INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES PÓS-COVID-19: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

QUALITY OF LIFE ASSESSMENT INSTRUMENTS IN POST-COVID-19 PATIENTS: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7930966

Brenna Rafaelly Sousa Jansen;
Pâmela Suelyn Silva Lins Bezerra;
Eric da Silva.

RESUMO

A síndrome pós-Covid19 ou “Covid-19 longa” é um termo utilizado para designar uma série de sinais e sintomas debilitantes e persistentes, apresentados por pacientes que já se encontram na fase de recuperação da infecção pelo SARS-CoV-2, sendo definida por critérios temporais que variam de 3 a 24 semanas após a fase aguda, sendo pós aguda quando se estende além de 3 semanas e crônica quando perdura por mais de 12 semanas. A avaliação da qualidade de vida tem sido cada vez mais utilizada na área de saúde, principalmente depois que suas propriedades foram comprovadas como parâmetro válido e reprodutível. Este estudo trata-se de uma revisão sistemática que objetiva identificar as evidências científicas sobre os instrumentos de avaliação da qualidade de vida em pacientes pós Covid-19. Foi realizada a busca nas bases de dados PEDro, PUBMED e COCHRANE. Foram identificados 268 artigos e excluídos 263 por duplicata ou por não se adequarem aos critérios de elegibilidade, sendo selecionados apenas 05 para compor essa revisão. Os estudos mostraram a inexistência de um questionário padrão ouro para se avaliar a qualidade de vida, logo, cada instrumento tem suas próprias vantagens e limitações, e a escolha do instrumento dependerá dos objetivos e do contexto da avaliação da qualidade de vida.

Palvras-chave: Covid-19. Síndrome pós Covid-19. Qualidade de Vida. Questionários.

Abstract

The post-Covid19 syndrome or “long Covid-19” is a term used to designate a series of debilitating and persistent signs and symptoms, presented by patients who are already in the recovery phase of the SARS-CoV-2 infection, being defined by temporal criteria ranging from 3 to 24 weeks after the acute phase, being post-acute when it extends beyond 3 weeks and chronic when it lasts for more than 12 weeks. Individuals have a set of functional, emotional, cognitive and psychosocial disabilities with the potential to contribute to long-term manifestations and may affect quality of life. The assessment of quality of life has been increasingly used in the health area, especially after its properties were proven as a valid and reproducible parameter. This study is a systematic review that aims to identify the scientific evidence on the instruments for assessing the quality of life in patients after Covid-19. A search was carried out in the PEDro, PUBMED and COCHRANE databases, using previously established descriptors: “Covid-19”, “Post Covid-19 Syndrome”, “Quality of Life” and “Questionnaires”. 268 articles were identified and 263 were excluded due to duplicates or because they did not meet the eligibility criteria, with only 05 being selected to compose this review. The studies showed the lack of standardization of the specific assessment instrument for this population.

Keywords: Covid-19. Post Covid-19 Syndrome. Quality of life. Questionnaires

1 INTRODUÇÃO

Em 11 de Março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou como pandemia a infecção causada pelo Corona vírus SARS-CoV-2. Ainda existem sérias preocupações sobre as consequências a cerca deste vírus na saúde global, na economia e na sociedade (HOPMAN et al., 2020). No Brasil, em 20 de março de 2020 foi declarada transmissão comunitária em todo território nacional. Medidas de isolamento de casos suspeitos, confirmados e contatos, e distanciamento social da população geral foram as principais estratégias preconizadas para retardar a expansão da Covid-19 (GREENSTONE e NIGAM, 2020; PREM et al., 2020).

A Covid19 é uma infecção que causa uma síndrome respiratória aguda potencialmente grave levando a altas taxas de mortalidade e morbilidade,que em pouco tempo, alcançou diferentes partes do mundo a nível pandêmico; apesar de pertecer a uma familia que provoca infecções respiratórias, também pode levar a sinais e sintomas de forma sistêmica (NIELSEN E SILVA, 2020).

À medida que a população em recuperação de Covid-19 cresce, é fundamental estabelecer uma compreensão das questões de saúde que os cercam. A síndrome respiratória aguda grave é agora reconhecida como uma doença que afeta múltiplos órgãos, com um amplo espectro de manifestações. Assim, as pessoas que apresentam sintomas persistentes e/ou disfunção orgânica após a fase aguda do Covid-19 possuem a chamada Síndrome pós-Covid, ou, “Covid longa” (WU, 2021).

Qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Envolve o bem-estar espiritual, físico, mental, psicológico e emocional, alé de relacionamentos socias, como família e amigos e também, saúde, educação, habitação, saneamento básico e outras circunstâncias da vida (OMS, 2016).

A avaliação da qualidade de vida tem sido cada vez mais utilizada na área de saúde, principalmente depois que suas propriedades foram comprovadas como parâmetro válido e reprodutível. Assim, a mensuração do impacto da doença na qualidade de vida do paciente através dos instrumentos de avaliação torna-se uma ferramenta cada vez mais importante (CICONELLI, 2003).

Os instrumentos de avaliação podem partir de uma única pergunta até questionários sofisticados, onde as questões são agrupadas em domínios ou dimensões, de acordo com seu significado na situação ou doença avaliada, portanto, questionários validados podem ser utilizados para avaliar a qualidade de vida de pacientes pós-COVID-19, uma vez que essa população possui características pertinentes para tal análise (OMS, 2021).

Nesse contexto, com o intuito de atrair atenção ao tema e valorizar os instrumentos de avaliação, tendo em vista o número crescente de pacientes com sequelas e limitações de ordem física, mental e social considera-se esse estudo imprescindível e relevante para a prática clínica e para nortear possíveis novos estudos no âmbito dos instrumentos de avaliação da qualidade de vida no pós covid19.

Diante do exposto, o presente estudo tem por objetivo identificar por meio de uma revisão sistemática as evidências científicas sobre os instrumentos de avaliação da qualidade de vida em pacientes pós Covid-19.

2 MÉTODOS

Preliminarmente, realizou-se a submissão do estudo no Registro Prospectivo Internacional de Revisões Sistemáticas (PROSPERO), que foi aceito na data 19 de dezembro de 2022 com o seguinte número de registro CDR 42022382742. A fim de conferir credibilidade, o estudo foi estruturado segundo o checklist PRISMA (GALVÃO et. al,2015). Quanto aos critérios de elegibilidade, foram incluídos neste estudo somente ensaios clinicos randomizados, estudo controlado e duplos cegos, nos últimos cincos anos, sem restrição de idioma, e que abordem instrumentos de avaliação da qualidade de vida em pacientes no pós covid19 e excluídos os artigos não publicados na íntegra, publicados em duplicata, artigos que não tenham instrumentos de avaliação da qualidade de vida, artigos incompletos ou sem embasamento científico.

No período de fevereiro a março de 2023 realizou-se a busca nas bases de dadosPUBMED, COCHRANE LIBRAY, PEDro (PhysiotherapyEvidence Data-base), fazendo-se uso dos descritores:Covid-19, Síndrome Pós Covid-19, Qualidade de Vida e Questionários, além de seus sinônimos e seus correspondentes no idioma inglês: Covid-19, Post Covid-19Sindromen, Qualityof Life e Questionnairies. Com exceção da PUBMED que não aceita termos que não sejam em inglês e na PEDro que não aceita os operadores booleanos AND e OR para busca de artigos.

A triagem dos artigos selecionados contou com o auxílio do Sofware Rayyan, uma ferramenta que objetiva acelerar e colaborar com pesquisas científicas através da classificação de estudos (OUZANNI et al., 2016). A seleção dos artigos foi realizada de modo independente por duas pesquisadoras (Jansen & Bezerra) e, em caso de discordância ou discrepância nos resultados, os mesmos seriam discutidos e avaliados pelo terceiro pesquisador (Silva), o que não foi necessário. As pesquisadoras leram os estudos incluídos na íntegra e coletaram os dados relevantes: títulos, autores, anos de publicação, principais resultados, amostras, instrumentos de avaliação de qualidade de vida, intervenções e comparações.

Buscou-se nos resultados, dados que indicassem a utilização dos instrumentos de avaliação da qualidade de vida em pacientes no Pós Covid-19 observando os aspectos éticos e legais.

Duas autoras (Jansen& Bezerra) realizaram a análise qualitativa dos artigos e do risco de viés dos mesmos de forma independente, utilizando a escala PEDro – Physiotherapy Evidence Database, a qual categoriza estudos de forma numérica quanto a metodologia e é composta por 11 critérios que são pontuados, com exceção do primeiro. No presente estudo, o escore obtido foi considerado de alta qualidade quando de 10 a 8, média qualidade quando 7 e 6, e baixa qualidade quando de 5 a 0.

