REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202504212314
Paula Francisca Gomes Ribeiro1
RESUMO:
Introdução: A hanseníase é uma doença infecciosa crônica, ainda considerada um problema de saúde pública, especialmente em países tropicais como o Brasil. Apesar de tratável, seu diagnóstico precoce ainda enfrenta desafios devido à sutileza dos sintomas iniciais e à falta de capacitação de profissionais. Nesse contexto, os testes rápidos surgem como uma alternativa inovadora e promissora para melhorar a detecção precoce da doença. Objetivo: Analisar a aplicabilidade, eficácia e benefícios dos testes rápidos para o diagnóstico precoce da hanseníase, com ênfase no seu impacto nas políticas públicas de saúde e no fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica. Metodologia: Trata-se de uma revisão da literatura científica, realizada entre março e agosto de 2024, com buscas em bases como BVS, LILACS, MEDLINE e SCIELO. Foram utilizados descritores como “Hanseníase”, “Diagnóstico”, “Testes Rápidos”, “Saúde Pública” e “Vigilância Epidemiológica”, considerando artigos publicados entre 2020 e 2024. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 18 estudos foram selecionados para análise detalhada. Resultados e Discussão: Os estudos analisados mostram que os testes rápidos são eficazes, com alta sensibilidade e especificidade, especialmente úteis em áreas endêmicas e com pouca estrutura de saúde. Sua aplicação contribui para o diagnóstico precoce, início rápido do tratamento e redução das complicações físicas e do estigma social. Apesar de algumas limitações técnicas, os testes se destacam por sua praticidade, custo-efetividade a longo prazo e impacto positivo em campanhas móveis e estratégias de rastreamento. A capacitação das equipes de saúde e a integração com outras estratégias diagnósticas são essenciais para ampliar sua efetividade. Conclusão: Os testes rápidos representam uma ferramenta estratégica no enfrentamento da hanseníase. Além de melhorarem o diagnóstico precoce e reduzirem a transmissão da doença, ajudam a combater o estigma social e fortalecem as ações em saúde pública. No entanto, para garantir seu sucesso, é fundamental investir na formação de profissionais, na infraestrutura e na continuidade das ações integradas de vigilância, diagnóstico e cuidado.
Palavras-chave: Diagnóstico; Hanseníase; Saúde Pública; Testes Rápidos; Vigilância Epidemiológica.
ABSTRACT:
Introduction: Leprosy is a chronic infectious disease that remains a public health problem, especially in tropical countries such as Brazil. Although treatable, early diagnosis still faces challenges due to the subtlety of initial symptoms and the lack of professional training. In this context, rapid tests emerge as an innovative and promising alternative to improve early detection of the disease. Objective: To analyze the applicability, effectiveness, and benefits of rapid tests for the early diagnosis of leprosy, with an emphasis on their impact on public health policies and the strengthening of epidemiological surveillance actions. Methodology: This is a literature review conducted between March and August 2024, with searches in databases such as BVS, LILACS, MEDLINE, and SCIELO. Descriptors such as “Leprosy”, “Diagnosis”, “Rapid Tests”, “Public Health”, and “Epidemiological Surveillance” were used, considering articles published between 2020 and 2024. After applying inclusion and exclusion criteria, 18 studies were selected for detailed analysis. Results and Discussion: The analyzed studies show that rapid tests are effective, with high sensitivity and specificity, being especially useful in endemic areas with limited health infrastructure. Their application contributes to early diagnosis, prompt initiation of treatment, and a reduction in physical complications and social stigma. Despite some technical limitations, these tests stand out for their practicality, long-term cost-effectiveness, and positive impact on mobile campaigns and screening strategies. The training of healthcare teams and integration with other diagnostic strategies are essential to enhance their effectiveness. Conclusion: Rapid tests represent a strategic tool in tackling leprosy. In addition to improving early diagnosis and reducing disease transmission, they help combat social stigma and strengthen public health actions. However, to ensure their success, it is essential to invest in professional training, infrastructure, and the continuity of integrated actions in surveillance, diagnosis, and care.
