INOVAÇÕES EM PROPULSÃO SUSTENTÁVEL: A EVOLUÇÃO DOS VEÍCULOS MOVIDOS A BIOCOMBUSTÍVEIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412101510


Glenda Karoline de Lima Cardoso1
Michaella Socorro Bruce Fialho2


Abstract: This article explores the role of biofuels – ethanol, biogas, and biodiesel – as alternatives to fossil fuels, evaluating their impact on sustainability and the environment. The research examines the production processes for each type of biofuel, highlighting their advantages and disadvantages, as well as their benefits in reducing greenhouse gas emissions. Issues such as natural resource use, water consumption, and biodiversity impacts are also considered. Finally, the study analyzes sustainable production practices and the potential for technological innovation to facilitate an effective transition to a low-carbon economy, emphasizing the opportunities and challenges in the sustainable development of biofuels.

Keywords: Biofuels; Sustainability; Technological innovation.

Resumo: Este artigo explora o papel dos biocombustíveis – etanol, biogás e biodiesel – como alternativas aos combustíveis fósseis, avaliando seu impacto na sustentabilidade e no meio ambiente. A pesquisa examina os processos de produção de cada tipo de biocombustível, destacando suas vantagens e desvantagens, bem como seus benefícios na redução das emissões de gases de efeito estufa. Questões como o uso de recursos naturais, consumo de água e impactos na biodiversidade também são consideradas. Finalmente, o estudo analisa práticas de produção sustentável e o potencial para inovação tecnológica para facilitar uma transição eficaz para uma economia de baixo carbono, enfatizando as oportunidades e desafios no desenvolvimento sustentável dos biocombustíveis.

Palavras-chave: Biocombustíveis; Sustentabilidade; Inovação tecnológica.

01 INTRODUÇÃO

Os biocombustíveis, derivados da biomassa de origem vegetal ou animal, surgem como alternativas limpas e sustentáveis aos combustíveis fósseis. Entre os principais tipos, destacam-se o biogás, o etanol e o biodiesel, produzidos a partir de matérias-primas como soja, milho e gorduras. Esses combustíveis emitem menos gases poluentes e têm custos inferiores aos combustíveis fósseis (ANP, 2024).

A utilização de veículos movidos a biogás, etanol e biodiesel reflete uma crescente tendência de sustentabilidade no transporte. O biogás, gerado pela decomposição de matéria orgânica, é uma fonte renovável de baixo impacto ambiental, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar em áreas urbanas. O etanol, principalmente derivado da cana-de-açúcar, proporciona flexibilidade ao consumidor e reduz a dependência de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que pode impulsionar a economia agrícola. Já o biodiesel, produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras, oferece uma alternativa renovável ao diesel convencional, diminuindo as emissões de poluentes e promovendo a economia circular (Sampaio & Bonacelli, 2018).

Entretanto, a produção em larga escala de biocombustíveis deve ser cuidadosamente gerida para evitar impactos ambientais negativos, como desmatamento e perda de biodiversidade. Os biocombustíveis ajudam a reduzir a dependência de combustíveis fósseis, cuja extração, transporte e uso geram impactos ambientais significativos, incluindo derramamentos de óleo e destruição de habitats (BIOFUEL, 2019).

Portanto, a produção de biocombustíveis, especialmente a partir de resíduos ou cultivos sustentáveis, tende a ter um impacto ambiental menor em comparação à mineração e perfuração associadas aos combustíveis fósseis (OCDE, 2018).

Diante das diferenças entre combustíveis fósseis e biocombustíveis, este artigo visa destacar como os biocombustíveis apresentam menores danos ambientais e como promover métodos sustentáveis pode garantir um ambiente mais saudável para as futuras gerações. Os objetivos específicos incluem: analisar como a produção de biocombustíveis pode competir com a produção de alimentos, levando ao desmatamento e à perda de biodiversidade, caso não seja bem gerida; investigar o uso de água e energia na produção de biocombustíveis e os potenciais impactos ambientais se a gestão não for adequada; e discutir a importância da escolha e implantação cuidadosas de métodos de produção para assegurar que os biocombustíveis contribuam efetivamente para a melhoria do meio ambiente.

