REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7843955
Raquel Pereira da Cruz Silva1
Adriane Souza do Nascimento2
Dayana Elizabeth da Silva Lima3
Ieli Lima da Silva4
Raiane Mayara da Silva Dantas5
Fernando Antônio Fernandes de Melo Júnior6
Josepson Maurício da Silva7
Gustavo Kennedy Pinheiro de Medeiros8
Rafaela Oliveira Santana Pinheiro9
Tássio Matheus Sousa da Silva10
Marcela Cunha da Silva de Melo11
Erlane Bruna da Silva Picanço12
Denise Espindola Castro13
Carina Luzyan Nascimento Faturi14
Dandara Martins Santos15
Katia da Silva dos Santos16
Gustavo de Freitas Rodrigues17
Luiz Cláudio Oliveira Alves de Souza18
Resumo
A insuficiência renal crônica (IRC) é uma condição clínica presente em 30-40% dos indivíduos com insuficiência cardíaca (IC) tornando-se um crescente problema de saúde pública. Estima-se que aproximadamente um milhão de mortes estejam relacionadas à IRC em todo o mundo. A IC pode ser precipitada por uma série de eventos que envolvem uma complexa interação entre coração, rins, e vasculatura periférica, podendo contribuir para a progressão de IC. Deste modo, o presente estudo tem como objetivo investigar a relação da IRC como um fator de risco para o desenvolvimento da IC. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada entre os meses de Outubro e Novembro de 2022. A efetivação da busca por literaturas se deu por meio das bases de dados disponíveis na BVS sendo elas: MEDLINE, LILACS e IBECS. O amplo impacto da IRC no sistema cardiovascular reflete vários mecanismos fisiopatológicos que a ligam à doença cardiovascular (DCV), fatores de risco compartilhados como a hipertensão arterial e o metabolismo mineral ósseo alterado, anemia, sobrecarga de volume e presença de toxinas urêmicas. Os pacientes podem apresentar função renal prejudicada secundária à doença cardíaca, doença cardíaca secundária à função renal prejudicada ou, morte concomitante do coração e dos rins, denominada síndrome cardiorrenal. Observou-se que os fatores de risco são múltiplos, aditivos e incidem precocemente na evolução da IRC. Essas características justificam a elevada taxa de mortalidade dos pacientes com IRC. Ainda assim, existe a necessidade de novos estudos tanto na análise fisiopatológica da IC na IRC quanto estudos clínicos testando novas estratégias de intervenção para que a redução no elevado risco cardiovascular dos pacientes renais crônicos seja alcançada.
Palavras-chave: Insuficiência renal; Doenças cardiovasculares; Indicador de risco.
1 INTRODUÇÃO
O diagnóstico da Insuficiência Renal Crônica (IRC), tem como base a taxa de filtração glomerular estimada (TFG) < 60 ml/min/1,73m 2 por pelo menos 3 meses, mesmo que a definição mais ampla inclua todas as alterações persistentes da morfologia renal e do sangue, ou composição da urina, acarretando na diminuição da capacidade de reabsorção tubular e das funções endócrinas dos rins, resultando no acúmulo de substâncias prejudiciais ao organismo (BUCHARLES et al., 2018).
A IRC é considerada um crescente problema de saúde pública pois estima-se que aproximadamente um milhão de mortes estejam relacionadas à IRC em todo o mundo. Além das possíveis repercussões negativas e consequências da IRC que incluem a morbidade cardiovascular, mesmo com o avanço dos tratamentos, a progressão da doença é caracterizada como rápida, podendo atingir o estágio 5 rapidamente, antecipando a de transplante renal ou diálise (CLEARY et al., 2022).
Aponta-se que a IRC é uma condição clínica presente em 30-40% dos indivíduos com Insuficiência cardíaca (IC). Os principais fatores de risco para a IRC incluem a doença cardiovascular (DCV) e a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), especialmente se mal controlada, condição determinante no desenvolvimento e progressão da IRC (ZHAO et al., 2021).
Segundo Acle et al. (2018), a IC pode ser precipitada por uma série de eventos que envolvem uma complexa interação entre coração, rins, e vasculatura periférica, que pode contribuir para a progressão de IC. Desta forma, o coração e os rins trabalham sempre em equipe. Primeiro, o coração envia o sangue para ser filtrado e atender às necessidades de oxigênio e nutrientes dos rins que, por sua vez, cumprem diversas funções que impactam o coração, principalmente o controle da pressão arterial.
