ARTIFICIAL INSEMINATION WITH FRESH SEMEN IN A FEMALE SHETLAND SHEEPDOG: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7957404
Alana Pereira Cabral de Souza¹
Nathali Roberta Alves dos Santos¹
Luis Eduardo Ferreira de Almeida2
Aline Vieira Pinheiro dos Santos3
Dala Kezen Vieira Hardman Leite3
Resumo
A inseminação artificial (IA) é uma biotecnologia de reprodução que é muito utilizada para o melhoramento genético de um canil. Tem como vantagens atestar a saúde reprodutiva através do líquido seminal, resulta em uma reprodução de cadelas com melhores condições genéticas, previne doenças transmitidas durante a cópula, e pode ser utilizado quando há impossibilidade da monta natural e animais medrosos. O objetivo desse trabalho é relatar uma Inseminação Artificial com sêmen a fresco em uma cadela da raça Pastor de Shetland. Uma cadela, 5 anos de idade, da raça Pastor de Sheland apresentou um histórico de rejeição ao macho, impossibilitando a realização da monta natural. Foi realizado um exame ginecológico na cadela e a citologia vaginal confirmou a fase do estro com 90% das células superficiais nucleadas e anucleadas. Um cão da raça Pastor de Shetland, 5 anos de idade, foi selecionado como reprodutor do canil. Foi realizado o exame andrológico, especificamente o exame clínico geral, e coletado o sêmen pelo método de manipulação digital. O sêmen foi analisado, quanto a característica macroscópica e microscópicas do animal, e todos os parâmetros foram considerados normais e aptos para a reprodução. Em seguida, foi realizada a inseminação artificial intravaginal, que consiste na deposição do sêmen a fresco na vagina da cadela. A técnica foi executada através de uma pipeta específica para a inseminação artificial em cadelas (PROVAR®), conectada a uma seringa. Na porção cranial da vagina da cadela, foi introduzido em ângulo de 45º ventralmente e o sêmen foi depositado com um volume médio de 5 mL. O mesmo procedimento foi repetido 3 vezes com intervalos de 48 horas cada. Essa repetição da IA tem o objetivo de alcançar todo o período do estro, aumentando as chances de prenhês. A inseminação artificial mostrou ser uma ferramenta simples e eficiente na impossibilidade da monta, garantindo a vida reprodutiva da cadela. Os exames andrológicos e citologia vaginal são de grande valia para a avaliação da esfera reprodutiva da cadela que irá determinar a fase do ciclo estral, previamente à inseminação.
Palavras-chave: Citologia vaginal. Exame Andrológico. Reprodução.
Abstract
Artificial insemination (AI) is a breeding biotechnology that is widely used for the genetic improvement of a kennel. It has as advantages attests the reproductive health through the seminal liquid, results in a reproduction of bitches with better genetic conditions, prevents diseases transmitted during copulation, and can be used when there is impossibility of natural mating and fearful animals. The objective of this work is to report an Artificial Insemination with fresh semen in a female Shetland Shepherd. A 5 year old female Shetland Shepherd presented a history of rejection to the male, making the natural mating impossible. A gynecological examination was performed on the bitch and vaginal cytology confirmed the estrus phase with 90% of the superficial cells nucleated and anucleated. A 5-year-old Shetland Sheepdog was selected as the kennel’s breeding stock. An andrological examination was performed, specifically a general clinical examination, and semen was collected by the digital manipulation method. The semen was analyzed for macroscopic and microscopic characteristics of the animal, and all parameters were considered normal and suitable for reproduction. Next, intravaginal artificial insemination was performed, which consists in the deposition of fresh semen in the vagina of the bitch. The technique was performed using a specific pipette for artificial insemination in bitches (PROVAR®), connected to a syringe. In the cranial portion of the bitch’s vagina, it was introduced in a 45º angle ventrally and the semen was deposited with an average volume of 5 mL. The same procedure was repeated 3 times with intervals of 48 hours each. This repetition of AI aims to reach the entire period of estrus, increasing the chances of pregnancy. Artificial insemination proved to be a simple and efficient tool in the impossibility of mating, ensuring the reproductive life of the bitch. The andrology exams and vaginal cytology are of great value for the evaluation of the reproductive sphere of the bitch that will determine the phase of the estrous cycle, previously to insemination.
Keywords: Vaginal cytology. Andrological exam. Reproduction.
INTRODUÇÃO
Na espécie canina, a inseminação artificial (IA) com o uso do sêmen in natura, pode ser utilizado quando há impossibilidade da monta natural, como por problemas comportamentais, resguardando também o estresse causado pela manipulação dos animais para a monta natural. Além disso, previne doenças transmitidas durante a cópula pois, preserva o material genético permitindo o uso do mesmo na fecundação de duas fêmeas de alto interesse zootécnico em um espaço indeterminado de tempo em suas melhores condições de armazenamento (MASON, 2018; GONÇALVES; FIGUEIREDO; GASPERIN, 2021).