02 METODOLOGIA

A metodologia deste artigo baseia-se em uma abordagem qualitativa, que inclui a revisão de literatura acadêmica e relatórios técnicos sobre biocombustíveis, suas práticas de produção e impactos ambientais. Inicialmente, foi realizada uma análise crítica de estudos existentes para compreender a evolução dos biocombustíveis, suas vantagens em relação aos combustíveis fósseis e os desafios enfrentados no contexto da sustentabilidade. Além disso, foram examinados casos de sucesso e práticas recomendadas em diversas regiões, enfatizando a importância de fontes renováveis e gestão eficiente dos recursos naturais.

Para complementar a análise, foram discutidos dados sobre emissões de gases de efeito estufa e consumo de recursos na produção de biocombustíveis, permitindo uma avaliação abrangente de seus efeitos ambientais. A abordagem metodológica, portanto, busca fornecer uma visão integrada sobre a produção de biocombustíveis e seu potencial para contribuir para uma economia de baixo carbono, destacando a necessidade de práticas sustentáveis e inovação tecnológica para maximizar os benefícios ambientais e sociais.

03 REFERENCIAL TEÓRICO

O mundo ainda é altamente dependente de combustíveis fósseis, mesmo com o aumento da conscientização sobre os impactos ambientais associados ao seu uso. Os biocombustíveis, por serem biodegradáveis e conterem baixos níveis de enxofre e compostos aromáticos, oferecem menor impacto ambiental em comparação com os combustíveis fósseis (ANP, 2019).

Por esse motivo, os biocombustíveis apresentam-se como alternativas viáveis para substituir, parcial ou totalmente, os derivados de petróleo e gás natural em motores de combustão, considerando que o setor de transporte é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa.

Contudo, a combustão dos biocombustíveis pode aumentar as emissões de substâncias químicas tóxicas (BIOFUEL, 2019), além de que o cultivo das culturas para biomassa também acarreta impactos ambientais, como o uso intensivo de água, defensivos e fertilizantes, muitos derivados do petróleo.

Na segunda metade dos anos 2000, muitos países adotaram políticas governamentais para fomentar a produção de biocombustíveis, através do estabelecimento de estruturas legais, políticas e regulatórias que definiram regras específicas de comercialização desses produtos. Essas políticas impulsionaram o aumento da produção mundial de etanol e biodiesel. Consequentemente, uma parcela crescente da produção mundial de cana-de-açúcar e milho passou a ser destinada à produção de etanol, enquanto uma maior proporção de óleo vegetal foi utilizada para produzir biodiesel (OCDE, 2018).

Segundo Costa (2017), a principal regra de comercialização de biocombustíveis no mundo é o mandato. No entanto, mecanismos de flexibilidade, como mercados de certificados, spot, futuros e opções com biocombustíveis, ainda são pouco explorados.

No Brasil, as políticas energéticas começaram a ser implantadas no início da década de 1970, desempenhando papel crucial na introdução do álcool e do biodiesel na matriz energética do país. De acordo com a ANP (2019), Biocombustível é um produto proveniente do processo fermentativo de biomassa renovável, destinado ao uso em motores de combustão interna, sendo o etanol seu principal componente, especificado nas formas de Etanol Anidro Combustível e Etanol Hidratado Combustível. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), lançado em 2004, visava principalmente expandir a produção e uso do biodiesel de maneira sustentável e com inclusão social, consolidando a indústria de biodiesel no Brasil.

