ADULTS’ INSERTION IN CRACK AND COCAINE ABUSE: A SYSTEMATIC REVIEW OF THE PSYCHOSOCIAL AND ECONOMIC IMPACTS.
REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/cl10202410211732
Raíssa Tinel de Melo Franco
Vívia Maria Camacam Teixeira
Geysla Mirella Andrade
Álane Pinho Jacobina Vieira Santos
Aíla Satyro Maciel
Abner Pautiel Bezerra da Silva
Luana Carolina Rocha Boaventura
Laura Yasmin Rodrigues Mota
Ana Luíza Cardoso de Carvalho Freitas1
Tâmara Trindade de Carvalho Santos2
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar como diferentes fatores influenciam o uso de crack e cocaína por adultos, focando no início do consumo, efeitos na saúde e impactos psicossociais e econômicos. Foram selecionados estudos recentes em português e inglês, excluindo aqueles que abordam outras faixas etárias – indivíduos abaixo de 18 anos – ou revisões. No processo de identificação, foram encontrados 306 artigos nas bases Medline, Lilacs e SciELO. Após essa etapa, não houve necessidade de remoção de duplicatas. Na triagem de títulos e resumos, 277 artigos foram excluídos. Em seguida, procedeu-se à análise do texto completo, na qual restaram 29 artigos. A aplicação dos critérios de inclusão e exclusão resultou na exclusão de mais 19 artigos, culminando na inclusão final de 10 artigos na revisão. O crack é mais acessível que a cocaína, o que contribui para seu uso elevado entre populações vulneráveis. A falta de acesso a tratamento especializado agrava a situação, especialmente entre aqueles com transtornos de humor. Estudos mostram que a ausência de maconha em ambientes de consumo pode aumentar o uso de crack, enquanto fatores como curiosidade, pressão social e conflitos familiares são motivadores para o início e a recaída no uso de drogas.
Palavras-chave: Crack, cocaína, fatores de risco, saúde, impacto psicossocial.
1. INTRODUÇÃO:
O uso de substâncias psicoativas, conceituadas pelo Ministério da Saúde, 1998, como drogas psicotrópicas que atuam sobre o cérebro e modificam o seu funcionamento, tem se tornado, cada vez mais, um problema alarmante no Brasil, que registrou cerca de 44 mil ações judiciais por posse de drogas – incluindo crack e cocaína – para consumo pessoal, entre janeiro e abril de 2024, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), afetando principalmente a população adulta acima de 18 anos, com ênfase no gênero masculino. (NASCIMENTO et.al., 2021).
A cocaína é uma droga estimulante derivada da planta “coca”, que age no sistema nervoso central, provocando efeitos como sangramentos pelo nariz, náuseas, euforia, aumento temporário de energia e alerta. Já o crack, uma droga ilícita processada da cocaína, pode ser fumada, o que permite que a droga entre diretamente nos pulmões e, de lá, passe rapidamente para a corrente sanguínea. Isso faz com que a substância atinja o cérebro em questão de segundos, intensificando os efeitos no organismo, como o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, além de apresentar um potencial de dependência ainda maior. (ALMEIDA & FERNANDES, 2019).
A cocaína e o crack interferem diretamente nos níveis de dopamina no sistema nervoso central, bloqueando sua reabsorção. As drogas agem diretamente nas células cerebrais localizadas no córtex pré-frontal, e, com o uso contínuo, o cérebro se adapta e a euforia passa a ser mais curta, exigindo doses maiores para manter seus efeitos. Ambas substâncias causam a dependência e danos permanentes no sistema nervoso, como perda de memória e função cognitiva, além de danificarem as vias dopaminérgicas, tornando mais difícil a regulação do prazer de forma natural, além de levar células neurais à morte, danos às sinapses e atrofia cerebral. (BARREIRO et al., 2021).
O crack e a cocaína são conhecidos por seus efeitos devastadores, não apenas no plano individual, mas também no âmbito social, familiar e econômico. Essas drogas estão associadas a uma série de problemas de saúde, incluindo transtornos mentais graves, doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e Acidente Vascular Cerebral, depressão, dependência, perda de peso e desnutrição, hemorragias e uma alta taxa de mortalidade (FUKUSHIMA et al., 2019).