Keywords: Diagnosis; Leprosy; Public Health; Rapid Tests; Epidemiological Surveillance.
Introducción: La lepra es una enfermedad infecciosa crónica que todavía se considera un problema de salud pública, especialmente en países tropicales como Brasil. Aunque es tratable, su diagnóstico precoz aún enfrenta desafíos debido a la sutileza de los síntomas iniciales y a la falta de capacitación de los profesionales. En este contexto, las pruebas rápidas surgen como una alternativa innovadora y prometedora para mejorar la detección temprana de la enfermedad. Objetivo: Analizar la aplicabilidad, eficacia y beneficios de las pruebas rápidas para el diagnóstico precoz de la lepra, con énfasis en su impacto en las políticas públicas de salud y en el fortalecimiento de las acciones de vigilancia epidemiológica. Metodología: Se trata de una revisión de la literatura científica, realizada entre marzo y agosto de 2024, con búsquedas en bases de datos como BVS, LILACS, MEDLINE y SCIELO. Se utilizaron descriptores como “Lepra”, “Diagnóstico”, “Pruebas Rápidas”, “Salud Pública” y “Vigilancia Epidemiológica”, considerando artículos publicados entre 2020 y 2024. Tras la aplicación de los criterios de inclusión y exclusión, se seleccionaron 18 estudios para un análisis detallado. Resultados y Discusión: Los estudios analizados muestran que las pruebas rápidas son eficaces, con alta sensibilidad y especificidad, especialmente útiles en áreas endémicas y con poca infraestructura sanitaria. Su aplicación contribuye al diagnóstico temprano, al inicio rápido del tratamiento y a la reducción de las complicaciones físicas y del estigma social. A pesar de algunas limitaciones técnicas, las pruebas se destacan por su practicidad, rentabilidad a largo plazo e impacto positivo en campañas móviles y estrategias de rastreo. La capacitación de los equipos de salud y la integración con otras estrategias diagnósticas son esenciales para ampliar su efectividad. Conclusión: Las pruebas rápidas representan una herramienta estratégica en el enfrentamiento de la lepra. Además de mejorar el diagnóstico precoz y reducir la transmisión de la enfermedad, ayudan a combatir el estigma social y fortalecen las acciones de salud pública. Sin embargo, para garantizar su éxito, es fundamental invertir en la formación de profesionales, en la infraestructura y en la continuidad de las acciones integradas de vigilancia, diagnóstico y atención.
Palabras clave: Diagnóstico; Lepra; Salud Pública; Pruebas Rápidas; Vigilancia Epidemiológica.
INTRODUÇÃO
A hanseníase, antigamente chamada de lepra, é uma doença infecciosa de evolução crônica causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, um microrganismo de crescimento lento e com preferência pelos neurônios e células da pele. Mesmo sendo tratável, a hanseníase continua a ser um grande problema de saúde pública em muitos países tropicais e subtropicais, entre eles o Brasil, que ainda é um dos países onde há maior número de novos casos com diagnóstico por ano (Alves et al., 2022). Segundo Costa et al. (2020), o estigma social associado à doença, a desinformação e a dificuldade de acesso a serviços médicos de saúde especializados aumentam o impacto da hanseníase, sendo uma fonte adicional que perpetua silenciosamente a doença no grupo mais vulnerável da população.
A identificação precoce da hanseníase é uma das medidas mais importantes para interromper a cadeia de transmissão e prevenir as incapacidades físicas resultantes da infecção tratada tardiamente e prolongadamente. Mas os primeiros sinais e sintomas são normalmente sutis e inespecíficos, dificultando seu reconhecimento imediato por profissionais não especializados na hanseníase (Eidt et al., 2024). A hanseníase pode apresentar-se por manchas hipopigmentadas ou eritematosas com perda de sensibilidade, espessamento de nervos periféricos e outros sinais neurológicos, que, pela sua ambiguidade, podem ser confundidas com outras dermatoses ou neuropatias, retardando o início do tratamento e permitindo a progressão do quadro clínico.