Em 2005, o biodiesel foi integrado à matriz energética brasileira pela Lei 11.097, de 13 de janeiro de 2005, estabelecendo a adição obrigatória mínima de 2% (B2) ao diesel vendido a partir de 2008 e de 5% (B5) a partir de 2013, além de especificar o regime tributário por região de plantio, oleaginosa e categoria de produção, abrangendo tanto o agronegócio quanto a agricultura familiar (BRASIL, 2005). Sampaio e Bonacelli (2018) destacam que a produção de biodiesel se concentrou nas regiões Centro-Oeste e Sul, assim como o Proálcool ampliou o mercado para a agroindústria de cana-de-açúcar, o PNPB beneficiou a agroindústria da soja. Instituída pela Lei 13.576, de 26 de dezembro de 2017, a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) objetiva fomentar a expansão sustentável da produção de biocombustíveis no Brasil, contribuindo para o cumprimento das metas de redução de emissões previstas no Acordo de Paris.

Até 2030, as metas domésticas relacionadas aos biocombustíveis incluem a redução de 43% nas emissões de gases de efeito estufa, 45% de participação de energias renováveis na matriz energética e 18% de bioenergia (BRASIL, 2017). A Lei do RenovaBio prevê metas nacionais de redução de emissões para a matriz de combustíveis, definidas para um período mínimo de 10 anos e desdobradas em metas anuais para distribuidores de combustíveis, conforme sua participação no mercado de combustíveis fósseis.

O Brasil é o segundo maior produtor e consumidor mundial de biodiesel. Em 2017, a capacidade de processamento no Brasil alcançou 7,3 milhões de m³, mas ainda há grande capacidade ociosa em várias regiões do país (ANP, 2018). Ao todo, o Brasil possui 51 unidades produtoras de biodiesel, das quais 14 permaneceram inativas em 2017.

04 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS

4.1 BIOCOMBUSTÍVEIS E SUA EVOLUÇÃO

Os biocombustíveis possuem uma história rica que remonta aos primeiros usos de biomassa vegetal como fonte de energia. No entanto, o desenvolvimento contemporâneo dos biocombustíveis começou a tomar forma significativa no século XX. Durante as crises de combustível, como as ocorridas na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, o etanol derivado do milho e da cana-de-açúcar foi utilizado como substituto da gasolina. Este uso inicial estava limitado a períodos de escassez (OCDE, 2018).

Nas décadas subsequentes, especialmente a partir da crise do petróleo nos anos 1970, houve um aumento substancial no interesse e nos investimentos em biocombustíveis (BRASIL, 2017).

Este período viu o desenvolvimento de tecnologias de segunda geração, que possibilitaram a produção de biocombustíveis a partir de materiais não alimentares, como resíduos agrícolas e florestais. Adicionalmente, a evolução tecnológica foi acompanhada por regulamentações governamentais que incentivaram a produção e o consumo desses combustíveis, por meio de políticas de mandatos de mistura de etanol na gasolina. 

Exemplos notáveis incluem diretrizes implantadas pela União Europeia e pelos Estados Unidos, com o objetivo de reduzir a dependência de combustíveis fósseis e promover fontes de energia renovável. A União Europeia adotou a Diretiva de Energia Renovável (RED II), que visa reduzir em pelo menos 32% o consumo de energia de fontes fósseis até 2030, enquanto os Estados Unidos implantaram o Renewable Fuel Standard (RFS), exigindo a incorporação de uma quantidade mínima de biocombustíveis no mercado (EUROPEAN UNION, 2018; EPA, 2010).

Existem diversos tipos de biocombustíveis, cada um com suas características próprias. O biogás, por exemplo, é produzido pela decomposição anaeróbica de matéria orgânica, como resíduos de alimentos e esterco, em condições controladas. Ele pode ser utilizado para gerar eletricidade, como combustível para veículos ou para aquecimento, e ajuda a reduzir as emissões de metano dos aterros.