3 RESULTADOS

Os dados coletados foram expostos em fluxograma e tabelas. No fluxograma constam as informações sobre a quantidade de artigos encontrados e os que realmente atendem os critérios para fazer parte do estudo, apontando os critérios que levaram a exclusão dos artigos. Quanto às tabelas, a primeira sintetiza as informações pertinentes sobre os artigos incluídos na pesquisa, como os dados do autor, ano de publicação, resultados, amostra, intervenção e comparação utilizados no estudo; na segunda tabela consta a avaliação dos artigos segundo a escala PEDro e suas respectivas notas; e na terceira tabela há os dados relacionados aos instrumentos de avaliação da qualidade de vida.

Da pesquisa eletrônica nas bases de dados a partir dos descritores previamente estabelecidos, resultou um total de 268 artigos encontrados. Destes, 10 foram excluídos por duplicidade 240 foram excluídos por não se tratarem de ensaios clínicos randomizados. Assim restaram para análise de títulos e resumos 18 artigos (FIGURA 1 – FLUXOGRAMA). Destes, 07 foram excluídos por não estarem disponíveis na íntegra, 06 foram excluídos por não utilizarem instrumentos de avaliação de qualidade de vida.

Obteve-se no final 05 artigos incluídos (TABELA1 – Características dos estudos incluídos), totalizando uma amostra de 321 participantes. Os artigos foram avaliados por meio da Escala PEDro (TABELA 2 – Avaliação dos artigos incluídos através da Escala PEDro) considerando-se três artigo de média qualidade (score 6/10 , 7/10 e 7/10) e dois artigos de alta qualidade (scores 9/10, 9/10).

4 DISCUSSÃO

A qualidade de vida é mensurada utilizando questionários que avaliam a condição de vida em uma variedade de populações e condições de saúde. Os instrumentos de avaliação são fundamentais e tem como objetivo guiar intervenção ao paciente. Podem ser classificados em genéricos ou específicos. Os genéricos avaliam a qualidade de vida relacionada á saúde de um indivíduo de maneira geral, exemplos incluem: Short Form 36 (SF-36), Short Form 12 (SF-12) e o EuroQol 5D (EQ-5D). Os questionários específicos avaliam o impacto que o adoecimento acomete a qualidade de vida em condições específicas, tendo como exemplos o St. George;s Respiratory Questionnaire (SGRQ) que mensura a qualidade de vida em pacientes com doenças respiratórias e o Inventário de Depressão de Beck (BDI) que avalia a gravidade dos sintomas de depressão em adultos e adolescentes. A aplicação dos questionários pode ser realizada por profissionais de saúde e incluem avaliações da função física, desempenho cognitivo, habilidades e/ou sintomas específicos proveniente de alguma enfermidade que pode ter impactado significativamente o bem-estar, funcionalidade e independência de um indivíduo.

Diante disso, logo após criteriosa análise e leitura dos artigos, nivelando-os aos critérios de elegibilidade outrora definidos para esta revisão, cinco artigos foram inclusos. Nestes, a população foi composta por pacientes no pós covid-19, de ambos os sexos, sem considerações de fluidez de gênero, com idade entre 18 a 85 anos, avaliados através dos instrumentos de qualidade de vida, e com sintomas predominantes de depressão, ansiedade, estresse e qualidade do sono.

No estudo de Li et al (2021), foram reunidos 120 participantes, sendo estes distribuídos em grupo Controle (participantes do grupo de controle que receberam instruções educacionais curtas no início do estudo) e grupo TERECO (participantes de um programa de exercícios domiciliares não supervisionados de 6 semanas, entregues por um aplicativo de smartphone chamado RehabApp com teleconsultas uma vez por semana.Este artigo recebeu nota 9/10, sendo considerado de alta qualidade segundo a Escala PEDro, preenchendo os seguintes critérios: Distribuição aleatória por grupos, Alocação secreta dos sujeitos, Semelhança inicial entre os sujeitos quanto aos indicadores de prognóstico, “ Cegamento” dos terapeutas no estudo, Acompanhamento adequado e Análise da intenção de tratamento conforme a alocação dos sujeitos.