Considerando essas limitações no diagnóstico, o desenvolvimento e a introdução de tecnologias rápidas e eficazes se tornaram indispensáveis. Nesse contexto, os testes rápidos para hanseníase representam uma nova possibilidade inovadora (Melo et al., 2023). Normalmente estabelecidos em caráter sorológico, esses testes possibilitam verificar a presença de determinados anticorpos contra o M. leprae, o que permite localizar os casos suspeitos de forma mais célere. Além disso, sua utilização em regiões de difícil acesso e campanhas de busca ativa possibilitam o aumento da localização de indivíduos infectados, muitas vezes antes mesmo do aparecimento dos sinais clínicos evidentes. A rapidez e simplicidade da técnica favorecem a sua utilização em larga escala, quando utilizada como uma ferramenta complementar às abordagens clínicas e de laboratórios tradicionais (Prado et al., 2024).
De acordo com Cássia et al. (2021), a relevância dos testes rápidos transcende sua conveniência. Constituem um avanço no comprometimento com o diagnóstico correto da hanseníase e, consequentemente, na redução do dano físico, social e econômico destes quadros. Se utilizados estrategicamente e como parte do conjunto das ações dos programas de controle, estes testes poderão garantir maior eficácia na detecção de novos casos e também fortalecer as ações de vigilância epidemiológica (Siqueira et al., 2023). O diagnóstico descentralizado e o empoderamento das equipes da Atenção Primária em Saúde são fatores-chaves para que os avanços tecnológicos possam, de fato, impactar nos indicadores da saúde pública.
Dessa forma, discutir a inovação no diagnóstico da hanseníase, centrando no teste rápido como importante ferramenta de saúde pública, é fundamental para repensar as estratégias de enfrentamento da doença. Não se deve considerar apenas os benefícios técnicos e operacionais que essa ferramenta oferece, mas também a importância que ela pode ter na diminuição das desigualdades no acesso ao diagnóstico, no combate ao estigma e na promoção da equidade em saúde (Toledo et al., 2024). O presente estudo se propõe a analisar qual seria o impacto da utilização do teste rápido no diagnóstico precoce da hanseníase, destacando sua contribuição para a construção de um sistema de saúde mais rápido, eficiente e não excludente, conformando-se aos princípios da universalidade e integralidade do cuidado (Trindade et al., 2022).
O presente estudo objetiva realizar uma análise detalhada da aplicabilidade, eficácia e benefícios do teste rápido para o diagnóstico precoce da hanseníase, enfatizando a sua relevância enquanto ferramenta estratégica para o fortalecimento das políticas públicas de saúde. O que se busca avaliar é de que maneira a organização da assistência pode favorecer a detecção precoce da doença pela identificação de casos assintomáticos ou com sintomas iniciais impropriamente evidentes e que contribuem para a quebra da cadeia de transmissão; também se busca discutir, neste trabalho, como o teste rápido pode propiciar o acesso ao tratamento tempestivo, principalmente em localidades de difícil acesso e áreas de risco, onde a cobertura de serviços especializados é limitada.
METODOLOGIA:
A metodologia deste trabalho foi organizada como uma revisão da literatura científica, cujo propósito foi analisar os progressos recentes em diagnóstico de hanseníase, focando a implementação e a eficácia dos testes rápidos como elemento essencial da estratégia de saúde pública. A pesquisa focou na localização e revisão dos estudos que avaliaram a aplicabilidade, precisão e vantagens dos testes rápidos para detectar hanseníase, particularmente em relação à identificação precoce da doença e novos casos nos locais endêmicos ou com poucos recursos. Essa revisão visou entender como os testes rápidos podem melhorar a detecção precoce, acelerar o diagnóstico e contribuir para a redução do estigma social e da transmissão da doença. Esta pesquisa foi feita entre março e agosto de 2024 no acesso às principais bases de dados científicas, como Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO).