Segundo Zhao et al. (2021), considera-se que a IC ocasiona limitação física, além de graves consequências psico-emocionais e psicossociais, que repercutem na redução da qualidade de vida dos portadores da doença, bem como implicações em aposentadorias precoces, altos custos governamentais, além de grandes impactos sociais e econômicos.
Diante da contextualização envolvendo as repercussões da insuficiência renal no cotidiano dos pacientes acometidos pela doença, torna-se imprescindível a investigação de prováveis fatores de risco com o intuito de impulsionar futuras intervenções em saúde. Deste modo, o presente estudo tem como objetivo investigar a relação da IRC como um fator de risco para o desenvolvimento da IC.
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada entre os meses de outubro a novembro de 2022. Inicialmente foi constituída a pergunta norteadora da pesquisa: “Qual a relação da insuficiência renal crônica como um fator de risco para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca?”.
A efetivação da busca por literaturas se deu por meio das bases de dados, disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo elas: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e o Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS). A busca inicial se deu através da utilização dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) em cruzamento com o operador booleano and, da seguinte forma: Insuficiência cardíaca and Fatores de risco and Insuficiência renal crônica, encontrando 2.011 artigos.
Posteriormente foram estabelecidos os critérios de inclusão, considerando: artigos publicados na íntegra em texto completo, nos últimos cinco anos (2017-2022), nos idiomas: português, inglês e espanhol, no qual foram encontrados 666 artigos. Em seguida, foi realizada a leitura minuciosa dos títulos e resumos, desconsiderando os artigos conforme os critérios de exclusão estabelecidos: estudos que não contemplassem o objetivo do estudo, artigos na modalidade de tese, dissertação e revisões, sendo que artigos duplicados não foram contabilizados. Deste modo, foram selecionados 7 artigos para o desenvolvimento do estudo.
O presente estudo dispensou a submissão ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), logo que não realizou pesquisas clínicas em seres humanos ou animais. Desta forma, assegura-se e cumpre os preceitos dos direitos autorais dos autores vigentes.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A IRC afeta 15 a 20% dos adultos em todo o mundo e aumenta o risco de vários desfechos das DCV como a doença coronariana, doença arterial periférica, arritmias e a insuficiência cardíaca (MATSUSHITA et al, 2022). Lesões em ambos os órgãos podem causar inflamação, estresse oxidativo, alterações hemodinâmicas e ativação neuro-hormonal, do sistema renina-angiotensina-aldosterona [SRAA] e do sistema nervoso sistêmico (NAYOR et al, 2017).
Segundo Matsushita et al (2022), o amplo impacto da IRC no sistema cardiovascular reflete vários mecanismos fisiopatológicos que ligam a IRC à DCV, fatores de risco compartilhados como a hipertensão arterial e o metabolismo mineral ósseo alterado, anemia, sobrecarga de volume e presença de toxinas urêmicas.
Marcadores conhecidos da progressão da DRC medidos pelo declínio da eGFR incluem proteinúria, e o controle da pressão arterial demonstrou reduzir a proteinúria e atraso no declínio da eGFR. Desta forma, o controle da pressão arterial tem sido dificultoso em pacientes com IRC estágio 3, a TFG estimada de <60 mL/min por 1,73 m 2, torna-se um fator de risco mesmo na ausência de albuminúria (ASHTON et al, 2021).
A IRC pode ser um multiplicador da doença, fazendo que à medida que a gravidade da doença aumenta, os riscos de eventos como a hospitalização e mortalidade também aumentem. Confirmando que, pacientes com IRC estágio 3 ou 4 ou microalbuminúria apresentam maior risco de mortalidade relacionada à IC do que aqueles com função renal normal ou albuminúria normal (ATAKLTE et al, 2021).