O teste de Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) desta pesquisa foi avaliada com o Short Form Health – 12 (SF-12). Composto por doze itens derivados do SF-36, avalia oito diferentes dimensões de influência sobre a qualidade de vida sendo elas: função física, aspecto físico, dor, saúde geral, vitalidade, função social, aspectos emocionais e saúde mental. Através de um algoritmo próprio do instrumento, dois escores foram mensurados no estudo: o físico (Physical Component Summary ou PCS) e o mental ( Mental Component Summary ou MCS) obtendo pontuações mais altas e indicando melhor saúde tanto no grupo controle como no grupo TERECO, mas não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre grupos, embora a pontuação SF-12 no componente mental do grupo TERECO tenha sido cerca de 2 pontos acima do grupo controle.

Da mesma forma que no estudo acima, Huang et al (2021), utilizaram a escala Short Form Health-12 (SF-12) e citam que a aplicabilidade dessa avaliação é uma vantagem, uma vez que é de fácil entendimento e rapidamente finalizada (em minutos). Isso torna a avaliação do paciente mais fácil e rápida, além de possuir alta confiabilidade e validade, portanto é capaz de medir com precisão a qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes pós COVID-19. Isso justifica o fato dela ser uma ferramenta amplamente utilizada e bem validada em pacientes pós COVID-19, juntamente com outras avaliações clínicas e ferramentas de diagnóstico.

Em contraposição, Lopez-Leon et al (2021), citam que o SF-12 possuem algumas limitações em avaliar sintomas específicos de COVID-19 como tosse persistente, fadiga e falta de ar, o que pode limitar sua utilidade na avaliação da qualidade de vida em pacientes pós COVID-19. Logo não é tão sensível quanto outras ferramentas de avaliação de qualidade de vida em relação a alguns aspectos respiratórios. Embora inclua perguntas sobre saúde mental, pode não ser capaz de avaliar com precisão a saúde mental em pacientes pós COVID-19 que possam ter experimentado estresse traumático ou transtornos de humor. Diante disso, o questionário pode não ser capaz de identificar grupos de risco específicos para síndrome pós COVID-19, o que pode limitar sua utilidade na identificação de pacientes que possam precisar de cuidados específicos.

No estudo de Del-Corral et al (2022), foram avaliados a qualidade de vida em uma amostra de 88 participantes com sintomas prolongados de fadiga e dispneia após o diagnóstico de COVID-19. Estes foram aleatoriamente designados para os grupos IMT (treinamento muscular inspiratório real), IMTsham (treinamento muscular inspiratório simulado), RMT (treinamento muscular inspiratório/expiratório real) ou RMTsham (treinamento muscular inspiratório/expiratório simulado). Os desfechos foram divididos em primários e secundários, onde os primários foram alterações na qualidade de vida (avaliado pelo questionário EuroQol-5D ( instrumento genérico para descrever e avaliar a saúde baseando-se em um sistema descritivo que define a saúde em termos de 5 dimensões: mobilidade, autocuidado, atividades habituais, dor/desconforto e ansiedade/depressão e cada dimensão tem 3 categorias de resposta correspondentes a nenhum problema, alguns problemas e problemas extremos); e os desfechos secundários foram alterações na função muscular respiratória, função física, função pulmonar e psicológica. No pós-intervenção (treinamento muscular respiratório supervisionado por telerreabilitação durante 8semanas sendo 40min por dia, 6vezes por semana), havendo uma melhora significativa na qualidade de vida, no grupo RMT em comparação com o grupo RMTsham. Além disso, os programas de IMT e RMT não tiveram impacto no estado psicológico. Destarte, o score do artigo na PEDro é 7/10, sendo considerado de média qualidade.

Raman et al (2021), apontam vantagem da avaliação da qualidade de vida usando o questionário EuroQol-5D, pois é uma ferramenta de rápida e fácil aplicação, geralmente levando apenas alguns minutos para ser concluído. Para os autores, a pontuação é simples e fácil de interpretar, permitindo comparações entre diferentes populações e estudos. O questionário pode ser usado em uma ampla variedade de populações, incluindo pacientes hospitalizados, pacientes ambulatoriais e a população em geral. É válido para uso em diferentes idiomas e culturas, tornando-se uma ferramenta útil para estudos.

Outro sim, EuroQol-5D, é útil para avaliar a qualidade de vida geral, porém pode não capturar detalhes importantes sobre a saúde de um indivíduo. Ele se concentra em aspectos gerais da saúde e não aborda problemas específicos ou questões que podem ser relevantes para certas populações. Não avalia aspectos sociais, não inclui uma dimensão social, o que significa que não leva em consideração aspectos importantes da vida, como relacionamentos, redes de suporte social e interação com outras pessoas (MITALL et al.,2021).