Os problemas de saúde associados ao uso dessas substâncias possuem diversas motivações biológicas e comportamentais, desencadeadas pelo impacto do crack e da cocaína no corpo humano e como ela sobrecarrega os sistemas. Efeitos cardiovasculares graves, danos cerebrais e psiquiátricos, doenças infecciosas devido ao compartilhamento de agulhas, além de envolvimento com o crime, roubos, tráfico – que contribuem para a suscetibilidade dos indivíduos e o uso exacerbado das drogas (que pode causar a overdose), corroboram diretamente para o grande número de mortes entre os usuários de crack e cocaína. (UNODC, 2023).
A saúde mental dos indivíduos é afetada de forma direta, devido a alterações neuroquímicas. Muitos usuários crônicos desenvolvem sintomas psicóticos, como alucinações, paranoia e delírios, conhecidos como psicose induzida por cocaína, que pode ser temporária, mas se assemelha à esquizofrenia. O uso prolongado dessas drogas leva ao comprometimento severo das funções cognitivas, como memória e tomada de decisão, além do desenvolvimento de uma forte obsessão, dificultando o processo de recuperação e reintegração social. (PINHO et.al, 2019).
O apoio financeiro é crucial para atender às necessidades diárias das famílias com usuários de crack. Diante do suporte limitado dos serviços de saúde mental, as redes familiares e comunitárias se tornam uma estratégia essencial para lidar com a situação. Isso coloca uma grande pressão sobre os familiares cuidadores, que acabam assumindo a maior parte da responsabilidade pelo cuidado. (PINHO et. al, 2019).
A relação entre a dependência do uso do crack e da cocaína e problemas no âmbito socioeconômico está diretamente associada a comportamentos de risco para o sustento do uso e a vulnerabilidade social. A busca por sustento financeiro torna os usuários suscetíveis a atos extremos, bem como explorar (principalmente em casos de indivíduos com filhos) o crime e à violência. Para obterem sua dependência financeira e pela necessidade de manter o vício, muitas vezes utilizam a prostituição como forma de sustento. (TOLEDO et. al., 2017).
Muitas pessoas que utilizam crack e cocaína acabam em situação de extrema fragilidade, com grande proporção se tornando moradores de rua, devido à perda de controle sobre a dependência, o rompimento de laços familiares e sociais, e a dificuldade em manter uma renda estável, resultando na incapacidade de sustentar uma moradia. Esse grupo se encontra em condições precárias, especialmente nas grandes cidades, onde o acesso a essas substâncias é facilitado, seja por influência familiar, de amigos, pela internet, por ambientes acadêmicos ou até mesmo por curiosidade (WEBSTER et.al, 2020).
Esse cenário agrava problemas sociais e desestruturação familiar, impactando não só os usuários, mas toda a comunidade ao seu redor (BARBOSA, 2023). Essa revisão sistemática visa analisar os efeitos do uso do crack e da cocaína em populações vulneráveis, explorando os fatores de risco, as consequências à saúde e as intervenções necessárias para mitigar esse grave problema de saúde pública no Brasil.
2. METODOLOGIA
Para a realização da busca por artigos científicos sobre o tema, utilizou-se as bases de dados Medline – Medical Literature Analysis and Retrievel System Online -, Lilacs – Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde e SciELO – Scientific Electronic Library Online -. Foram utilizados como critérios de inclusão para a seleção dos artigos: estudos que abordassem a iniciação no uso de substâncias psicoativas por adultos, artigos publicados há no máximo 05 anos e textos disponíveis em português e inglês. Foram excluídos estudos de populações específicas, como adolescentes ou idosos, ou que não tratavam diretamente do uso de crack e cocaína na fase adulta.
As seguintes combinações para os descritores foram utilizadas com o auxílio do operador booleano “AND”: “Substâncias Psicoativas” AND “Adultos”: Medline localizou 20 artigos, e 10 deles foram incluídos na revisão. SciELO identificou 10 artigos, e apenas 1 foi selecionado para o estudo. Lilacs disponibilizou 47 artigos, e 4 obtiveram a seleção. “Cocaína” AND “Adultos”: Medline encontrou 36 artigos, 2 selecionados. Lilacs identificou 13 documentos, apenas 1 escolhido. Para “Iniciação” AND “Drogas”: Medline disponibilizou 43 artigos, por critérios de exclusão, nenhum foi selecionado. “Crack” AND “Adultos”: Medline localizou 10 documentos, nenhum foi selecionado. Lilacs disponibilizou 127 artigos, e 2 foram escolhidos. O processo de seleção dos artigos está ilustrado no Fluxograma (Figura 1).
