dor decorrentes desses problemas bucais (Ferreira JJ, et al. 2017).
A sedação endovenosa, pode ser utilizada em casos de avanço da doença, para os pacientes que não colaboram para o atendimento é fundamental um auxiliar, para a aspiração devido a facilidade do acúmulo de saliva. A cadeira odontológica deve estar em ângulo maior que 45° para melhorar a deglutição de saliva. Para realizar a higiene bucal deve-se fazer uso de escova elétrica quando o paciente está no estágio grave e moderado e palitos de picolé e gases podem ser abridores de boca, deixando o paciente mais relaxado e evitando movimentos involuntários (Ministério da Saúde, 2019).
3.3.3. ATENÇÃO ODONTOLÓGICA À PESSOA COM PARALISIA CEREBRAL
O cuidado preventivo nas ações em pacientes com paralisia cerebral (PC) é extremamente importante e ocorrem em dois níveis de desenvolvimento (pré-natal ou pós natal). As complicações motoras em portadores da PC são caracterizadas em um coletivo de desarranjos de posturas e movimentos (DE Sousa, et al, 2017).
Severidade a agressão motora da pessoa com paralisia cerebral interfere na higiene bucal. O uso do fio dental fica impossibilitado devido aos movimentos involuntários do usuário e dificultando a participação do cuidador ao realizar a higienização. (Silva et al, 2020)
O acompanhamento contínuo pela família e por profissionais facilitaram no tratamento. Modelos de abridores de boca feitos com espátulas de madeiras envolvidos por fita crepe e, facilitadores dorsais ajudam com os cuidados de higiene bucal (Ministério da Saúde, 2019).
3.3.4. ATENÇÃO ODONTOLÓGICA À PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
É aconselhável que no tratamento odontológico em paciente com Síndrome de Down seja em menor tempo possível, o cirurgião dentista deve ter ciência das várias complicações que podem ocorrer, déficit cognitivo coordenação motora reduzida, língua fissurada e aumentada, Dentes conoides boca entreaberta, respiração bucal crônica e mucosa da boca ressecada uma anamnese bem específica precisa ser realizada, evitando complicações futuras ao longo dos tratamentos (Santos et al, 2020).
O portador da Síndrome de Down tem singularidades em suas alterações dentárias tais como: Mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior, bruxismo, falta de dentes decíduos, incisivos laterais, pode ocorrer a ausência incisivo lateral superior, segundo pré molar e terceiro molar e maloclusões dentárias, e raízes curtas. O anestésico recomendado para esses pacientes é a prilocaína com felipressina., por representar menor risco cardiovascular. No entanto, se houver a necessidade de um vasoconstritor adrenérgico, pode-se optar pela epinefrina nas diluições de 1:100.000 ou 1:200.000, sempre respeitando o limite máximo de 3 tubetes (Ministério da Saúde, 2019).
O posicionamento na cadeira odontológica, é obrigatório está estabilizado junto ao tronco e cabeça, para que não haja movimentos bruscos e flexão exagerada. Uma anamnese completa e detalhada. (Santos et al, 2020).
3.3.5. ATENÇÃO ODONTOLÓGICA À PESSOA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é excessivo na aplicação de várias comunicações verbais e retardos podem complicar o atendimento odontológico. Uma conversa com os pais ou responsáveis faz-se necessário para ter interpretação dos sinais ao longo do tratamento. (Coimbra et al, 2020).
Uma atenção humanizada é apontada como um diferencial no atendimento do paciente com TEA. Empatia, cuidado e compreensão fortalecem o elo entre paciente, responsáveis e profissionais. (Neves et al,2021).
Algumas técnicas de manejos podem ser utilizadas. A linguagem do mostrar e fazer e controle de voz e distração, não verbal – toque sorriso e olhar, restrição física, mecânica e utilização de técnicas de estabilidade, com consentimento e autorização do responsável (Ministério da Saúde, 2019).
A musicoterapia interfere nas funções emocionais. A música traz sentimentos e lembranças, fazendo com que o paciente gerar uma resposta positiva. Um ambiente sonoro com músicas agradáveis, proporciona leveza e tem efeitos relaxantes (Garcia et al, 2017).
DISCUSSÃO
A inserção das pessoas com deficiência nos programas de saúde bucal ocorreu de forma lenta, durante muitos anos. Os pacientes estiveram desamparados e desvalidos desses cuidados. A pessoa com deficiência carece do acesso aos serviços odontológicos na Atenção Básica, nas equipes de saúde bucal da estratégia saúde da família. A consciência dos cirurgiões dentistas é sumariamente importante para que lidem de forma ética no atendimento às pessoas com deficiência. A Recusa ou atraso do cuidado ao PCD pode resultar em mais desconforto para o paciente, despesas mais caras, queda na qualidade do atendimento e prática descortês reduz a qualidade no atendimento (DA de Abreu, 2021).