Phelivan et al (2022) reuniu uma amostra de 34 participantes, divididos em 2 grupos: TeleGr (grupo de telerreabilitação) que recebeu exercícios de respiração e amplitude de movimento, técnica de ciclo ativo de respiração e treinamento aeróbico 3 dias por semana durante 6 semanas) e CGr (grupo controle que recebeu um folheto de exercícios com o mesmo conteúdo) e foi aplicado o Questionário Respiratório Saint George (SGRQ) (tabela 3) para avaliar a qualidade de vida e Inventário de Depressão de Beck. As avaliações dos pacientes foram realizadas por meio de videoconferência- telerreabilitação e demonstrou um bom método alternativo para pacientes no pós- COVID-19. O estudo foi considerado de média qualidade, segundo a Escala PEDro, recebendo nota 7/10, pois não pontuaram nos itens: ausência de alocação secreta dos sujeitos, comparações estatísticas intergrupos e medidas de precisão e variabilidade para o estudo.

Corroborando com a temática abordada acima, Madjid et al (2020) cita que o Questionário Respiratório Saint George (SGRQ) oferece uma avaliação abrangente da qualidade de vida em pacientes com doenças respiratórias, incluindo aqueles que se recuperam da COVID-19. O questionário avalia a atividade física, função respiratória, sintomas e impacto emocional na qualidade de vida do paciente. Ele é capaz de detectar mudanças na qualidade de vida relacionadas à saúde em resposta a intervenções clínicas e tratamento em pacientes pós COVID-19. O SGRQ foi traduzido em vários idiomas, o que o torna uma ferramenta bem validada para avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes pós COVID-19.

Em contrapartida, Vitacca et al (2020) cita que o SGRQ contém 50 perguntas, o que pode ser demorado para pacientes responderem e para profissionais de saúde administrarem. O questionário não avalia sintomas específicos de COVID-19, como perda de olfato e paladar, que podem ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes que se recuperam da doença. Embora o SGRQ avalie o impacto emocional na qualidade de vida do paciente, ele pode não ser tão sensível como outras ferramentas na avaliação de aspectos psicossociais específicos, como ansiedade e depressão, que podem ser comuns em pacientes pós COVID-19.

Outra ferramenta utilizada no estudo de Phelivan et al (2022) para avaliar a qualidade de vida, é o Inventário de Depressão de Beck. Gadottra et al (2019) citam que se trata de uma ferramenta bem validada e amplamente utilizada para avaliar a gravidade dos sintomas de depressão, incluindo sintomas como tristeza, desesperança e perda de interesse em atividades. O Inventário de Depressão de Beck é de fácil administração podendo ser preenchido pelo próprio paciente, tornando-o uma opção conveniente para avaliações regulares. O questionário é capaz de detectar mudanças na gravidade dos sintomas de depressão em resposta a intervenções clínicas e tratamento em pacientes pós COVID-19.

Jhimero-almazan et al (2022), citam as desvantagens do questionário, uma vez que, não avalia aspectos físicos e sociais da qualidade de vida, que podem ser afetados em pacientes pós COVID-19, incluindo fadiga, dor crônica, dificuldade para dormir e isolamento social. Logo, o questionário é específico para a avaliação de depressão e pode não ser tão sensível para detectar outros transtornos mentais que também podem afetar a qualidade de vida dos pacientes pós COVID-19, como ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e transtornos somatoformes.

Besnier et al (2022) em seu estudo, um ensaio clínico randomizado com dois braços de intervenção (proporção 1:1) que foram avaliados às cegas e composto por uma amostra de 40 participantes, contou com um grupo de adultos com idade entre 40 e 80 anos, tendo sido utilizado para medir a qualidade de vida o SF-36 (Item Short-Form Health Survey). O estudo demonstrou que a infecção por COVID-19 pode induzir anormalidades no sistema neurológico desencadeando sintomas de estresse, ansiedade, comprometimento neurológico e cognitivo e seqüelas a longo prazo em pacientes no pós COVID-19.