Figura 1. Fluxograma da Seleção de Artigos.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2024.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Quadro 1 apresenta uma síntese das principais características dos 10 estudos selecionados, incluindo os autores, o ano de publicação, o título e os principais resultados. Os artigos da seleção foram elaborados entre 2019 e 2024. A maioria dos estudos utilizou nove delineamentos transversais, proporcionando uma visão instantânea da relação entre o consumo abusivo de cocaína e crack, investigando os impactos psicossociais e econômicos em adultos, enquanto um estudo longitudinal permitiu uma análise mais aprofundada do consumo de drogas psicoativas ao longo do tempo.
Quadro 1. Características e Principais Achados dos Estudos Incluídos na Revisão Sistemática:
AUTOR | TÍTULO | PRINCIPAIS RESULTADOS |
WEBSTER et.al, 2020 | Consumo de drogas Rede e Apoio Social entre Pacientes Psiquiátricos | A rede social pode influenciar o consumo de drogas entre pessoas com transtornos psiquiátricos, ora favorecendo a redução, ora aumentando o consumo. |
ANDRADE et.al, 2024 | Fatores de Risco e Proteção decorrentes do uso de Crack na Capital do Brasil | O papel da família é crucial para a reabilitação de usuários de crack, mas o ambiente de vulnerabilidade social e a criminalidade dificultam o processo. O crack é mais acessível que a cocaína devido ao seu baixo custo. |
ANDREETI et.al, 2021 | Internação compulsória e consumo de crack: uma reflexão | Os usuários de crack apresentam insatisfação com a internação compulsória. Há desafios no retorno ao ambiente familiar e no seguimento dos cuidados de saúde. |
BARBOSA et.al, 2023 | Preditores de Problemas Relacionados ao Uso de Substâncias Psicoativas entre usuários em tratamento psicossocial | Transtornos de humor, como ansiedade e depressão, são preditores do uso de drogas. Questões familiares, circunstâncias de emprego e bem-estar mental geral agravam o problema. |
PEDROSA et.al, 2020 | Motivação para Primeira Experiência do Uso de Drogas e Recaídas | As principais motivações para o início do uso são curiosidade, pressão de colegas e questões familiares. |
REICHERT et.al, 2023 | Trajetórias Sociais e Vulnerabilidades associadas ao Uso de Crack | O consumo de crack cresceu devido ao seu baixo custo. Conflitos familiares impulsionam o uso precoce de crack e cocaína. |
NASCIMENTO et.al, 2021 | Perfil Epidemiológico dos Usuários em Centro de Atenção Psicossocial | A maioria dos usuários de crack são homens. O consumo de crack está correlacionado ao uso de álcool e tabaco, e a falta de filhos foi um fator protetor para o uso de cocaína e maconha. |
KIRCHNER et.al, 2020 | Recaídas e a Busca pelo Tratamento de Usuários de Crack | O consumo de substâncias lícitas, como álcool e tabaco, pode desencadear recaídas em usuários de crack. Permanecer em ambientes anteriores ao tratamento ou frequentar locais com tráfico aumenta o risco de recaída. |
PINHO et. al, 2019 | Apoio Material, Família e cuidado às Pessoas que utilizam Crack. | Os serviços de saúde mental proporcionam um suporte restrito, resultando em uma grande pressão sobre os familiares cuidadores. |
SILVEIRA et. al, 2023 | Craving em usuários de crack segundo características individuais e comportamentais | Pessoas com baixa escolaridade e transtornos psiquiátricos são os mais afetados. Fatores como divórcio e uso de múltiplas drogas aumentaram a dependência química. |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2024.
O consumo de drogas tem crescido de forma exponencial entre pessoas com quadros psicopatológicos e pode acarretar em diversos prejuízos que se sobrepõem aos danos e doenças psíquicas. Um estudo francês com indivíduos em tratamento para dependência de drogas com um quadro elevado de transtornos psiquiátricos revelou que a rede social em que estão inseridos exerce uma influência paradoxal. Em alguns casos, ela contribui para a redução do consumo, enquanto em outros, favorece o aumento. Existem demonstrações de que o uso de drogas pode ser utilizado como uma estratégia para facilitar as relações interpessoais (WEBSTER et.al, 2020).
Outro fator analisado é a questão de custeio da droga, apesar de que o crack e a cocaína partilham do mesmo princípio ativo, a planta Erythroxylum coca, o crack é mais acessível em relação a cocaína considerando-se que é uma mistura com outras substâncias, e a sua produção é mais simples e menos cara do que a da cocaína em pó, resultando em menor pureza. A alta demanda e a venda em pequenas pedras tornam o acesso mais fácil e barato, permitindo que pessoas com menos recursos possam comprá-lo. (ANDRADE et.al, 2024).