Para garantir a pertinência e a abrangência dos resultados, foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Hanseníase”, “Diagnóstico”, “Testes Rápidos”, “Saúde Pública” e “Vigilância Epidemiológica”, além de outros termos adicionais como “Testes Diagnósticos Rápidos”, “Detecção Precoce”, “Estratégias de Saúde Pública para Hanseníase”, os quais foram utilizados em combinação ao operador booleano “AND”, a fim de garantir que os artigos escolhidos estavam diretamente ligados ao tema em foco da pesquisa. Essa estratégia assegurou a seleção criteriosa de estudos relevantes, além de possibilitar uma abordagem ampla e abrangente do uso dos testes rápidos no diagnóstico da hanseníase.
Os critérios de inclusão dessa revisão da literatura foram estabelecidos rigorosamente, incluindo somente artigos completos, com acesso gratuito nas bases de dados selecionadas, publicados entre (2020-2024). Os estudos incluídos foram aqueles que abordaram diretamente o uso de testes rápidos em diagnóstico de hanseníase, com ênfase na aplicação prática em programas de saúde pública, eficiência em detecção precoce e impacto na quantidade de curas e redução de casos em estágios avançados. Os artigos estavam disponíveis nos idiomas português, inglês e espanhol, garantindo assim acessibilidade às informações e uma melhor compreensão dos resultados. Foram excluídos artigos incompletos, com acesso privado ou pago, artigos duplicados nas bases de dados, revisões sistemáticas e estudos que não abordaram diretamente a utilização de testes rápidos como ferramenta de diagnóstico da hanseníase.
A busca inicial resultou inicialmente em 250 artigos. Após rigorosos critérios de inclusão e exclusão, a amostra foi reduzida para 90 artigos, que cumpriram os critérios estabelecidos. Todos os artigos foram então submetidos a uma análise rigorosa e detalhada, levando em conta a qualidade das evidências apresentadas, a pertinência para o objeto de estudo e a metodologia utilizada. Desse processo, foram selecionados 18 artigos considerados adequados para análise mais detalhada. Na avaliação foram ainda estabelecidas categorias, de acordo com os principais temas discutidos nos artigos, como: a implementação do teste rápido nas campanhas de saúde pública; sua aplicabilidade em áreas endêmicas; impacto no rastreamento e tratamento precoce da hanseníase.
Além disso, os artigos selecionados foram classificados de acordo com as diversas abordagens utilizadas para diagnosticar a hanseníase, tais como a utilização de testes rápidos no âmbito da atenção primária à saúde, associada a outros métodos diagnósticos, e as metodologias empregadas para aumentar a sensibilidade e especificidade dos testes. Essa categorização permitiu uma avaliação mais profunda dos avanços recentes no desenvolvimento e no uso de testes rápidos e de como essas ferramentas se tornaram essenciais para a melhoria do diagnóstico precoce e da diminuição da transmissão da hanseníase. A metodologia seguida possibilitou uma análise crítica, de ênfase, não só dos benefícios, mas também das limitações e dos desafios encontrados na aplicação desses testes em situações reais, principalmente em áreas de baixa cobertura de saúde.
Esta revisão da literatura científica, fornece uma descrição geral dos avanços oferecidos pelos testes rápidos em sua utilização como ferramenta diagnóstica para a hanseníase, ressaltando a importância que essa tecnologia pode exercer em favor da implementação de uma abordagem mais eficaz e acessível para o controle da doença. Também fornece subsídios para investigações futuras, ao identificar as lacunas existentes na implementação do uso dos testes rápidos e ao sugerir direções para o aprimoramento das estratégias de diagnóstico e controle da hanseníase, especialmente em cenários de saúde pública com particularidades adversas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com as características dos autores de revisão da literatura científica, foram qualificados diversos aspectos que fortemente se relacionam com a temática do artigo abordada, como se demonstra no quadro 1:
Quadro 1 – Características dos estudos levantados na literatura no período de 2020 a 2024, conforme os artigos, como estudo e ano; foco principal sobre a hanseníase e os testes rápidos; às principais descobertas nos estudos; aplicações que foram realizadas e as contribuições dela no diagnóstico.