Ahmed (2020) colabora com o estudo de Besnier et al (2022) com relação as vantagens de se utilizar o SF-36. O questionário avalia várias dimensões da saúde, incluindo aspectos físicos, sociais e emocionais, o que o torna uma ferramenta abrangente para avaliar a qualidade de vida em pacientes pós COVID-19. O SF-36 é fácil de administrar e pode ser preenchido pelo próprio paciente, tornando-o uma opção conveniente para avaliações regulares. No que tange as desvantagens, O SF-36 não avalia sintomas específicos de COVID-19, como dispnéia, distúrbios olfativos e/ou degustativos, o que pode impactar significativamente a avaliação da qualidade de vida dos pacientes que se recuperam da doença. O questionário possui dificuldade em avaliar mudanças sutis na qualidade de vida, o que pode ser importante para pacientes que experimentam sintomas leves ou moderados pós COVID-19.

Jhimeno-Almazan et al (2022) reuniu uma amostra de 39 participantes, sendo avaliados com condição pós-COVID-19. Avaliou -se a qualidade de vida através do questionário SF 12 (tabela 3), tendo como achados uma qualidade de vida significativamente melhor e menos depressão. Por outro lado, os resultados relatados pelo paciente não mostraram nenhuma melhora ao longo do tempo no grupo controle. Contudo o presente estudo indica que 8 semanas aplicando o questionário SF 12, foi possível detectar através dos resultados que houve uma melhora de saúde para qualidade de vida e sintomas percebidos de fadiga e depressão. Todavia, o estudo segundo os critérios da escala PEDro foi de 6/10, sendo considerado de média qualidade, com ausência de alocação secreta dos sujeitos, cegamento” dos sujeitos no estudo, cegamento” dos terapeutas no estudo e cegamento” dos avaliadores no estudo.

No contexto da pesquisa abordada acima, Barratto et al (2021) citam que o questionário tem Short-Form Health Survey (SF-12) tem mostrado vantagens e desvantagens na avaliação da qualidade de vida dos pacientes analisados na pesquisa. Entre as vantagens estão a brevidade, versatilidade e validade do questionário. Por outro lado, as desvantagens incluem a sensibilidade limitada para detectar diferenças sutis na qualidade de vida e a limitação na avaliação de sintomas específicos. A análise dos resultados do estudo feito através do SF-12, foi realizada mediante a atribuição de escores que são resumidos em dois grandes componentes: o físico e o mental, que para cada questão, os valores são transformados em uma escala de 0 a 100, em que 0 equivale a uma pior qualidade de vida relacionada a saúde, e 100 o melhor score.

5 CONCLUSÃO

Em conformidade com os dados analisados e reunidos nesta revisão, permitiu-se sintetizar conhecimentos sobre os instrumentos de avaliação utilizados para mensurar a qualidade de vida após a infecção do Covid19, onde mostrou que os pacientes apresentam a longo prazo sintomas de depressão, ansiedade, stress, má qualidade de sono, piorando significativamente a saúde em todos os aspectos dos instrumentos de avaliação.

Diante disso, é importante salientar, que não existe um questionário padrão ouro para se avaliar a qualidade de vida. Logo, cada instrumento tem suas próprias vantagens e limitações, e a escolha do instrumento dependerá dos objetivos e do contexto da avaliação da qualidade de vida.

Esse tema é ainda pouco explorado, sendo nítido o fato de que a temática carece de novos estudos que a abordem e que compreendam uma alta qualidade metodológica, no intuito de atingir um desfecho lídimo. Não obstante, verifica-se ainda a necessidade de uma uniformização quanto ao instrumento de avaliação especifico para tal população.

Os autores desta revisão declaram a ausência de financiamento e conflitos de interesse

REFERÊNCIAS

ALDAHANI, Monira.L.et al. Effect of Resilience on Health-Related Quality of Life during the COVID-19 Pandemic: A Cross-Sectional Study. Int. J. Environ. Res. Public Health 2021.

ALGAHTANI FD, Hassan S.-N., Alsaif B., Zrieq R. Avaliação da qualidade de vida durante a pandemia de COVID-19: uma pesquisa transversal do Reino da Arábia Saudita. Int. J. Ambiente. Res. Saúde pública. 2021.

Ahmed, I. COVID-19—Does exerciseprescriptionand maximal oxygenuptake (VO2 max) have a role in risk-stratifyingpatients? Clin. Med. 2020, 20, 282–284.

BAGATTINE, Angela.Maria.et al. Electronic Version of the EQ-5D Quality-of-Life Questionnaire:Adaptation to a Brazilian Population Sample.2018.

BAGATTINE, Ana.Paula.Lemos; FANTIN, Rosangela. Aparecida. Brenneisen;JUNIOR, Luciano.Bernardes. Influência do atendimento fisioterapêutico home careemidosospós covid-19. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v.7.n.8. ago. 2021.