A seleção de cães reprodutores é fundamental para obter êxito na inseminação artificial (CBRA, 2013). Para isso é necessário avaliar ambos, o macho e a fêmea, através do exame andrológico: exame clínico geral, anamnese, exame físico com a inspeção e palpação dos órgãos reprodutivos, e exame complementar no manejo reprodutivo, como a colpocitologia (SANTOS et al., 2016).
A citologia vaginal é um exame laboratorial que irá determinar a fase do ciclo estral em que a cadela se encontra, auxiliando no momento mais adequado para a realização da IA (SANTOS et al., 2022; NOGUEIRA et al., 2019). No proestro, é observado um corrimento vulvar sanguinolento, mudança de comportamento e sem aceitação de monta. A citologia nessa fase é marcada pela presença de neutrófilos, hemácias, células parabasais, intermediárias e superficiais (VIEIRA et al., 2012).
A fase do estro é o período fértil, a fêmea passa a aceitar cobertura, não apresenta secreção vaginal e a citologia é caracterizada pelo predomínio de células superficiais, cerca de 90%, seguida de hemácias em menor número e não há presença de neutrófilos (RODRIGUES; BERRTOLINI, 2019).
Após a fase anterior, inicia a fase do diestro, a fêmea não aceita o macho e na citologia predominam células parabasais e intermediárias, sendo característico dessa fase a presença das células de metaestro (NOGUEIRA et al., 2019). O anestro apresenta involução ovariana, inatividade ovariana e não receptividade ao macho. Na citologia vaginal encontram-se células parabasais e intermediária em menor quantidade (VIEIRA et al., 2012).
Para a eficiência reprodutiva de um cão reprodutor a qualidade seminal afeta diretamente na fertilidade e deve ser avaliada. A correlação das características seminais às características do reprodutor, como idade ou peso, e fertilidade são fatores que precisam possuir uma maior relevância na rotina da avaliação reprodutiva (MASON, 2018; TESI, 2018). O exame andrológico avalia a fertilidade do animal através da análise seminal, e exame clínico para a posterior seleção de reprodutores e o diagnóstico, prognóstico de infertilidades (SANTOS et al., 2016; MONTEIRO et al., 2020).
Além disso, a inseminação artificial elimina o risco da perda do material (sêmen), atesta a saúde reprodutiva através do líquido seminal, e resulta em uma reprodução de cadelas com melhores condições genéticas (SILVA; CARDOSO; SILVA, 2001). O objetivo desse trabalho é relatar uma Inseminação Artificial com sêmen a fresco em uma cadela da raça Pastor de Shetland.
RELATO DE CASO
O trabalho foi submetido ao Comitê de Ética – UNIG obedecendo às normas do comitê de ética e experimentação animal, PEBIO/UNIG Nº 010/2022.
Foi atendida uma cadela da raça Pastor de Shetland, 5 anos de idade, com sinais clínicos possíveis de estro. Com a presença do macho da mesma raça, foi realizada uma tentativa de monta natural, mas houve rejeição por parte da fêmea, e a monta não foi concluída.
Na avaliação geral a cadela apresentou um escore de condição corporal 3, (escala 1 a 5). No exame ginecológico vaginal e vulva apresentou aspectos dentro da normalidade, sem aumento e secreção em toda cadeia mamária. Aproximadamente sete dias antes, foram observadas vagina e vulva edemaciadas com secreção serosanguinolenta, constatando a fase de proestro por meio da colpocitologia (Figura 1A). A citologia vaginal foi realizada com o auxílio de um swab estéril, previamente umidificado com uma gota de solução salina, introduzido pela comissura dorsal da vagina em ângulo de 45º, rotacionado a fim de atingir as partes dorsais e laterais da vagina (COSTA; LEGA; NEVES, 2009). O material foi fixado em lâminas histológicas de vidros coradas pelo método de Diff Quick, Panótico Rápido. Após a coloração foi visualizada 90% de células superficiais nucleadas e anucleadas em microscopia óptica com aumento de 40x. (Figura 1B), caracterizando a fase de estro.
Figura 1: A – Lâmina de citologia vaginal com presença de células parabasais, intermediárias e superficiais, caracterizando a fase de proestro (seta preta) B – Lâmina de citologia vaginal predominando as células superficiais nucleares (seta vermelha): fase de estro.
Fonte: arquivo pessoal, 2023
Um cão da raça Pastor de Shetland, 5 anos de idade, com um histórico de atividade reprodutiva por monta natural e Inseminação Artificial foi selecionado como reprodutor do canil. No exame andrológico, especificamente no exame clínico geral, o cão apresentou um escore de condição corporal (ECC) 4. Quanto ao exame clínico do sistema reprodutor a bolsa escrotal não apresentou alteração e nem presença de secreção, os dois testículos se encontravam na bolsa escrotal, testículos simétricos, com mobilidade e consistência dentro do padrão de normalidade, bem como os epidídimos. O prepúcio e pênis sem qualquer alteração.