As ações de reabilitação, as visitas domiciliares e o apoio matricial são fundamentais para garantir uma atenção integral, nos três níveis de atenção, que promovem a efetividade das estratégias de cuidado voltadas à saúde de pessoas com deficiência. Contudo, existem desafios que dificultam esse cuidado, destacando-se a insuficiente qualificação dos profissionais da atenção primária em relação às necessidades dos usuários com deficiência. Isso evidencia a necessidade de oferecer capacitações regulares. (Amorim; Liberali; Medeiros Neta, 2018) e (Calvasina, 2023)
O contexto relacional e institucional desempenha um papel crucial na implementação de políticas públicas dentro de um sistema de saúde que é descentralizado e regionalizado. O cuidado em saúde deve ser realizado de forma integrada e planejada, com o objetivo de facilitar intervenções, tanto no âmbito individual quanto no familiar (Cardoso, 2017) (Carneiro, 2023), (Coêlho et al., 2022) (Neves et al,2021), (Marta et al, 2021) e (Ministério da Saúde, 2019).
Castro et al., (2021) realçam que, um dos empecilhos de acesso é a locomoção até os serviços de saúde, especialmente para aqueles que vivem em áreas afastadas dos centros urbanos, onde a maioria desses serviços se encontra. Nesse contexto, o transporte é crucial para as pessoas com deficiência (PCD), que frequentemente dependem de transporte público adaptado ou ambulâncias, as quais não conseguem atender a todas as necessidades. Apesar de a legislação brasileira estabelecer que o transporte na saúde é uma responsabilidade de todos os níveis de governo, a falta de ônibus e metrôs equipados com elevadores, juntamente com a oferta limitada de transporte, são apontadas pelas PCD como uma das principais barreiras para acessar serviços de saúde e participar ativamente da sociedade, tanto no Brasil quanto em outros países.
Coimbra et al., (2020) e DE Aquino et al., (2020) falam que, é evidente a grande importância do diagnóstico precoce em crianças com TEA e crianças com Síndrome de Downs assim como o início do atendimento especializado por parte dos profissionais de saúde.
Cada paciente deve receber uma abordagem terapêutica personalizada, de acordo com seu perfil comportamental. Além disso, a humanização no atendimento se destaca como um diferencial entre os profissionais, facilitando a interação com o paciente autista e permitindo um atendimento mais natural e eficaz (Marinho MA, et al.,, 2023).
Ferreira JJ, et al., (2017) destacaram que, se torna fundamental contar com uma equipe multidisciplinar bem treinada e a participação ativa dos pais ou familiares responsáveis, pois esses pacientes necessitam de atenção e monitoramento especiais para garantir o sucesso do atendimento odontológico. O primeiro contato do cirurgião-dentista com pacientes com deficiência física requer uma atenção especial, com foco na calma, serenidade e determinação, para que o paciente se sinta relaxado.
DE Sousa et al, (2017) dizem que, é essencial buscar formas de minimizar as barreiras que o indivíduo enfrenta. A clínica responsável por esses atendimentos deve ser acessível, permitindo que pacientes que utilizam suportes como bengalas, andadores ou cadeiras de rodas possam entrar e se movimentar com facilidade, preservando sua autonomia ao paciente. Os processos terapêuticos devem ser conduzidos com foco no conforto e bem-estar, sempre buscando compreender e ouvir o paciente, mesmo diante de dificuldades.
Krug et al., (2021) relatam que, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) define diretrizes que integram o aprendizado e o ensino na relação entre educação e saúde no ambiente de trabalho, incentivando a participação ativa dos trabalhadores nesse contexto. A Educação Permanente em Saúde (EPS) é vista como uma estratégia político-pedagógica voltada para a formação e o desenvolvimento dos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa abordagem se concretiza por meio de práticas educativas que visam o aprimoramento contínuo das formas de trabalho, focando especialmente nas necessidades das populações atendidas e adaptando os serviços oferecidos para assegurar uma assistência de qualidade.
Silva et al., (2020) afirmam que os cuidadores relataram uma dependência significativa no cuidado diário da saúde bucal, com uma necessidade ainda maior entre crianças e adolescentes com comprometimento motor mais severo. Estudos semelhantes indicam que indivíduos com necessidades especiais frequentemente dependem de cuidadores para realizar atividades diárias, incluindo a higiene bucal. Essa dependência pode sobrecarregar os cuidadores, resultando no adiamento ou esquecimento de práticas de higiene bucal que não devem ser negligenciadas. Além disso, os cuidadores enfrentam uma variedade de problemas no dia a dia, como fadiga, distúrbios do sono, dores de cabeça, perda de peso, hipertensão, insatisfação nas relações sociais e afetivas, isolamento social, depressão, entre outros.
Nesse contexto A Política Nacional de Atenção Integral à A saúde da Pessoa com Deficiência foi atualizada pela Portaria GM/MS nº 1.526, em 11 de outubro de 2023. O principal objetivo dessa nova PNAISPD é promover e proteger a saúde das pessoas com deficiência, ampliando o acesso ao cuidado integral dentro do SUS. Isso se dará em colaboração com outras políticas e ações intersetoriais, visando a autonomia, a qualidade de vida e a inclusão social desses indivíduos, além de prevenir diversos problemas de saúde em todas as fases da vida (Ministério da saúde, 2024).
Um ponto positivo deste trabalho foi trazer uma reflexão de forma a contribuir com os profissionais da área, para tenham uma orientação mais clara sobre suas habilidades, responsabilidades e ações essenciais em relação aos usuários da rede de atenção às pessoas com deficiência.
CONCLUSÃO
Conclui-se que. A Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência é uma política pública e sua proposta busca integrar as equipes que atuam em diferentes níveis de atenção para proporcionar um bom atendimento. É essencial que o cirurgião-dentista tenha conhecimento da mesma para proporcionar atendimento digno e equânime a toda a população.
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