Baratto C, Caravita S, Faini A, et al. Impactof COVID‐19 onexercisepathophysiology: A combinedcardiopulmonaryandechocardiographicexercisestudy. J ApplPhysiol. 2021;130(5):1470‐1478. doi: 10.1152/japplphysiol.00710.2020.

BERGNER, Marilyn et al. The Sickness Impact Profile: Development and Final Revision of a Health Status Measure. Medical Care, v. 19, n. 8, p. 787–805, Aug. 1981.

CARVALHO, Myrla.Crislley.Trindade.et al. O impacto na qualidade de vida nos indivíduos pós Covid-19: O que mudou?.Research, Society andDevelopment, v. 10, n.14, e219101421769, 2021.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Post Covid conditions. United States Department of Health and Human Services. [Internet] Washington; CDC; 2021. [acesso em 06 set 2022].

COSTA, Priscila.Mota.da.et al. Impactos psicológicos da síndrome pós-covid. Revista Projeção Saúde e Vida. v.1, n°2, ano 2020.

CICONELLI, Rm. Medidas de avaliação de qualidade de vida. RevBrasReumatol; 2003. 43: IX-XIII.

CDC. Interim Clinical Guidance for Management of Patients with Con rmed Coronavirus Disease ( COVID-19 ) Asymptomatic and Presymptomatic Infection Asymptomatic and Presymptomatic Transmission Illness Severity. Centers for Disease Control and Prevention, v. 2019, n. 3, p. 1–12, 2021.

DEAN E et al. Translating COVID-19 evidence to maximize physical therapists’ impact and public health response. PhysTher 2020.

FONTES,Lilia .Cristina.da.Silva.Ferreira. et al. impacto da COVID-19 grave na qualidade de vida relacionada com a saúde e a incapacidade: uma perspectiva de follow-up a curto-prazo. RevBras Ter Intensiva. 2022.

GREENSTONE, Michael e NIGAM, Vishan. Does Social Distancing Matter? SSRN ElectronicJournal, 30 Mar. 2020. Disponível em: https://papers.ssrn.com/abstract=3561244. Acesso em: 13 set. 2022.

Gandotra S, Lovato J, Case D, Bakhru RN, Gibbs K, Berry M, et al. Physical function trajectories in survivors of acute respiratory failure. Ann Am Thorac Soc. 2019;16:471–7

GOMES, L. de O.et al. Qualidade de vida de idosos antes e durante apandemia da COVID-19 e expectativa na pós-pandemia. Revista Kairós-Gerontologia,2021.

HOPMAN, Joost e ALLEGRANZI, Benedetta e MEHTAR, Shaheen. Managing COVID-19 in Low- and Middle-Income Countries. JAMA, v. 323, n. 16, p. 1549– 1550, 28 Apr. 2020.

Huang C , Huang L , Wang Y , et al . 6-Month consequences of COVID-19 in patients discharged from Hospital: a cohort study. Lancet 2021;397:220–32.doi:10.1016/S0140-6736(20)32656-8

JIANG B, Wei H. Oxygen therapy strategies and techniques to treat hypoxia in COVID-19 patients. EurRevMedPharmacolSci. 2020;24(19):10239-46. doi: 10.26355/eurrev_202010_23248.

KALIRATHINAM D, Guruchandran R, Subramani P. Comprehensive physiotherapy management in covid-19 – a narrative review. SciMed 2020.

KITCHENHAM, B. and Charters, S.: Guidelines for performing systematic literature reviews in software engineering. Technical Repor EBSE 2007-001, Keele University and Durham University Joint Report (2007).

KOLOTKIN, R. L. e ANDERSEN, J. R. A systematic review of reviews: exploring the relationship between obesity, weight loss and health-related quality of life. Clinicalobesity, v. 7, n. 5, p. 273–289, 1 Oct. 2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28695722/. Acessoem: 13 set. 2022.

Lopez-Leon S , Wegman-Ostrosky T , Perelman C , et al . More than 50 long-term effects of COVID-19: a systematic review and meta-analysis. medRxiv 2021. doi:doi:10.1101/2021.01.27.21250617.

MARTIMBIANCO ALC, et al. Frequency, signs and symptoms and criteria adopted for long COVID-19: A systematic review. Internacional JournalofClinicalPractice, 2021.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Secretaria de Ciência, tecnologia, inovação e insumos estratégicos em saúde. Departamento de gestão e incorporação de tecnologias e inovação em saúde. Diretrizes para diagnóstico e tratamento da COVID-19. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2020 [acesso em 10 set. 2022].