Estudo / Ano | Foco Principal | Principais Descobertas | Aplicações / Contribuições |
Eidt et al., 2024 | Aspectos clínicos e terapêuticos descomplicados | Linguagem acessível para abordagem da hanseníase | Educação em saúde; material didático |
Neto et al., 2024 | Diagnóstico molecular (PCR) e estigma | PCR melhora o diagnóstico; o estigma dificulta o tratamento | Diagnóstico precoce; necessidade de combate ao estigma |
Toledo et al., 2024 | Revisão geral da hanseníase | Visão ampla da etiologia ao controle da doença | Base para ensino e políticas públicas |
Oliveira et al., 2023 | Teste anti-PGL-1 no SUS | Teste viável para rastrear contactantes | Implementação no SUS como ferramenta de vigilância |
Siqueira et al., 2023 | Clínica, complicações e tratamento | Abordagem atualizada e didática da hanseníase | Reforço à prática clínica e terapêutica |
Alves et al., 2022 | Fisiopatologia e manejo clínico | Explicação dos mecanismos e intervenções clínicas | Base para cuidados qualificados |
Silva et al., 2022 | Diagnóstico e desafios terapêuticos | Obstáculos persistem no diagnóstico precoce | Necessidade de capacitação contínua dos profissionais |
Trindade et al., 2022 | Ensino e pesquisa em SP | Análise da integração ensino-serviço | Valorização da formação profissional para o SUS |
Santos et al., 2021 | Diagnóstico molecular e sorológico | Importância dos testes na detecção precoce | Apoio à vigilância epidemiológica local |
Souza et al., 2021 | Técnicas laboratoriais comparativas | ML Flow apresenta melhor acurácia que coloração convencional | Sugestão de uso do ML Flow como triagem |
Binhardi et al., 2020 | Rede laboratorial em SP | Fragilidade na rede de diagnóstico | Necessidade de investimento e qualificação |
Cunha et al., 2020 | Carteira de Serviços da APS | A APS pode garantir cuidado integral em hanseníase | Reforço da atuação da atenção básica |
A análise dos artigos selecionados demonstrou que os testes rápidos para hanseníase estão se afirmando como um recurso indispensável para o diagnóstico precoce e adequado da doença, sobretudo em regiões endêmicas. Às vezes, a detecção tardia nessas regiões leva a complicações severas, evidenciando a importância de métodos de diagnóstico rápidos e corretos. A maioria dos estudos observados mostrou que os testes rápidos de diagnóstico, como a baciloscopia em lâmina e o teste imunocromatográfico (como o Sorodiagnóstico de Hanseníase), possuem alta sensibilidade e especificidade (Neto et al., 2024). Essa eficácia é especialmente relevante quando estão presentes em estratégias de rastreio em populações de risco que, quando corretamente implementadas, podem ter um impacto significativo na saúde pública.
Os estudos analisados indicam que a inserção de testes rápidos é um fator determinante para o aumento da detecção de casos de hanseníase no estágio inicial. Este diagnóstico precoce é importante para iniciar o tratamento precoce, evitando o agravamento da doença e as sequelas irreversíveis (Santos et al., 2021). Na maioria das áreas endêmicas, a detecção precoce, que não só diminui o risco de evolução para formas mais graves, como a hanseníase virchowiana, mas também evita a perda da sensibilidade, deformidades físicas e incapacidades que ocorrem com os estágios avançados da doença. Este processo de diagnóstico precoce é fundamental para o controle da doença e para o aumento da qualidade de vida dos pacientes.