O sêmen foi coletado pelo método de manipulação digital (Figura 2A) que consiste em massagear a glande do cão até a distensão do bulbo peniano e exposição do pênis, marcado pela ereção. É mantida uma pressão constante, o pênis é rotacionado em 180º, e coletado cada fração do ejaculado (BEGUM; BHUVANESHWARI, 2018). Posteriormente, o sêmen foi analisado, quanto a característica macroscópica o animal apresentou um volume ejaculado de 5 mL, coloração branco opalescente e odor suis generis. Em relação às características microscópicas, o animal apresentou 90% de motilidade (0 a 100%) e vigor 4 (0 a 5). Esses parâmetros são considerados normais e aptos para a reprodução, segundo manual de exame andrológico do CBRA, 2013.
Em seguida, foi realizada a inseminação artificial intravaginal, que consiste na deposição do sêmen a fresco na vagina da cadela. A técnica foi executada através de uma pipeta específica para a inseminação artificial em cadelas (PROVAR®), conectada a uma seringa. Na porção cranial da vagina da cadela, foi introduzido em ângulo de 45º ventralmente, e em seguida, na direção horizontal até encontrar um pouco de resistência onde o sêmen foi depositado com um volume médio de 5 mL (MASON, 2018). A região pélvica da fêmea foi erguida por quinze minutos, massageando a vulva, visando prevenir o refluxo do sêmen (Figura 2B).
Figura 2: Coleta seminal por meio da manipulação digital B – Inseminação Artificial com sêmen a fresco
Fonte: arquivo pessoal, 2023
A mesma técnica foi repetida 3 vezes com intervalos de 48 horas cada, para garantir que a quantidade do conteúdo espermático fosse suficiente no interior do útero, durante o período do estro.
DISCUSSÃO
Conforme o manual do CBRA (2013) as seleções dos reprodutores, tanto do macho quanto da fêmea, são fundamentais para uma inseminação eficaz, além do diagnóstico de patologias reprodutivas e/ou infertilidades. As avaliações físicas e clínicas dos animais supracitados indicaram parâmetros normais e aptos para a reprodução. Além disso, foi realizada a colpocitologia e o exame andrológico corroborando com Santos (2016), que indica a importância desses exames complementares para o manejo reprodutivo.
Segundo Mason (2018), a cadela encontrou-se na fase do estro, quando na citologia vaginal, o esfregaço celular apresentou um índice de cornificação maior que 80%, indicando apta para a realização da IA. A citologia realizada na cadela resultou em 90% de células superficiais nucleadas e anucleadas, identificando o período fértil (NOGUEIRA et al., 2019).
Em relação às análises microscópicas do sêmen, ao volume, coloração e odor, e as análises microscópicas, quanto a motilidade e vigor, estão de acordo com as normalidades referidas no manual para exame andrológico e avaliação de sêmen animal do CBRA (2013). Segundo Monteiro et al. (2020), fatores como pequena quantidade do volume da fração espermática e a qualidade do sêmen, vão influenciar na distribuição e sobrevida das células espermáticas dentro do lúmen uterino. Diante disso, o presente trabalho corrobora com o autor supracitado, pois utilizou-se um sêmen de qualidade e quantidade adequada para obter excelência nos resultados da inseminação.
De acordo com Gonçalves, Figueiredo e Gasperin (2021) o sêmen a fresco tem uma melhor rentabilidade através da IA pois preserva o material genético, por essa razão, o presente relato adotou a mesma metodologia do autor mencionado. Além disso, determina o uso do sêmen na distribuição de receptoras em espécies com interesse econômico e zootécnico, justificando a mesma prática utilizada por Gonçalves e seus colaboradores, pois a raça Pastor de Shetland se integra ao grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inseminação artificial mostrou ser uma ferramenta simples e eficiente na impossibilidade da monta, garantindo a vida reprodutiva da cadela. Os exames andrológicos e citologia vaginal são de grande valia para a avaliação da esfera reprodutiva da cadela que irá determinar a fase do ciclo estral, previamente à inseminação.
REFERÊNCIAS
BEGUM, M.M.; BHUVANESHWARI, V. Collection and intra-vaginal insemination of fresh semen with prostatic fluid in a 2-year-old beagle. Indian Veterinary Journal, v. 95, n. 5, p. 83–84, 2018.
CBRA – COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL. Manual para exame andrológico e avaliação de sêmen animal. 3 ed., Belo Horizonte: CBRA, 2013, p. 104.
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1Discente do curso de Medicina Veterinária – Universidade Iguaçu campus Nova Iguaçu, RJ, Brasil.
2Médico veterinário autônomo
3Docente do curso de Medicina Veterinária – Universidade Iguaçu campus Nova Iguaçu, RJ, Brasil. Av. Abílio Augusto Távora 2134, Nova Iguaçu, RJ, 26275-580. (21) 99912-7785 dkezen@gmail.com