O etanol é outro biocombustível importante, produzido a partir de culturas ricas em açúcares e amidos, como cana-de-açúcar, milho e beterraba. O processo de produção inclui a fermentação dos açúcares presentes nas plantas, seguida da destilação para obter o etanol puro. Este combustível possui vantagens ambientais significativas, como a redução das emissões de gases de efeito estufa em comparação à gasolina. Logo, o biodiesel é produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais através de um processo denominado transesterificação. Este processo envolve a reação de lipídios com um álcool na presença de um catalisador, resultando em glicerina e ésteres de ácidos graxos. O biodiesel é biodegradável, não tóxico e contribui para a redução de poluentes como CO₂, SO₂ e hidrocarbonetos não queimados (MOTA & MONTEIRO, 2013).

Portanto, a evolução dos biocombustíveis representa um passo significativo em direção à sustentabilidade energética, com avanços tecnológicos contínuos e suporte regulatório, potencializando a redução das emissões de gases de efeito estufa e promovendo uma economia de baixo carbono.

4.2 TECNOLOGIAS DE PROPULSÃO E INOVAÇÕES

4.2.1 Tecnologias Emergentes na Produção de Biocombustíveis

Nos últimos anos, diversas inovações tecnológicas têm impulsionado a produção de biocombustíveis, tornando-os mais eficientes e sustentáveis. Tecnologias emergentes, como a utilização de algas e resíduos lignocelulósicos, estão na vanguarda desse desenvolvimento. As algas, por exemplo, possuem uma taxa de crescimento rápida e alta produtividade de lipídios, essenciais para a produção de biodiesel. Além disso, as tecnologias de processamento enzimático e fermentação avançada têm permitido a conversão de resíduos agrícolas em etanol de segunda geração, reduzindo a competição com a cadeia alimentar (MOTA & MONTEIRO, 2013).

A engenharia genética também tem desempenhado um papel crucial, aprimorando microrganismos para aumentar a eficiência da fermentação e a produção de biocombustíveis. Essas inovações não só melhoram a viabilidade econômica dos biocombustíveis, mas também reduzem seu impacto ambiental, tornando a produção mais sustentável e menos dependente de recursos naturais não renováveis (OCDE, 2018).

4.2.2 Inovações na Motorização de Veículos Movidos a Biocombustíveis

Paralelamente às inovações na produção, também há avanços significativos na motorização de veículos movidos a biocombustíveis. Uma das principais inovações é o desenvolvimento de motores FLEX FUEL, capazes de operar com uma mistura de etanol e gasolina em qualquer proporção. Esses motores são equipados com sensores e sistemas de controle que ajustam a injeção de combustível e a ignição para aperfeiçoar o desempenho e a eficiência, independentemente da composição do combustível (MOTA & MONTEIRO, 2013).

Outro avanço notável é o aprimoramento dos motores dedicados a biogás, que têm sido otimizados para maximizar a combustão e a eficiência energética. A adoção de sistemas de injeção direta e turbo alimentação em motores a biodiesel também têm contribuído para melhorar a potência e a economia de combustível, ao mesmo tempo em que reduz as emissões de poluentes (ANP, 2019).

4.2.3 Comparação com Tecnologias de Propulsão Convencional

Quando comparadas às tecnologias de propulsão convencional, as inovações nos veículos movidos a biocombustíveis apresentam diversas vantagens e desafios (MOTA & MONTEIRO, 2013). Os biocombustíveis, ao serem combustíveis renováveis, oferecem uma redução significativa nas emissões de gases de efeito estufa em comparação aos combustíveis fósseis. Além disso, a utilização de resíduos agrícolas e outros materiais não alimentares para a produção de biocombustíveis promove a sustentabilidade e reduz a dependência de recursos naturais finitos (OCDE, 2018).

No entanto, os veículos movidos a biocombustíveis ainda enfrentam desafios em termos de infraestrutura e custo de produção (ANP, 2019). A infraestrutura para distribuição de biocombustíveis precisa ser expandida para que o uso desses combustíveis seja viável em larga escala. Além disso, o custo de produção dos biocombustíveis de segunda geração ainda é relativamente alto, embora as inovações tecnológicas estejam contribuindo para reduzir esses custos. Dessa maneira, as tecnologias de propulsão e as inovações nos biocombustíveis representam uma importante evolução em direção à mobilidade sustentável. Com o contínuo desenvolvimento tecnológico e o apoio de políticas públicas, é possível que os biocombustíveis desempenhem um papel crucial no futuro da energia limpa e renovável.