Conforme Oliveira et al. (2023), a execução dos testes rápidos propiciou uma diminuição notável no intervalo entre o início dos sinais e sintomas e o diagnóstico de confirmação, o qual foi relacionado a maior taxa de cura e a menor quantidade de complicações ligadas à hanseníase. Essa diminuição no tempo de reconhecimento do diagnóstico não só viabiliza a assistência terapêutica mais rápida, mas também contribui para a diminuição do efeito social e psicológico da doença. O processo de reconhecimento do diagnóstico simplificado favorece o serviço dos profissionais de saúde, permitindo que, mesmo aqueles sem formação específica, possam realizar o diagnóstico de forma eficiente e fidedigna, onde o acesso ao tratamento e ao cuidado apropriado é ampliado, em especial nas áreas com limitação de recursos (Cortela et al., 2020).
Outro fator importante, observado nos estudos, foi o impacto positivo que os testes rápidos exercem na redução do estigma social ocasionado pela hanseníase. O diagnóstico precoce, feito de modo rápido e acessível, pode inibir a progressão da doença, e, assim, atenuar a concepção de que os doentes estejam em fase terminal e incuráveis. Cunha et al. (2020) destaca que o estigma da hanseníase constitui um dos principais obstáculos para o tratamento precoce, especialmente em populações que ainda vinculam a doença a castigos divinos ou a defeitos morais, criando barreiras psicológicas e sociais ao paciente. Contribuindo para desmistificar a doença, os testes rápidos desenvolvem algumas possibilidades para uma abordagem mais humana e integrativa no tratamento dos pacientes.
Os testes rápidos foram, ainda, avaliados em comparação a outros métodos diagnósticos, como a baciloscopia, com a qual pode haver necessidade de uma infraestrutura especializada e que pode ter alguma limitação quanto à sensibilidade, em especial em relação ao início da doença. Em contraponto, os testes rápidos são não invasivos, fáceis de aplicar e mais acessíveis, sendo um recurso imprescindível para o diagnóstico de casos em locais com poucos recursos ou com estrutura precária. Binhardi et al. (2020), resultaram que na associação de testes rápidos a outros métodos diagnósticos, como exames clínicos ou testes sorológicos, tem sido sugerida como uma alternativa para aumentar a acurácia do diagnóstico, uma vez que se trata de uma abordagem multimodal que associa a rapidez dos testes rápidos à profundidade dos exames laboratoriais, trazendo melhores resultados para os pacientes.
Os testes rápidos, por mais eficazes que sejam, possuem limitações, especialmente no que tange à sensibilidade para formas iniciais ou em pacientes que já estão sendo tratados. Tal fato evidencia a necessidade de uma abordagem integrada para compensar essas fraquezas, onde se faz uso de diferentes técnicas diagnósticas, o que pode dar mais segurança e solidez à avaliação. A capacitação dos profissionais de saúde continua sendo um importante desafio, embora o treinamento para a aplicação dos testes rápidos seja relativamente fácil, o verdadeiro desafio é garantir que eles conheçam as limitações desses testes e saibam como aplicá-los corretamente, para evitar resultados falso-negativo e falso-positivo, o que poderia prejudicar o tratamento e o controle da doença (Silva et al., 2022).
Ademais, muitos estudos ressaltam que a efetividade dos testes rápidos pode ser otimizada quando estão em resiliência a programas abrangentes de saúde pública, que incluam educação sobre a hanseníase, campanhas de conscientização e desenvolvimento da infraestrutura de saúde. A efetividade dos testes rápidos é, em grande medida, dependente de sua resiliência em estratégias em larga escala de controle da doença, que incluem não apenas o diagnóstico e tratamento, mas também ações de prevenção, como a vacinação e o monitoramento de contatos (Souza et al., 2021). Essa combinação de esforços pode ser capaz de diminuir substancialmente a carga da doença e ajudar na erradicação da hanseníase.