Os pacientes podem apresentar função renal prejudicada secundária a doença cardíaca, doença cardíaca secundária à função renal prejudicada ou morte concomitante do coração como dos rins denominada síndrome cardiorrenal. Na síndrome cardiorrenal, a insuficiência crônica de um dos órgãos pode induzir o comprometimento do outro órgão, levando assim a disfunção aguda ou crônica no outro, tornando necessária uma abordagem de tratamento multidisciplinar para otimizar o atendimento aos pacientes com IC e DRC (ZHANH; ZHANG, 2022)
O controle adequado da pressão arterial reduz a incidência de IC com fração de ejeção ≥ 35% em pacientes com insuficiência renal, sendo assim, é comum encontrar a pressão arterial descontrolada em pacientes com IRC (ASHTON et al, 2021). Embora o tratamento anti-hipertensivo contribua para o controle da pressão arterial e diminua os episódios de exacerbações da IC, a hipertensão arterial e a ingestão de três ou mais anti-hipertensivos antes da admissão dos pacientes foram fatores importantes para o desenvolvimento da DRC (MANJULA; GOTTLIEB, 2021).
Segundo Vijay (2022), o papel incerto do bloqueio do SRAA durante as exacerbações da IC tem seu uso limitado em pacientes com IC, agravando o funcionamento dos rins. Estudos relatam que o tratamento de diálise peritoneal aguda em pacientes com IC descompensada resulta em diminuição do edema, melhora dos sintomas clínicos, normalização da natremia, diminuição da pressão de oclusão pulmonar e restauração da resposta.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre as principais relações da IRC e da IC, observou-se que os fatores de risco são múltiplos, aditivos e incidem precocemente na evolução da IRC. Essas características justificam a elevada taxa de morbimortalidade dos pacientes com IRC.
Contudo, existe a necessidade de periodicamente avaliar os pacientes clinicamente e laboratorialmente pois, torna-se possível detectar precocemente a IRC com possibilidade de reversão e não progressão para uma IC, na tentativa de minimizar os danos ao sistema cardiovascular e diminuir a mortalidade dessa população.
Assim, fica evidente a relevância de novos estudos tanto na análise fisiopatológica da IC na IRC, quanto de estudos clínicos testando novas estratégias de intervenção para a redução de risco cardiovascular dos pacientes renais crônicos.
REFERÊNCIAS
ACLE, S et al. Función renal en pacientes ambulatorios con insuficiencia cardíaca con fracción de eyección reducida; análisis de su evolución e implicancia pronóstica. Seguimiento a 4 años en una Unidad Multidisciplinaria de Insuficiencia Cardíaca. Revista Uruguaya de Medicina Interna, Montevideo., v. 3, n. 2, p.4-11, 2018.
ASHTON, C. L. et al. A Personalized Approach to Chronic Kidney Disease and Cardiovascular Disease: JACC Review Topic of the Week. Journal of the American College of Cardiology., v. 77, n. 11, p. 1470-1479, 2021.
ATAKLTE, F et al. Association of Mildly Reduced Kidney Function With Cardiovascular Disease: The Framingham Heart Study. J Feven Ataklte Am Heart Assoc., v. 10, n. 16, p. 020301, 2021.
BUCHARLES, E. G. S et al. Hipertensão em pacientes em diálise: diagnóstico, mecanismos e tratamento. J. Bras. Nefrol., v. 41, n. 3, p. 400-411, 2018.
CLEARY, F et al. Association between practice coding of chronic kidney disease (CKD) in primary care and subsequent hospitalisations and death: a cohort analysis using national audit data. BMJ Aberto., v. 12, n.10, p. 064513, 2022.
MANJULA, G., GOTTLIEB, S. S. Renal Dysfunction and Heart Failure with Preserved Ejection Fraction, Heart Failure Clinics., v. 17, n. 3, p. 357-367, 2021.
MATSUSHITA, K. et al. Epidemiologia e risco de doença cardiovascular em populações com doença renal crônica. Nat Rev Nephrol., v. 18, p. 696–707, 2022.
ZHANH, L.; ZHANG, X. Heart Failure in Patients with Diabetes and Chronic Kidney Disease: Challenges and Opportunities. Biomed Res Int., v. 12, n. 1, p. 5422333, 2022.
NAYOR, M et al. The association of chronic kidney disease and microalbuminuria with heart failure with preserved vs. reduced ejection fraction. European Journal of Heart Failure., v. 19, n. 5, p. 615-623, 2017.
VIJAY, K. A., NEUEN, B. L. B., LERMA, E. V. Heart Failure in Patients with Diabetes and Chronic Kidney Disease: Challenges and Opportunities. J Nephrol., v. 35, n. 3, p.2022; 35(3): 901-910, 2022.
ZHAO, L. M et al. Fatores associados à síndrome cardiorrenal em pacientes com insuficiência cardíaca descompensada. Acta Paul Enferm., v. 34, eAPE03193, 2021.