Mittal J, Ghosh A, Bhatt SP, Anoop S, Ansari IA, Misra A. High prevalence of post COVID-19 fatigue in patients with type 2 diabetes: A case-control study. Diabetes MetabSyndr. 2021;15 doi: 10.1016/J.DSX.2021.102302.

Madjid M, Safavi-Naeini P, Solomon SD, Vardeny O. Potential effects of coronaviruses on the cardiovascular system: A review. JAMA Cardiol. 2020;5:831–40.

NEGRI, Elnara Marcia et al. Heparin therapy improving hypoxia in COVID-19 patients – a case series. medRxiv, p. 2020.04.15.20067017, 30 Apr. 2020.

NIELSEN, Camile Cardoso. SILVA, Cristiane Campos. Reabilitação pulmonar em pacientes após Covid-19: uma proposta. 2020.

NOURI-VASKEH M, Sharifi A, Khalili N, Zand R, Sharifi A. Dyspneic and non-dyspneic (silent) hypoxemia in COVID-19: possible neurological mechanism. ClinNeurolNeurosurg. 2020;198:10l6217. doi: 10.1016/j.clineuro.2020.

PAVLI A, et al. Post –COVID syndrome: Incidence, clinical spectrum, and challenges for primary healthcare professionals. Archives of Medical Research, 2021.Disponivel em:https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0188440921000813.Acessoem: 19.out.2022.

PIRES, BRUNA.et al. Qualidade de vida dos profissionais de saúde pós-covid-19: um estudo transversal. Cogit. Enferm. 2021.

REBÊLO, Verusca.cronemberg.nogueira. et al.Sindrome Pós covid: estudo de caso. Research, Society and Development, 2022.

RELLO J, et al. Post-acute COVID-19 Syndrome (PACS): A public health emergency. Anaesthesia, CriticalCare&Pain Medicine, 2021.

Raman B, Cassar MP, Tunnicliffe EM, Filippini N, Griffanti L, Alfaro-Almagro F, et al. Medium-term effects of SARS-CoV-2 infection on multiple vital organs, exercise capacity, cognition, quality of life and mental health, post-hospital discharge. EClinicalMedicine. 2021;31 doi: 10.1016/J.ECLINM.2020.100683. –

SEEBLE, Jessica et al. “Sintomas persistentes em pacientes adultos 1 ano após a doença de coronavírus 2019 (COVID-19): um estudo de coorte prospectivo. ” Doenças infecciosasclínicas: uma publicação oficial da Sociedade de Doenças Infecciosas da América vol. 74,7 (2022).

SILVA, Silas Alves Da et al. Qualidade de vida e aspectos sociodemográficos de doentes renais crônicos. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 2, p. e5475–e5475, 1 Feb. 2021.

SIMON, Gregory E. et al. Association between obesity and psychiatric disorders in the US adult population. Archivesof general psychiatry, v. 63, n. 7, p. 824–830, 2006.

Vitacca M, Carone M, Clini EM, Paneroni M, Lazzeri M, Lanza A, et al. Joint statement on the role of respiratory rehabilitation in the COVID-19 crisis: The Italian position paper. Respiration. 2020;99:493–9.

WARE, J E e SHERBOURNE, C D. The MOS 36-item short-form health survey (SF-36). I. Conceptual framework and item selection. Medical care, v. 30, n. 6, p. 473–83, Jun. 1992.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Operational considerations for case management of COVID-19 in health facility and community: interim guidance, 19 March 2020. World Health Organization, 30 Apr. 2020b.

WU, Mariana. Síndrome pós-covid-19 -revisão de literatura: cautelas após melhora dos sintomas da covid-19. Revista Biociências -Universidade de Taubaté -v.27-n.1-p. 1-14, 2021.

WU, Zunyou e MCGOOGAN, Jennifer M. Characteristics of and Important Lessons From the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Outbreak in China: Summary of a Report of 72 314 Cases From the Chinese Center for Disease Control and Prevention. JAMA, v. 323, n. 13, p. 1239–1242, 7 Apr. 2020.

ZOMALHETO Z, et al. Impact of the severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV2) infection and disease-2019 (COVID-19) on the quality of life of rheumatoid arthritis patients in Benin. TheEgyptianRheumatologist 2020.