Nos locais de logística difícil, especialmente as áreas remotas, de difícil acesso e populações vulneráveis, os testes rápidos mostraram ser uma solução simples e eficaz para se chegar a elas. A utilização dos testes em campanhas móveis, ligadas ao trabalho de conscientização e de rastreamento, contribuiu para o aumento expressivo das taxas de detecção e tratamento de novos casos, confirmando a importância de estratégias que atendam às realidades locais (Trindade et al., 2022). A mobilização das equipes de saúde e a utilização de testes rápidos tiveram nesse contexto das campanhas móveis, um papel central na luta contra a doença, em locais onde o acesso aos serviços médicos é limitado.
Finalmente, do ponto de vista custo-efetividade, os testes rápidos, embora mais caros no início do que os métodos convencionais, têm se mostrado uma solução custo → eficaz. Toledo et al. (2024) afirma que a diminuição do tempo de espera para o diagnóstico e a implementação da terapia no início da infecção reduzem o custo das terapias associadas e complicações, em muitas doenças, e justificam o custo dos testes rápidos no longo prazo. A redução do ônus das doenças e a eficiência dos tratamentos, na maioria dos casos, compensam o custo inicial no método de implementação dos testes, o que acaba sendo uma ferramenta estratégica para um programa de saúde pública (Siqueira et al., 2023).
Resumidamente, o uso de testes rápidos no combate à hanseníase é um importante passo na inovação tecnológica em saúde pública. Apesar de alguns desafios na sua execução universal e na formação contínua dos profissionais de saúde, os testes rápidos têm um papel inegável na melhora do diagnóstico e controle da hanseníase (Eidt et al., 2024). As investigações futuras devem buscar a contínua melhoria da sensibilidade destes testes, bem como a ampliação da cobertura das áreas de difícil acesso, garantindo que todos os indivíduos em risco sejam diagnosticados precocemente e tratados adequadamente (Alves et al., 2022).
CONCLUSÃO:
A análise dos estudos indicou que os testes rápidos para o diagnóstico de hanseníase são uma inovação importante no diagnóstico precoce, especialmente em áreas endêmicas e de difícil acesso. A alta especificidade e sensibilidade, combinadas com a facilidade de uso e a menor demora nos resultados, permitem uma identificação mais rápida dos casos, levando ao início mais precoce da terapia e a uma prevenção de consequências graves, tais como deformidades e incapacidades permanentes. Esse mesmo ganho de tempo em diagnósticos também ajuda a reduzir a transmissão da doença e o alívio da sobrecarga dos serviços de saúde.
Além disso, para os pacientes e comunidades que atendem, os testes rápidos impactam positivamente a dimensão social da hanseníase. Portanto, como mencionado anteriormente, a detecção precoce, combinada com campanhas públicas de conscientização e outras manifestações de educação e compreensão social, leva a uma mudança de percepção da doença na comunidade. Assim, a atitude para com os pacientes muda, porque o estigma é minimizado, e os pacientes não têm medo de que sua doença possa ser descoberta. Como resultado, aumentam as taxas de testing de hanseníase, e mais pacientes estão se recuperando da doença. Essa abordagem só pode ser otimizada junto com outros métodos de teste e atividades sociais.
Porém, para que todo esse potencial se cumpra, é necessário que o enfrentamento do desafio dependa não só da capacitação dos profissionais de saúde, mas também da superação dos desafios para o acesso em áreas remotas e a integração à políticas públicas mais abrangentes. O investimento no treinamento dos profissionais, na infraestrutura e no desenvolvimento contínuo das tecnologias diagnósticas será determinante para que os resultados sejam confiáveis a curto prazo e que as ações sejam sustentáveis a longo prazo. Em suma, os testes rápidos não são apenas instrumentos técnicos, mas estratégicos para vencer a mas como instrumentos estratégicos no enfrentamento da hanseníase, promovendo avanços significativos em direção à eliminação da doença como problema de saúde pública.
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1Médica, Pós-graduada em Dermatologia clínica .
Instituição de formação: ITPAC-Porto nacional-TO
Endereço: Sorriso, MT, Brasil
E-mail: paulafgrmed@gmail.com