Constata-se que o papel familiar é crucial no processo de reabilitação e preservação dos usuários de crack, tendo em vista que o contato com indivíduo possibilita o diálogo e o direcionamento para evitar possíveis recaídas. Apesar de existir uma grande procura pela restauração e fortalecimento das relações familiares, a questão da criminalidade é um entrave que gera receio e medo, pois, os usuários são utilizados encontram-se em situação de vulnerabilidade. Além disso, existe um retardo por parte da família para perceber a gravidade da dependência e grande pressão sobre os familiares cuidadores (PINHO et. al, 2019).
O acesso a cuidados especializados para abuso ou dependência de álcool e drogas está disponível para apenas um em cada seis indivíduos diagnosticados com esses problemas. Transtornos de humor, entre outras condições de saúde mental, são reconhecidos como preditores e frequentemente se apresentam como desafios nas interações sociais, o que pode contribuir para o uso de substâncias. Essa conexão geralmente piora a situação, levando a resultados de tratamento menos eficazes e a um risco maior de suicídio (ANDREETI et. al, 2021).
Além disso, fatores como ansiedade e depressão servem para exacerbar o uso de drogas, uma vez que os efeitos estimulantes elevam a atividade do sistema nervoso, causando taquicardia e desregulação emocional, enquanto a impulsividade e a busca por novas experiências estão mais associadas ao reforço positivo. Indivíduos que lutam contra a ansiedade podem encontrar riscos maiores de uso de substâncias em razão de elementos como dinâmica familiar, circunstâncias de emprego, questões legais e bem-estar mental geral (BARBOSA et al., 2023).
Nas pesquisas realizadas, os participantes notaram que a ausência de maconha levou a um aumento no uso de crack, já que os traficantes empregam essa tática para fomentar a dependência do crack, resultando em uma base de clientes maior. A análise qualitativa destaca as razões por trás do uso de crack, revelando que ele geralmente ocorre junto com outras drogas e não é tipicamente a primeira escolha para experimentação. No entanto, com o tempo, o crack surge como a substância mais significativa, alterando, em última análise, o curso de suas vidas (PEDROSA et.al, 2020).
Os motivos para iniciar o uso de drogas e sofrer recaídas estavam intimamente ligados a três fatores principais: curiosidade ou desejo de experimentar os efeitos da droga, pressão dos colegas e questões familiares, que também foram destacados em uma pesquisa nacional sobre o uso de crack e em um estudo realizado com indivíduos em tratamento em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD).
O consumo de crack no Brasil tem mostrado aumento nos últimos anos, conforme dados do Ministério da Saúde, 2021, passando a ser uma das principais drogas utilizadas considerando o preço baixo, principalmente porque é produzido a partir de uma versão menos refinada da cocaína, usando substâncias como bicarbonato de sódio ou amônia em seu processamento. O crack é vendido em pequenas quantidades, tornando o preço mais acessível. Além disso, foi analisado que os indivíduos costumam utilizar drogas como crack e cocaína associadas ao álcool e maconha com fito de controlar os efeitos. Outro fator observado mediante os estudos consta que, as problemáticas familiares conflituosas afetam diretamente para o uso de cocaína e crack precoce. (REICHERT et.al, 2023).
No Brasil, a maioria dos consumidores de crack nas cenas de consumo é composta por homens. Pesquisas domiciliares anteriores indicaram que a proporção de usuários de cocaína/crack, analisadas conjuntamente nessas pesquisas, era de aproximadamente 60% de homens e 40% de mulheres (ou até mesmo proporções ainda mais semelhantes entre homens e mulheres). Essa descoberta está alinhada com a literatura brasileira, que indica uma predominância masculina em cenas abertas e na interação com o tráfico. Os consumidores de crack/similares geralmente são poli usuários, o que significa que o crack/similar é apenas uma das drogas em um vasto mundo de substâncias psicoativas. (NASCIMENTO et.al, 2021).
Notavelmente, a maioria dos inquiridos sofreu infiltração de diversas drogas para o consumo de drogas, que incluía substâncias lícitas como o álcool e o tabaco, indicando que eram múltiplos consumidores de drogas. Testemunhas relatam que ver alguém fazendo uso de qualquer tipo de substância, até mesmo bebida alcoólica, pode desencadear o desejo de usar crack. Estudos também concluíram que permanecer num ambiente que frequentam antes do tratamento e viajar para locais frequentados por outros consumidores ou onde ocorre tráfico de drogas pode desencadear recaídas, pessoas com baixa escolaridade e transtornos psiquiátricos são os mais afetados (SILVEIRA et. al, 2019).