4.3 SUSTENTABILIDADE E DESAFIOS NA SUA ADOÇÃO

A análise do ciclo de vida dos biocombustíveis é essencial para compreender seu impacto ambiental completo, desde a produção até o consumo. Esta análise abrange todas as etapas, incluindo o cultivo das matérias-primas, a produção e o processamento dos biocombustíveis, o transporte e a utilização final nos motores. Comparados aos combustíveis fósseis, os biocombustíveis geralmente apresentam um ciclo de vida mais sustentável, especialmente quando provenientes de resíduos agrícolas ou florestais, pois reduzem a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e promovem a reciclagem de nutrientes (EPE, 2020).

Os biocombustíveis possuem uma vantagem significativa em termos de emissões de GEE em comparação aos combustíveis fósseis. Enquanto a combustão de combustíveis fósseis libera carbono armazenado há milhões de anos, contribuindo diretamente para o aumento das concentrações de CO₂ na atmosfera, os biocombustíveis, quando cultivados e processados de maneira sustentável, podem ter um balanço de carbono neutro ou até mesmo negativo. Isso ocorre porque o CO₂ emitido durante a combustão dos biocombustíveis pode ser compensado pelo CO₂ absorvido pelas plantas durante seu crescimento (GAZZONI, 2022)..

A adoção de biocombustíveis pode trazer tanto benefícios quanto desafios à biodiversidade e ao uso da terra. Positivamente, a utilização de resíduos e biomassa não alimentar pode reduzir a pressão sobre ecossistemas naturais e promover a reciclagem de materiais. No entanto, a expansão de monoculturas para a produção de biocombustíveis pode levar à perda de biodiversidade, desmatamento e degradação do solo, por isso se torna crucial desenvolver práticas agrícolas sustentáveis e políticas de uso da terra que equilibrem a produção de biocombustíveis com a conservação ambiental.

A adoção generalizada de biocombustíveis enfrenta vários desafios significativos (OCDE, 2018). Entre eles, destacam-se as questões relacionadas à produção em larga escala e à competição com a produção de alimentos. O cultivo de matérias-primas para biocombustíveis em terras agrícolas pode competir com a produção de alimentos, levando a aumentos nos preços e a insegurança alimentar em algumas regiões.

Outro desafio importante é a infraestrutura e a distribuição. A infraestrutura existente para a distribuição de combustíveis fósseis não é sempre compatível com os biocombustíveis, exigindo investimentos significativos para adaptações e expansões. Além disso, a percepção pública e as políticas governamentais desempenham um papel crucial na aceitação e adoção dos biocombustíveis. Programas de incentivo e subsídios, além de campanhas de conscientização, são essenciais para promover a transição dos combustíveis fósseis para opções mais sustentáveis.

4.4 CASES DE SUCESSO E O FUTURO

Diversos países se destacam na adoção de biocombustíveis, principalmente devido às suas políticas públicas e inovações tecnológicas. O Brasil, por exemplo, é líder mundial na produção e uso de etanol, derivado da cana-de-açúcar. Da mesma forma, os Estados Unidos são líderes na produção de etanol de milho, contando com uma vasta infraestrutura e incentivos governamentais robustos para promover o uso de biocombustíveis (GAZZONI, 2022).

Empresas como a Amyris, a Novozymes e a Poet se destacam pela inovação no setor de biocombustíveis (MOTA & MONTEIRO, 2013). A Amyris, por exemplo, utiliza biotecnologia para produzir combustíveis renováveis a partir de cana-de-açúcar. A Novozymes foca no desenvolvimento de enzimas que melhoram a eficiência da produção de biocombustíveis. Já a Poet é uma das maiores produtoras de etanol do mundo, investindo continuamente em tecnologias que aumentam a eficiência e a sustentabilidade da produção.