De acordo com KICHNER et.al, o consumo de substâncias lícitas, como álcool e tabaco, pode desencadear recaídas em usuários de crack. Permanecer em ambientes anteriores ao tratamento ou frequentar locais com tráfico aumenta o risco de recaída. Nesse sentido, a relevância do presente estudo se manifesta mediante a necessidade de compreensão dos mecanismos que influenciam o consumo de drogas na vida adulta, especificamente o crack e a cocaína, com o fito de observar de que forma esses fatores afetam a vida social, econômica e familiar do indivíduo.
4. CONCLUSÃO
A inserção de adultos acima de 18 anos no uso de drogas ilícitas, como cocaína e crack, é um assunto complexo que envolve uma variedade de fatores correlacionados, que incluem vulnerabilidades sociais, como pobreza, desemprego e falta de suporte familiar, além de questões psicológicas, como transtornos mentais não diagnosticados ou não tratados, baixa autoestima e histórico de traumas associados à família e à vida pessoal como um todo. O ambiente social também desempenha um papel intrinsecamente relevante, com a influência e a exposição a locais onde o uso de drogas é comum e o acesso é facilitado, contribuindo para a adoção dessas práticas.
No plano da saúde, o uso contínuo de drogas está associado a uma série de complicações médicas, incluindo doenças cardiovasculares, neurológicas e psiquiátricas, que podem levar a incapacidades mentais, físicas e até à morte. Além disso, pode-se mencionar também a revolta e a insatisfação do usuário com os profissionais de saúde e integrantes da família, visto que seriam bases de vínculo capazes de trazer os indivíduos à realidade, e se desvincularem das drogas.
Psicossocialmente, os usuários enfrentam um estigma desenfreado, isolamento social e dificuldades em manter relacionamentos saudáveis, principalmente porque vivem à margem da sociedade. O impacto familiar é igualmente significativo, abrangendo fatores como a desestruturação de lares, aumento da violência doméstica devido à dependência química, que gera negligência nas responsabilidades familiares.
Economicamente, o uso de drogas pode resultar na perda de emprego, dificuldades financeiras e, em casos extremos (mas não raros), o envolvimento em atividades ilícitas para sustentar o vício, que ocorre em razão da necessidade financeira, levando os usuários a buscar meios rápidos de obter dinheiro. A redução da capacidade de julgamento, o estigma social e a pressão do ambiente também influenciam essas escolhas, perpetuando o ciclo de criminalidade e dependência, pobreza e marginalização.
A compreensão dos fatores que levam à inserção de adultos no uso de drogas e os múltiplos impactos resultantes é fundamental para a elaboração de políticas públicas eficazes, que devem integrar abordagens de prevenção e tratamento, com um enfoque multidisciplinar que considere as dimensões de saúde: psicossocial, familiar e econômica.
O tratamento de dependência do crack e da cocaína requer intervenções específicas em saúde pública, como programas de reabilitação, suporte psicológico e controle de recaídas. Ações como suporte social e programas voltados à reintegração no mercado de trabalho também devem ser incorporadas às estratégias que são, inclusive, oferecidas pelo Sistema Único de Saúde. Assim, depreende-se que uma intervenção eficaz para a diminuição da inserção de adultos no uso de drogas ilícitas é crucial e necessária, visando mitigar os danos provocados aos usuários e à sociedade no geral.
A aplicação de políticas e ações de saúde pública no Brasil, tem como foco das ações e estratégias de intervenção, a missão de reduzir o número de usuários dependentes e com problemas decorrentes do uso de drogas, onde há necessidade de investir em ações que priorizem o acesso e a qualidade da atenção integral, com práticas de promoção da saúde, no âmbito de uma rede humanizada e integrada a outras atividades intersetoriais, cujo objetivo principal seja a defesa da vida e da cidadania das pessoas.
5. REFERÊNCIAS
ANDRADE, G. M.; SANTOS, P. L.; ROCHA, C. F. Fatores de risco e proteção decorrentes do uso de crack na capital do Brasil. Revista Dependência Química, v. 9, n. 3, p. 101-119, 2024. Disponível: https://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/refacs/article/view/7255/7272
WEBSTER, R.; COSTA, J. S.; FIGUEIREDO, A. Consumo de drogas: rede e apoio social entre pacientes psiquiátricos ambulatoriais. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 15, n. 2, p. 111-130, 2020. Disponível: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712020000200004
PEDROSA, L.; FERNANDES, I.; SOUZA, D. Motivação para primeira experiência do uso de drogas e recaídas de pessoas em tratamento. Jornal de Dependência Química, v. 12, n. 1, p. 22-41, 2020. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/12/1145228/58894-texto-do-artigo-304677-1-10-20201229.pdf
ANDREETI, F.; PEREIRA, M.; ALMEIDA, C. Internação compulsória e consumo de crack: uma reflexão a partir do olhar dos profissionais de saúde mental. Revista Brasileira de Saúde Mental, v. 14, n. 4, p. 78-97, 2021. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/revistapsico/article/view/35772/26863
PINHO et al. Apoio material, família e cuidado às pessoas que utilizam crack. Revista Brasileira de Assistência Social, v. 17, n. 1, p. 45-63, 2019. Disponível em: https://seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/7417/pdf_1
REICHERT, R. A.; RAMOS DE OLIVEIRA, M.; DE MICHELI, D.; APARECIDA DA SILVA, E. Trajetórias sociais e vulnerabilidades associadas ao uso de crack e outras drogas: um estudo na cidade de São Paulo, Brasil. Revista Cultura y Droga, v. 28, n. 36, p. 206-235, 2023. Disponível: https://revistasojs.ucaldas.edu.co/index.php/culturaydroga/article/view/8825/7095
NASCIMENTO, J. R.; FERREIRA, L. M.; MORAES, F. S. Perfil epidemiológico dos usuários atendidos em centro de atenção psicossocial, álcool e drogas, em uma capital do nordeste brasileiro. Revista de Saúde Pública, v. 13, n. 2, p. 121-145, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/rcp/article/download/22136/14674/87103
KIRCHNER, P.; MENEZES, F. A.; FONSECA, T. Recaídas e a busca pelo tratamento de usuários de crack. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 20, n. 4, p. 88-105, 2020. Disponível: https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/revistaenfermagem/article/download/243627/34440/160615#:~:text=Contribuiu%2Dse%20negativamente%2C%20ainda%2C,meio%20do%20uso%20de%20drogas
SILVEIRA et. al. Craving em usuários de crack segundo características individuais e comportamentais. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 27, e2023120, 2023. Disponível: https://www.scielo.br/j/ress/a/jNJF48BtmXCvMXB9TcnFwbk/?format=pdf&lang=pt
BARBOSA, G. C., FERNANDES, I. F. A. L., CLARO, H. G., BOSKA, G. A., SILVA, J. C. M. C., & OLIVEIRA, M. A. F. (2023). Preditores de problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas entre usuários em tratamento psicossocial. REME – Rev. Min. Enferm., 27, e-1514. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/reme/article/view/41536/38135
ALMEIDA, G. B.; FERNANDES, D. R. Correlação entre o uso de cocaína e crack com transtornos psicóticos ou neuropsicológicos: revisão de literatura. Revista Científica Faema, v. 10, n. 1, p. 62-70, 2019.
ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME. UNODC World Drug Report, 2023 warns of converging crises as illicit drug markets continue to expand. Disponível em: https://www.unodc.org/conig/en/stories/unodc-world-drug-report-2023-warns-of-converging-crises-as-illicit-drug-markets-continue-to-expand.html.
FUKUSHIMA, A. R. et al. Crack cocaine, a systematic literature review. Forensic Research & Criminology International Journal, v. 7, n. 5, p. 247-253, 2019.
TOLEDO, L., GÓNGORA, A., BASTOS, F. I. (2017). À margem: uso de crack, desvio, criminalização e exclusão social – uma revisão narrativa [On the sidelines of society: crack use, deviation, criminalization and social exclusion – a narrative review]. Ciencia & saude coletiva, 22(1), 31–42. https://doi.org/10.1590/1413-81232017221.02852016
BARREIRO, E. M. M. B.; INFANTE, L. M. M.; MÁRQUEZ, M. F. R. Consecuencias neurológicas del consumo de drogas. In: ANIVERSARIOCIMEQ2021, 2021, La Habana.
1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade AGES de JACOBINA-BA: E-mail: raissatinel@icloud.com
2Docente curso superior de Medicina da Faculdade AGES de JACOBINA-BA: Doutora em Biotecnologia (UEFS): E-mail: tamara.carvalho@ages.edu.br