Existem vários estudos de caso que demonstram a eficácia dos veículos movidos a biocombustíveis em diferentes mercados (ANP, 2019). No Brasil, por exemplo, os veículos FLEX FUEL, que podem operar com etanol ou gasolina em qualquer proporção, são amplamente utilizados e representam uma parcela significativa da frota nacional. Nos Estados Unidos, ônibus urbanos e veículos de transporte escolar movidos a biodiesel têm demonstrado ser uma alternativa viável e mais limpa em comparação aos combustíveis fósseis.

O futuro dos biocombustíveis é promissor, com várias tendências emergentes na pesquisa e desenvolvimento. A biotecnologia e a engenharia genética desempenham papéis cruciais na evolução dos biocombustíveis. Inovações como o uso de algas geneticamente modificadas para produzir biocombustíveis de maneira mais eficiente e a utilização de resíduos agrícolas para criar biocombustíveis de segunda geração são exemplos de avanços significativos.

Potenciais inovações que podem transformar o setor incluem o desenvolvimento de biocombustíveis de terceira geração, que utilizam microrganismos modificados para converter CO₂ diretamente em combustíveis líquidos. Além disso, a integração de tecnologias de captura e armazenamento de carbono com a produção de biocombustíveis poderia resultar em soluções de energia com balanço de carbono negativo, contribuindo significativamente para a mitigação das mudanças climáticas (BIOFUEL, 2019).

05 CONCLUSÃO

O desenvolvimento e a adoção de biocombustíveis desempenham um papel crucial na promoção de uma economia mais sustentável e na redução das emissões de gases de efeito estufa. Políticas públicas e incentivos têm sido fundamentais para impulsionar a produção e o uso de biocombustíveis, criando um ambiente propício para o avanço tecnológico e a inovação no setor.

A análise das políticas que incentivam a produção e o uso de biocombustíveis revela a importância das regulamentações ambientais na promoção dessas fontes de energia renovável. Em várias partes do mundo, governos atribuem mandatos de mistura e subsídios para biocombustíveis, incentivando a adoção de práticas mais sustentáveis. Esses incentivos fiscais e subsídios desempenham um papel vital na viabilidade econômica dos biocombustíveis, tornando-os mais competitivos em relação aos combustíveis fósseis. No contexto da transição para uma economia sustentável, os biocombustíveis emergem como uma alternativa viável para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mitigar os impactos ambientais negativos associados à sua utilização. As reflexões sobre o papel dos biocombustíveis nessa transição ressaltam a necessidade de um enfoque integrado que aborde tanto a produção sustentável quanto o uso eficiente desses combustíveis.

Recomenda-se que práticas de produção de biocombustíveis se concentrem na utilização de matérias-primas que não competem com a produção de alimentos, como resíduos agrícolas e florestais. Além disso, é essencial o investimento em infraestrutura adequada para a distribuição de biocombustíveis, bem como a implantação de políticas que promovam a conscientização pública sobre os benefícios ambientais e econômicos dessa fonte de energia.

O futuro da mobilidade sustentável está intrinsecamente ligado ao potencial dos biocombustíveis. Com o avanço da biotecnologia e da engenharia, espera-se que novas inovações tecnológicas surjam, aumentando a eficiência e a sustentabilidade dos biocombustíveis. A integração de tecnologias emergentes e o suporte contínuo de políticas públicas podem transformar o setor de biocombustíveis, consolidando sua posição como um pilar fundamental na busca por um futuro energético mais limpo e renovável.

REFERÊNCIAS

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1Graduando em Engenharia Mecânica – Fundação, Centro de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica – Faculdade FUCAPI – Manaus – AM – Brasil – cardoso.glenda@hotmail.com
2Professora na Fundação, Centro de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica – Faculdade FUCAPI – Manaus – AM – Brasil – michaella.socorro@gmail.com